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Samba a um

Um vazio absurdo. Um eco invade com intensidade as paredes pintadas em tom pastel. Ele não diz nada, apenas ecoa. O período não é dos melhores. A melancolia na observação urbana acrescenta ainda mais as constantes erupções de sentimentos não recebidos. Falar da tristeza é muito fácil, difícil é vivê-la. Mas nem sempre foi assim. "Não sou eu que me navega, quem me navega é o mar", já dizia Paulinho da Viola.
As horas vão matando a angústia da falta de sabor na hora do almoço. O pão amassado pelo diabo até que fica saboroso sem o amor. Nem mesmo as comédias românticas levantam o seu astral que está perdido em algum tabuleiro de cigana enganadora. Se as cartas não mentem, o coração acusa.
Agora ela está em um imenso salão ouvindo um samba antigo, remexendo fora de ritmo a sua sandália descascada. É Carnaval, mas ela gosta mais da Quarta-feira de Cinzas, quando todos os ossos voltam à realidade do viver. Mais um samba a um.

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.