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Carta de uma ex-puta com medo

A minha pele eu cuspi em um esgoto e fui ser feliz. Estraguei o meu rosto com pinceladas de fúria. Fiz do meu corpo retalhos para montar inverso, em um rigoroso inverno de causar tesão. Deixei-me do lado de fora das vontades não conquistadas. Atrasei os sonhos de propósito para não alcançar alegria. Troquei todo o positivismo por um copo de destilado e um maço de cigarro. Não saí de casa por medo do ridículo que eu criei a base de revistas que veneram o consumismo. Alimentei-me das ilusões que comprei no supermercado capitalista. Arrotei frases prontas digeridas com auxílio de um sal de frutas vencido. A farmácia não devolveu o dinheiro. Hoje sofro de câncer cultural e fico no meu quarto por não estar no padrão. Não me sinto à vontade no meu próprio mundo.
Por isso: bang! bang! bang!

Silêncio.

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.