Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, abril 28, 2008


O modo de consumir música está mudando. Com o advento de programas e páginas de compartilhação pela internet, a maneira ilegal de se obter a canção do artista predileto facilitou de tal magnitude que está quebrando as grandes gravadoras. Há tempos a indústria fonográfica não se encontrava em uma crise tão sem volta. Departamentos de Marketing, assessores e empresários já não sabem mais o que fazer para tentar contornar a situação. A invenção do CD e, na seqüência, a criação da formatação MP3, decretou o fim do consumo musical como conhecíamos.

Nos dias atuais, ainda se vê lojas de discos que recebem os lançamentos do mercado. Mas, ao mesmo tempo que eles chegam às prateleiras, as canções já estão na internet. Pior, muitas vezes chegam antes no mundo on-line. O mundo físico está perdendo de goleada. Vários artistas do universo musical, se entregando à situação, mudaram a forma de comercializar os seus trabalhos. A independência artística tão almejada no passado, agora, é realidade. É claro que as grandes gravadoras ainda possuem o seu valor, porém, em processo de transformação se encontram.

O Radiohead, por exemplo, balançou o mercado fonográfico no ano passado. O grupo inglês vendeu milhões de discos com a ajuda de uma major, alcançando o sucesso comercial com The Bends, segundo álbum da banda. Thom Yorke, vocalista, guitarrista e mentor do Radiohead não pode ser considerado uma pessoa padrão. Em 2007, o cara decidiu que o mais recente trabalho seria lançado, primeiramente, na internet. Mas a grande sacada foi disponibilizar In Rainbows em um site próprio onde o interessado fazia o seu preço, ou seja, a pessoa escolhia quanto gostaria de pagar pelas músicas, de zero a 99 dólares. Dizem que muitos preferiram não pagar, porém, mesmo assim, a banda lucrou, já que a maioria baixou as canções por um valor de 5 a 10 dólares. O Radiohead, após fechar o site, lançou o disco em físico (CD) com algumas faixas bônus e, na Inglaterra, chegaram no topo dos mais vendidos. Tudo isso sem ajuda de uma grande gravadora.

No momento em que a banda anunciou a nova maneira de comercializar, vários acharam que a atitude era um verdadeiro tiro de 38 no pé. Contudo, o grupo provou o contrário, como em outras ocasiões quando ainda era do cast de uma gravadora. Em 1997, ao lançar Ok Computer, até hoje considerado o seu melhor trabalho, o Radiohead alcançou cifrões nunca antes imagináveis. O álbum alçou os ingleses ao patamar de melhor grupo de rock do planeta, apesar dos exageros. Assim, a banda deixou todos os fãs afoitos pelo próximo CD. Eles conseguiriam superar as expectativas? Particularmente, não, mas deixaram todos confusos com o lançamento do disco seguinte, Kid A, sucesso em vendas justamente por causa das especulações. Era o fim do Radiohead como todos conheciam, era o fim da época das guitarras e do lirismo. Surgiu, então, as programações eletrônicas e a utilização cada vez maior da voz de Thom como instrumento de som do que cantor de pérolas poéticas como "No Surprise" e "Karma Police". Portanto, o Radiohead sempre foi fora dos padrões. O fator surpresa é uma arma da banda, utilizada a favor da continuação de uma carreira que, por enquanto, não demostrou erros homéricos, mas deixou, devido ao lançamento de In Rainbows, a indústria fonográfica desesperada. Afinal, eles provaram que podem continuar o sucesso sem a dependência. Bastou ousadia. Algo que as grandes gravadoras ainda não possuem.