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Mostrando postagens de 2009

Zzz... Zzz... Zzz...

Bêbado. É assim que estou nessa segunda-feira de madrugada, após uma noite de samba, cerveja e fumaça. "Dois Barcos" é o que escuto enquanto fico no devaneio da vida. "Aponta pra fé e rema", aconselha o Marcelo Camelo. É lindo o sentimento nesse estado de pura recordação. Para refletir a verdade, nem sei qual é a lembrança, mas o saudosismo de algo que nem sei o que é me faz pensar que sou um sortudo. Não tenho a certeza de revelar essa sensação. Não sei o motivo, apenas divido. Não tenho ideia se querem saber, se entendem o que falo, se imaginam o sentir. Algumas coisas não possuem explicação, mesmo que procuramos os motivos, os resultados, as conclusões. Tão difícil entender a vida, não acham? Eu fiquei pensando enquanto devia agir. Espero que não seja tarde, pois eu te amo. Novamente digo: não sei se querem saber, mas eu digo que gosto, que sinto algo bem forte nesse peito nu, aberto a possibilidade que não sabemos como será. Só digo que se for com você eu suport...

A Sua Escolha

Há um mundo ali fora Que explora o que você quer Embora em sigilo Estejamos neste abrigo. Não imploro uma mudança A andança já é tanta Quero o seu olhar Perdido nesta dança. Eu tenho a minha dose exata Deste sentimento que quero E gosto quando você sorri Mesmo não sorrindo. Trago do fato uma esperança A mesma que você escolhe Carregando no rosto a mudança De dias percebidos. Não insista em questionar Ninguém sabe do tempo Meu futuro é quase ausente Mas espero prosseguir. Temos amor para tanto Enquanto ainda suportarmos Já que falas despejamos E sabemos o travar. Você tem a dose exata Deste sentimento vivido E sei que quer dos lábios Mais do que palavras. Traz uma esperança Colhida na alternância Que carregou junto ao tempo De dias percebidos. L.S. Handa

verSos de DesPEDIda

Um derrotado pelo não continuar que tentou brigar e desistiu/ Dos lábios guardarei a memória e riscarei as cicatrizes mais tristes/ Possível foi enquanto resistiu, mas quis o último verso e me caiu/ Na noite solitária o pensamento resposta trouxe/ Difícil acreditar enfim no concluir/ Um barco de razão viajou pelos canais e o corpo pediu abrigo para dormir/ O velho truque é sempre achado farsa, então que se faça decisão antes que exploda o crânio/ Sinto por retirar o seu anseio, mas o meu desejo ainda é livre-arbítrio.
Um silêncio no fim. A boca, carmim. Batom deixado, nos lábios, assim. Sincero sorrir, meio triste, enfim. Quis cobrir a falta de alegria em mim. Pedi um fato, recebi um toque. Fiquei a pedir, não refleti, fim.

30 e poucos anos

Meia-droga. 22h33. A maldita da Regina Spektor me infernizava pela caixinha preta do meu computador. Às vezes ela é uma chata, mas ajuda muito bem a ter uma boa noite de sono. Minha porção indie estava bem despertada no cerebelo. Até coloquei uma camiseta do The Killers para dormir. Ainda era cedo. Curti mais um pouco e continuei uma pesquisa idiota sobre filmes da década de 1960. Não tinha a mínima ideia do por que daquilo. Mudei a sonoridade e parti para The Smiths. Os longas-metragens sumiram e logo comecei a bisbilhotar os amores. A fonte, claro, um site de relacionamento, se é que podemos chamar o Orkut disso. Ok, nada melhor do que as lamúrias de Morrissey como trilha sonora. Primeira vítima: Luiza Vilela. Casou. Teve duas filhas, uma loirinha como ela e a outra morena como o pai, Patrício Albuquerque, advogado, de família tradicional. Um pulha de pessoa, tão arrogante quanto inteligente. Conseguiu a guria mais linda com base em O Pequeno Princípe. Genial! Arrancou-me pelos dedos...

Meio desligado

Ando muito mais do que meio desligado. Não estou caminhando, nem cantando; nem seguindo a porra daquela canção. Ignorei a falsa baiana, o barato total e o drão, mas me exaltei nos mares de Caymmi. Hoje fiz uma canção e não assinei. Péssima. Levantei da rede e vi pela TV um moço que perdeu o lenço e o documento. Fiquei preocupado, afinal, aonde os jovens andam? Perderam a cabeça? Fiquei um pouco de bobeira e uma abelha entrou na cozinha. Tentei matá-la, mas a desgraçada foi mais rápida: me picou. Acabou chorare. Deixei a água escorrer em minha mão e fiquei ouvindo um barulhinho bom. E o rádio ligado tocava aquela canção. Lembrei de você. Tem coisas que só o Roberto proporciona. A tarde vazia anunciava pelo canal mais um dia de calor intenso, perfeito para a vadiagem. Sinal fechado para o sol, imaginava eu. Mas ele é muito mais esperto e não economizou na intensidade de seus raios. Tirei a calça para por uma bermuda e achei no bolso 10 reais. Dinheiro na mão é vendaval. Virou carteiras d...

Sem

Meu dia em sem Com o seu aquém Outrora quisesse Além contrário Sem o constrangimento Nem contentamento. Noite sub-usada afora Embora enxergue Um escuro feliz. Noturno desejo No corromper característico Daquele artifício De um tom absurdo, De um ouvido errado E de outro surdo. Um resquício de dor Nesse mútuo prazer Sem ressentimento achar Esperando uma cor. Leonardo Handa

Apenas Um

De toda a forma, o meu entregar ao seu lado/ Minha caricatura mais animalesca refletida no espelho/ Os seus olhos a penetrar/ A sua veia a admirar/ O seu coração para despedaçar. De todo meu, o sincero fel ao escorrer do canal/ Um trunfo para admirar/ Sua respiração a acompanhar/ Segredos trocados na saliva/ Lasciva fala pronta para narrar . Entrego o meu e acompanho a sua/ Lua baixa pronta de sangrar/ Cálice aberto de admitir/ Troco o pulso pelo momento/ Não adianta argumento/ Perco um pouco para viver. Rabisco meu nome na pele/ Cicatrizo a fúria na tez do rosto/ Esotérico lido nos lábios/ Letra triste mimetizo nas costas/ Significado seja outrora não compreendido/ Meu amor hoje explícito. Formam frases por vezes/ Depende agora do ângulo/ Mas apenas um aparece/ Algum sabe, outro esquece/ De maneira certa, tudo fecha/ Meu poema escondido/ Meu sentimento declarado.

Imaginando...

Um copo de conhaque acompanhado de uma tosse chata. A voz rouca por causa dos muitos cigarros e do exagero da noite passada. A meia-luz serve de distração para o inseto que nem percebe a sua real insignificância. A janela um pouco aberta. Apesar do frio, muito odor no quarto de um prédio de classe-média. A fumaça vai bailando encontrando o ar da rua que insiste em ser a veia dos poluentes mecânicos. Acho que estou com um pouco de febre, sei lá. O bicho na lâmpada está começando a me incomodar. Logo esqueço. Leonard Cohen amortece os meus tímpanos e eu, em transe, me transporto para um campo de aveia. Fecho os olhos. Estou correndo sem direção alguma, só sentindo o vento morno adentrando os meus poros faciais. Sigo como um alucinado acreditando ser o humano mais feliz do mundo somente por causa do sol em meus lábios. O azul do céu é de um absurdo tão belo que praticamente esqueço que existem outras cores. O bardo canadense continua embalando, satisfazendo a minha sensação única de l...

Cansa

Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, quem sabe. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos tudo misturado jogado no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos, enjoados. Quando se tenta colocar dois corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas. Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor ta...

Sonho

Um dia aflito, repleto de despedidas, encontros e partidas. Meio cinza, meio bobo. O céu de um lamentar sinistro com pitadas de esperança naquelas nuvens de leve laranja que logo desaparecem no girar do mundo. Uma poesia lembrada e iluminada por lâmpadas fluorescentes de um local de autotráfego repleto de fumaça duvidosa. As horas morrendo em um relógio qualquer que está coberto de poeiras vindas de várias regiões. O sol se despede em um bailar desperado como se um casal estivesse realizando o último tango. Gotas iniciam uma chuva que não vinga de preguiça em molhar novamente o que já está úmido. E os pássaros em um voo raso procuram abrigo para descansar a sorte. Um dos carros estacionam no tapete de asfalto que muitos pneus recebeu em suas costas. A entrada se abre a fim de receber outras situações que vivenciaram aquela canção do Milton. De fato alguns são jovens e ainda não tiveram tempo de degustar a novidade do sabor, mas são sábios o suficiente para entenderem que vão sentir fut...
Daquilo que chamam amor, a lágrima mata a nobre lembrança: a esperança melhor. Mas, a falta de compreensão no cotidiano interferiu no entrelaçar das mãos. O anel no dedo somente atrapalhou. Difícil se acostumar com o adorno anunciante de uma fase que deveria ser estável. Não foi. Das poesias fizemos lixo e das músicas fizemos sertanejo. Desenvolvemos preconceito e qualquer ruído virava tragédia. - O que há conosco? - Há o fim. - Espero que não.

Um ode ao Adeus

Como será? Não sei. Apenas conto com os bons ventos para que a direção não esteja totalmente perdida. Afinal, lutei ao máximo a fim de contribuir na conquista de dias melhores. Eu sei que ficou enfadonho o sentido, mas a face exposta comprova exatamente isso. Se um total reconhecimento não encontrado foi, desculpas pela falta de percepção apurada. Tratei de sangrar um pouco para marcar, no entanto, perdi mais do que o necessário, se é que necessidade cabe outro tanto. Eu sei que vazei como pude, amando e armando ferramentas possíveis na continuação. Espero não ter errado e agora continuo a sobrevivência, seja com doses de tontura ou homeopatia Omar Cardoso. Aspiro e expiro, fosse cigarro fumado até o filtro, fosse letras redigidas até o final. Fosse anos dedicados às linhas, fosse impressos divulgados em títulos. Fosse momentos conquistados antes, fosse satisfação esperada ontem. Fosse recessos e folgas planejadas, fosse ofício adorado aos montes. Fosse sal em certos dias, fosse sol em...

Oculto

Trato ao contrário Para fingir o certo Que omito E destranco em sorrisos Ensaiados que fojem Dos meus lábios. É cediço, mas ignoro Frêmito a negação Em meu coração Mesmo batendo oco Um desejo verdadeiro. Grimpo por delgados deletérios E faço de suas páginas Dobraduras que perduram Em minha memória salutar. Não é salobro O meu sentimento Prefiro não deixar por aí, Espalhado em ares Que não posso respirar. Leonardo Handa

Narcisando

Cega a Luz Do isqueiro No apagado Quarto isolado Na memória Solitária. Escorre tinta Do olho aberto Que enxerga O rachado teto Aos poucos Que cai. Esporra com pó O rosto áspero Que espera Um beijo Mas o amor Está morto E jogado Em um canto torto. Desenha uma fuga Pelo espelho E se perde Na vaidade Que esconde Em seu quarto. O seu medo É a beleza Que de tristeza Se torna bela. Leonardo Handa

Desqualificado Amor de Comercial

Desqualificado amor de comercial de jeans, De comédia romântica trágica, De refrigerante sem gás. Romance adolescente de anúncio de shopping Comprado em grife americana Elevado ao último grau de consumo Que uma revista pode vender. Amor de embalagem colorida artificialmente Tendo como acompanhamento Uma canção de plástico reciclável Gritada por um jovem com o cabelo Cuidadosamente desarrumado. Início de namoro fast-food consequente Mascado como chiclete Adam's Comprado na entrada do cinema E jogado na lixeira do McDonald's. Amor de consumo involuntário Vendido em promoção de supermercado Ilustrado com letras garrafais E pendurado na vitrine das vaidades. Romance pop de butique Que derrete como picolé Kibon Em alguma loja moda-jovem De roupas com etiquetas caras Que aceita cartões de crédito Facilmente encontrados Em postos de combustíveis Com lojas de conveniência. Leonardo Handa

Camarim

Faz o fato Em um topo E triste desliza Em artefato. O coração bate Sem força Enquanto a estaca Penetra o ato. Abre os olhos E vê o escuro Duvida do puro E cega o fim. Trava um silêncio, Repensa a vida E retorna ao palco Depois do camarim. Leonardo Handa

A Pele do Demônio

Antes de mais nada, quero pedir desculpas a quem conseguir chegar ao final da canção. Trata-se de uma composição minha que ainda não tem arranjo de violão finalizado. Portanto, não estranhe aquela falta de sintonia, caso consiga chegar até o término do acorde. Carinhosamente, chamo essa música de "A Pele do Demônio". Ela fala sobre uma prostituta. Não sou muito bom em canções, mas criando coragem resolvi arriscar e colocar esse negócio aqui no meu espaço. Que vergonha. Segue a letra e o vídeo. Arde em fogo triste O contato com este corpo Que dilacera os poros E abre as minhas ventas. O toque é exagero Bem perto do beijo Mas acostumo o ato Pois o fato eu engoli. Não tente de novo Que eu revolto o estorvo E arranco do tronco Um novo ser oco. Eu posso de um outro Acabar a hora certa Caso agora não queira Continuar a minha oferta. Arde em fogo triste O contato com este corpo Que dilacera os poros E abre as minhas ventas.
Rasgo-me, desfaço-me. Tento entregar todas as possibilidades. Não consigo. Eu falho na minha fraqueza que quebra a continuação. Incerto é o seguimento, mas você não quer alterar as linhas cerebrais que transmitem o sentimento. Então eu fico amargo, retiro, tiro e coloco novamente. As palavras escapam totalmente distraidas, sem o devido acompanhamento do pensamento. Certas são tentativas de se acumularem e criarem frases de impacto, porém, elas se racham em um muro que nem a Alemanha teve. O meu socialismo não pretende se entregar ao capitalismo que rege a sinfonia arterial presente em seu interior. Eu sei que quase sem querer um monópolio presencial você quer dissecar desse lado oriental. Pense um pouco no ocidente das tristes possibilidades que vão derreter pelos olhos já sofridos de ambos. O meu fundo respirar está deixando o frio ar invadir e procurar uma tranquilidade. Eu quero que nos encontremos, mas, por mais que o mundo seja movido pelas perguntas, possíveis respostas são soluç...

Insônia

Trata-se de uma complicação sem razões para desfechos, de um quebra-cabeça difícil de encontrar as peças. Fico pensando na melhor equação resultante de soluções, mas me atraco na inconstante falta de noção. Procuro a reflexão entre as imagens de ondas quebrando com um sol laranja de uma beleza californiana. Imagino-me longe, em outras costas. Fantasio outros acordes, de repente. Fecho os olhos e choro um outro domingo perdido. Sons de Take the long way home. Tímpanos perfurados. Mas não é motivo de tristeza, afinal, a água vai e vem. O salgado é sábio e entende a hora de partir, apesar da insistente maresia que por vezes penetra a retina desatenta. No entanto, é essa a graça do viver, das mazelas, das dicotomias e dos contentamentos. Uma vez me perguntaram se eu estava feliz. Eu respondi que estava contente. Chamaram-me de bobo, que eu deveria dizer que me encontrava alegre. Sei lá. Indefinições a parte, o fato é o não esquecimento daquele pôr-do-sol do oeste. Eu tinha pensado em uma d...

Uma frase para derrubar as outras

O amor é brega. Uma nojeira capaz de retardar o culto, distorcer a ópera, borrar a arte. É o sentimento mais xaroposo, gosmento e ridículo. Ele deixa a pessoa com sintomas infantilóides, fazendo qualquer um murmurar gracinhas que terminam em “inho”. Fofinho, bonitinho, abracinho, beijinho. Retrocessos diminutivos que deixam qualquer um nominado como imbecil. Ele é brega porque acaba transformando qualquer declaração em petardos românticos. O ser atingido pelo amor é capaz de soltar frases de impacto, como: você é o recheio do meu sonho. Puxa vida, isso é pesaroso. O amor é meloso. Faz com que o humano ouça beleza em canções tão díspares quanto chatas. Uma nota qualquer acaba se tornando um tema de novela da vida real. O amor é de uma breguice que somente o Odair José consegue cantar. Roberto Carlos caminha pelo mesmo trilho, mas não é charmosamente brega como o Odair. Ele é a mais perfeita tradução. Talvez o último romântico dos melodramáticos esquecidos nas prateleiras do saudosismo. ...

Sexta-feira, pop e cola

Hoje eu quero Ver o carnaval passar Em meu site predileto Também pretendo beber Cerveja quente na madrugada. Acender uma bituca e dar Uma baforada de gelo seco em minha sala. Sentar ao relento e sorrir pensamentos distantes. Fazer da dor O meu Sentimento a vapor. Chorar álcool etílico Em um copo de acrílico. Lembrar beijos não dados Em bocas conhecidas E cair de bêbado Em minha própria avenida. Leonardo Handa

iPod

Uma canção de beijos desesperados rola no iPod. Meia luz escura no apartamento. Ela, deitada no sofá, olha a foto mais feliz: lábios em contato acompanhando a canção. A água ameaça pingar pela torneira da cozinha, mas o que desliza é a mão pelo rosto. O cantor da música dá razão aos sentimentos da moça. O tom aumenta e um falsete desesperado rasga o tímpano sofrido. O olho não segura e permite um deslize. A lágrima encontra a almofada, que já está molhada desde o verão passado. A sequência de acordes termina e ela volta ao zero, coloca no repeat e se deixa envolver pela atmosfera subversivamente caótica da canção. Levanta-se como quem quisesse se deitar novamente, lança um olhar de desprezo na foto e grita ao primeiro corte. A canção está tocando pela terceira vez. Os joelhos encontram o chão e uma surdez mórbida invade por alguns segundos. Ela sente deliciosamente o que pensou ser uma lâmina. O objeto fica encaixado enquanto o fluído ameaça escorrer. Desliza. Lisa. Desfaz. Delícia. De...

Sujeito Oculto

Um torto ao leste reclama direção Mas segue afoito pelo lado errado. Não há bússola de consolo Muito menos central de informação, Só o destino para aconselhar A perdição que segue encontrando. A confusão mental atordoa o coração E persegue o cotidiano da caminhada. Percebe que é um sujetio oculto Entregue ao caos que não construiu. Eu tentei avisar dos perigos futuros E você não quis considerar a dor, Levou à boca os sonhos líquidos Acreditando serem a razão. Sabemos que estamos cansados E o prosseguir é uma estrada Repleta de placas que não indicam, Apenas desvirtuam as direções. Está complicado encontrar Um solução para a causa. Então siga torto ao leste Já que não tem outra opção.

madrugar_portisheadeano_________

"Roads" no fone de ouvido. Vela acesa. Cabeça repousando no travesseiro. Beth Orton, com a sua suave e melancólica voz, dá toda a razão ao penetrar no tímpano. "Ninguém consegue ver? Temos uma guerra para travar/ Nunca achamos nosso caminho, diferente do que eles dizem / Como pode parecer tão errado? Para esse momento, como pode parecer tão errado? Tempestade na luz da manhã / Eu sinto / Não posso dizer mais, congelada para mim mesmo". Respira. Inspira. Aspira. Expirra. A poeira da memória provoca sensações indeléveis, ainda mais com a trilha sonora perfeita para vasculhar o velho baú de lembranças. A imaginação a transporta ao mesmo local do primeiro sexo. Também do segundo, do terceiro e do quarto. Ela segura com os cílios a lágrima que não insistiu em cair. A solidão tem dessas coisas: proporcionar uma reviravolta mental. Tinha tanta esperança carregada no coração, presa em um colar que não tira nem para tomar banho. Mas, como toda e qualquer traição oferece i...

Cego Rever

Uma triste e bela canção arranca um pingo dos canais lacrimais. Faz-se forte a lembrança de um esquecimento que não se dissolveu. O causar de um arrepio viaja em alta velocidade através das veias. Foi mais um sonho ruim, mas eles aparecem na alta madrugada. A música contribuiu no relembrar: "Um caso por acaso Causou um desabar. Fracasso em sentir Um bom gostar. Travado um soltar de sentimentos Repudiou o decepcionar. Abriu com os olhos A falsa esperança de criar. Jogou morno um arquétipo de imaginar. Parou no momento em que deveria não fraquejar. Deixou-se ao ar, levando um fim. Traçou em memórias agonias sem iguais". O período dificultou os trejeitos do sentir. Revelou uma saída mortal de mentir. Foi triste a iguaria que bebeu. Amaldiçoou o alvo do acaso retumbante. Escorreu pelo ventre uma saudade definitiva. E sobreviveu na consequência do exuberante. Fechou novamente os olhos e se tornou a gostar. Deixou-se após o sofrer e seguiu pelos caminhos do romper. Cheirou a última...

A Canção que Você me Deu

Boa melancolia que me segue nesta manhã chuvosa. Não quero mais encontrar os motivos. Eu acreditava que quanto mais velhos ficávamos, menos dúvidas teríamos. Acontece justamente o contrário. Os anos passam e algumas razões não são esclarecidas. Agarro-me à música que você me deu a fim de me confortar com algo. Já passei da idade de ser um sofredor, mesmo o sofrimento ser considerado um sentimento sem idade. É difícil olhar as pessoas ao redor que remetem as suas características. Mais estranho é perceber que todas se parecem contigo, mas você não se parece com elas. Não consigo explicar. É confuso. Ontem a noite fiquei me emocionando. Estava sozinho, em frente ao computador, vendo um trailer de um filme brasileiro. Ele me lembrou algumas situações que, incrivelmente, ainda não vivi. Senti falta de algo que ainda não tive contato. Pirei. Acendi um cigarro, mesmo não sendo um fumante, só para tentar sentir o seu hálito. Sinto falta. Quarto com meia-luz, Mark Lanegan na vitrola, troca de c...

O dia em que pato-branquenses e beltronenses se encontraram na capital

Concentração pré-Oasis vira catarse em bar irlandês ao som da Radiophonics Parecia um bar da região, não pela arquitetura e decoração, e sim, pela quantidade de figuras carimbadas. Os rostos eram conhecidos. A banda, idem. Só a cerveja popular do local não era a mesma consumida com frequência no Sudoeste. O lugar da festa, Sheridan’s Irish Pub, definido como um bar irlandês, foi o ponto da reunião dos pato-branquenses e beltronenses que seguiram à capital do Estado para curtir um grupo britânico, mas acabaram um dia antes, graças à agenda, prestigiando a sudoestina Radiophonics, que recentemente fechou contrato com o bar. Há tempos a banda pensava em alçar vôos maiores, fugindo do esquema-estrada-Pato-Beltrão. Inclusive, chegaram a tocar em São Paulo, capital, quando puderam divulgar o CD demo “Mosaico”. Algo que agora está acontecendo em Curitiba, onde o grupo tocará todas as sextas-feiras no Sheridan’s, localizado no meio da concentração de bares do Batel. Após uma chegada conturbada...

Duo

Horóscopos mudados. Propósitos razoáveis. Desculpas sinceras. Aceitas depois. Referências abstratas. Motivos explicativos. Joguetes do destino. Consequências variáveis. Conversas destruidoras. Invertidos sentidos. Amor demais. Menos amor. Pensamentos noturnos. Estradas vazias. Soluções difíceis. Infeliz aniversário. Cigarros comprados. Pagamentos atrasados. Momentos alegres. Momentos tristes. Ambiguidade saliente. Sentimento exacerbado. Choro bebido. Tabaco apagado. Complicado viver. Vida segue. Tanta dor. Comunhão alguma. Divisão outrora. Celular desligado. Jantar confiscado. Passado presente. Presente futuro. Futuro passado. Dizeres de impacto. Ausente dizer. Mais melancolia. Dia e noite. Noite e dia. Sortimento furado. Esperança depois. Sonhos claustrofóbicos. Crises constantes. Sexo trocado. Opostos ligados. Culpado expresso. Confesso sim. Produtos sentimentais. Palavras adiantadas. Bebidas ingeridas. Capsúlas indigestas. Festas vividas. Troca e metade. Duas diferenças. Verdad...

A perfeita tradução da idiossincrasia

Sem o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o ficcional não seria tão verdadeiramente pitoresco Parafraseando uma clássica frase do filósofo Nietzsche, o cinema sem as películas de Pedro Almodóvar seria um erro. O exagero é necessário, afinal, não se trata de um normal, mas da pessoa que consegue tirar graça das tragédias. O diretor espanhol possui mais peculiaridade do que a invasão dos Estados Unidos no Iraque, do que a derrota da seleção brasileira na Copa de 1998 e do que a morte de Getúlio Vargas. Ele é praticamente a melhor tradução da idiossincrasia. As suas mulheres bizarras são sexys, os seus personagens são afavelmente caricatos, seus roteiros são miscelâneas de absurdos deliciosos e suas metáforas visuais são deleites antropofágicos para os puristas. A extensa filmografia de Almodóvar iniciou em 1974, quando dirigiu dois curtas-metragens, “Film Político” e “Dos Putas, A Historia de Amor que Termina en Boda”. Herdeiro direto da linguagem pitoresco-criativa do diretor Luiz Buñuel...
Em seu ar Livre eu vou Não importando O tempo Incorporado Ao vento. Paraliso o clima, Volto ao sol E nunca me lamento. Em sua água Não me desencanto E sigo calmo O seu canto. Penso sempre Em suas costas As mais belas Já registradas Pelas retinas Hoje cansadas De voltar.
Na impressão da letra torta revela as vontades das felicidades vorazes. Atrozes gostos de critérios milimetricamente estudados, tudo para satisfazer os desejos solicitados. Lado avesso dos sentimentos, por assim dizer, graças a violentas noites de prazer roubadas a golpes de alcatrão. Jorge Drexler dava razão enquanto o ponteiro maior do relógio seguia o seu cotidiano de matar os minutos. Segue para o copo mais uma coragem líquida a fim de continuar o testemunho exacerbado de delicadezas fraseadas. Em um momento interrompe a ação e viaja em pensamentos outros. Segundos de fragmentos imaginados junto ao transtorno bipolar que envoca um novo gole de vodca. Literatura chinesa vendida pela Acadêmia de Letras como retrato paraguaio. Certos pensamentos, de fato, ficam sem nexo, soltos, hipérboles. Resquícios que acabam desconcentrando o raciocínio. Como a frase ali agora pouco lida. Retorna ao centro do epicentro centralizado na ponta do centralizador. Por pouco escapou do meio. Um meio abra...
Meu underground. Minha memória sem lembrança. Minha lembrança sem memória. Meu livro sem frases. Meu canto sem lados. Minha dislexia sem consoantes. Minha música sem nota. Meu grito sem voz. Meu tempo sem espaço. Meu teclado sem letras. Minha queda sem ar. Meu relógio sem ponteiro. Meu passado sem história. Meu futuro sem previsão. Meu signo sem horóscopo. Meu amor sem sentimento. Minha sinuca sem caçapa. Minha tristeza sem razão. Meu coração sem artérias. Minha fotografia sem luz. Meu calendário sem datas. Meu concreto sem cimento. Minha planta sem semente. Meu genoma sem pesquisa. Meu prato sem comida. Meu underground... ... Minha simples ironia.

Assassino diário

Deserto-umbigo no fluxo limpo do quarto branco. A janela entre-aberta permite que o ar denso invada o recinto. A tranquilidade se encontra na cama com os olhos fechados e a respiração cansada. Momento único de meditação. A vela compõem o auxílio de projeção de sombras que formam desenhos assustadores e simpáticos. No chão, o cinzeiro cheio até a borda de assassinos diários que não arrancam a vida de uma vez só. São deliciosos, principalmente após as refeições, no entanto, as campanhas de sensibilização dizem que são mortais. A boa alma retorce o sentido e prefere não ligar para a consciência. 23h18. O som do vizinho pede licença e vaza das caixas "Sex On Fire". Kings of Leon sempre permitiu agitos nos neurônios do rapaz, o mesmo que antes relaxava entre os brancos dos travesseiros. Os olhos ouvem, os ouvidos enxergam. Os sentidos se confundem. O pensamento sereno dá lugar a memórias transloucadas de um amor cravado e enterrado tempos depois. Um videoclipe na coluna dorsal se ...

Linfoma

Um CAOS que Não recupero E opero em uma rota FORA DO ARROTO Digestivo. Sugiro um outro CAMPO Bem mais amplo Do que o traçado. Mas sou CONTRARIADO E alvejado. Suplico atenção Na DESORIENTAÇÃO Que a atual vida Me questiona. Só assim para Não falecer De linfoma.

00h00

Poesia das mãos, escorrendo uma sinistra Vontade de sangrar Os versos mais tristes Em homenagem a você, A responsável pela doença Que me come E me evapora A cada mensagem Que leio à meia-noite. Não há razão para tanta marca Já que agora o que eu quero É cravar a minha caneta Em seu olho esquerdo. Deixe eu vazar a minha sílaba Mais feroz em sua pele Arrancando da sua pálpebra O meu lado mais violento Que quer florescer frente aos seus olhos Que eu quero cegar com a palavra Mais peçonhenta que ainda vou criar Na semântica do ódio Das preces que eu vou cuspir Quando a sua retina Eu fizer cair. Leonardo Handa - 23 de janeiro

Poligamia

Estou praticando muito a poligamia. Não tenho culpa, encontro muitas pessoas interessantes. Quando percebo, o amor já aconteceu. Às vezes é apenas uma transa, em outras é paixão. Nego a culpa e não considero traição, de maneira alguma. Podem me chamar de puto, galinha, cretino e demais adjetivos peçonhentos. O meu veneno é mais em baixo, confesso. O fato é que tal ato me inspira no dia-a-dia, seja através de escritos, doses homeopáticas de gratidão, na minha musicalidade, no jeito de ver as coisas, as pessoas e as leituras. Não é de boa índole, mas aconselho a poligamia a qual me refiro.Ontem a noite a suruba foi geral. Várias posições, encaixes, diálogos e sussuros. Gemidos também, muitos. Culpa da Kim Deal. Ela é fogo. Foi a primeira. Quando percebi, os outros integrantes do Pixies estavam juntos. Quando terminamos, fui para cama com Sonic Youth e, para apimentar o papo cabeça clitoriano (!), convidamos Nietzsche. Na realidade, queríamos o casal estranho Sartre e Simone, mas os dois ...

Green Card

Na cadência de um quase samba levanto o seu véu. O olho absurdo revela um lado obscuro que me causa sensações pornográficas. Engulo a saliva. Lambo os lábios. Você me sorri um torto desejo. Eu devolvo um concordar imediato. Não era para ser a conclusão do amor, e sim, a continuação, mas o destino quis o contrário. A noite acabou testemunha da comunhão. O quarto branco. Os lençóis, as taças, os morangos. O colar despedaçado, o vestido rasgado. A violência gentil do ato, o contato da pele. O raspar dos dedos. Tudo frenético, com o respeito do sentimento. A cena devia ter sido gravada para vermos na separação. Afinal, vai acontecer. Sabemos que o efemêro nos completa. Somos alimento do imediato. Daqui uns anos cada qual voltará ao seu estado regular, desregulando os caminhos iniciados. Não adianta acreditar no contrário, temos a convicção de uma certeza definitiva. Não se trata de amor, são negócios. Mas, se aqui estamos, gozemos um tanto.

Onde Moram os Moleques

Viajo dentro de uma canção, acompanhado de uma boa xícara de café. Relembro uma infância. Tempos difíceis, mas divertidos. O coração na boca ao pular de um muro alto em uma caixa de areia. Tardes vadias em uma madeireira abandonada. Um quase tétano pego em uma lâmina. Um amigo lá para dar a mão. Início de noite em um pé de ameixa. O horário de verão era sempre comemorado com a empolgação cavalar. Um rádio a pilha. Uma sintonia qualquer. Um pôr-do-sol no interior. Os joelhos sujos, as canelas arranhadas. O All Star acabado. A conga destroçada. O riacho sem peixe, as pedras com rostos humanos, os pássaros soltos. O cachorro companheiro, as piadinhas inocentes, as revistas de catequese. As aulas cabuladas, os dias de futsal, as camisetas brancas limpas com Omo. O truque da moeda, a brincadeira do copo, o medo de ser pego. As meninas de Azaléia, os vestidos rodados, os ensaios na casa mal-assombrada. As noites de sábado. Videogame com Baconzitos. As conversas de madrugada, os sonhos adiado...

Por Favor

Entrego as chaves do meu tímpano Para que você entre com as suas ladainhas. Desvisto as minhas complicações Fazendo do simples a minha tradição, Mesmo sabendo que voltarei Às minhas belas contradições. Não sei dizer se é tarde Apenas quero aquela paz As vontades são contrariadas Então pego outras estradas. Permito o acesso contrariado Deixo a entrada aberta Mas acho que estou morrendo Um pouco mais por essa fresta. Vazo um tanto de calafrio Engulo muito o fel Tento bloquear o pensamento E retorno rápido do céu. Às vezes acho que encontro Percebo depois que estou tonto Um pouco procuro a calma E ela revolta logo a alma. Então eu me rendo Permito o acesso contrariado Para depois novamente Encontrar-me dormente. Leonardo Handa - 27/03/2008