Pular para o conteúdo principal

Heartless Bastards

Queria não pensar, às vezes. Não relembrar momentos, não compartilhar angustias, não pensar futuros. Queria ser um inseto insignificante que rasteja pelos cantos obscuros repletos de doença e poeira. Seguir o viver pútrido da atmosfera e do ambiente aos quais foram destinados. Não passar em certas experiências que causam um câncer no pensamento mais claustrofóbico de prisão repugnante.
Queria não ter opção, às vezes. Viver por aí como um nômade quadrúpede à procura do não sei o quê, não sei o qual, não sei o como. Só caminhando e caçando o alimento. Não ter sentimentos, não entrar em contradições, não ser preso, não ser solto. Apenas seguir a ordem natural das coisas. Mas, como já disse aquele abastado lugar-comum: penso, logo existo. Antes, então, existisse em uma cabeça de fósforo pronta para o destino prólogo, acender a chama de um fogão, de um cigarro, de uma fogueira e apagar. O lado negativo da efemeridade de viver também tem a sua função. Menos o viver das moscas e dos cupins, as corcovas do zebu. Ave crucis. Queria também não pensar nisso, às vezes.
Queria não ter a criatividade noturna dos bêbados de ocasião. Queria não pensar em alternativas e possibilidades outras que poderiam ser tomadas antes, como que se fossem goles de destilado amargo. Queria a solidez não pensante dos girinos que são comidos pelos predadores naturais. Queria, outra vez, não pensar nisso, às vezes.
Queria não ter escrito essas frases. Às vezes. Porém, elas precisavam sair nesse momento. Ao contrário do início do texto, eu precisei pensar agora. Não queria, às vezes. As ocasiões acontecem e muitas têm o seu fim. Aguardo na angustia.

Postagens mais visitadas deste blog

um gole de derrota nesse asco. um casco entre as unhas, colabora. o copo quebrado acumula pó e o nó na garganta é charme. a calma quer explodir em caos para um fundo em furo se enfurecer na poética dissonante de um crescente anoitecer. mencionado antes, agora exposto "o mundo está duas doses abaixo" por mais que às vezes, acima, recria o oposto da colocação. então, não tenha medo hora ou cedo o coração padece e merece um aproveitar que tenha como fim o sorrir. (mas não acontece).

Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.