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Tudo passa, mas a falta fica

Doce manhã banhada pelo astro-rei. As dores do tímpano agora estão amenas. Serenas, no entanto, são as situações mastigadas a cada dia. Mas hoje o primeiro mandamento é acordar feliz. Um café degustado na imprecisão do tempo que não fica estabelecido. Um velho jornal sendo lido como se fosse atual. Comidas sem sabores na geladeira. Uma planta morta no canto da sala. O rádio estragado. O gato implorando por comida descente. Disseram que a viuvez não se ensina, se convive, contudo, difícil é aprender os meadros da situação. Talvez fosse mais fácil ensinar um cachorro assoviar New York New York no mesmo tom do Sinatra. Contudo, a ordem suprema é acordar feliz.
O chão está estúpido. Estupidamente repleto de pó, Nescau, bosta de felino, mijo, papel de bala, migalhas de bolacha, pedaço de pão mofado, jornais e revistas. O cheiro do apartamento não lembra mais a infância, está mais parecido com o odor do Armagedon. Como é um dia para ser feliz, nada melhor do que começar uma bela faxina no recinto.
Doce manhã banhada pelo astro-rei. Uma grande pena a amada não mais presente se fazer, não pela limpeza, mas pela companhia. O cheiro de avó, o adereço no cabelo, vestido florido e pele macia. Faltas que impedem o gosto do viver. Porém, tudo passa. Até uva passa. Inclusive, tem uva passa no chão. Está na hora de limpar e continuar a sobrevida.

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Alguém me disse que uma das melhores coisas para se esquecer um amor é escrevendo sobre ele, analisando os fatos. Não sei dizer se isso é verdade, mas sei que dói. Tenho quase 30 anos e já tive desilusões amorosas e confesso: as outras foram mais fáceis. Certa vez um amigo comentou que só existe um grande amor na vida. E eu passei a acreditar nisso. Muitos profissionais dessa área, afinal, praticar o amor é viver em sofrimento e dedicação trabalhista, procuram no bar mais próximo o método para esquecer o momento do rompimento. Eu não tive essa oportunidade, pois o bar mais próximo era muito, mas muito longe. O detalhe é que o rompimento aconteceu na casa da pessoa que até então se declarava, que dizia: depois de tudo o que passamos, terminarmos seria um erro. Puta merda! Tem ideia de como me sinto quando lembro dessa frase? Quando isso acontece, logo me vem à cabeça os bens materiais. Por que gastei? Para que comprar um perfume tão caro? Para reconquistar? Sim, e olha no que deu. E a c...