A habituação das coisas envolve a repetição. O ato envolve, portanto, a prática. É assim que a capacidade quase natural se constitui numa quase segunda natureza dos indivíduos. Não conheço muito de filosofia, mas se não me engano, Aristóteles abordava a respeito, mas salientando que isso era mais complexo do que essas simples frases. Num primeiro momento, a teoria considera os hábitos e as práticas da habituação de forma mecânica e passiva. O cara dizia que a ação pressupõe a discriminação de uma situação em ordem a fim de dar uma resposta adequada, sempre associada a objetivos, sendo impossível separar o momento externo da ação (o comportamento) dos momentos interiores (o processo).
Mas o que quero dizer com essa falácia? Que o filósofo argumentava que a repetição melhora as coisas, tornando as pessoas mais perspicazes na realização, sei lá, da arte, por exemplo. No entanto, não significa que isso necessite ser feito sempre da mesma forma. Ao repetirmos uma ação sempre há alterações, mesmo que pequenas, automáticas na aprendizagem continuada. Quando repetimos, por vezes, costumamos associar alguns progressos ou melhorias. Um tatuador sempre se aperfeiçoa com a prática. Um músico se sobressai, independente se tocou pela quadragésima vez uma obra de Bach. Ou seja, acaba se transformando em refinamento, através de tentativas refinadas. A prática permite o progresso sempre na repetição crítica.
Uma repetição crítica reconhece os erros anteriores e compreende aperfeiçoamento através dos erros anteriores, com mais emoções e análises. Quando uma repetição passa a não ser mecânica, origina progresso. O processo de aprendizagem é assim. Os alunos repetem o alfabeto até memoriza-lo e assim vão juntando as pecinhas com palavras e frases. E, por vezes, acreditamos que a repetição pode nos levar a caminhos iguais, já sabidos e com resultados não satisfatórios. Mas é graças a ele que, justamente, podemos perceber que existem outros trajetos. O amor é assim. Sabemos exatamente o que vai acontecer, de relacionamento em relacionamento, sempre carregando vícios passados, porém, com a diferença de que foi na repetição que aprendemos o que não fazer.