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Escárnios


"Se quiser viver uma vida feliz, amarra-se a uma meta, não às pessoas, nem às coisas"


Albert Einstein


Doce necessidade de vazar. Vejo com as mãos, mas sou cego dos dedos. Procuro com a língua, mesma sendo surda. Ouço, então, pelos olhos e respiro com os ouvidos. Confundo o céu da boca com o fim do mundo que muito próximo saiu em câncer do meu pulmão. Por isso agora eu quero vazar antes que eu volte a confundir.

Percorro pela paralela que se une e um quadrado anuncia: é o novo caminho. Ele é quebrado e pequenos losângolos de afiadas pontas se formam e cortam os meus lábios. É quando eu acordo.


"A vida é aquilo que ocorre enquanto você está ocupado fazendo outros planos"


John Lennon


Levanto e apanho na entrada de casa, ainda de pijama, o jornal jogado na umidade matinal da grama. A matéria de capa é a respeito de crianças que estão aprendendo italiano a fim de conservarem a cultura de seus descendentes. Rápidos olhos passam pelo texto que não chama a atenção. Afinal, somos apenas italianos? A carência cultural legítima da região se resume aos macarrões e polentas? Para falar a verdade, não penso muito nisso.

Viro a página do jornal e desisto. Hoje em dia não se escrevem mais matérias como antigamente. Lembro de duas frases, uma do Lennon e outra do Einstein. Recordo à vida. Pego um pedaço de guardanapo e inicio um pífio de um triste escrito:


Prestes


Eu tenho uma arma contra o olho/ Prestes para acabar com a sua aflição/ Já que o meu amar é o seu matar/ Estou quase pronto para disparar/ Vai ser um estrago e você não precisará me perdoar


É sexta-feira de manhã, estou com um gosto azedo na boca. Uma saliva de dipirona me transtorna. Vou até à janela e na rua eu não te encontro. Miro os olhos para a chuva e te vejo em uma gota que desliza como bailarina pelo sujo vidro da janela. Procuro novamente o auxílio do físico e respiro. Ponho uma roupa e sigo. Mas deixou o pensamento egocêntrico reverbando na massa de cinzas: amarra-se a uma meta, não às pessoas, nem às coisas. Confundo-me com a contradição e continuo através de outros planos. John Lennon, você tinha razão.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.