Pular para o conteúdo principal

Balada triste

Uma triste canção ao piano faz companhia. O quarto está esfumaçado. Farpas foram recém recolhidas com todo o desgosto de um fim prévio. O rapaz fugiu pelo retângulo mais próximo, sem dizer adeus, sem sorrir, sem amor. A outra figura ficou nas lágrimas que se suicidavam em queda livre e encontravam o lençol. Lá fora a luz em neon ainda insistia em permanecer acesa, invadindo sem licença pela janela do quarto de motel. E a balada triste continuava a embalar a tristeza repentina. Somente puxando pela memória para lembrar.
Um desespero surdo subiu em instante, estacionando na boca uma ânsia jacosa de tremor e ódio, mas, estranhamente, com um amor profundo, mesmo que perdido ele se foi. Ela não sabe dos sentimentos. Ela desconhece os dizeres. E ele não deu valor ao gostar, à paixão, ao companheirismo. Quando ficou sabendo da notícia, soltou um berro de proporções cavalares, fugindo da cama dividida a dois. Era um novo ser que estava sendo gerado, um acidente involuntário que ele não poderia dizer "eu te amo". Um desgosto.
Logo após o acontecido, um garfo pôs fim ao nascimento.

Postagens mais visitadas deste blog

Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.