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Três casos


- Será que a calmaria um dia chegará?


A mente aflita se perguntava isso todo o dia. Ela já passou por períodos de turbulência que causaram erosões estratosféricas no sentimento descolorido. Em outros momentos, uma dúvida entre beber cicuta ou um tiro na nuca passava percebida entre o reflexo do espelho que mostrava um rosto repleto de cansaço. As indagações sempre vinham em momentos de embriaguez plena, com uma ponta de cigarro colada nos lábios, pronta para derrubar mais uma cinza no pescoço. O raio de esperança visitava raramente e, quando vinha, era em períodos curtos.


O céu brigadeiro escorria em melancolia quando a lembrança insistia em aparecer. Geralmente, amores perdidos em cidades litorâneas. O último se perdeu em carreiras contínuas de misericórdia e satisfação. Era desde nascência uma alma distraída que tropeçava em poesias não finalizadas. O encontro sempre vinha em explosões vulcânicas entre beijos e amassos, sem falar das conversas sobre a Tori Amos. A trilha sonora perfeita de ambos continha ainda o Belle and Sebastian, Dave Matthews Band, Travis, Joanna Newson, Paula Cole, Billie Holiday, Chet Baker e Wado. O último, junto ao seu Realismo Fantástico, embalava com mais sabor as ondas amanhecidas de uma praia deserta. E o cigarro sempre se fazia presente. Mas um dia o fim chegou e a lágrima voltou.


A noite de céu limpo e estrelado sempre vinha quebrado quando o outro amor tentava, em mais um caso perdido, reatar. A mente aflita não engolia a persona. Um dia, distraída, caiu em conversa açucarada e um beijo ela deu como agradecimento. Acontece que um efeito chicletes sabor morango apareceu e telefonemas incansáveis iniciaram. Mas o cansaço chegou e um outro fim apareceu, sem lágrima alguma dessa vez.


- Será que a calmaria um dia vai chegar?


Mais um dia com a mesma pergunta. Um outro gole ajudava a amenizar a dor constante no meio do peito perfurado por uma bala de algodão. A solidão começava a ficar amiga, em imagem nua de calafrios constantes com fobia de pisar em ruas coloridas. Eis então que o acaso aplica um plano e em um desafio um novo amor acertou. Foi na beira da Praia Grande que os olhos começaram a brilhar diferente. O calafrio desapareceu e a fobia morreu. Porém, o amor dessa vez morreu, com um tiro no olho devido a um assalto mal traçado.


A calmaria, portanto, não chegou. E agora a mente aflita, novamente, deixa escorrer uma outra lágrima que chegou.

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um gole de derrota nesse asco. um casco entre as unhas, colabora. o copo quebrado acumula pó e o nó na garganta é charme. a calma quer explodir em caos para um fundo em furo se enfurecer na poética dissonante de um crescente anoitecer. mencionado antes, agora exposto "o mundo está duas doses abaixo" por mais que às vezes, acima, recria o oposto da colocação. então, não tenha medo hora ou cedo o coração padece e merece um aproveitar que tenha como fim o sorrir. (mas não acontece).

Fim

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Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.