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Memória


O sol bate fraco no rosto. A brisa do mar abençoa a face. As ondas morrem nas costas de areia. A luz vai se despedindo em um belo adeus de dever cumprido. As aves voam rumo ao adormecer. Um grupo de pessoas inicia um lual, mesmo ainda sem a presença do satélite natural. A fogueira aos poucos joga faíscas pelo ar. O coração solitário do irmão companheiro segue batendo no ritmo da canção: uma música falando dos tempos difíceis da adolescência. Todos acompanham a melodia virando goles e mais goles de um vinho vagabundo. A frente está o trapiche que recebe mais indíviduos à procura de dias de paz. O astro rei lança um beijo final nos corpos dos presentes.

Uma lembrança morta ressucita devido ao clima. Uma corrente percorre pelo grupo que continua a cantar versos de saudade. As mãos se unem em um momento instantâneo de aprovação plena. Olhares se enroscam na fulgaz vontade de acabar com o tempo ali mesmo, paralizar a ocasião, abraçar a oportunidade, beber a atmosfera. O truque dos joguetes do destino nunca será descoberto, somente os tolos ainda procuram o seu segredo. A canção termina. A noite chega.


***


Silêncio. O trovador solitário anuncia a próxima música aos que preferem ouvir. Outros gostam mais de acompanhar em desafinos grandiloqüentes a canção. Um estrofe conhecido percorre pelos tímpanos. Os olhos de uma garota se fecham neste momento. Ela deve estar recordando os bons momentos que teve ao lado do amado, ou certa lembrança da juventude, quando pensava em mudar o mundo com palavras de ordem. Com o passar da idade, o espírito revolucionário aos poucos falece. Uma lástima.


***


O vinho sobe. Os olhares agora são lentos. Três amigos se distanciam um pouco do grupo e vão admirar as ondas na noite iluminada pela lua cheia. Trocam promessas bêbadas, se abraçam em comemoração à amizade. Relembram outras datas. Traçam planos. Selam compromissos.


***


Alguém inicia os acordes de "Father and Son", do Cat Stevens.


***


Dezembro de 2003.


***


Passado quase quatro anos, agora restam as lembranças e as promessas não terminadas. Será que elas se encontrarão?

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Fim

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Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
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