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Lisérgico

Tapa o buraco com notas dissonantes de pura felicidade. Oferece um sorriso colorido ao garoto recém expulso da puberdade. Grita letras distorcidas quando alcança um abraço. Escorre de alegria para um quarto de ácido qualquer. Abre seu diário e relata o beijo explosivo que fez deslizar sentimentos entre as pernas. Dilui um comprimido em seu uísque. Olha pela janela e enxerga pássaros cor de jumbo nadando em um céu de sangue. Ouve Hendrix. Flutua em espiral até o teto e perfura a lâmpada fluorescente. Fecha o olho. Abre o esquerdo. Não lembra o nome.
Um auto-tapa acorda o poeta que ele deixou enterrado nas flores de vidro trincado. Desliza a caneta pelo chão de carbono que ele rabisca frases metafóricas. Lembra da foda. Recorda a menina. Senta no vazio esperando por um trem que o levaria ao inferno. Imagina o diabo dizendo bom dia com cheiro de enxofre. Se vê salvo por anjos homofóbicos. Tritura rosas com os dentes de porcelana que uma elfa implantou, quando um dia ele dormiu e sonhou. Destapa o buraco e engole as notas dissonantes. Joga fora os livros da estante. Atravessa a via estúpida dos escritores performáticos que são referência em sua escola. Voa pela internet buscando prazer não alcançado. Acende um baseado. Forma figuras geométricas com a fumaça. Traga mulheres belas que rasgam suas calcinhas com o cabelo. Uma medusa paga um boquete deliciosamente lento. Ele pensa estar fazendo algo tântrico. De repente, chora.
Viaja até a parede esquerda em direção à rua de suas saudades mais complexas. Passa pela infância em que seu companheiro se chamava Teddy Bear. Ele o estuprava todo santo dia. Percorre o tempo e perde a sua virgindade. Não demora muito e ele a acha jogava de pernas abertas em uma mesa de sinuca com sete buracos. Fode com todos.
Desfruta mais um pouco do espasmo. Fica no chão escrevendo em sua mão escárnios poéticos. Come a verborragia em que preparou numa panela de barro e degusta com vinho chileno. Vômita as orações aprendidas na catequese e fecha novamente o olho esquerdo. Com os dois fechados, agora, ele dorme. Acorda. E dorme de novo. Boa noite, tristeza.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.