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Mostrando postagens de 2010

Amster dá

_Observo diretamente nos olhos. Algumas encaram tristes os seus destinos. Outras devem imaginar o que o dinheiro pode comprar. Elas podem ser mães. Podem ter namorados. Mas na moldura onde estão expostas, ninguém procura pensar sobre isso. Suas peles são claras. Seus rebolados são cansados. A pouca veste vermelha de uma está desbotada. A maquiagem, borrada. E mesmo assim, se entrega. Que música estaria ouvindo mentalmente? Teria vontade de sair daquela moldura? O rapaz ao lado está de pica dura. O velho com semelhança de Sean Connery está desfalecendo. Meu amigo não tira a retina de uma morena. Eu apenas penso. Até me emociono. Não sei se foi o vinho barato ou a cannabis do coffee. De certa maneira o ambiente é poético. Imagino-me recitando Baudelaire no ouvido de uma. Na outra, um Verlaine. "No velho parque deserto e gelado / Duas formas passaram há bocado / Com os olhos mortos e os lábios moles / Mal se ouvem, a custo, as suas vozes. / No velho parque deserto e gelado / Dois es...

Até 10

Primeiro vem o contato. A pele enroscando na outra, o arrepio que precede um suspiro interno. O olhar no olhar, o sorriso no ar. Segundo surge. Minutos prosseguem. Terceiros observam. Quartos serão abrigos. Muitos quartos. Possivelmente de móteis. Depois, será apenas um quarto. Quinto dos infernos será o pensamento durante as brigas. Sexto será a hipótese de traição e sétima o crime capital não cometido. Oitavo truques de retorno e nono é a ideia de ser avô para continuar o décimo motivo de estarmos juntos. Leonardo Handa

Rumos

Um trânsito em risco Faísca à risca o furo Do olho que vaza a luz. Percorre pelo lado esquerdo Uma escolha errada Já que há a falta de reflexo. A visão turva em turbulência Obtusa o sentido do controle Enquanto a ação dilui Entre as pernas o ocorrido. Não liga o gelo ao desespero Esperando o fim iniciado Mas a conclusão é física E o erro, não premeditado. O vidro arrebenta a cabeça Que sangra amnésia E um farol gritante registra Algo que parecia esperança. O túnel apaga o feixo Que iluminado ardia distraído E a luz que do olho vaza Apaga-se em discrepância. Leonardo Handa

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.

Pode ser uma letra ao invés de um sorriso?

Você diz que estou chato Mas não se liga. Acredita que o errado agora sou eu E não percebe que só quero atenção. Faz de conta que sou segundo plano Acha que pelas circunstâncias eu tenho que entregar Pois fui o seu sofrer. Justifica com o vago E ainda quer sorriso e amor.
Eu quero a marginalidade em fratura exposta no meu corpo novamente. Desejo sentir na mente a inconsequência de não me arrepender pelos atos, independente dos fatos. Peço pela clemência do alcatrão que corrompe a minha garganta. Espero sentir outra vez o sangue das minhas mãos. Quero fumar Tom Waits. Quero rasgar Lou Reed. Quero dilacerar Ginsberg. Eu quero tudo sem culpa, incluindo o exagero dos versos, da pronuncia errônea e da falta de coesão. Eu desejo a leveza bêbada que eu não consigo entregar, pois insisto em me controlar e não me deixo levar pela embriaguez que outrora sobrevivi. Cadê aquele jovem com pensamento velho de safadeza aflorada, como se estivesse copiando descaradamente o Bukowski? Não percebi o momento em que deixei a gagueira insossa do cotidiano me domar as rédeas cavalares, antes soltas de prazer. Pior que não encontro o período quando me deixei perder pela falta de agir enquanto via o status quo morrer. Por que eu perdi aquele lema de que ser feliz sozinho era ...

Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Tanto tempo que não escrevo algo sentimental. Ultimamente estou mergulhado apenas em boletins jornalísticos e roteiros de programas que não sobra tempo para o descarrego literário. Penso que estou perdendo a prática, sobrevivendo em piloto-automático em uma rotina que me agrada, mas não permite devaneios. E quando há o ócio, a cama me chama para usufruir a delícia de permanecer na horizontal, com os olhos fechados, permitindo pelos tímpanos abertos a entrada de buarques e gainsbourg's. O relaxar é quase imediato e quando percebo o celular desperta mais uma vez o dia começando às 7h. No fim das contas, o que está faltando é poesia nisso tudo. Existe a carência de romantismo ditado ao pé no ouvido para as soluções praticáveis da vida. E quem pode proporcionar isso? Eu, lógico. Mas nada faço! Estou reclamando o que então? A minha inércia perante a vontade de prosseguir viajando através de Bucowski ou cuspindo em um Ginsberg? Cade aquele cara que esbaldava bebericos de vodca lazarenta ...
E a vida se fez de louca, arrancou pela boca o coração e desperdiçou inúmeros momentos de alucinação. Arrastou-me para o espelho a figura invertida, me abriu uma ferida na perna esquerda e se transpôs em clorofila. Insetos medonhos expulsam as cáries dos meus dentes enquanto a canção que toca na hora errada é de uma lésbica apaixonada pela metáfora dos cabritos. A faísca do retardado insiste em achar a resposta complexa do achado, mas são de idiotices que as luzes das incertezas aproveitam os vômitos dos condenados a fim de concluir burrices de absurdo. O traçado paralelo pulsa com disritmia e tropeça em um buraco que acaba com a tese. Os outros ainda procuram chamar e desistem por estarem atordoados. Mensagens cifradas cospem do retrato a poesia com sabor de asco que o asno rosna em um roçar de vocais. O trunfo do fluxo de escárnio escorre pela boca que se esconde por ter razão da fúria do provérbio claustrofóbico. A ave em fogo sobrevoa o arquipélogo dos perdidos que encontrados ac...

ANEsteSIA

Revirando esse jardim de cactus, arranco coices dos espinhos da sua mão. Pouso lento no áspero repousar de seus lençóis e recebo um açoite na jugular. Minha visão escure. Ouço um último acorde. Não identifico se era Peter Gabriel ou Genival Lacerda. De fato, estava muito confuso. Sigo revirando, mexendo, bisbilhotando. Percebo cartas não seladas, antigas memórias de carbono 14. Cuspo sensações estranhas, resquícios da noite retrasada. Tudo misturado. Tudo ao mesmo tempo agora. Titãs? Sim. Amor, quero te ver cagar. Volto, retorno, choro. Um deles perfura meu tímpano que distraído deixa escorrer revelações. Maluquices. Doidices. Sandices. Serenata de prazer aos seus, que analisam as bases eletrônicas da contradição. Não cite O Jardim das Horas, pois estou com a Lurdez da Luz. Viro a página, como a palavra, devoro o fruto. Tenho agora em minhas unhas a sujeira da sua voz na cadência do seu samba embolado em um cigarro. Continuo a revirar. Raízes arrancadas surgem dos cadernos de pintar. A...
Meu cérebro pifou. E eu acho que é pra sempre.
Dia preguiçoso. As gotas da chuva vão se matando no vidro da janela enquanto um velho companheiro me amortece via MP3. Manhã e tarde na vertical, observando um teto que nada lembra a capela Sistina. Momentos de pura contemplação me bastam e um tiro sai da estante em forma de palavras. Eu o já tinha lido, mas sempre é bom relembrar. O velho safado ainda traz ótimos momentos. Minha identificação quase profana com os seus versos às vezes me confundem e me convidam à liberar a marginalidade presa no interior, seguir a vida sem ligar para as contas, visitar algumas pessoas e simplesmente mandarem se foder; disparar algumas balas em cabeças que se acham pensantes e desmascarar profissionais comunicacionais idiotas. Mas, infelizmente a violência fascinante não povoa a minha massa. Como escape, cuspo certas frases junto ao violão. A forma de liberação de ódio nem sempre me relaxa ou funciona. Tento gritar - não consigo -, procuro esquecer - o que piora. Não sei muito o que fazer. Em determinad...

já foram tantas

Esses dias já passaram Tão corridos Por perto desses segundos Tão doloridos Que se mataram por serem Tão sofridos. Já foram tantos Que não lembro Mais dos outros. E você passa arrastada Por esse corredor Enquanto eu vejo da sala A sua encenação de dor. Já foram tantas Que não lembro Mais das outras. Essas noites já passaram Tão doloridas Por mortes metafóricas Tão corridas Que me perco nessas horas Tão sofrifas. Leonardo Handa

Catarro de amor

Gozo de alma Abraço de sangue Forte de paz Beijo de porra. Amor de merda Truques de fel Toque de pus Ferida de luz. Vida de urina Cama de sêmen Trago de fossa Olhar de esgoto. Bosta de fogo Hora de choro Fóssil de mijo Catarro de amor.

ele_e_ela

Estou cansado Do mesmo trapo Do mesmo tapa Que me desloca. Não quero Ser mais a louca Que esfaqueia O seu coração. Então ficamos Do ponto que terminamos. Estou aflito Nesse conflito. Eu também quero paz Não vou mais deixar A minha unha Em sua cerne. Cada qual agora, Minha amada, Seguirá o seu caminhar. Espero conseguir, Pois sempre imaginei Contigo prosseguir. Léo Handa

Mal-agouro

30 por dia para suportar A navalha que a vida insiste em sangra. 24 horas não são o suficiente, Até em sonhos o filtro vem me visitar. Faço ponto onde deixarem Meu companheiro fiel vai comigo. Têm dias que eu o traio E prefiro um maço ordinário. Atendo alguns com colônia barata, Mas a fumaça da boca me distrai. Outros chegam com odor de cachaça O que para mim é perfume. Não ligo para os rótulos, As definições poéticas são ridículas. Maria Madalena está tatuada no braço. Todo padre que vê sente cagaço. Se um dia vai me matar Pior será enfrentar o SUS, Por isso eu sigo enchendo: A minha profissão é de cruz. (Leonardo S.Handa)

Repugnante Tormento

Remete uma canção Na dor mais antiga Da eterna paixão Pelo pó que levantou. A lágrima absurda Ecoa surda no berro Da repugnante tradição. Há tiros na escuridão E silêncio na infância Que insiste em se perder No tempo da conclusão. Sopra no barro um remorso Causado pelo tempo, Socorre ao álcool Um pouco mais de lamento. A lágrima absursa Ecoa surda no grito De repugnante tormento. (Leonardo Handa)

Poema DisTRAÍDO

Eu, aqui, caído Esperando uma gota Mas o que me vem É um lamento. (Em C G D) Às vezes eu não acerto a mão E quando acerto, é aflição. (Am Bm) Senão, fico deitado Na valeta do desejo À espera de chuva Sem o devido segredo. (Em C G D)

Estragado

Eu posso estar me sentindo um traste , respirando merda em sala de perfume. Posso estar cheirando esgoto onde tem flores. Posso estar reclamando do barato , quando na verdade nem estou chapado. Posso estar pouco a vontade, mesmo andando pelado. Eu posso estar querendo muito, mas é com restos que ainda caminho. Eu posso estar errado. Eu posso ser o fracasso. Eu posso não estar ganhando elogios, algo que precisaria. Posso estar caindo pela esquina, mesmo bebendo pouco. Eu posso estar tendo uma crise, meia-idade, idade inteira, idade rasa. Eu posso estar desacreditado com o futuro, vivendo de passado, estraçalhando o presente. Eu posso estar sendo um bosta profissionalmente, tragando demasiadamente as carteiras, encerrando projetos, cuspindo gracejos. Eu posso estar muito errado. Extremamente errado . Eu posso estar falando asneiras, percorrendo a marginalidade, curtindo uma cicuta. Eu posso estar em uma sinuca, mas na realidade é um xadrez. Eu posso estar dizendo mentiras, vivendo v...
Meu rock está um nhoque. Meu amor, nem nhoc! Meu coração é só tum tum. Meu pulmão, boom! Uma pessoa passou. Fiu fiu. Nem olhou. Down! Tentei outro truque. Pleft! Marcas no rosto. Ai! Segui meu trajeto, trac trac. Bati na porta, toc, toc. - Se mande! Não te quero mais. - Uau! Abaixei a cabeça e fui. Chutei uma lata, pow! Acertei um cachorro. Putz! Ele correu em minha direção. Me lambeu. Báh! Continuei a caminhar. O au-au comigo. Parei na praça. Sentei no banco. Um pardal cagou em mim. Merda! Literalmente. O cão me olhou, me consolou. Limpei a titica, eca. Encontrei uma carta em minha mochila. Urrul! E mais cinco reais. O escrito não dizia nada. O cachorro me lambeu de novo. - Chega! Comprei pipoca. O cão adorou. Au! Au! Fez uma graça. Abanou o rabo. Deu a pata. Ganhou o pacote todo. Nem gosto de pipoca. Outra olhada no bolso. Um MP3. On. Tchec! Paulinho Moska. Mudei. Bebel Gilberto. De novo. Arnaldo Antunes. Novamente. Marcela Bellas. Ixe! Não é a toa que meu rock está um nhoque! O c...

Na Confusa Agonia do Ser

Segundo dia do mês No desespero da idade Que se completa No final de mais um. O sorriso torto Tenta disfarçar A falta de conforto. Nem tente amar, Ele dispensa o pouco Que ficou. Termina outra fase Na confusa agonia Do ser De querer amar E não poder ficar Devido a desgraça Da concepção.
Não se trata de um dos momentos mais fáceis. Tenho a vontade de conseguir a auto-combustão. Tento ficar distraído, mas, quando percebo, estou apenas caído. Como alguém já me falou: - você está perdido, não? De fato. Meus tiros vão para todos os lados. Confesso que não me sinto nada à vontade nessa condição. Queria ter um plano traçado, uma meta estabelecida. A situação atual não está permitindo. Ou seria o cérebro me traindo? Eu não deveria estar aqui lamentando a minha fraqueza. Se bem que também se trata de falta de sorte. Tento me apegar à Charlotte Gainsbourg para auxiliar. Não está adiantando muito. Estava meio a fim de revirar o meu corpo pela boca, deixar exposto meu fígado ao relento e que, aos poucos, ele fosse comido por um urubu. Mas aí seria fácil demais, a vida me derrotaria. Não lembro quem disse, "não leve a vida muito a sério, afinal, você não sai vivo dela". Às vezes tento levar isso como tatuagem de sentido maior, como se fosse uma oração do derrotado, por...
Não é uma questão de escolha... ... Se fosse assim, eu fiz errado. O problema sou eu... (a mais idiota e, no caso, sincera frase)
Ela está no quarto Vendo a novela das sete. Ele está na sala Ouvindo Cat Stevens. Ela está tomando Um chá de camomila. Ele está soltando Fumaça de um Marlboro. Ela se emociona Com uma cena do folhetim. Ele dá razão A uma frase de violão. Ela deixa uma lágrima cair. Ele engole o seco do sentir. Ela abraça o travesseiro. Ele cruza os braços. Ela se identifica com a mocinha. Ele pensa na Califórnia. Ela bebe o último gole. Ele fuma o último trago. Eles estão se despedindo.
Eu nada fiz. Eis o problema. Errei. Caguei. Fodi. Acabei de me estuprar mentalmente, me fechei no cego transparecer simplemente porque não dei o braço a quebrar, pois para torcer seria superficial. Agora bebo chá. Até que acalma, mas não muito. Utilizo mais dez cigarros para rebater. Não entorto mais a cara por causa do fígado. Ele está virado em um patê.
Senhor do céu, como é difícil! Quero deixar bem claro que sou bem grato com a minha vida. Agradeço por ter todos os dedos, os membros perfeitos e poder caminhar. Agradeço por ter um teto, comida na mesa, uma família maravilhosa e conseguir sanar as necessidades básicas que regem essa orquestra que chamamos vida. Mas, como é complicado agradar, não? Principalmente os amigos e as suas conversas paralelas via MSN ou seja lá que artifício internético. Muitas vezes eu não ligo, estou cagando para os comentários, sobretudo os maldosos. No entanto, quando começa a envolver os sentimentos, aí cansa. E é nesse estado absoluto que estou: cansado. Alguns dizem que andam me chamando de fofoqueiro, de duvidando das minhas atitudes, de ignorando a minha sanidade mental que, confesso, quase foi para o brejo; uns querem mais atenção, outros suplicam em ruídos comunicacionais verdades de carência... No fim das contas, acho que querem é acabar comigo. Dou-lhe razão Roberto, quando se é muito querido o t...