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Mostrando postagens de fevereiro, 2006

Lisérgico

Tapa o buraco com notas dissonantes de pura felicidade. Oferece um sorriso colorido ao garoto recém expulso da puberdade. Grita letras distorcidas quando alcança um abraço. Escorre de alegria para um quarto de ácido qualquer. Abre seu diário e relata o beijo explosivo que fez deslizar sentimentos entre as pernas. Dilui um comprimido em seu uísque. Olha pela janela e enxerga pássaros cor de jumbo nadando em um céu de sangue. Ouve Hendrix. Flutua em espiral até o teto e perfura a lâmpada fluorescente. Fecha o olho. Abre o esquerdo. Não lembra o nome. Um auto-tapa acorda o poeta que ele deixou enterrado nas flores de vidro trincado. Desliza a caneta pelo chão de carbono que ele rabisca frases metafóricas. Lembra da foda. Recorda a menina. Senta no vazio esperando por um trem que o levaria ao inferno. Imagina o diabo dizendo bom dia com cheiro de enxofre. Se vê salvo por anjos homofóbicos. Tritura rosas com os dentes de porcelana que uma elfa implantou, quando um dia ele dormiu e sonhou. D...

Sunday Blood Sunday

Acordo em um domingo de manhã com um gosto amargo na boca. Parece sangue. Acendo um cigarro e espirro desgostos de sentimentos. Tento me esconder no lençol, mas nada me abriga. Fico na solidão que eu mesmo me impus, sem ajuda, nem contribuição. Alguns tentaram levantar. Eu preferi ficar deitado. E agora as pétalas vão caindo sobre o corpo. Ainda há gosto de sangue. Cuspo mais amargo. Encho a cara de depressão que percorre pelo meu ego detonado. Uma frieza cavalar estraçalha no meu peito uma dor absurdamente silenciosa. Recebo um ataque no olfato que logo me deixa surdo de razão. Deixo a vontade escorrer pelos dedos. Vejo um vulto passar correndo através dos meus olhos cegos. Talvez fosse eu mesmo. A vida se transforma. Modifica. Danifica. Distorce. A mudança freqüente nos leva a caminhos nem sempre agradáveis. Tropeço na primeira pedra e caio. Tropeço sempre. Estou sempre no quase. Tudo pela metade. O sentimento mais bonito também é o mais ridículo. E o sangue continua na boca neste do...

Balada triste

Uma triste canção ao piano faz companhia. O quarto está esfumaçado. Farpas foram recém recolhidas com todo o desgosto de um fim prévio. O rapaz fugiu pelo retângulo mais próximo, sem dizer adeus, sem sorrir, sem amor. A outra figura ficou nas lágrimas que se suicidavam em queda livre e encontravam o lençol. Lá fora a luz em neon ainda insistia em permanecer acesa, invadindo sem licença pela janela do quarto de motel. E a balada triste continuava a embalar a tristeza repentina. Somente puxando pela memória para lembrar. Um desespero surdo subiu em instante, estacionando na boca uma ânsia jacosa de tremor e ódio, mas, estranhamente, com um amor profundo, mesmo que perdido ele se foi. Ela não sabe dos sentimentos. Ela desconhece os dizeres. E ele não deu valor ao gostar, à paixão, ao companheirismo. Quando ficou sabendo da notícia, soltou um berro de proporções cavalares, fugindo da cama dividida a dois. Era um novo ser que estava sendo gerado, um acidente involuntário que ele não poderia...

Texto oscariado

Voa alto rodando uma montanha do oeste frio, cortante e dilacerante. Rabisca com raiva um texto de sangue. Briga através da mídia com um figurão político. Dance como gueixa em dúvida natural. Suba em prédio novaiorquinos. Assassine atletas de religiões contrárias. Denuncie artimanhas dos poderosos. Teste vacinas em africanos. Escolha o seu sabre de luz. Entre em uma caverna repleta de morcegos. Veja o drama dos palestinos. Acompanhe a história de um casal de cantores. Acompanhe as divirgências culturais de raças e os preconceitos de Los Angeles. Estraçalhe o seu sentimento na história do transsexual que na realidade é mulher. Ria do bruxo inglês. Envolva-se com um rapaz que se apresenta orgulhoso. Mas, não tenha preconceito. Veja o novo Woody Allen. Dê gargalhadas vendo os pingüins fazendo uma longa travessia. Não leve a sério as filosofias do leão falante da terra gelada. Vença os alienígenas que ainda tentam invadir o planeta Terra. Termine tudo em um "Crash".

Sentimental

Cuantas veces yo te dije Que eso iba a cambiar Yo nunca di motivo Si tu me avisas Me enseñas Habla de lo que fue para ti No va a librarme de vivir! Quién es más sentimental que yo? Yo dije y aun así, si pudo evitar. De tanto decírtelo tu subvertiste Aquello que era un sentimiento y así Hiciste de él la razón Para perderte en el abismo que es Pensar y sentir. Ella es más sentimental que yo Así que parece que está bien Si yo sufro un poco más. Yo sólo acepto la condición De tenerte sólo para mí Ya lo sé, no es así, pero déjalo Pero déjame que finja y ría. (Rodrigo Amarante). Tradução em espanhol: L.S.H.

Elas

A beleza é um sistema monetário, assim como ouro. Como qualquer economia, é determinada pela política e, na idade moderna do Ocidente, é o último e melhor sistema de crenças que mantém a dominação feminina intacta.

Quarta Vez

Estrague o que eu fiz Nunca fui bom Em te deixar feliz Nem agi de maneira exata E você sempre Me contradiz. Arraste o pouco que ficou Para outro lado da sala Mas não diga que acabou. Não quero desfazer a mala Que nunca arrumei Nem tirar da minha mão A tua tala. Eu sei que estou repetitivo E escrevendo coisas sem sentido É que estou brincando com os escritos Que podem traçar algum destino. De qualquer forma não me abandone pela quarta vez Não desfaça a bela história que você fez. (E eu continuei). L.S.H.

S.U.B.

Noite. A tríade setentista evocada no Woodstock dá a razão. Vaza o exagero pelo beijo tecnicolor ao som de deuses ressucitados. Madrugada. Balada no peito fechado em claridade. Dissonantes sons provocados por deslizes deliciosamente frenéticos. O problema é lembrar, agora, do que foi bom. Não tem comparação. Acrescente Mojo Pin, do Buckley, com Califórnia, do Wainwright. Junte aos poucos Malemolência, da Céu, e despeje Barracão, da Rebeca Mata. Retorne ao ápice com No Surprise, do Radiohead. Agore goze com Brendan Benson. Relaxe. Everybody Hurts, do R.E.M., auxilia enquanto toques frêmitos satisfazem. Manhã. Uma faixa de sol arrebenta-se pelo buraco da cortina, acertando a retina semi-aberta. Abre novamente para se deixar entrar. E recomeça o dia de freqüência, embalado o momento com Franz Ferdinand, Travis, Delgados e demais escoceses que também no copo pela metade se encontram. Um bom dia, um obrigado, um beijo, um abraço.

Texto antigo (pra pessoas antigas)

Um prazer intenso sentido nas pequenas coisas do cotidiano. Ouvir atentamente com os dois ouvidos abertos algum álbum do R.E.M. Ler um texto do Bucowski. Interagir vorazmente certa crítica musical ou cinematográfica. Tragar calmamente um cigarro. Ou então admirar uma obra incompreendida dos ano 80. Curtir a chuva em um domingo qualquer. Estar acompanhado dos amigos durante a projeção de um filme mediano de um diretor conceituado. Assistir uma peça de teatro realizada por conhecidos. Jogar "escravos de jó" e como castigo beber Martini Rosé. Fazer do trivial algo orgíaco. Descobrir no comum as novidades imperceptíveis de tão normais que a vã filosofia não alcança por causa da rotina. Acordar com um gosto azedo na boca, de causar sensação de repúdio quando lembramos da noite passada. Dar gargalhadas intermináveis relembrando situações constrangedoras. Gravar alguém vomitando porque bebeu demais. Voltar ao passado com o auxílio da mente e dos retratos feitos com uma máquina fotog...