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Mostrando postagens de 2016

Movimento rápido dos olhos

A imprecisão do colapso em um lapso de fúria.  O sorriso imperfeito no escuro do sono.   Um sonho em caos no furor do profundo.  Um mundo inteiro devastado na alegria do momento.  O passado não pensado no presente consequente.  Revirando os olhos com movimentos rápidos.  Acelerando em outro tempo.  Automatizando para as pessoas.  Reconstruindo fábulas, perdendo a religião.  Um homem ligado à lua.  Todo mundo chora, às vezes. Então, aguente.  Do seu lado mais bonito mande cartas de e-bow.  Viaje na Lotus, anuncie um pranto.  Espere no canto uma supernatureza superséria.  Ou não seria isso? Um único ao amor.
Calor que desagrada  E agrega.  Mas o foda  É a falta  Que dilacera. Tenho aqui o suor Que nada completa E uma dose repleta De sentir. Para mim Está de bom tamanho. Só quero voltar Para novaMENTE Encontrar.

Norte

Eu deixo você entrar Desde que acompanhado Daquilo que chamamos amar. Não precisamos de muito além Certas coisas, encontramos por aí Um pedaço de pão, um álcool lá Uma cigarrilha outrora Embora eu perceba acolá Já que a tosse chega bem Mas levamos conforme vem. Os dias podem ser iguais Observando o tempo presente, Sei que não pedimos muito O resto o imposto já levou. Tenhamos um pouco de ausente Afinal queremos a solidão Somente para que os períodos Venham mais carentes Para então matá-los Com aquele gosto forte Que encontramos no norte. Não precisamos de muito quem, O nosso qual é o suficiente Aliás, sempre com, seguimos constante. Não duvidamos dos poréns Eles pairam no dia-a-dia Todavia diluídos vão Desde que tenham companhia. Leonardo Silveira Handa
Minha solidão não compartilhada, aliada à condição que agora, acompanhada, dedilha o dedo junto ao violão. Não insisto companhia, minha via hoje é única, sem túnica, sem trilhos, sem descoberta. Coberta a minha vontade eu não reclamo nada, nem um beijo, nem um abraço, nem um calor. A boca está seca, mas de cantar. O lábio seco entorpece em um vinho, daqueles vagabundos, que pintam a pele de tinta e álcool, de satisfação e co nclusão: para gostos não refinados, nada vale um rótulo acima de R$ 50,00. Eu poderia estar jantando, degustando o oriente, mas a minha vontade permanente era de estar exatamente aqui, sem planos para a quarta, sem oitavas para as notas, sem tons para o acaso, sem 50 tipos para qualquer coisa. A melhor pedida, hoje, nada tem a ver com o reclame. Também não se trata de autoajuda. Acuda, quiça, outro dia. Nessa noite, quero o pingo, a fumaça dançando solitária, uma risada bem elaborada, um programa lazarento e um admirar contra o vento. Novamente, ressalto, não...
12/12/12. É aniversário do Silvio Santos, olê, olê, olá. É dia da América Latina, essa terra morena, esse calor, esse campo, essa força tropical. Hoje seria aniversário de Rubem Braga (conhece? Não? Deveria), Aleister Crowley - um místico da porra - e de Orlando Villasboas, grande sertanista.  No dia 12 de dezembro também foi parido o cara que revolucionou o mercado da cocaína, Pablo Escobar. No dia 12 morreram José de Alencar (sempre cai em vestibular) e, por coincidência, Orlando Villasboas, que nasceu e morreu no dia 12 de dezembro. E hoje, 12/12/12, a  Laiane Carniel faz aniversário. Mas isso é algo muito bom.
O barulho, o som, o tudo. As vozes, a esquizofrenia. Quem aguentaria? É preciso jogo, é necessário o respirar. Chega a ser jocoso, parece lacrimoso. O volume, os gritos, a conversa. O cansaço no mormaço. O não relaxar do momento. Os nervos, a fúria, o ventre. O vento que não entra E o apuro do socorro. A bagunça e a falta de concentração. A raiva que aparece. O berro que permanece. Aqui, mudo, em silêncio. Como haveria de ser. Mas não é. lsH
Deus, todo safadão, primeiro criou o universo. Não contente, reza a lenda, quis inventar os sóis, as luas e os planetas. Aí surgiu a Terra. Muito malandro que é, deve ter pensado: nesse planetinha farei que seus habitantes descubram, com o tempo, que estarão presos aos dias e às horas. Eis, portanto, que inventaram os dias da semana. Não contente com a situação, o desgraçado imaginou: e existirá um dia da semana que se chamará SEGUNDA-FEIRA. Será um dia incrível, quando todos vão se estressar, vão xingar-se em seus respectivos trabalhos. Será o dia do pepino. O dia em que tudo dará errado, o dia em que todos ficarão atrapalhados. Um dia bem filho da puta mesmo. E assim foi.
É preciso força para tanto. Tanto é necessário para muito. Perceber é ponderar. E saber lidar é conquista. Paciência é fortaleza Mesmo nessa tristeza.
Estamos sendo vigiados. Estão conseguindo fazer uma ditadura maquiada. Os esquerdistas serão expostos contra muros de fuzilamentos. O Partido dos Trabalhadores foi dizimado e não vai se recuperar. Os outros sofrerão com o poder dos homens. Os Policiais Militares não vão aceitar críticas, sobretudo de artistas, e vão adentrar teatros como era antigamente. Um filme como Tropa de Elite nunca chegará aos cinemas nacionais. Aliás, o último com crítica política será Aquarius. Os demais projetos serão engavetados.  Quando chegamos em um momento em que a maior instituição deste país relacionada às lutas sociais, que eram os estudantes, renega o protesto, é porque se perdeu a luta e será preciso repensar a briga por direitos. E se você não está preocupado com os próximos 20 anos e somente com o hoje, saiba que de repente o seu agora é dizimado com pólvora diante de seus olhos neste momento.  Não se esqueça, estamos sendo vigiados. 
Estamos sendo vigiados. Estão conseguindo fazer uma ditadura maquiada. Os esquerdistas serão expostos contra muros de fuzilamentos. O Partido dos Trabalhadores foi dizimado e não vai se recuperar. Os outros sofrerão com o poder dos homens. Os Policiais Militares não vão aceitar críticas, sobretudo de artistas, e vão adentrar teatros como era antigamente. Um filme como Tropa de Elite nunca chegará aos cinemas nacionais. Aliás, o último com crítica política será Aquarius. Os demais projetos serão engavetados.  Quando chegamos em um momento em que a maior instituição deste país relacionada às lutas sociais, que eram os estudantes, renega a protesto, é porque se perdeu a luta e será preciso repensar a briga por direitos. E se você não está preocupado com os próximos 20 anos e somente com o hoje, saiba que de repente o seu agora é dizimado com pólvora diante de seus olhos.  Não se esqueça, estamos sendo vigiados. 
Estamos sendo vigiados. Estão conseguindo fazer uma ditadura maquiada. Os esquerdistas serão expostos contra muros de fuzilamentos. O Partido dos Trabalhadores foi dizimado e não vai se recuperar. Os outros sofreram com o poder dos homens. Os Policiais Militares não vão aceitar críticas, sobretudo de artistas, e vão adentrar teatros como era antigamente. Um filme como Tropa de Elite nunca chegará aos cinemas nacionais. Aliás, o último com crítica política será Aquarius. Os demais projetos serão engavetados.  Quando chegamos em um momento em que a maior instituição deste país relacionada às lutas sociais, que eram os estudantes, renega a protesto, é porque se perdeu a luta e será preciso repensar a briga por direitos. E se você não está preocupado com os próximos 20 anos e somente com o hoje, saiba que de repente o seu agora é dizimado com pólvora diante de seus olhos.  Não se esqueça, estamos sendo vigiados. 

Alcanço puto, assassino puta

Faça um ponto de fuga estratégico. Ele terá que ser bem planejado, pode ter a certeza. Caso não for, então corra, pois você vai querer se matar. Se não quiser, relaxe, eu mesmo te matarei. Não é uma questão de desapego, eu simplesmente mudo. Mas também falo e escuto. Eu certamente fico, desfaço e crio novamente. Então, arquitete a fuga, o ponto pode estar na sua testa. Cause um espanto. Destrua um tanto. Estarei, enquanto, olhando para o santo. Nã o acredito, portanto, aguardo em um canto. Distorça a rima a procure um pouco, o algo ficará em desencanto. Falta coragem? Que seja covarde, acalanto. A solução não existe. Ainda não foi recriado o impossível. Seja sincera, serena. Enquanto me canso da canção, reflito o mal-dizer. O meu bem já se foi. De muito penar, morreu. O cálculo errado se fez culpado, gerando a vida que destruiu. Ela se refez, ficou em contradizer. Como eu. Como tu. Devorastes toda. Foda. lsH

Beijos Lésbico

Um beijo confuso. Molhado. Quente. Ardente. Propositalmente acontecido, acompanhado de um roçar lento de narizes. Situação orgástica. O lábio deslizava pelo queixo e o rosto áspero procurava o carinho da mão. Os olhos úmidos cruzavam visões com ângulos fechados. Os dedos tinham cheiro de fumaça, de uísque, de grama cortada, de sangue. As unhas borradas eram escárnios, de uma rudeza completamente bela. A maquiagem torta estava apanhada. Havia uma escuridão nos c ílios que causava uma vontade doentia de iluminá-los. A boca era de um desenho estranho, quase cubista, mas que se encaixava perfeitamente. O toque lento por vezes ficava afoito. A respiração lenta acertava os poros que rebatiam novamente o ar. A pele morena ganhava proporções de pintura perfeita enquanto as luzes dos carros refletiam na tez. Após o beijo que pareceu um canto dissonante de elfos clamando alegria, o mundo começou a ser um lugar bonito. A brisa da noite tinha aroma de baunilha. O silêncio se fez presente. Apenas u...
O amor no anoitecer, estremecendo o lábio que vazando assobia: vamos partir. O sorriso nasce como um sol que anuncia renascimento-morto. O povo ignora o sofrimento de um término, mas esquece que da dor uma força bruta, brota. E o pôr-de-algo vem surgindo rabiscando o céu com tintas laranjas. O reflexo no olhar enaltece o gostar. O lábio agora se abre e no outro se fecha, com o astro rei se despedindo e avisando: amanhã, novamente, eu brilho.
Trago aqui os olhos Que admiraram Sua feição em instante. Quero hoje Aquilo de ontem E constante.
Um caso por acaso Causou um desabar. Fracasso em sentir Um bom gostar. Travado um soltar De sentimentos Repudiou o decepcionar. Abriu os olhos A falsa esperança de criar.
O vidro arrebenta a cabeça / Que sangra amnésia / E um farol gritante registra / Algo que parecia esperança. O túnel apaga o feixo / Que iluminado ardia distraído / E a luz que do olho vaza / Apaga-se em discrepância. Leonardo Handa
Um trânsito em risco / Faísca à risca o furo / Do olho que vaza a luz. Percorre pelo lado esquerdo / Uma escolha errada / Já que há a falta de reflexo. A visão turva em turbulência / Obtusa o sentido do controle / Enquanto a ação dilui Entre as pernas o ocorrido. Não liga o gelo ao desespero / Esperando o fim iniciado / Mas a conclusão é física / E o erro, não premeditado.
Eram dois vizinhos. Um deles comprou um coelho para os filhos. Os filhos do outro vizinho também quiseram um animal de estimação. O homem comprou um filhote de pastor alemão. Conversa entre os dois vizinhos:  - Ele vai comer o meu coelho!  - De jeito nenhum. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos, "pegar" amizade... E, parece que o dono do cão tinha razão. Juntos cresceram e se tornaram amigos. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças, feli zes com os dois animais. Eis que o dono do coelho foi viajar com a família e o coelho ficou sozinho. No domingo, à tarde, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche quando, de repente, entra o pastor alemão, com o coelho entre os dentes, imundo, sujo de terra, morto. Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo, o cão levou uma surra! Dizia o homem: - O vizinho estava certo, e agora? Só podia dar nisso! Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora?! Todos se olhavam. O cachorro, coitado, cho...
Acabo de comentar com a minha mãe: o amor é brega. Ela me retruca: Falou o mal amado! Quis contestar dizendo que isso era bom, não era algo depreciativo. Tentei argumentar falando que a fase de 1970, do Roberto Carlos, por exemplo, que é genial, é extremamente brega. Foi daquela época que surgiu uma das letras mais lindas do amor e da dor de corno: Detalhes. Sem falar que na década setentistas também tinha Odair José, Lindomar Castilho, Waldick Soriano, Márcio Greyck e o sempre eterno Nelson Gonçalves. Seriamente, ela, minha mãe, me olha novamente e vomita: mas é um mal amado mesmo.
Deixe-se, mar Aprofundar aqui Amar lá E agora. Deixe-se, flor Permita a pétala Propor O querer. Deixe-se, sol. O sal do gosto Do oposto Caos. Deixe-se, enfim. Em mim Seu corpo Cheiro de jasmim. lsH

(Joaquín)

Eu tenho o mapa Da América Latina Invertido Na minha perna Só para lembrar O que Você me disse. Eu tenho A sua frase Mais certeira No coração Porque me ensinou Que se nada Nos salva da morte Que o amor Nos salve da vida. Eu tenho a Canção do Camelo No ombro Para lembrar Que a cada tombo Vem o levantar. Você me deu O sentimento Mais bonito Que agora guardo Afoito e aflito. Léo Handa - 03/10/2015
É madrugada. Normalmente a insônia invade sem pedir licença e leva horas que poderiam ser sonhadoras. O comprimido não causa mais a sensação boa do relaxamento, só traz insatisfação pela não eficácia que não apresenta no rótulo. Tudo bem.  O dia foi um tédio de proporções que não caberiam nesse escrito. É muito fácil reclamar, difícil é arrumar as soluções cabíveis para melhorar esse desempenho, essa tentativa de sobreviver. O doce vai perdendo o gosto até que acaba. Desgusta r aos poucos necessita de muita paciência, qualidade que foi jogada no buraco negro de ilusões. E a madrugada segue acompanhada por uma dor de cabeça leve, porém, chata. Às vezes parece que tudo vai dar certo. Mas, é só o efeito dos primeiros segundos que o tabaco causa. Dura muito pouco a sensação. Há coisas mais fortes. O experimento, por enquanto, não será necessário. Se bem que alucinações fazem parte do não concreto. Imaginar é preciso. Nada de areia nos olhos. Nada de sonhos perdidos e sem nexo. Nada de ...
Segue pela estrada. Sozinho. As únicas companhias são as estrelas e o rádio ligado em uma estação qualquer. O locutor parece estar travando um monólogo quando anuncia a próxima canção. "A love that will never grow old". O motorista sente uma fisgada no coração. A lágrima não demora e se joga do olho. Ele relembra o amor perdido. Continua em linha reta. Perde a direção. Estaciona o carro. Acende um cigarro. Um frio corta o lábio e ele imagina estar envolvido em braços que perd eu. Fica mais um pouco no conforto do inverno que deixou perder o coração. Não entende o por quê de certas coisas. Procura por explicações que não existem. Não compreende. Percebe que está rodando em círculos e sente os disabores do amor. Aumenta o volume do rádio e se deixa guiar pela música. Triste. Entra no carro. Volta a dirigir. A canção acaba. Inicia outra. Mais dolorosa, mais melancólica, mais claustrofóbica. Ele sente a falta, intensa, forte, cortante como o frio que faz na estrada. O inverno nun...
Bálsamo em abraço/Te quero exato em crise aberta/ De triste sorriso ao sangue em face. Te cheiro navalha em madeira cortada/ De perfumado dedo sujo ao tanto/ De encanto refúgio no banheiro aberto/ O acesso é livre. Na Constituição agora desencanto/ Um traçado torpe de linhas correstas/ Com fumaça no rosto e um beijo com gosto de sexo lendo ao puro oposto.
Perceber que aqui - só - solamente com o olho de vidro que ilumina através de várias cores, vejo que a graça está justamente nisso. Tratar de ousar está em acabar de novo o algo niilista. Nem quero pensar que o inverso do meu verso sarcástico provoque ira, não é a intenção. Na real, a vontade é de guerra, mesmo nessa era de sorrisos falsos. Amargo é ainda saber que a claustrofobia do dia cega o causar do riso desesperado. Mas a vida tem dessas coisas do paradoxo, dos paradigm as e das manias. Nem sempre se pode ser bom. Quero arrancar o coração e fazê-lo alimento para os animais. E na tranquilidade fico no esconderijo, com incenso, vela e Jorge Drexler. Atrasar o que nunca foi começado, agora, inicia um período de vago sentimento. O pensamento está inacabado como acabo com mais um litro. A promessa foi parar, mas fiz algo. Não consegui e prossegui, até terminar. O último gole é o mais preciso e gostoso. Deixa cá, que perceber é realmente ver a volta das características das mensag...
Não há busca Em troca de algo Nem calor, nem amor. É de sorriso que se abre Um agradecimento. De fato lógico Um rompimento Por hora chegou. O cataclisma de sentimento agora vazou. Não foi culpa dos dois: Um outro sempre surge (depois).

Nosso Sangrento Amor

Eu faço seu ouvido sangrar Com as falácias profanadas Enquanto eu tenho o fálico Em vermelho no madrugar. Eu posto coisas em sua mente. Você diz que eu desvirtuo suas verdades. E eu respondo que deve ser por isso Que continua comigo. Mas no fim a gente ri, E aquilo que nos move É o sentimento que alimenta Mais um dia que promove. lsH
vago nesse caso que vasa na minha rua uma saudade castanha. é loucura, quiçá. não entenda o contrário. sobrevoo em disparates mais uns quadrados. revelo um intruso que confundo com glória, mas é de álcool que exercito outra ação. sou vegetariano de purismo. e revejo que o realejo da minha ofuscada inclusão não serve para banquete de concretismo barato.

_abuso_

os pés descalços no vidro ouvido no fundo infinito. calor de mão no fogão dedo dentro do umbigo. gemido de criança sem crença e nos olhos o choro sem bença. lsH
Algum exercício para tirar a mente desse marasmo. Algum tempo que valha para tirar esse relógio do estorvo. Algum fruto que sirva de melhor alimento do que a maça oferecida pela serpente. Alguma metáfora que contribua para a sobrevivência diária. Alguma canção que exploda com gratidão o meu tímpano. Algum político que além de promessas ofereça a prática. Algum conteúdo que nos encha de satisfação e nos faça caminhar o mesmo trilho. Algum problema que nos desencaminhe para o l ado errado. Algum acerto que se mostre errado para provar que o correto às vezes é um grande saco incômodo. Algum soco no rosto que ajude a melhorar essa cara. Algum provérbio que seja citado erroneamente e influencie todos os estudantes retardados. Algum administrador que provoque o caos em uma grande empresa. Algum capitalismo para ressaltar que o modelo socialista não deu certo. Algum socialismo que apresente ao capitalismo como se deve seguir o momento econômico. Alguma frase confusa que faça pensar. Alguma co...
E aí você conhece uma pessoa. Sabe que ela peida, mija, tem excrementos, pega gripe e pode ter chulé, mas se entrega mesmo assim. Conta suas particularidades, não para de falar sobre a sua vida, quer dividir tudo ao mesmo tempo. Relaxe, melhor não entregar tudo de uma só vez. Se acontecer de novo, um outro encontro, vai se descascando aos poucos.  Você sabe que pode se machucar ou, pior, se machucar de novo devido a outra experiência. Porém, por que não se arriscar? A vida é  repleta disso e tudo vem acompanhado de peidos, de mijos, de excrementos, de gripe e até chulé. E você sabe que vale a pena. Vocês se beijam, trocam afagos, curtem o abraço e compartilham o momento. Quase que nem no Facebook, porém, com o contato físico, o que é muito bom e salutar. Tudo está ótimo: a conversa, as carícias, o enroscar dos pelos e a saliva. A pessoa lhe deixa em casa, você sai com um sorriso imenso, lembra que quando os lábios se encostaram começou a tocar "Everybody Hurts" no rádio, acen...
O amor é repleto de cagadas. Fétidas. O amor não cega, arranca as córneas. E os cornos. O amor é alimento de impropérios, de consequências desnecessárias. De dores. O amor é um estado imaginário que, quando acordado, se revela um abismo. O amor, do início ao fim, é chagas. É merda. O amor causa arrependimento. Se isso matasse, como diz o dito popular, muitos estariam vivos. Ou seja, óbvio, mata sim. Não disseram que o amor é cólera? É também sarampo, catapora, dengue, varicela, caxumba e hepatite. O amor é doença. Qual a razão de ficar sofrendo por ele? Qual o valor moral que isso causa no desempenho de viver? Qual o fruto que pode ser colhido? A maçã? Que se foda. O verdeiro amor é coisa morta, é Romeu e Julieta. O amor é podre. lsH.
Terça-feira. 21h39. Meu radinho toca uma canção do Nick Drake, o que me faz pensar naquele amor que deixei no litoral, num dia cinza de setembro, todo molhado pela lágrima de um São Pedro traído. Os barcos voltavam sem peixes e os rostos dos pescadores eram de tamanho descontentamento que até Hitler ficaria com pena. Lembro de ter olhado no fundo de sua pupila e lido um sentimento de desespero, mas com um resquício de esperança adocicada pela bala que você mordia. O vento do  mar levantava o seu cabelo castanho e você passava a língua nos lábios, como se estivesse sentindo o gosto do sal que era transportado pela brisa. Aos poucos os pescadores amarravam as suas embarcações. Assim que terminava mais um dia, o sorriso ia retornando às faces, cada qual contentes por ter a certeza de que uma morena estaria esperando na porta de casa, com o jantar pronto e todo o carinho possível para oferecer. Eu tinha comentado exatamente isso enquanto a nuvem mais pesada foi se diluindo no céu, d...
Toda zona de conforto tem saída. Por isso a importância de se reinventar a cada semana, nem que seja simples escapadas, como mudar a rota de chegar ao trabalho, uma salada diferente no almoço, uma carne moída a menos, um suco a mais, um beijo mais caloroso, um abraço mais intenso ou um olhar menos mórbido. Nem que seja filosofia barata.
O carisma escorrendo pelo rosto como se fosse uma maquiagem vagabunda. A lua lamuriando um abandono desnecessário. E os gerúndios correndo soltos no amanhecer. O fruto do amor comido pelos dentes fortes. O abraço interrompido como uma virgem estuprada. O caos ao sal com sabor forte de vodca falsificada. A voz do Sérgio Sampaio narrando a figura e o coração explodindo sangue contaminado pela Hepatite. O dilema do cantar desafinado querendo a atenção necessária, mas o vácuo da memória implantou cifres esplêndidos. O primeiro raio de sol rebatendo na face, enquanto a penúltima lágrima suicida desaba do carisma escorrido do rosto, como se fosse uma maquiagem vagabunda comprada em catálogo on-line.
Sei lá. Bateu uma saudade. Ao mesmo tempo, aqueles pensamentos de que poderia ter sido diferente. De repente, minha atitude menos afoita, menos virginiana, mais reticente. Confesso e admito: os erros, que eu acreditava acertos, foram manifestações hiperbólicas de algo sobrevivido, mas que não deviam ter sido aplicadas. Nem contigo. Nem com ninguém. De toda a forma, ficou aqui, ardido, algo que eu poderia ter dito, contudo, repito, não me permito. Apenas digo: bateu uma saudade. Não daquilo, nem disto. Uma saudade do que foi vivido.
Eu sinto saudades. E tenho dito. Não é muito legal ficar longe de quem amamos, de quem queremos um carinho neste momento. Não é preciso sentir vergonha em chorar a distância. É preciso vergonha de não dizer o que sente a quem você ama. É um clichê lazarento que não é aplicado pela maioria. Aí ficamos pelos cantos, como coitados que precisam do quê? De expressão.
Eu sou do tempo em que a gente se telefonava, já dizia a cantora Bluebell. E como é bacana receber ligações, mesmo que tarde da noite, de amigos queridos. Apesar dos anos, a ferrugem nunca descansa. Ok, tentei parafrasear o Neil Young e não ficou muito bom. Mas são esses pequenos momentos da vida que nos fazem abrir um sorrisão. Te amo cara! O legal é a dor no ouvido, depois de ficar 1h52 ao telefone para colocar o papo em dia. Minutos que foram insuficientes, no fim das contas. Tive que desligar. Não ia cagar falando contigo no telefone, né? Um mínimo de respeito, apesar da amizade.
Bang Bang Tatuquara Um novo corpo delatado pelo cheiro Que exalou entre árvores cinzas Nascidas do concreto interminável Que cobre o renascimento de outros. O frio da bala queimando o quente Fez os olhos brilharem agonia Quando o mesmo tiro de alegria Adentrou narinas na noite e no dia. Divida aqui não cumprida É paga com os dentes explodidos Com direito a capa na Tribuna E demais sorrisos do autor.
Pode ser uma letra ao invés de um sorriso? Você diz que estou chato Mas não se liga. Acredita que o errado agora sou eu E não percebe que só quero atenção. Faz de conta que sou segundo plano Acha que pelas circunstâncias eu tenho que entregar Pois fui o seu sofrer. Justifica com o vago E ainda quer sorriso e amor. lsH
E a vida se fez de louca, arrancou pela boca o coração e desperdiçou inúmeros momentos de alucinação. Arrastou-me para o espelho a figura invertida, me abriu uma ferida na perna esquerda e se transpôs em clorofila. Insetos medonhos expulsam as cáries dos meus dentes enquanto a canção que toca na hora errada é de uma lésbica apaixonada pela metáfora dos cabritos. A faísca do retardado insiste em achar a resposta complexa do achado, mas são de idiotices que as luzes das incerte zas aproveitam os vômitos dos condenados a fim de concluir burrices de absurdo. O traçado paralelo pulsa com disritmia e tropeça em um buraco que acaba com a tese. Os outros ainda procuram chamar e desistem por estarem atordoados. Mensagens cifradas cospem do retrato a poesia com sabor de asco que o asno rosna em um roçar de vocais. O trunfo do fluxo de escárnio escorre pela boca que se esconde por ter razão da fúria do provérbio claustrofóbico. A ave em fogo sobrevoa o arquipélago dos perdidos que encontrados ace...
Não adianta, Quando dá aquele bode Tudo fode. o jeito é beber uma água Deitar na cama E torcer para Que ninguém Te acorde.
Pense que ainda existe amor. Está na esquina, no copo do bar. Ali embaixo do nariz, do chafariz. Nos deslizes da mão do jogador. Pense que ainda há. Permanece em Bagdá No coração do homem bomba No olhar das pessoas de lá. Pense que ainda existe amor No carro que só pega no tranco Em sua pele morena do sol Nas ruas da cidade de Pato Branco. Pense que ainda existe Consiste em observar Perto daqui, longe do mar. No simples ato de se abraçar. lsH.
Negras, belas Em tabelas De contas A massagear: Olhares, egos, Nos mais Lindos passeares. Em lares, bares, Cidades, Com saias Floridas De pétalas norteadas De puro Encanto Em todos os cantos Que os prantos Ousam parar Só para vê-las Elegantes e galantes A cantar. lsH
Ela passa desfilando ácido pelas calçadas úmidas da cidade negra. Sorri favores como se fosse uma bomba de Napalm pronta para explodir em guerras orientais. Exala fumaça do peito reformado por um estagiário do Pitangy. Sua presença nas ruas inibem os outros seres noturnos. A força do seu olhar corrompe crianças que buscam diversão. Está com meias rosas que somente são descobertas quando Onças espirram de carteiras. Seus lábios não usam qualquer batom. Seu corpo não veste qualquer pano. Ela é distraída, já causou acidentes de trânsito. Ela é perseguida, mas a polícia é sua amiga. Às vezes vaga solitária pelos bares da cidade. Acende e fuma cigarros Marlboro. Bebe hi-fis turbinados, como se fossem urina do diabo. Não é um tipo descartável, mesmo sendo a favor da ecologia. Já usou casacos de coalas. Têm noites que fica só fazendo cena, manifestando vontade até em pederastas. Mas a maioria quer analisar as suas unhas. Certo mês quase caçou um deputado. Mas ele não entendeu a sua profissão....

Qual o problema em ser direto?

Tudo ia bem. Vocês nem se conheciam pessoalmente, mas começaram a conversar pelo Facebook. Depois passaram para o WhatsApp. Trocaram fotos de momentos diários, de comidas, de filmes e de seriados. Falaram sobre signos, ascendentes e sol em virgem ou sagitário. Chegaram até a trocar confidências e preferências sexuais, tudo com o intuito de saberem mais sobre si, antes de trocarem fluidos. De repente até mandaram uns nudes. Aliás, esses dias, estava conversando com um amigo e nos indagamos: as pessoas tem tanta pressa hoje em dia que já querem se ver nuas de cara, sem mesmo precisarem estar cara a cara. Coisas de Snapchat. E, talvez, por causa dessa urgência, depois que acontece o sexo, de fato, as coisas ficam efêmeras.  É a partir daí que tudo o que ia bem, desanda que nem maionese feita por mulher menstruada. As fotos dos momentos diários não são mais mandadas, quem dirá uma foto de algum café gelado com uma coxinha recheada com cheddar. Os signos começam a se desentender e o ...
Eu quero recomeçar. Não o amor, mas a vida. Seja aqui ou acolá. Com um tiro na fonte ou numa carteira de cigarro. Quero recomeçar pela morte. As pessoas subestimam demais o niilismo. Qual o mal nisso? Nem sabemos ao certo se existe vida depois desse plano. Nunca tentei isso como reinício. Talvez esse seja o argumento do suicida.  Já tentei reiki, espiritualidade, catolicismo, fluoxetina, meditação, Deus, deuses, umbanda, o caralho. Tentei também sexo desenfreado, limpo, sujo, rápidos, devagar, com carinho, sem carinho... Joguei-me no café, na água benta, no chocolate, nos filmes de comédia romântica, nos tratamentos holísticos, no banho com sal grosso... Nada, nada acalma.  Já tentei na psicologia, na psiquiatria... No Jung, no Proust, no Bukowski, na puta que o pariu... Nas artes, nos exercícios físicos, na bebida, nas drogas. Só não tentei sumir de vez. 

Lua

O instante Da carência Na lágrima Que escorre Do céu Lembrando Do que passou E um dia voltou Mas o presente É vivo E acabou. A solidão No instante E a carência Está. Na lágrima Que escorreu E no dia seguinte Morreu. l.s.H
Numa manhã qualquer, um lençol continuou limpo por tradição. Houve afeto, mas não intento. Os olhos se analisaram e se calaram, enquanto a boca enxergou o desejo. Um pedido aconteceu. E aconteceu de ser realizado.
Que tédio. Alguns dias são simplesmente assim. As horas se arrastam, todo o seu trabalho não passa de pasta de amendoim estragado e um bocejo é a coisa mais animadora que acontece nas últimas duas horas. A gente sempre pensa que os outros estão melhores. Ou imaginamos onde poderíamos estar caso não estivéssemos sentados nessa cadeira de couro sintético. "Eu estaria na praia de Cumbuco". "Quem sabe eu poderia estar escalando algum Pico do Paraná". "Eu queria estar numa casa d o campo, compondo rocks rurais". No fim, estamos aonde? Na maldita cadeira de couro sintético, digitando algo nesse computador que tem um farelo de bolacha Maria entre as teclas, com fones de ouvido para nos isolarmos de nossos colegas de trabalho e enchendo a boca para dizer que hoje a vida não está legal. O que você está fazendo para melhorar essa situação? Acabou de se mudar, o condomínio veio no valor errado, você vai pagar a mais pelos outros, por causa da organização idio...

Fica a Saudade

Hoje lembrei, ao acordar, de escrever uma carta. Coloquei a água para ferver e preparei o meu café. Lembrei das noites mal dormidas, dos dias sofridos. Dos cigarros derrubados no chão, do cinzeiro transbordando. O sol perfurou a janela e o raio entrou sem pedir licença. Não sou observador, confesso, muito menos sentimental, Mas a cena me pareceu um sinal. Lembrei você. Iniciei os agradecimentos, os olás, o tudo bem. A fumaça do café se misturava com a do cigarro. Contei um pouco da rotina que ainda acabará me matando, Dos estranhos que acabo entregando intimidades, Da moça da panificadora, do chuveiro estragado, Ainda tenho que arrumá-lo. Tenho preguiça. E do roteiro que ainda insisto em não terminar. Percebi que faz um ano. Como foi estranho. O seu perfume adocicado já não mais está presente, Seus discos de new wave eu já doei, O anel, penhorei. Não quero apavorar a sua paciência No entanto, ainda recebo as suas revistas femininas. Se possível, cancele a assinatura. Se não me quer ...
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.

Endoscopia.

Revirando esse jardim de cactus, arranco coices dos espinhos da sua mão. Pouso lento no áspero repousar de seus lençóis e recebo um açoite na jugular. Minha visão escure. Ouço um último acorde. Não identifico se era Peter Gabriel ou Genival Lacerda. De fato, estava muito confuso. Sigo revirando, mexendo, bisbilhotando. Percebo cartas não seladas, antigas memórias de carbono 14. Cuspo sensações estranhas, resquícios da noite retrasada. Tudo misturado. Tudo ao mesmo  tempo agora. Titãs? Sim. Amor, quero te ver cagar. Volto, retorno, choro. Um deles perfura meu tímpano que distraído deixa escorrer revelações. Maluquices. Doidices. Sandices. Serenata de prazer aos seus, que analisam as bases eletrônicas da contradição. Não cite O Jardim das Horas, pois estou com a Lurdez da Luz. Viro a página, como a palavra, devoro o fruto. Tenho agora em minhas unhas a sujeira da sua voz na cadência do seu samba embolado em um cigarro. Continuo a revirar. Raízes arrancadas surgem dos cadernos...
E a vida se fez de louca,  arrancou pela boca o coração e desperdiçou inúmeros momentos de alucinação. Arrastou-me para o espelho a figura invertida, me abriu uma ferida na perna esquerda e se transpôs em clorofila. Insetos medonhos expulsam as cáries dos meus dentes enquanto a canção que toca na hora errada é de uma lésbica apaixonada pela metáfora dos cabritos. A faísca do retardado insiste em achar a resposta complexa do achado, mas são de idiotices que as luzes das incert ezas aproveitam os vômitos dos condenados a fim de concluir burrices de absurdo. O traçado paralelo pulsa com disritmia e tropeça em um buraco que acaba com a tese. Os outros ainda procuram chamar e desistem por estarem atordoados. Mensagens cifradas cospem do retrato a poesia com sabor de asco que o asno rosna em um roçar de vocais. O trunfo do fluxo de escárnio escorre pela boca que se esconde por ter razão da fúria do provérbio claustrofóbico. A ave em fogo sobrevoa o arquipélago dos perdidos que encontrado...
Meu dia em sem Com o seu aquém Outrora quisesse Além contrário Sem o constrangimento Nem contentamento. Noite sub-usada afora Embora enxergue Um escuro feliz. Noturno desejo No corromper característico Daquele artifício De um tom absurdo, De um ouvido errado E de outro surdo. Um resquício de dor Nesse mútuo prazer Sem ressentimento achar Esperando uma cor. lsH
Tanta coisa para ouvir e eu repito os mesmos álbuns, como um círculo cretino que de maneira idiota eu giro. E muitas vezes roda afoito, não me permitindo aos tímpanos apreciar novas texturas. Várias pessoas fazem isso, mas no caso, com o amor, ou seja lá a definição que prefiram optar. O se permitir, ousar, se deixar levar, dá lugar aos clássicos dos anos 60, à facilidade beatlemaníaca, à comidade setentista, ao enjoado solo do Brian May e às eletroquinices oitentistas. Salve a bicha do Morrissey, sempre bom de retornar.

Um Beijo Russo

Do lábio a sua vodca, vagabunda. Do meu, o bafo do pós-trabalho. Do encontro, fluído de isqueiro Enquanto sobe o nevoeiro. Do olhar, o estrabismo alcoólico. E dos dedos, a fumaça traiçoeira. Da vivência o derramar da água Que ardente amorteceu a queda. Do vermelho a boca imunda E da cintura um trago mais abaixo. Dos dentes a mordida forte E o sangue a escorrer embrigado.
Nada para pensar,  a não ser  aquele devaneio  certeiro de amar,  que dilui, eu sei,  pelas entranhas  do desejar,  pelo saco do sentir,  pelo escroto de despejar.  Sabemos sim, mas  seguimos  o não  em oração.

Calendário

Gira, gira, gira linda. Rodopia ao som do silêncio e esvazia a mente tentando um suplício. O travar dos dentes acontece ao mesmo tempo que o travar do tropeço. E o seu girar lindo fica estático no tempo. No espaço. No critério. Na ocasião. Na vida. O calor esfria e ela pensa no vazio do corredor. Tira um samba dolorido e acompanha com vocalizes os deslizes do amor narrados pelo cantor. Observa a foto antiga em sua estante e, por um instante, se sente uma vitoriosa. Vai até o banheiro e em frente ao espelho borra o batom em seu lábio, joga uma maquiagem mal desenhada e sorri. Fecha os olhos e fica a se imaginar em um baile colegial, quando era a preferida para se dançar. Caminha até o calendário da cozinha e risca o dia 21 de outubro. Mais um aniversário ela comprova, sozinha.

Delirante

Meu último beijo não dado Meu câncer aqui guardado. Meu abraço corrompido Meu soluço empobrecido. Meus olhos repletos de água Minhas narinas com sangue Minha pele vazando suor Meu corpo pedindo clamor. Meu penúltimo desejo negado Minha opinião deixada de lado Minha despedida angustiante Seu canalha delirante.

Cicatrizes

Quando as cicatrizes coçam é chuva? Só se for aquela que remete às lembranças, somente para recordá-lo de como conquistou cada uma. Aliado ao álcool, tenho a impressão que elas ficam vivas, se mexendo na pele, atiçando o cérebro.  Já são algumas. Não importa quantas. Cada qual com um significado nos dias atuais. Nesta época do ano, elas são revividas. Na cabeça, eu diria que são os cornos. Muitos. Sem mencionar os que virão. Sou quase como peste. Um dia sempre sou  traído. Nas costas, resquícios de noites. Muitas. Pior que lembro de todas. Unhas, dentes e até canivete. Tem também um sinal feito por uma tesoura. Foi bem violento. Na mão, um acidente. Eu diria de trabalho. Não vem ao caso. Nos joelhos, o radicalismo, a vontade momentânea de praticar esportes radicais. Sempre me fodo. Nos pés, as voltinhas pelas pedras das praias. Essas eu tenho com orgulho. Volta e meia coçam para valer, principalmente quando imagino a areia, o sol, o vento, as pessoas lindas e bronzeadas, o sal...
Eu não queria mais voltar. Por alguma razão, cá estou. Confesso que não me sinto muito confortável. Até atrapalha meu pensar. Não consigo deixar claro. Muito menos, escuro. Não queria estar de novo recolhendo cada fragmento que me compõe. Não queria estar novamente escrevendo o "não". Não me via começando outra vez as frases com essa palavra tão miúda de três letrinhas. Não passou. Sei lá se vai passar. Mas, se retornei, foi por alguma questão. E ela é você. Talvez eu esteja  apenas encantado, como me disseram, apesar de que me sinto muito apaixonado. Nem preciso comentar isso contigo. Está longe. Longe fisicamente. Longe emocionalmente. Em outra direção que, lógico, não é a minha. Tenho em mente que para ti foi um caso, outra conquista para ficar registrada na pele, como pessoas que colecionam amores. No entanto, para mim, uma sensação de algo não terminado. Enfim, nem tudo na vida precisa ter um final. Só não queria ter retornado para o início. Do sofrer, calado, no caso.
Eu sempre tive um problema ou, talvez, uma solução: o sofrimento por antecipação. Repentinamente, quando a mente está de bobeira, imagino como será quando meus pais morrerem, como seguirei meu caminho, como será minha vida sem eles, como será a minha solidão, a minha tristeza. Um dia a morte virá e tudo aquilo que sabemos, mas não vivemos ainda.  Este é apenas um exemplo bobo que, psicologicamente, não é nada aconselhável. Eu utilizo como ferramenta de previsão, de como dever ei agir no futuro. Serve para alguma coisa? Não tenho a mínima ideia. O mais recente arquétipo, no momento, mais próximo, bem mais próximo, pois se trata de dias, é a despedida de amigos. Há um mês, meu amor pediu o desquite, agora, fico sabendo que uma grande amiga vai partir, navegar novas ruas, respirar novos amores, trabalhar novos retratos, curtir outros compartilhamentos, aproveitar novas aventuras. E, novamente, vou sofrendo por antecipação. Estou extremamente feliz que tenha dado tudo certo para ela. P...
Para cumprimentar, não precisa fazer a chuca, não precisa lavar a bunda, não precisa ser santo. Para cumprimentar, não precisa ser amado, não precisa ser corno, não precisa ser arrogante. Para cumprimentar, não precisa vestir roupa de marca, não precisa estar sem, não precisa estar com. Para cumprimentar, não precisa ser rico, não precisa ser pobre, não precisa ser de classe alguma. Para cumprimentar, não precisa estar manso, não precisa estar bravo, não precisa estar content e. Para cumprimentar, não precisa se machucar, não precisa se alegrar, não precisa se entregar. Para cumprimentar não precisa ter medo, não precisa ignorar, não precisa estar bêbado. Para cumprimentar, não precisa estar de chinelo, não precisa estar de All Star, não precisa estar de Prada. Para cumprimentar, não precisa ser elegante, não precisa se mostrar o prepotente, não precisa ser o melhor. Para cumprimentar, não precisa estar em dia com o imposto de renda, não precisa ter viajado para a Europa, não precisa f...

A situação

Ela queria o lado certo, mas seguiu o errado.   Aos desavisados, gritou: agora me vou. Os truques do destino apontaram o fim Mas ridiculamente, ela disse: não. Princesa do seu hoje Apontou suas velas E navegou para longe. Não teve o que quis, Virou sua melhor cover Cantando suas derrotas Que aos poucos Se tornaram sorrisos. Quando todos diziam norte Ela abocanhou o sul E o seu erro se tornou acerto. Foram tempos de escárnio E mentiras reveladas Que tiveram seu tempo de maturação E que hoje são verdades.

Vazio

Ando vazio. E o que é vazio não para em pé. Mas, como continuo? Penso a respeito e não encontro respostas. Cada vez mais tenho incertezas. Não me esforço, confesso, para acertar o alvo. Apenas repenso os meus erros. Foram vários. De alguns, aprendi algo. De outros, aprendi a ser vago. Mesmo assim, continuo. O mais grave fará um ano.  Quando o amor estava presente, apesar dos problemas de um relacionamento amoroso, as coisas estavam nos trilhos. Fui fraco e me deixei cair na tentação facebookiana. Nosso namoro não estava perfeito, contudo, continuava lindo aos meus olhos. Todo o apoio necessário que eu podia oferecer era fortalecido. Tinha uma questão sexual grave, aos olhos do meu parceiro, que o incomodava muito. E a mim também. Teve tentativas para mudar essa situação. Mas o que era para ser prazer, para mim, era apenas dor. E, apesar da compreensão, isso foi o catalisador  do fim.  Enfim, voltando. Cai no conto mais falcatrua, no clichê mais básico, na falácia d...

Yo quiero

Eu quero aquele verso torto, todo fodido, rasgado e arregaçado. Aquele que vibra a vida com uma ardência nada categórica, muito alegórica, hiperbólica e cheia de cólera. Algo que fale mal, deliciosamente. Um jorro na cara de lambuzar os olhos lacrimejados. Quero uma canção arrancada do coração, sangrenta, como uma balada que estupra o peito. Venha-me, solte-me e cuspa-me aquela frase gritada, que nem uma puta num coito interrompido. Quero o tremular das pernas, o balançar das cadeiras, a quebra da lombar no berro em si bemol. Desejo a gostosura das falácias inconsequentes, da porra quente de uma estúpida masturbação. Também quero o ódio para alimentar meu corpo em fúria, só para que a vazão da marginalidade não me faça esquecer o quanto é bom se sentir assim: em pulso, em nervosismo, em pele, em carne e em cerebelo. Quero extirpar cada sílaba com gostosura de framboesa, como uma criança retardada que grita de birra em um supermercado, constrangendo seus pais e seus irmãos. Eu quero uma...
Doce necessidade de vazar. Vejo com as mãos, mas sou cego dos dedos. Procuro com a língua, mesmo ela sendo surda. Ouço, então, pelos olhos que um pouco escutam. Confundo o céu da boca com o fim do mundo que muito próximo saiu em câncer do meu pulmão. Por isso, agora, eu quero vazar antes que eu volte a confundir.
Escondido ali, embaixo do guardanapo Um trato, bem tranquilo, como aquele menino Que tímido, sorria favores. Olhou distraidamente a mente fora Embora não queria ter visto Nem previsto o imprevisto De um ocasional aceno. Estava ali, perdido Um amor debaixo da folha seca Aguardando ser encontrado Enquanto contava as horas. Respira sua fumaça Na bagaça daquilo que é Seu cotidiano. Meridiano pensar se causou E o cansar apenas começou Mas, como previsto Tirou o seu par e dançou. lsH