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Um

Quem nunca se emocionou com uma canção do U2 que mova a primeira montanha que conseguir. Exageros à parte, a banda irlandesa é capaz de compor petardos capazes de derreter o gelo mais pré-histórico da Sibéria. O grupo de Bono Vox já prestou muitos favores ao pop com álbuns clássicos como "The Joshua Tree" e "Atchung Baby", disco que contém a pérola radiofônica chamada "One" ("Um", em tradução literal).
O pseudo-articulista político e defensor do terceiro mundo de plantão, Bono Vox, foi capaz de desenvolver em "One" uma das letras mais sentimentais sobre a desilusão de um grande amor. Tudo bem acompanhado da guitarra esperta do The Edge, um dos melhores compositores de riffs da história música pop.
Com a voz à flor da pele, em uma interpretação belamente sofrida, o vocalista esbraveja nos primeiros versos da canção citada: "Está melhorando/ Ou você se sente a mesma?/ Bem, as coisas vão ficar mais fáceis para você/ Agora que você tem alguém para culpar". A balada segue e Bono indaga: "Eu te desapontei?/ Ou deixei um gosto ruim em sua boca?/ Você age como se nunca tivesse tido amor/ E quer que eu continue sem nenhum". As dúvidas sobre a relação aumentam conforme os minutos vão passando e a pedra mais fundamental vai quebrando. É quando Bono tenta achar uma solução, se esgoelando nos versos: "Bem, é muito tarde/ Esta noite/ Para trazer o passado à tona/ Somos um/ Mas não somos os mesmos/ Temos que carregar um ao outro/ Carregar um ao outro".
Para quem rompeu recentemente um amor a dois e ouve essa música, se conseguiu ouvir até essa parte da canção e não demonstrou nenhum sentimento, então o aconselhável é procurar um cardiologista, pois coração não deve ter mais. Porém, não é apenas isso. O irlandês não desiste e solta a clássica frase: "Você veio aqui pelo perdão?". E continua a indagar a relação: "Você veio levantar os mortos?/ Você veio aqui bancar o Jesus para os leprosos que você inventa?/ Eu te pedi muito?/ Mais do que devia?/ Você não me deu nada/ Agora é tudo que eu tenho/ Somos um/Mas não somos os mesmos/ Ferimos um ao outro/ E estamos fazendo de novo".
As poucas respostas surgem aos poucos, exorcizando os demônios internos que cada um cria nos finais que vemos a cada santo dia. É então que ele tenta definir o indefinido, utilizando do comentário da paixão rompida, cantando: "Você diz/ O amor é um templo/ O amor é a lei suprema/ O amor é um templo/ Amor a lei suprema/ Você me pede para entrar/ E então você me faz rastejar/ E eu não posso continuar me agarrando ao que você tem/ Quando tudo que você tem é dor". A impressão que fica é que os personagens da canção, encarnados pelo vocalista, adoram colocar a culpa de um no outro. Algo extremamente normal no cotidiano amoroso de casais problemáticos que possuem uma relação com tempo já considerável. Se estivessem em começo de namoro e quisessem terminar, seria o contrário. Provavelmente eles diriam: "O problema não é você, sou eu".
Mas, voltando à canção, mesmo já sem fôlego, cansado, como um soldado que tem apertado no peito o fuzil do inimigo, Bono pede paz: "Uma vida/ Um com o outro/ Irmãs/ Irmãos/ Uma vida/ Mas não somos os mesmos/ Temos que carregar um ao outro/ Carregar um ao outro".
"One" é assim, capaz de causar arrepios em pêlos que você nem imaginava que tinha. Se a canção não te fez cócegas, então pode começar a mover a primeira montanha.

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Dois

Do dicionário informal, a palavra "frustante" significa enganar a expectativa, ou seja, uma decepção. Apesar de ter sido uma delícia, no final, você resumiu com o adjetivo o ato. Também fiquei frustado. Mas de uma maneira diferente que a sua.  Como eu queria te satisfazer, não sentir o incômodo que me provocar reação perceptíveis que te deixam como uma lente sem foco, perdido à procura de uma imagem bela. O que eu posso dizer? Perdão. Continuarei conforme a vara for cutucando, até chegar a um acordo. Se você estará até lá comigo, isso não sei dizer. Acendi um cigarro para refletir a respeito, na sacada, admirando a chuva que caia. Pensei seriamente em dar um basta, cada qual cavalgando por estradas diferentes. Será que vale a pena? Sinto a presença do amor. Espero que eu não esteja errado quanto a isso, mesmo com os vários sinais que outrora você imprimiu. Enfim, vamos tentando ser dois. 
O barulho, o som, o tudo. As vozes, a esquizofrenia. Quem aguentaria? É preciso jogo, é necessário o respirar. Chega a ser jocoso, parece lacrimoso. O volume, os gritos, a conversa. O cansaço no mormaço. O não relaxar do momento. Os nervos, a fúria, o ventre. O vento que não entra E o apuro do socorro. A bagunça e a falta de concentração. A raiva que aparece. O berro que permanece. Aqui, mudo, em silêncio. Como haveria de ser. Mas não é. lsH
É preciso manter os dois olhos atentos, como se estivessem sedentos por sangue, por amor, pela conquista de um novo terreno, mesmo que seja árido, úmido ou magnífico. É necessário duvidar do que o mentor em sala de aula projeta, arquiteta e repassa, como se aquilo não fosse a verdade absoluta, pois existem outras maneiras de se obter as mesmas informações do que entre as quatro paredes. É mandamento, sobretudo, amar tudo o que você entende como essencial para viver e desregar o abismo incrédulo dos preconceitos, independente se você nasceu, se criou e permaneceu em solos repletos da hipérbole do tradicional, do convencional, do puritano e conservador. Mas, é fundamental interpretar.