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Mostrando postagens de janeiro, 2006

Um

Quem nunca se emocionou com uma canção do U2 que mova a primeira montanha que conseguir. Exageros à parte, a banda irlandesa é capaz de compor petardos capazes de derreter o gelo mais pré-histórico da Sibéria. O grupo de Bono Vox já prestou muitos favores ao pop com álbuns clássicos como "The Joshua Tree" e "Atchung Baby", disco que contém a pérola radiofônica chamada "One" ("Um", em tradução literal). O pseudo-articulista político e defensor do terceiro mundo de plantão, Bono Vox, foi capaz de desenvolver em "One" uma das letras mais sentimentais sobre a desilusão de um grande amor. Tudo bem acompanhado da guitarra esperta do The Edge, um dos melhores compositores de riffs da história música pop. Com a voz à flor da pele, em uma interpretação belamente sofrida, o vocalista esbraveja nos primeiros versos da canção citada: "Está melhorando/ Ou você se sente a mesma?/ Bem, as coisas vão ficar mais fáceis para você/ Agora que você tem...

Marasmo

Que marasmo! A cortina fechada não deixa entrar a neblina que se esvoa fora do quarto. Elliott Smith acompanha os embalos de sono de um ser em solidão. Ele pensa em alguém que nem sabe se existe. Tem sonhos clandestinos sobre um relacionamento estranho que não se consome. Às vezes se esquece da noite passada e acorda sozinho ao lado de trocados deixados na cabeceira da cama. É dia primeiro de janeiro de 2006. O gosto de álcool ainda permanece nos lábios rachados. Os olhos fechados não se permitem abrir. Ele passou a virada com alguém, que novamente saiu sem dizer bom dia. Nem todos os dias são bons. Alguns levantam vagorasamente enroscados em lençóis. De qualquer forma, levantam, vão à panificadora, voltam, fazem café, tomam café com pão e margarina, saem atrasados para o trabalho e seguem a rotina. No caso do ser solitário, o seu desejum é composto de vodca, pão de forma e arrotos. Muitos arrotos para aquecer as cordas vocais calibradas com alcatrão. Ele já acorda bêbado. *** Possui p...

"She Wants To Play Hearts"

Existem canções que nos transportam para lugares que nem mesmo conhecemos. Quando eu ouço Ryan Adams (não confundir com o errante canadense Bryan Adams) parece que estou caminhando por alguma estrada deserta do Alabama. O céu está limpo e as estrelas me acompanham no uísque vagabundo. E, no momento mais oportuno, encontro um bar com luzes de neon. Sempre imagino isso quando ouço "She Wants To Play Hearts", canção do álbum "Demolition". Esse é o terceiro trabalho solo do cantor. Não é o melhor. Na minha humilde opinião, o primeiro do Ryan ainda é o melhor, "Heartbreaker". O álbum tem gosto de destilado e tabaco, mais precisamente, Malboro com filtro vermelho. Coisa de cowboy. Outra música emblemática é "Tennessee Sucks", também do terceiro CD do cantor. A voz rouca do Ryan parece ter sido calibrada com o melhor do alcatrão, coisa que Jonnhy Cash vez muito bem. Têm coisas que só a experiência proporciona.

Carta de uma ex-puta com medo

A minha pele eu cuspi em um esgoto e fui ser feliz. Estraguei o meu rosto com pinceladas de fúria. Fiz do meu corpo retalhos para montar inverso, em um rigoroso inverno de causar tesão. Deixei-me do lado de fora das vontades não conquistadas. Atrasei os sonhos de propósito para não alcançar alegria. Troquei todo o positivismo por um copo de destilado e um maço de cigarro. Não saí de casa por medo do ridículo que eu criei a base de revistas que veneram o consumismo. Alimentei-me das ilusões que comprei no supermercado capitalista. Arrotei frases prontas digeridas com auxílio de um sal de frutas vencido. A farmácia não devolveu o dinheiro. Hoje sofro de câncer cultural e fico no meu quarto por não estar no padrão. Não me sinto à vontade no meu próprio mundo. Por isso: bang! bang! bang! Silêncio.

Do Meu Gosto

Tribal iconoclasta da pessoa que devora hóstias em minhas orações. Há missas ainda em minhas memórias que de desespero cancela a concentração. Um concerto mudo muda o sentido do meu mundo. O seu silêncio é a minha resposta. Quero-te ausente para perceber a gente que não me fez um novo coração. Ajoelho-me ao altar para matar o que tenho de bom, beijando a cruz do desgosto que me tornou oposto aos mandamentos do meu gosto.

Jogos de Azar

Gira rápida a lembrança pelos olhos Causa dor na memória quando ela vem Vive aflita em um copo de leite gelado E em fumaça densa e turva de baseado Olha pelo espelho a vida dando adeus Com lentos acenos de solidão E a saudade desliza pelos olhos Que apenas uma vez viram a gratidão Mas agora o esquecimento invade E aos poucos some com a idade Dorme embriagada de lágrimas tintas Engarrafadas em tonéis de carvalho Enquanto apaga a última traição Rasgando cartas de um velho baralho Os jogos de azar aos poucos acabaram E o fim certeiro agora chegou Em um descarte equivocado total De ressentimento que ela não pensou. Leonardo Handa

Diálogo

Refazendo favores desfeitos por desavenças desdobradas em situações revividas: - Recriando meu velho novo desafeto! - É você destestável refeito em algum reescrito desumano. - Cale-se reprocesso ordinário de pensamentos reconstruídos. - Não me calo na reconstrução, os meus pensamentos vêm e vão. - Pois bem, eles deveriam ir e não voltar. - Tudo bem! Eis de revoltar. PS: Os seguidores de Immanuel Kant acreditam que o espaço e o tempo pertencem a consciência e não são atributos do mundo físico. Já os seguidores de Jean-Paul Sartre acreditam que existe uma explicação para todos os aspectos da existência.

Kill me Sarah, kill me again

Uma sinfonia de tiros ao longe, muito longe. O céu está iluminado com riscos que viajam procurando um alvo. A lua é testemunha da história árida em um deserto do oriente. A tropa fica na expectativa de encontrar sodomas insanos para descarregar seus fuzis recém limpos com amor e ódio. Na imaginação de um soldado lá presente toca Disarm do Smashing Pumpkins. Agora, um forte ruído se espalha no escuro. Os infra-vermelhos são ligados. O jogo de vídeo-game se aproxima. Outra explosão é ouvida. Outro ser canta mentalmente mais uma canção. Dessa vez é Radiohead que interfere, com os versos de Lucky: "Kill me Sarah/ Kill me again/ With love". A saraivada de tiros amplifica o som dos berros dos aflitos. Uma criança de 18 anos encontra o chão. Uma tropa não percebe e mata esmagado o rapaz que tinha o sonho de ser engenheiro elétrico. Pisoteado ele fica lá, como se fosse uma paqueca humana coberta de molho de sangue. Aviões rasgam o breu e soltam seus brinquedos teleguiados por control...

"Tem que acontecer"

Risque uma paralela em toda a extensão desse encontro que de clandestinidade não pode mais viver. O agüentar já vazou tantas vezes pelos olhos vermelhos que agora querem fechar. Chega de segredos distorcidos, a saliva não suporta mais disabores. O agridoce perdeu o gosto novo dos primeiros encontros. Mas, agora, o vapor da ansiedade pede que suma da visão mais feliz. Existe alternativa ainda, porém, a questão é dissertativa e não de múltipla escolha. E não basta parafrasear versos de T.S. Elliott, não há encantamentos que possam mudar a opinião. O momento agora é deixar escorrer tranqüilo. Muito fácil é falar devido à situação desfavorável. Como consolo, Sérgio Sampaio sussura através dos fones de ouvido. "Se vai perder, outro vai ganhar/ É assim que eu vejo a vida e ninguém vai mudar". E eu, que não sou Deus, nem sou senhor, apenas um compositor popular, daria tudo também para não te ver cansada. De qualquer forma, a nossa situação "Tem que Acontecer". Utilizo das ...

Deus nos dê fígado, pois temos o mundo todo para consumir

Passar as férias em um lugar diferente é ótimo. Nem tão diferente assim, já que passei a virada na fantástica Ilha do Mel, local que considero "velho conhecido". Como as atitudes das pessoas mudam quando estão em um paraíso natural. Até o sotaque fica idiossincrático, mais delicioso, sobretudo acompanhado da brisa do mar das costas paranaenses. Tenho a impressão que os indivíduos ficam mais sinceros e também acessíveis. O companheirismo aumenta até quando se trata de um ilustre desconhecido que se torna conhecido nas trilhas encantadas da Ilha do Mel. Determinados lugares mudam as pessoas, para melhor, é claro. Principalmente se uma bebida destilada se faz em presente companhia. Tudo parece romanciado. Não tenho do que reclamar, 2005 deixará algumas saudades, mas espero deste novo ano possibilidades grandes com a mente aberta. Confesso que trabalhei lá na Ilha, não no sentido de labuta capitalista, mas mentalmente, me preparando para 2006. O descanso se fez presente. Novas am...