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Casal briga e mulher sofre acidente

Pífio. Sono. Sarcástico. Olhos. Fechados. Vozes. Silêncio. Fumaça. Término. Lágrimas.

Desce pela escada o corpo estremecido. Pela janela do apartamento a outra alma acompanha o adeus. O fim tem dessas coisas. Procura o ponto de táxi mais próximo. Entra no carro. Pede para ir o mais longe possível do lugar que acabou de sair. Enquanto isso, deitado no sofá, continua a tragar o último suspiro do Malboro. Relembra o início de namoro e compara com o término. É nesse momento que o táxi bate em uma encruzilhada. A moça arrebenta a cabeça no banco e sangra. O erro não foi do motorista. Uma pontada é sentida no último trago. Fecha os olhos e sente a dor. O sangue continua a escorrer. Vai até a janela para olhar a mesma rua pela qual ela foi embora. A ambulância demora a chegar. Um sentimento incomoda. Os para-médicos fazem o que podem. Ele liga para o celular dela. Ainda perto dali, o celular não é atendido. A bolsa ficou no carro. Um múrmurio é ouvido. Ela é carregada em uma maca. A ambulância voa. O coração sente. Desliga o telefone. Tranca o apartamento e desliza pela escada. Encontra a rua. Procura desesperadamente por ela. Alcança a encruzilhada. Enxerga um táxi destroçado. Tenta não pensar na possibilidade. Chega perto do carro. Vê a bolsa dela. Entra em desespero. Implora por informações. Elas confirmam o que ele já sabia. Sente-se culpado. Caminha sem direção. Chora. Tropeça em uma pessoa. A pessoa pergunta se ele quer ajuda. Ele responde que sim. Ela o leva até o hospital. No balcão ele pede informação. A secretária diz que está tudo bem. Ledo engano. Ela está morta. As pessoas foram confundidas. Ele espera. Não agüenta. Espera mais um pouco. Nem sabe da notícia. Ninguém o atende com informações corretas. Se fosse rico, ele poderia comprar alguma informação. Deita no sofá. A pessoa que o ajudou já foi embora. Chega a madrugada e nada. Mais um vez o desespero adentra os olhos quando o médico de plantão traz as últimas informações. Ela não morreu. Ele tem mais uma chance. Fica aliviado. Pronto. Ela nem estraçalhou a cabeça no banco do táxi. Isso aconteceu com a outra pessoa que estava no mesmo táxi que ela pegou. Muita confusão. Muita confusão mesmo. E eu não acredito que você leu até aqui para saber se ela tinha morrido ou não. Que perda de tempo. Ela está bem, ok? Pode voltar para o MSN. Ponto.

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um gole de derrota nesse asco. um casco entre as unhas, colabora. o copo quebrado acumula pó e o nó na garganta é charme. a calma quer explodir em caos para um fundo em furo se enfurecer na poética dissonante de um crescente anoitecer. mencionado antes, agora exposto "o mundo está duas doses abaixo" por mais que às vezes, acima, recria o oposto da colocação. então, não tenha medo hora ou cedo o coração padece e merece um aproveitar que tenha como fim o sorrir. (mas não acontece).

Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.