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A Mãe da Batalha Afegã

Fecho os olhos e vejo tudo. A cicatriz em minhas mãos, o sangue na minha testa. Solicito mais um pouco, mas a piedade não se apresenta. Tento mais um pouco, nenhuma resposta obtenho. Espero o momento exato para acordar. Percebo que não estou dormindo. Pássaros no céu anunciam a despedida. Folhas praticam queda livre dos galhos. Portishead é a trilha sonora.
Continuo no mesmo lugar, os braços abertos, a esperança fechada. Percorro por caminhos meus desconhecidos enquanto salvadores sorriem conseqüências abstratas. Eles não sabem do que se trata, não conhecem a maldição, não sabem o que estão fazendo. Meu peito nu jorra aquilo que me era direito, aquilo que me era esquerdo, aquilo que me guiava. O rompimento enfim foi selado.
Desço do mundo, grito um profano, corto meu tímpano, cego meu rosto, reconstruo o ápice e forço a pureza. Tiram meu bem, escondem meu amar, catalizam a violência, arrancam meu filho e vencem minha glória. Bem que tentei, porém, sofri. Um tiro no escuro perdido veio de encontro ao meu corpo. Depois de tanto lutar, agora padeço. Sobreviva criança, a sua mãe agora descança.

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.