Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Cold War Kids

Eis que o dia baila mais uma dança sangrenta, tingindo o céu com o vermelho de golpes líricos de tinta clássica. Mais um final de fase anuncia a esperança de um amanhecer bêbado e fodido. Olha para o teto que Deus desenhou, deitado em uma grama verde banhada pelo orvalho. Passa os dedos nos lábios somente para sentir novamente o que aconteceu. Seus ouvidos estão entupidos por fones que descarregam outra canção do Cold War Kids. Ele viaja através da música e do degradê que as cores do infinito se permitem formar.
Algumas vozes chapadas são escutadas, mas estão muito longe. Há ruídos na comunicação unilateral. Não se deixa envolver e retorna à viagem mental. Deixa-se em caláfrios quando relembra as horas passadas, as mãos no quadril, o deslizar no rosto, o colo aberto e o beijo certeiro. Abre um sorriso intenso e percebe que as histórias do passado devem ficar lá, afinal, ainda bem que as memórias não são relançadas nas TVs.
Um vento suave atinge o queixo, passa pelo nariz e morre no boné. Não há ressentimentos, até mesmo porque, ele nem sabia ao certo dos sentimentos, só tinha a noção de que eram verdadeiros.
Agora ela pensa no período - mais um - que pede para ser assassinado. Uma mudança já aconteceu. Que venham as outras. De falta que não irá morrer, de ausência que não irá sofrer. De amor que não irá faltar.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Velhos corações despedaçados

Velhos e vagabundos corações despedaçados. Os pedaços não foram colados, acabaram jogados em latas de memórias. Partiram para longe, se afogaram em lembranças. Eles morreram sem recordar a infância, os momentos felizes, o correr descalço na grama orvalhada, o sorrir graças a um desenho animado.
A tristeza veio na separação, mas logo apareceu a adolescência do reencontro. Outras tantas presenças nasceram: andar de bicicleta na chuva, bebida destilada na madrugada, cigarros roubados de bolsas maternas, dinheiro emprestado de carteiras paternas. Sem mencionar as descobertas sonoras, o roçar de um ouvido, o barulho de um gemido, o solo de um guitar hero, a voz de um band leader, o bocejar de um descanso, um Cat Stevens na vitrola.
Eis que chegou mais uma distância, cada qual para o seu lado durante a graduação, cada qual em sua própria sintonia. Os pensamentos voaram, as amizades mudaram, as atitudes afloraram, os costumes vazaram e as conseqüências adultas chegaram. Enquanto um vivia na boemia, outro esclarecia a anatomia. As mensagens não chegavam, os telefonemas eram desencontrados.
Chegou, portanto, a adultíssima geração problemática-social. Um prozac era engolido de vez em quando, mas era de cerveja que surgia o alívio. Em um belo caminhar, um outro reencontro afloreceu. Uma troca de beijos, um abraço apertado e um convite.
O tempo passou, os laços foram feitos e compravam algumas felicidades. Porém, também constataram: relacionamentos são complicados e amores têm efeito submarino: foram feitos para afundar. Agora os velhos corações estão despedaçados.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

E-mail nosso de cada dia - "O Cão e o Coelho"

Eram dois vizinhos. Um deles comprou um coelho para os filhos. Os filhos do outro vizinho também quiseram um animal de estimação. O homem comprou um filhote de pastor alemão. Conversa entre os dois vizinhos:
- Ele vai comer o meu coelho!
- De jeito nenhum. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos "pegar" amizade... E, parece que o dono do cão tinha razão. Juntos cresceram e se tornaram amigos. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças, felizes com os dois animais.
Eis que o dono do coelho foi viajar com a família e o coelho ficou sozinho. No domingo, à tarde, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche quando, de repente, entra o pastor alemão, com o coelho entre os dentes, imundo, sujo de terra, morto. Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo, o cão levou uma surra! Dizia o homem:
- O vizinho estava certo, e agora? Só podia dar nisso! Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora?! Todos se olhavam. O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos. - Já pensaram como vão ficar as crianças? Não se sabe exatamente quem teve a idéia, mas parecia infalível:
- Vamos lavar o coelho, deixá-lo limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na sua casinha. E assim fizeram. Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças. Logo depois ouve os vizinhos chegarem. Notam os gritos das crianças. -Descobriram! Não passaram cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma. - O que foi? Que cara é essa? - O coelho, o coelho... - O que tem o coelho? - Morreu! - Morreu? Ainda hoje à tarde parecia tão bem. - Morreu na sexta-feira! - Na sexta? - Foi. Antes de viajarmos as crianças o enterraram no fundo do quintal e agora reapareceu! A história termina aqui. O que aconteceu depois não importa.
Mas o grande personagem desta história é o cachorro. Imagine o coitado, desde sexta-feira procurando em vão pelo seu amigo. Depois de muito farejar, descobre o corpo morto e enterrado. O que faz ele? Provavelmente com o coração partido, desenterra o amigo e vai mostrar para seus donos, imaginando fazer ressuscitá-lo. E o ser humano continua julgando os outros... O que podemos tirar desta lição é que o homem tem a tendência de julgar os fatos sem antes verificar o que de fato aconteceu. Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade? Histórias como esta é para pensarmos bem nas atitudes que tomamos. Às vezes fazemos o mesmo... "A vida tem quatro sentidos: amar, sofrer, lutar e vencer. Quem ama sofre, quem sofre luta e quem luta vence. Então: AME muito, SOFRA pouco, LUTE bastante e VENÇA sempre! Pense....
...EM QUANTOS CACHORROS JÁ DEVEMOS TER BATIDO ?????

quinta-feira, novembro 29, 2007

Estrangeiros


É um bem que faz, mesmo sem saber. Basta um olhar para concretizar, um piscar para entender. Ainda bem que do encontro se fez a alegria. Tantos deletérios por aqui já passaram, alguns arrancaram o que eu tinha de melhor. Mas eis que surgiu um passado para lembrar. Do lembrar causou um sorrir que se abriu contente em mistério. Os ácaros insistem em amaldiçoar, nada sabem do gostar, por isso brigam entre papéis de uma época esquartejada. Não levamos em consideração a poeira, melhor o que está abaixo dela.

Passe novamente na distração, tropeçando em um sentimento que proporciona o cair. Não precisa esconder, as provas já foram apresentadas, por mais herméticas que fossem, compreensão é uma qualidade. É assim que se faz o bem.

Às vezes o respirar é tão complicado. Não o respirar simples da ação, mas o causar de uma interrupção, como se fosse um soco no pulmão, uma falta de extravassar. Eu sei que foi de fobia que o caso agora surgiu, portanto agradeço aos tristes pela razão. Se for para sentir, que seja sincero. A falsidade é adjetivo de outra oportunidade. Ela já esteve aqui, agora retorce em necrofilia. Por vezes lembra coprologia.

Contudo, mudemos as chagas de lado, abertas em outros estágios deixemos. Basta um olhar para concretizar, um piscar para entender. Do clandestino surgiu um silêncio, do passante gringo de torto andar veio o cantar. Agora somos estrangeiros do sentir, conselheiros do abstrato, praticantes da hidrostática do observar, esperando o momento da flébil, de vez, desabrochar. E já sabemos que futuras atitudes iguais serão de clones, do copiar, da falta de procurar, da referência do abismo, da idiotice da preguiça e do farsesco-personal.

domingo, novembro 18, 2007

Não há como negar que certos eventos podem trazer mais perspectivas e pensamentos positivos na vida de qualquer pessoa. Ainda mais quando se trata de música. Parece romântico demais falar sobre isso, mas é um detalhe que não pode ser ignorado. Tudo começou com uma freqüência altíssima de música eletrônica e rock, na conseqüência maior de explodir os tímpanos. Após, uma deusa islandesa corrompeu todas as minhas concepções de shows que até então eu tinha. Foi como chegar ao inferno e retornar com a boca repleta de alegria. Aí chegaram os quatro cavaleiros do Apocalipse montados em guitarras, baixo e bateria. Tudo veio contra o peito, uma massa sônica de prazer. Depois do caos, veio o assassinato. Uma das melhores chacinas musicais já realizadas no Paraná. Uma morte em massa, linda e perfeita. Mas, acabamos ressucitados.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Manga

Frases mais azuis nesse caderno cinza. O lembrar de uma época te deixou mais sensível. Impossível não perceber isso em seus olhos castanhos, em sua tez morena, em seus finos lábios. Os versos ficaram mais positivos, a morte deu um tempo. A caligrafia ficou mais legível, as poesias mais coloridas, os desenhos mais festivos. Os assuntos mudaram. A tristeza padeceu. O contento apareceu.
Como é lindo quando percebemos que o mar também tem momentos de calmaria, que o marinheiro nem sempre é só, que a maresia ainda possui perfume. Nem sempre conseguimos tudo de imediato, por mais que batalhas contenham derrotas, do contrário, vitórias não existiriam. Como é bom alcançar um objetivo, mesmo que de repente ele apareça sem que tenha passado pelo caminho das pedras. Às vezes a facilidade se resume à sorte. Pessoas já encontraram bilhetes premiados em latas de lixo.
O preto pediu licença, entrou na fila do INSS. A alegria encontrou um emprego. Tudo bem que ela trabalha aos sábados, mas apenas de manhã. A tarde toda está livre para as canções, para as leituras, para as conversas, para as cervejas e para os filmes. O último foi sobre encontros e desencontros com trilha de um compositor alternativo morto no início da década. Havia tristeza no longa-metragem, porém, a mensagem deixava um sabor de manga: doce com fiapos.
A recente poesia composta mostrava a atual situação, o viver de um tempo aberto à possibilidades. Havia o coração jorrando bons sentimentos. Havia alma, finalmente. Havia o caminhar torto se tornando feio, ficando horrível, mas terminando belo. Era bonito.
Agora é deixar o passado justamente em seu lugar, respirar a possibilidade disponível, aproveitar o sobreviver. Cada frase registrará. Espero que com palavras mais azuis.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Cego rever


Uma triste e bela canção arranca um pingo dos canais lacrimais. Faz-se forte a lembrança de um esquecimento que não se dissolveu. O causar de um arrepio viaja em alta velocidade através das veias. Foi mais um sonho ruim, mas eles aparecem na alta madrugada. A canção contribuiu no relembrar.


Um caso por acaso

Causou um desabar.

Fracasso em sentir

Um bom gostar.

Travado um soltar

De sentimentos

Repudiou o decepcionar.

Abriu os olhos

A falsa esperança de criar.


Jogou morno um arquétipo de imaginar. Parou no momento em que deveria não fraquejar. Deixou-se ao ar levando um fim. Tragou em memórias agonias sem iguais. O período dificultou os trejeitos do sentir. Revelou uma saída mortal de mentir. Foi triste a iguaria que bebeu. Amaldiçoou o alvo do acaso retumbante. Escorreu pelo ventre uma saudade definitiva. Sobreviveu na conseqüência do exuberante. Fechou novamente os olhos e voltou a se gostar. Deixou-se após o sofrer e seguiu pelos caminhos do romper. Cheirou a última memória e agradou o cego rever.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Long Plays para a primeira hora da manhã

Long Plays. Música da banda gaúcha Pública. Ela proporciona uma incrível vontade de sair por aí amando, abraçando, sorrindo, mesmo que se trate de um fim. Mas a melodia é tão chiclete e cativante que parece trazer a impressão contrária. Não vai sair tão cedo do meu iPod. Redonda. Grudenta. Perfeitinha. Ótima para ouvir na primeira hora da manhã, de preferência para levantar os ânimos.

sábado, novembro 03, 2007

Bateu a saudade

Bateu uma saudade de não fazer nada. Aquela em que eu ficava olhando para o céu deitado no telhado. A noite sempre foi a minha melhor companhia. Bateu uma saudade quando você aparecia, do nada, do além, do sem avisar. Essas surpresas eram as melhores. Hoje em dia ninguém faz isso. Às vezes nublado se tornava, mas logo vinha o vento e jogava as nuvens em outras direções. Direções muitas que um dia tentamos seguir, mas opostos foram os caminhos.
Bateu uma saudade enorme das conversas, dos diálogos, dos prólogos e das teses. O mundo parecia conspirar quando menos analisávamos. As batalhas de frases eram incríveis. Até o Tarantino ficaria orgulhoso. Bateu simplesmente uma saudade de uma época que era única. Um período de preocupações incansáveis, de angústias incontroláveis, de momentos inexplicavéis, de sofrimentos mensuráveis. Bateu uma saudade da voz falando calmamente sobre sonhos de viajar pela América Latina. De conhecer a Patagônia, de viajar para a Colômbia, de explorar Santiago. A vida pede provas e quem ama dá, já tinha dito o compositor que você sempre citava e cantava. E naqueles momentos elas existiam. A conseqüência final foi o sentimento.
Bateu uma saudade. Abri um livro e caiu um poema. O amarelo já tinha tomado a página. Mesmo assim dava para ler. O texto falava justamente das lembranças, das boas saudades. Recordei o dia em que você o escreveu. Vinho na mesa, velas acesas, Chet Baker na vitrola. Um pedaço de sulfite, uma caneta Bic, uma inspiração. A noite quente entrando pela janela, a brisa do mar batendo no vidro e um cachorro latindo. A primeira frase veio em segundos, a segunda em seguida. A terceira arrebentou meus olhos e a quarta, o coração. Um cigarro foi acendido, mais um gole acrescido e uma mariposa se batia no abajur. A quinta frase veio mal pensada, recompensada pela seguinte, que falava sobre palpite. Um sorriso surgiu na seqüência, retribui com um piscar, o relógio marcou 3 horas e o Chet solava rompimento. Um criança apareceu na sétima. Os olhos se encheram de lágrimas, uma delas caiu na oitava, até hoje borrada. A nona rimou com dor e a décima feriu a infância. Mas na décima primeira o sol apareceu, na outra se pôs, na décima terceira amanheceu lindo e na última acabou a poesia. E agora bateu a saudade.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Um coração selvagem arrebenta a alma de um poeta caído. A tristeza se esvai para outras redondezas. A vida ganha um novo sopro na descoberta acidental. A pureza já perdida percorre novamente pelos poros da satisfação. Os olhos se fecham para receber o carinho.
As mãos tocam lentamente o pulso de prazer.
A beleza antes não era percebida. Agora há a entrega do sentir. O vazio some como se estivesse escorrendo pelos dedos. A pele se encontra com a outra e não desiste. A cabeça viaja em pensamentos recentes. Difícil acreditar que está acontecendo. Os lábios exploram o desconhecido. As outras experiências se dissipam. O caos do início vira compartilhamento. A sensação se torna troca. O carinho, perfeição.
As pernas se enroscam.
A respiração alcança o ápice. O deslize é freqüente. O rápido fica lento. Os beijos, permanentes. A explosão chega logo. A luz penetra os olhos. O gemido, vocalização. E o final é um trejeito.
Logo se separam para repousar.
O explícito fica tímido. As cobertas, camuflagens. Os sons se transformam em silêncio. E a respiração, melodia. Um dedo faz audácia. O outro corresponde. Se abraçam novamente. Não começam, mas permitem. As horas se distraiem. O escuro, cambaleia. O tocar é percebido. E o amor é destravado.

quarta-feira, outubro 24, 2007


RARO


You say life is a dream
Where we can't
Say what we mean
Maybe just some
Roadside scene that
We're driving past
There's no telling
Where we'll be in a day
Or in a week
And there's no promises
Of peace or of happiness
Venha

Partir A minha parte

Ainda intacta





Corrompa
o que eu tenho de melhor












A minha sinceridade é


o bem







VALIOSO







mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais. mais.




MALTRATE A MINHA ALMA.

















Seqüestre a minha calma.













Violente
















O meu amor.
minha febre adorada
meu porre de vodca
minha doce angústia
meu dia nascendo
minha alma desencarnada
meu filho não ejaculado
minha casa imobiliada
meu povo faminto
minha droga injetada
meu amigo confidente
minha letra inconsistente
meu verso corrompido
minha poesia dilacerada
meu motel preferido
minha amante titular
meu eu acróstico
minha vida não temperada

Jesalel


Desça da morte

Enquanto o corte

Escorre da faca

Um gosto de morte.


Suba da sorte

O seu azar atroz

E voe veloz

Rumo ao norte.


Volte tenaz

Aos braços felizes

Dos tristes sorrisos

E solte um grito

Sobrevindo do fim

Que enfim deixou

Um anjo caído

Encontrar o partir.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Conto Perdido

Era um canto triste aquele ouvido na alta madrugada. A melodia rasgava delicadamente a lembrança confusa de outros verões. A luz da lua penetrava pelo vidro da janela. Não havia nuvens no céu e as estrelas estavam propícias a mostrar o brilho intenso de cada qual. Estava eu deitado na sacada do meu apartamento, acompanhando o movimento da canção enquanto recebia no corpo uma abençoada brisa noturna. Meus cigarros tinham acabado, então eu estava fumando orégano enrolado em uma página da revista Caras.
Em um certo momento cheguei à conclusão de que o Elliott Smith só podia estar pensando em merda quando resolveu tirar a sua vida. Mas, isso é mal de gente metida a gênio. Kurt Cobain que o diga com um tiro nos miolos. Contudo, a sua rápida passagem entre nós terráqueos já valeu pelas pérolas compostas de maneira soberba. "XO" continua um clássico. Nick Drake também fez isso, lembrei agora. O compositor inglês deixou antes uma arte de derramar a última lágrima virgem de um garoto recém estuprado pelo padrasto, chamada "Pink Moon". O jeito de cantar a vida nunca mais foi o mesmo após os mísseis em formato de dedilhados de violão lançados pelo bardo.
Fiquei mais um momento curtindo a brisa. Não agüentei, levantei e fui comprar um maço de cigarros. Aproveitei e peguei uma caixinha de cervejas. Também comprei Ruffles. Ao voltar para casa, umas meninas e suas saias microscópicas me sorriram um serviço. Minha carteira não continha o agrado por elas solicitado. Retribui o favor com um cigarro e uma latinha de cerveja. Elas me agradeceram e foram de encontro ao desconhecido. O objetivo delas era a invasão vaginal por algum membro qualquer. Desde que pagassem, óbvio.
A noite estava muito agradável. Enquanto fumava um cigarro e matava mais uma loira gelada, pensei em várias coisas, muitas merdas e outras tantas. A linha de raciocínio não era lógica. Analisei os cúmplices, percebi os culpados, valorizei a pessoa amiga. Não encontrei nenhuma conclusão, até mesmo porque, a intenção não era encontrar. Mas percebi ainda mais o quanto é complicado esse mundo moderno. Ao menos dizem que é. De toda forma, deu para ter a percepção de que eu estava certo. Não se envolver é o melhor, só quero me animar, me divertir. E no caminho de volta para casa, sozinho, a companhia ideal percebida são as histórias a criar. Agora é aguardar a próxima viagem.

quinta-feira, outubro 18, 2007

AbsTRATO

Triste insiste
Em não derramar
Do copo a precisa
Poesia que
Se desmancha.


Alcança antes
Uma letra feia
Com texto lindo
Que remete
Ao passado romântico.


A borda cheia
De sílabas agora
Vaza palavras.


Desperta a esperta
Esperança de
Se embriagar
Em poemas abstratos

LSH

domingo, outubro 14, 2007

Existem alguns momentos em que é preciso ficar quieto, aproveitar o silêncio para escutar outros desabores, outras alegrias, outros deletérios, outros momentos jucundos. Há períodos em que é preciso gritar para quebrar a porra do silêncio, extravasar a felicidade e alcançar o desatino. Mas, existem períodos em que é necessário manter os dois em eterna conciliação. E assim será.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Plasbol


Cabeça de ponta arregaça
A mulata tristonha na praça
E o corpo perfeito arrebenta
Um ícone morto no colo.

A lágrima de vodca abstrata
Voa no chão de overdose
E a moça dos olhos escuros
Me sopra pra longe do rosto.

A vida é uma morte infantil
Observada pelo Jesus junkie
Que analisa com os seus metais
A ponta de lança no seu peito.

A morte é uma vida desperdiçada
Pela mulata deitada no colo
Da criança que bêbada
Reza mais um salmo extra.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Dica: Into The Wild

Liberdade acima de tudo. Ignorar as ordens capitalistas das coisas. Seguir um rumo não traçado previamente. Encontrar pessoas legais pelo caminho. Respirar as possibilidades impossíveis de se conseguir com emprego, casa e família. Curtir cada momento como se fosse o último.
Estas frases e muitas outras fizeram parte da vida de Christopher J. McCandless, um garoto de 20 anos que abandonou a sociedade tradicional e foi caminhar pelo mundo americano. Já ouvimos muitas histórias parecidas com a dele. Algumas lindas, outras trágicas. Tudo culpa do Kerouac. O relato de McCandless, no caso, não é tão feliz. Depois de várias aventuras - quase todas, sozinho - ele morre de fome no Alasca.
O trajeto de peregrino que ele seguiu por dois anos serviu de inspiração para o escritor John Krakauer transpor a história do rapaz em um livro. A obra, por sua vez, levou o ator Sean Penn a se arriscar novamente atrás das câmeras, dirigindo assim o filme Into The Wild (sem previsão de lançamento no Brasil e sem título em português).
Sean Penn realizou um road-movie sem muitas novidades se comparado com o gênero de outros clássicos. Mas, quem possui ao menos o espírito de liberdade, se identificará com o personagem e talvez até se arrisque em uma empreitada semelhante. Afinal, inspirações surgem a cada dia, em qualquer momento, muitas vezes sem aviso prévio. E foi seguindo essa idéia que o ponta-de-lança do Pearl Jam, Eddie Vedder, compos a trilha sonora do longa-metragem, convidado pessoalmente pelo diretor.
Vedder - assim como o personagem da história - realizou e gravou as músicas praticamente sozinho, tocando, aliás, vários instrumentos. Muitos temas registrados possuem apenas voz e violão, relembrando um pouco o trabalho que ele fez no filme Uma Lição de Amor, quando regravou uma canção dos Beatles, You’ve got to hide your love away. Coincidência ou não, o protagonista do longa em questão era Sean Penn.
O vocalista do Pearl Jam sempre expressou entre letras e atitudes a sua opinião a respeito dos padrões pré-estabelecidos por uma sociedade que sofre de valores concebidos em um passado que precisa ser revisto. Com certeza esse espírito o ajudou e muito nas composições de Into The Wild, mas não na sonoridade, e sim, nos ideiais.
Em nenhum momento o interessado encontrará nas canções um Vedder-Pearl Jam. Esqueça os urros. Na trilha sonora, o cantor privilegiou as melodias ao invés da porrada, seguindo por um caminho country-folk e remetendo ao Neil Young pós-Harvest Moon. Ótimo para os momentos de solidão, na beira da estrada com o sol se despedindo e uma mochila nas costas: um dos vários símbolos de liberdade.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Fraquejar

Dica: Portishead



Se não me engano já comentei sobre a banda Portishead em algum post passado deste blog. Mas sempre é bom relembrar quando o produto é bom, beirando ao sensacional. A banda, vinda da Inglaterra, criou um dos gêneros musicais mais intrigantes da década de 90 junto ao grunge de Seattle, Estados Unidos. Estou falando do trip hop que também teve como expoente o grupo Massive Attack.
Carregadas de sentimentalismos, as letras e as nuances vocais de Beth Gibbons são de arrepiar os pêlos púbicos. As melodias com as combinações eletrônicas das músicas descem macia através do tímpano. Algumas chegam a causar um estado de êxtase no indivíduo. As canções são perfeitas para um bom amor (leia-se transa) lento, detalhoso, sinfônico e orgástico.
O primeiro disco da banda, Dummy, continua até hoje sendo um clássico do gênero e nunca foi superado, nem pelo próprio grupo. Os outros trabalhos também merecem todos os adjetivos, porém, foi no debut em que o Portishead conseguiu a sintonia perfeita. Cada detalhe, cada acorde, cada nota do Hammond e cada interferência eletrônica são casadas perfeitamente, levando o ouvinte à estratosfera do sentimento-flor-da-pele.

terça-feira, outubro 02, 2007

E-mail nosso de cada dia

Essa vem da série e-mails que recebemos diariamente. Porém, um detalhe, eu acertei a resposta. Isso quer dizer: tomem cuidado.

Teste psicológico para psicopatas Esse é um teste psicológico de verdade... - Uma garota, durante o funeral de sua mãe, conheceu um rapaz que nunca tinha visto antes. Achou o cara tão maravilhoso que acreditou ser o homem da sua vida. Apaixonou-se por ele e começaram um namoro que durou uma semana. Sem mais nem menos, o rapaz sumiu e nunca mais foi visto. Dias depois, a garota matou a própria irmã. Questão: Qual o motivo da garota ter matado sua própria irmã???
(Não desça até o final antes de ter pensado em uma resposta!!!!!)
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Resposta: - Ela matou porque esperava que o rapaz pudesse aparecer novamente no funeral de sua irmã. Se você acertou a resposta, você pensa como um psicopata. Esse é um famoso teste psicológico americano para reconhecer a mente de assassinos seriais ( Serial Killers). A maioria dos assassinos presos acertou a resposta. Para um psicopata, sempre os fins justificam os meios. - Se você errou... Bom para você, Bom para sua família e Bom para seus amigos. - Se você acertou a resposta... Apague meu nome da sua agenda, Apague meu nº do seu celular, Apague meu e-mail do seu micro e esqueça que me conheceu um dia!!! ME ESQUECE!!!!!

segunda-feira, outubro 01, 2007

Dica: Gogol Bordello


Pense em uns caras que rotularam o som como punk cigano. Agora acrescente pitadas de referências musicais de qualquer parte do mundo e um vocalista que canta muito parecido com o Wander Wildner pré-Baladas Sangrentas. Junte agora oito caras que não têm vergonha do ridículo. Pronto. Tire do forno sônico a bolacinha que possui como nome Gogol Bordello.

A banda surgiu em Nova York - lugar em que tudo acontece -, mas a maioria dos integrantes são do Leste Europeu - local em que acontecem muito mais coisas do que em Nova York. O álbum mais recente dos punks ciganos se chama Super Taranta! e é repleto de maluquices musicais, com direito a acordeões ensandecidos, saxofones do inferno e violinos heavy metal.

Além desses adjetivos musicais, eles possuem como fã ninguém menos do que a Madonna. Aliás, no concerto do Life Earth (ou se preferir, Laive Ãrf), em Londres, a dita cuja rainha do pop convidou o Gogol Bordello para dividir com ela uma versão tira-o-cão-da-coleira de La Isla Bonita. Nem é preciso dizer, mas a canção ficou ainda mais deliciosa.

Vale a pena procurar o disco (original) desses palhaços modernos.


terça-feira, setembro 25, 2007

Duas boas ações em um mesmo dia

Fui e já voltei. Parece que o tempo passou tão rápido. Ou melhor, isso não é impressão, o tempo realmente passou depressa demais. Mas deu para aproveitar ao máximo e nas últimas conseqüências a capital paranaense. Agora resta a saudade, sobretudo da minha irmã. É incrível como a gente se diverte junto. Amo Curitiba, mas amo muito mais a Ana. Bem mais.
Pois bem, agora entra o momento "coisas que só acontecem comigo quando estou na capital". Em determinada situação, que não cabe explicar agora, eu passei por uma Kombi. O veículo estava parado e, ao lado, tinha cinco freiras. Uma delas estava dentro. Passado um tempo de observação, vi que elas começaram a empurrar a Kombi. Percebi que estavam tentando fazer o negócio pegar no tranco. Na primeira tentativa, não conseguiram. Eis, então, que os olhos abençoados de uma me avista e me pede: - Oi mocinho, tudo bem? Será que você poderia nos ajudar? - Eu, todo benevolente, pensei: - Por que não? Aproveito e já faço minha caridade do dia.
Assumi a boléia da coisa que, no caso, era uma Kombi. E as cinco freiras empurrando, todas trajadas, devidamente. Parecia que elas tinham acabado de sair do filme Noviça Rebelde. Na minha primeira tentativa de fazer pegar no tranco não consegui. A Kombi travou. Daí eu gritei. Gritei mesmo: - Vamos de novo! Fé em Deus! - Uma das freiras me respondeu, empolgada: - Fé!!! Elas começaram a empurrar de novo, engatei a segunda e não é que Deus ouviu, pois a porra da Kombi ligou.
Desci do veículo, elas me agradeceram, fiz minha boa ação, elas partiram felizes para um encontro de freiras paranaenses com a presença do padre José Maria. Aí acendi um cigarro e vi elas indo embora, todas felizes cantando um salmo. E, assim que dei a primeira tragada, aconteceu o que sempre ocorre quando estou na capital, alguém me pediu um cigarro. Foi então que realizei a minha segunda boa ação do dia. E segui feliz!

sábado, setembro 22, 2007

Intenso

Então aqui, pensando um pouco lá, já que pessoas queridas estão. Muito em diversão, um tanto de distração. Embora a vontade seja, infelizmente, uma volta acontecerá. Ainda mais sinto que estabelecer é impreciso, porém, é preciso acreditar. Quem sabe um dia quando o verão não acabar. Agora quero sentir outra vez as ondas acertarem as minhas pernas. Quero de novo o sol fuzilando os meus olhos. Quero um sentimento dilacerando a minha alma. Quero me sentir livre no local de felicidade. Não quero lembrar das canções ruins. Não quero ler os textos de perdição. "Quero um amor com pedaço de fruta mordida".
Sinto que o retrocesso não é a ocasião. Não procura em nada a perfeição, já que a imperfeição sempre me chamou mais a atenção. Gosto do cheiro dos perdedores, da fumaça desgraçada que se espalha pela maresia. Adoro descer no trapiche das memórias poéticas e livres. Encontrar nos rostos dos admiradores da ilha uma verdade que volta a ser virgem devido ao lugar que emana descontração. Pessoas que antes tímidas descobrem um sopro de alegria de pura combustão. Uma liberdade não alcançada entre os fios de conecção.
Quero aquilo que nunca deveria ter saído. Visualizar o novo que ainda não foi criado. Descobrir um capricho não revelado. Desfrutar da carne não abatida. Beber um gole de novidade antes de entrar na madrugada querida. E depois de aproveitar os minutos que desvelam, quero lembrar o passado sofrido, os momentos ressucitados e os casos contados. Tudo ao som de The Coral ou outra bandinha de som delicado.
Então, agora aqui, embora pensando um pouco acolá, vou aproveitar os dias que ainda me restam, já que a proposta é o intenso.

segunda-feira, setembro 17, 2007


sexta-feira, setembro 14, 2007

Aimee

Ando tão on-line que adoro ligar o computador nas primeiras horas do dia. O Windows XP sempre me diz logo pela manhã: bem vindo. Ninguém - pessoa física - me deseja isso quando chego ao trabalho. Só a máquina que uso diariamente. O cérebro eletrônico, aquele mesmo que o Gil cantou.
Ela é a companheira perfeita. Escuta comigo as músicas que eu mais gosto, me ajuda no desenvolvimento dos textos, das diagramações e ainda me acompanha nas leituras pelos sites que acesso. Às vezes a Aimee, como chamo carinhosamente o meu computador, resolve pirar, travar, complicar. Mas nada que um reset não resolva. Uma pena as pessoas não terem também um botão reset para ajeitar as coisas.
Nos últimos meses a Aimee tem recebido muitas informações, sobretudo musicais. Ela também ganhou um companheiro, um acréscimo para a sua atualização no mundo pop: um iPod Shuffle. Ficou tão feliz quando eu baixei o iTunes, pois, até então, Aimee não tinha nenhum programa da Apple, só da Microsoft. É praticamente uma roupa da Prada. Deve ser por isso que ela não está me tirando do sério. Afinal, sabe como são as máquinas, elas precisam de um agrado de vez em quando. Como as mulheres. As reais, é lógico.
Aimee está ouvindo muito Feist, Nick Drake e Charlotte Gainsbourg, filha do soberbo Serge Gainsbourg, o cara com o dom de compor músicas lindas e sensuais, por vezes eróticas, mas não no sentido "Madonna" da palavra. Não estou dizendo que a cantora é vulgar, pelo contrário. Ela abusa, assim como o Serge. No entanto, ele é mais classudo. Já a Madonna é CLASUDA, seja lá o que isso queira dizer.
A minha máquina é bem eclética. Às vezes também é versátil. Em alguns momentos é palhaça. Ela está me ajudando a desenvolver um novo estilo jornalístico, o Jornalismo Bozo. Sem drogas, só confetes, nariz redondo e vermelho, além de algodão doce. Mas, com cerveja, cigarros e muita música do Réu e Condenado. Aliás, essa dupla de Goiânia é puro escárnio. Do bom. Sinta só uma das pérolas poéticas dos caras:
"Eu sou tão mal / Que eu teria dois carros num país comunista / Eu sou tão mal / Que o meu hobbie em casa é brincar de legista / E você ainda quer ser o meu amor".
Esta frase é muito linda. E os caras ainda são proféticos, pois eles lançaram o primeiro disco em 2004, período em que o Brasil não estava passando pelo caos aéreo. Na canção, Encontro de Família, a dupla comenta que Santos Dummond ficaria revoltado com a atual situação da aeronáutica. Bacana.
A Aimee gosta e eu me perdi neste texto. Comecei com "bem vindo" e terminei em escárnio. Voltarei ao trabalho.

quarta-feira, setembro 12, 2007


Baixo momento no período tosco de amor vagabundo. Um moribundo ansioso vaga pelos corredores da razão. O cuspe da paixão escorre na escuridão. O coração assassina todos os prazeres da aproximação. A cada tiro de sentimento, o bando procura se esconder entre os móveis de saudade.

A cena é de puro terror romântico. É a eterna luta contra o tráfico do amor. O grama da droga é caríssimo. Amor direito na veia é chaparral.

Por isso a troca de tiros no Morro do Foderoso.

O amor é a droga perfeita.

terça-feira, setembro 11, 2007

segunda-feira, setembro 10, 2007

Escondidas Verdades


Truques ambíguos
De ordinária beleza revelada
No coração mais perfeito
De uma alma torturada.

Falsa condição projetada
Nos dizeres mais concretos
Nos sorrisos mais discretos
Mas foram nos olhos
Que explícitos revelaram
A condição incorreta.

Nuvem de pólvora
Em um quarto amarelo
Repleto de angústia.

Um dia, quem sabe,
Encontrem as verdades.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Por uma vida mais ordinária



Para que chegue logo o final de semana. Para que a vida seja mais inconseqüente. Para que a madrugada de quinta para sexta seja... simplesmente seja. Que o cigarro queime o filtro. Que a bebida desça gritante. Por uma vida mais ordinária. E marginal.

terça-feira, setembro 04, 2007

Poema: Leonardo Handa - Foto: Rogério De Conti


quinta-feira, agosto 30, 2007

Thom Yorke - The Clock



Esse cara é complicado. Quando surgiu no cenário musical com a sua banda, uma tal de Radiohead, anunciou aos quatro ventos que era um verme (Creep). Depois, lançaram um dos discos mais legais da década de 1990, The Bends. A canção Fake Plastic Trees arrancava da cerne o sentimento mais bonito, mesmo sendo triste. Em 1997, a banda colocou no mercado o álbum Ok Computer, uma beleza sônica com linhas de guitarras que até hoje estão marcadas nos corações dos aflitos. O futuro nunca foi tão controvérsio e discutido, graças ao Thom.
Eis então que a banda entra em um hiato e após alguns anos lança Kid A, deixando todo mundo confuso. As canções do álbum, extremamente difíceis, colocaram em dúvida os fãs da banda. Mas, é só ouvir o disco mais de três vezes seguidas que dá para perceber o conceito da obra, totalmente diferente do que, até então, o Radhiohead vinha seguindo. Na seqüência vem Amnensiac e Hail Of The Thief, discos menores se comparado com Ok Computer e, propriamente, o Kid A. Em breve a banda estará lançando novo trabalho. Parece que sai ainda neste ano.
Entre uma composição e outra, o Thom Yorke lançou o seu primeiro álbum solo, chamado The Eraser. Repleto de intervenções eletrônicas e com aquelas mesmas linhas vocais que estamos acostumados a sofrer de tão boas, parece um chute no saco a sensação que se tem ao ouvir pela primeira vez. Caso você, mulher, que está lendo esse texto, imagine uma grande cólica menstrual ao invés do chute no saco.
Deixo uma música dele, sem elementos eletrônicos. Um adendo, no original, The Clock possui mais ruídos do que aquele velho vinil do Balão Mágico.

sábado, agosto 25, 2007

The Kooks

quarta-feira, agosto 22, 2007

abraçado ao corpo


Estou no quarto, deitado na cama, olhando para o nada. Estou em "dois a rodar". Acabei ficando tonto e despenquei do sétimo andar. Desmaiei no travesseiro de folhas secas. Olhei para o lado e imaginei a vida. Acordei com a boca repleta de sabão. Foi então que eu avistei ao lado uma tristeza em forma humana. Abri um sorriso. Lancei algumas falas de bolhas de sabão. A cada bolha que explodia, minha voz entrava no ouvido alheio. Aos poucos consegui tirar o desânimo dos olhos castanhos. Abri outro sorriso. Fechei em um beijo, longo, suave e molhado.

Enxergo de longe, com os olhos fechados, a neblina gelada da madrugada do litoral. Os peixes celestiais transitam no ar fugindo dos gatos noturnos. Admiro o carrossel de caranguejos enquanto filo um cigarro. Cuspo no céu uma supernova. Ela viaja e adentra no corpo de Afrodite. Carinhosamente ela me manda um beijo. Agarro no ato e fico estático.

Desempenho uma função ímpar de trocas interplanetárias, condensando o universo em um copo de café. Tropeço nos cacos de vidros de vodca. Cheiro à fumaça. Fecho os tímpanos para não ouvir a canção. Mas não adianta. Obedeço e sigo com o dia, abraçado ao corpo. Silêncio. Mortal. E absoluto.

terça-feira, agosto 21, 2007

Tocando o Terror


Esse escrito é dedicado e feito em homenagem à Stella, a mulher mais foda do mundo mundial.


Levanta o corpo
Da horta sonora
Embora as plantas
Estejam mortas.

Joga no rosto
Um pouco de sal
E sinta o caos
De puro gosto.

Balance o colo
Na pista de dança
E lance um passo
De compasso fácil.

Acenda o cigarro
E aspire o veneno,
Faça um gargalo
Espirrando o azedo.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Deserto de Sal


Algumas letras batem no ouvido, descem ao coração e atingem o cérebro de uma maneira tão certeira e fulgaz que são capazes de levantar os sentimentos, seja lá os quais forem: ódio, amor, tristeza ou alegria.
Eu nunca gosto de comentar sobre a banda Wado e o Realismo Fantástico por puro egoísmo, pois quero a banda somente para mim, não quero que os outros comecem a gostar também. Tenho tantas outras bandas que conheço e não revelo nem aos amigos. É claro que outras muitas pessoas já as conhecem, porém, os próximos ainda não. Portanto, deixo estar. Tenho um lado egocêntrico bem aflorado.
Não tinha como deixar a oportunidade passar e não mencionar o Wado e o Realismo Fantástico dessa vez. Eles atingiram uma perfeição no terceiro álbum, A Farsa do Samba Nublado, que levantaria até o Noel Rosa do túmulo - Deus o tenha, amém. O Wado, após os dois primeiros álbuns, também bons, desenvolve letras simples e espertas, proporcionando um sobro no coração, no sentimento cavocado, na alma mais aberta.
A miscelânea sônica do trabalho é muito bem dosada, com reggaes, melodias pops, rocks, sambas e gêneros musicais do folclore alagoano. Não vejo a hora do quarto disco.
Segue a letra de Deserto de Sal, de autoria do Wado e do Alvinho.


Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda:
Então seria pior
Ainda há esperança no chorar soluçante,
No cantar gritando.

Nos ombros, como papagaios, carregava corvos
E dentro dos lábios o silêncio mudo
No peito um cemitério de ex-amigos mortos
E enterrar os mortos, desapegar os ossos
Confirmava a vida o que é bom: desprendimento
Ainda há vontade de andar: o que é bom
E embotado nos olhos,
O negrume vazava de dentro da carne.

No peito um cemitério de velhos sonhos mortos
Nenhum plano vagava no deserto de sal
E num dado momento parecia até que o sol ia nascer
E era mais uma estrela decadente
No deserto de sal.

quarta-feira, agosto 15, 2007

A vida não vale um Fiat 147


A vida não vale um Fiat 147
Não serve no aluguel
Não comporta a cesta básica
Não enche o tanque de gasolina
Não vale o maço de cigarro
Não suporta o Jornal Nacional
Não sustenta o vício
Não cabe no saco de farinha
Não absorve o sangue
Não entende o Plínio Marcos
Não entende o terrorista
Não entende o Hunter Thompson.

A vida não vale um Fusca 68
Não enche a barriga da criança
Não cabe no litro de cachaça
Não preenche o livro do poeta
Não fecha o baseado
Não entra na vagina da puta
Não compreende o vagabundo.

A vida não vale um pneu furado.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Pessoa Perdida Procura – Capítulo Dois – Dummy


O sol estava se despedindo. Um bonito fim de tarde em Guaratuba. Eu aceitei a carona da Gisele e entramos em seu Golf vermelho sangue. Ela disse que tinha a impressão de ter me conhecido no Porto Pier 3, um local que deve comportar umas 90 pessoas, tem dois pavimentos com bar e lanchonete. O lugar era bem agradável. Vagamente eu recordava que já tinha passado por lá. Só não lembrava ainda como tinha parado na estrada entre Coroados e Guaratuba.
- Aliás, qual é o seu nome? – Perguntou a farmacêutica de lindos olhos negros.
- Eu não tenho certeza quanto a isso, mas acho que me chamo Israel. – Foi naquele momento que me dei conta que estava sem a minha carteira. Enquanto Gisele dirigia em direção ao posto de saúde e ouvíamos no som do carro um disco do Portishead, se não me engano era o Dummy, vasculhei a minha mochila. Não encontrei porra nenhuma de carteira. Mas, entre os CDs soltos e a edição do Misto-quente, do Bucowski, estava a minha agenda. Abri. Foi quando caiu minha carteira de motorista (ainda bem, eu sabia dirigir), minha identidade, um cartão de um motel, uns papéis de seda, uma foto, um cartão magnético do Banco do Brasil e cerca de 2.500 reais em dinheiro vivo. Fiquei mais confuso. Não tinha idéia sobre aquele dinheiro.
- Acho melhor você guardar esse dinheiro, você não tem carteira? – Disse Gisele ao som de Glory Box. Eu poderia estar confuso quanto à minha identidade e ao meu passado, mas nunca esqueceria a voz de Beth Gibbons.
- Não sei Gisele. Eu acho que tinha uma carteira. Talvez eu tenha sido roubado. – Comentei a ela. Àquela altura da situação eu já tinha contado a ela a minha saga de um rapaz com pouca memória recente que tinha acordado em uma estrada, sem lembrança alguma de como eu tinha chegado lá.
- Eu tenho certeza. Eu te vi na noite de ontem no Porto Pier. Você estava com uma turma, digamos, alegre. Se não me engano vocês estavam em cinco pessoas. – No momento em que Gisele começou a me falar aquilo, alguns flashbacks foram surgindo.
- Tinha um rapaz com cabelo moicano. Ele vestia uma camiseta do Art Brut. Eu fiquei intrigada, pois ninguém por aqui conhece o Art Brut. Eu até puxei conversa com ele para saber onde ele tinha comprado a camiseta. Aí ele disse que um amigo dele tinha mandado de Chicago para ele. E aí voltei a beber com as minhas amigas. – Disse uma empolgada Gisele que não parava de balançar a cabeça no ritmo de Glory Box.
Chegamos, enfim, no posto de saúde. No momento em que Gisele estava manobrando o seu Golf vermelho sangue, escutamos um barulho. E não era da música do Portishead. Um outro carro tinha acabado de bater na gente.
Puta que o pariu filha da grande vadia universal. Apenas pensei, não disse em voz alta.
- Puta merda! – Sim, foi a Gisele que disse isso.

(A história continua nos próximos posts).

quinta-feira, agosto 02, 2007

Pessoa perdida procura - Capítulo 1


Não lembro ao certo como aconteceu. Eu estava perdido em uma estrada que ligava Coroados a Guaratuba. O problema era que eu nunca recordava como tinha chegado àquele lugar. Era como se eu estivesse dormido na minha cama e acordado na estrada. O pior era que eu não tinha nenhuma pista de como eu havia chegado lá. Eu tinha apenas um relógio de pulso de cor cinza com o ponteiro dos segundos quebrado e uma mochila com alguns CDs, um disk-man, uma garrafa de Jack Daniels, uns maços de cigarro, uma edição do "Misto-quente", do Charles Bucowski e uma agenda. Eu estava usando uma calça jeans azul clara, tênis Adidas, uma camiseta rasgada com os dizeres "Lover Loser" logo abaixo de um desenho do Presto, um dos personagens da Caverna do Dragão. Se não me engano eu estava com um colar de sementes de alguma coisa e uma forte dor na coxa direita, o que me fazia mancar.
Caminhei por alguns quilômetros - dois, para ser exato - e encontrei uma sombra para descansar. Eu estava com uma sede absurda. Minha língua fervia devido ao calor do dia. Sim, me lembro de mais um detalhe, era dia e o meu relógio de cor cinza marcava 16h32. Encostei-me em uma dessas placas que mostram o limite de velocidade de uma rodovia. A estrada estava com o movimento fraco, pouquissímos carros tinham passado por mim. Talvez fosse período de baixa temporada. Não lembro. Tenho a impressão de que era inverno, mesmo eu não estando com frio.
Depois de alguns momentos tentando me ajeitar sentado no chão coberto por uma fina vegetação seca, abro minha mochila e pego o litro de Jack, meu melhor amigo naquela situação. Depois de três goles virados, exploro um pouco mais a companheira bolsa fabricada com um material sintético que não consegui descobrir qual era. A segunda coisa que a minha mão alcançou foi um CD. Eu lembro que adorava aquele som. A foto da capa mostrava uma mulher, na beira da estrada, com o vestido um pouco esvoaçante. Seus cabelos eram ruivos ou algo parecido com isso. Tori Amos era o nome da artista, compositora jucunda de lindos traços labiais, de voz afiada que cortava qualquer coração corrompido. Minha faixa predileta deveria ser a número 7. Adoro as faixas com esse número de qualquer álbum, mesmo que as canções sejam ruins. Eu lembro que no álbum do Los Hermanos, aquele em tom opaco, a faixa 7 se chama "Sentimental", adoração absoluta de qualquer fã hermanico. Já a faixa 7 do disco "V", da Legião Urbana é "Vento no Litoral", minha favorita. Sem falar do ótimo "Siamese Dream", do Smashing Pumpkins. A faixa 7 é "Soma". Perfeita.
Fiquei admirando por alguns minutos aquela capa, imaginando como a foto foi tirada, como era a cara do fotógrafo que registrou o momento e como a Tori Amos estava considerando aquela sessão fotográfica. Muitos artistas do mundo pop não suportam esses momentos de pós-produção de um trabalho fonográfico. Vários abandonaram sessões fotográficas e foram encher a cara no bar mais próximo. Mas, também existem aqueles que amam fazer isso, acompanhar o processo de pós-produção, dar palpite na composição gráfica do encarte, administrar a carreira de perto. A Marisa Monte faz isso muito bem. Naquele momento, com aquele sol queimando o meu rosto, me causando mais sede, eu apenas pensava que a Tori Amos deveria estar adorando aquele momento. Eu poderia estar errado. Ela poderia estar apenas se fazendo, interpretando, mostrando uma das várias personagens presentes em suas canções. Eu só conseguia ficar pensando nisso, tragando um cigarro e bebendo o Jack.
Parei de pensar na Tori quando uma fisgada na coxa direita interrompeu o meu momento de imaginação profunda. Não conseguia lembrar como eu estava naquela estrada, com a coxa fodida e apenas alguns objetos na mochila. Respirei fundo e olhei novamente o meu rélógio. 17h05. Fazia 43 minutos que eu estava naquela situação. Parecia que eu tinha acabado de nascer e completava 43 minutos de vida. Parecia que eu tinha nascido grande, com uns 20 anos já, com um conhecimento musical interessante, fumante, bebum e com a coxa machucada. Não recordava o passado.
Levantei do chão e resolvi continuar a caminhada rumo ao lugar nenhum. Aos poucos as lembranças foram surgindo em forma de flashbacks. Eu sabia que estava entre Coroados e Guaratuba, litoral do Paraná. De certa forma, eu não estava perdido. Segui em direção à Guaratuba, com a coxa doendo cada vez mais. Tentei várias vezes uma carona, mas fui ignorado em todas as tentativas. E olha que eu não estava com um aspecto sujo, não estava com cara de bêbado, não estava fedendo e nem parecia um mendigo. As pessoas de hoje não confiam em mais ninguém.
Após cerca de 50 minutos de caminhada inundada por pensamentos que procuravam pela memória recordações ou pistas para que eu pudesse tomar alguma atitude, chego em Guaratuba. Ao longe eu ouvia as ondas morrendo na praia. Fui recebido pela brisa marítima que jogou um pouco de vontade no corpo. E a coxa incomodando. Dores e pontadas constantes. Minha coxa não apresentava nenhum sinal de pancada e sangramento. A olhos nus estava perfeita. Mas doía muito.
Segui quase me arrastando. Avistei uma farmácia e consegui com esforço estratosférico chegar até ela. Um rapaz moreno de pele queimada, olhos castanhos, cabelo curto e cílios grandes me atendeu. Tinha uma cara de nativo e surfista de final de expediente. Rogério era o nome dele, estava no crachá. Expliquei a ele a minha situação, porém, o moço não se mostrou nem um pouco comovido e disse que iria me encaminhar à farmacêutica para ver se ela poderia me ajudar quanto às dores na coxa.
Entrei na sala da farmacêutica e um par de lindas bolas negras me receberam. Rogério me apresentou à Gisele, responsável pelo lugar. Não pude conter a minha admiração. Os olhos da mulher eram misteriosos, profundos, encantadores, perfeitos e hipnotizantes. Após alguns segundos encarando-os, escuto uma voz vinda de longe:
- Você está bem? - Percebi que o assunto era comigo e balancei a cabeça afirmando que sim. Em seguida veio outra pergunta:
- Tem certeza? Então por que você está aqui? - Na verdade foram duas perguntas dentro de uma ou seria uma dentro de duas? Tanto faz. Foi aí que eu expliquei sobre a minha dor na coxa direita que estava simplesmente tomando conta de toda a minha perna. Gisele, sem fazer cerimônias, pede para que eu tire a calça. Eu me fiz de desentendido e exclamei:
- O quê?
- Oras, tudo bem que não sou ortopedista, mas tenho um mínimo de conhecimento para saber o que você tem na coxa, além de carne, músculos, sangue e ossos. Mas, para que eu possa verificar ao certo, preciso examinar a sua coxa, portanto, tire a calça. - Soltei um lindo sorriso amarelo e percebi que o tal do Rogério ainda estava na porta da sala da farmacêutica. Olhei para ele com cara de descontente. Ele saiu.
Abaixei a calça jeans sem marca definida. Percebi que estava sem a cueca. E escuto:
- Você prefere deixar o bicho solto pelo jeito. - Putz! Penso eu. Mas como eu iria me lembrar daquele detalhe se nem sabia como tinha parado ali. Tudo bem, totalmente sem jeito expliquei onde era a dor.
- Muito estranho, você não tem nenhum sinal de hematoma, nem ferida, nem sangramento. De repente você pode estar alguma distensão muscular. Vou passar um medicamento para você e sugiro que você procure algum posto de saúde. Tem um bem aqui perto, se quiser posso levá-lo. - Adorei ouvir aquilo, uma pessoa querendo me ajudar. Foi então que ela disse:
- Desculpe, isso vai parecer muito clichê, mas tenho a impressão de que já vi você em algum lugar. -


(A história continua nos próximos posts).


quarta-feira, agosto 01, 2007


Doce necessidade de vazar. Vejo com as mãos, mas sou cego dos dedos. Procuro com a língua, mesmo ela sendo surda. Ouço, então, pelos olhos que um pouco escutam. Confundo o céu da boca com o fim do mundo que muito próximo saiu em câncer do meu pulmão. Por isso, agora, eu quero vazar antes que eu volte a confundir.


segunda-feira, julho 30, 2007

Inobstante


A pedra se quebra

Em pedaços

E o homem em pó

Revira em escalços

Um progresso qualquer.


Um passatempo torto

De descanso e acalanto

À espera de um prêmio

Que talvez em isca

Possa ser preso

E aberto em sorriso.


Vento tranqüilo morrendo na água

Levando sentimentos outros sentidos

Enquanto a folha rebate no ar

Atrozes vontades e carinhos.

sexta-feira, julho 27, 2007

Iwo Jima


Bate nas costas a onda vermelha. O cheiro de pólvora é o único odor de satisfação que se pode sentir. Vários corações pulsam uma vida, uma guerra que não iniciaram. Uma foto marca uma conquista mal interpretada. Os modelos que levantaram a bandeira entram em uma mentira mascarada. Após, uma longa campanha publicitária realiza uma arrecadação grandiloqüente de capital desperdiçado. O dinheiro se transformou em chumbo e granada que, por sua vez, adentraram corpos nipônicos lutadores sem razão.
A memória em homenagem aos mortos mostra as facetas de marketing de um país que venera sangue, explosões, tiros, bombardeios e batalhas. As cartas dos soldados, as verdadeiras memórias, nada servem em honra à pátria verdadeira. As famílias sabem muito bem disso, por isso as lágrimas de revolta. Do que adianta um herói se ele está morto? Aos senhores dos mandamentos ditosos isso não é questão, é proveito para dias melhores. Já as verdadeiras senhoras, donas das entranhas que expulsaram a vida, têm como consolo uma medalha de honra ao mérito. Nenhuma mãe gosta de receber a imagem de um filho rasgada, desgastada e acabada. Mas foi assim que vieram as notícias do outro lado do mundo, acompanhadas de dizeres heróicos praticados pelos seus filhos. A morte nunca é bem vinda. Somente aos doentes terminais, talvez.
Mas, mesmo com as denúncias e filmagens sobre os horrores dos atos da guerra, a continuação dela ainda promove donos de gabinetes que se encontram muito longe do local de tragédia. Um membro perdido nunca será encontrado na mesa com papéis para serem assinados. Provavelmente, documentos que permitem disparos a outros irmãos, não de sangue, mas de humanidade. O barulho de um tiro no crânio não deve ser a melhor sinfonia, o som dos aviões partindo ainda deve ser o melhor, como se fosse uma canção de ninar entoada pela mulher que amamentou alguém por mais de um ano de vida.
É o fim.

quarta-feira, julho 25, 2007

Um Beijo a Mais


Chegar aos trinta anos de idade com uma carreira profissional perfeita, ter uma namorada grávida e um ótimo grupo de amigos é tudo o que muita gente quer. Mas dúvidas sempre aparecem no trajeto da inesperada questão que é viver. É nessa premissa que segue o filme "Um Beijo a Mais", do diretor Tony Goldwyn e do roteirista Paul Haggis (ganhador do Oscar por "Crash"). O longa tem no elenco o sempre divertido Zach Braff - do seriado "Scrubs" - Jacinda Barrett e a graça onipresente Rachel Bilson, a cocotinha Summer do finado seriado "The O.C".

"Um Beijo a Mais" é uma refilmagem americana do italiano "O Último Beijo", do cineasta Gabriele Muccino. Ambos são ótimos, cada qual em sua cultura. O andamento do roteiro dos dois filmes é praticamente o mesmo, porém, na versão dos EUA, preza o charme da trilha sonora que pinça músicas cuidadosamente pops, realçando o sabor das cenas protagonizadas por Zach Braff. Não há como negar a sintonia perfeita das cenas quando o personagem está em insistente momento de reconquista amorosa ao som de Coldplay. O jeito que tal situação foi filmada ficou até parecida com um vídeo-clipe. Deleite visual aos que adoram referências pop.

O filme não apresenta nenhum diferencial metalingüístico, nem na edição e muito menos na interpretação dos atores. É tudo muito redondinho, conforme ditam as regras dos padrões hollywoodianos. Contudo, não tira a delícia de apreciar situações engraçadas que quase nunca se encontram na vida real. Afinal, alguém já conseguiu encontrar uma pessoa legal para descolar uma boa transa em uma festa de casamento? Em "Um Beijo a Mais" isso acontece.

O roteiro é dinâmico e não fica entrando em pequenos detalhes explicativos a fim de esclarecer certos fatos aos telespectadores mais preguiçosos. Porém, não espere algo alternativo, por mais que o filme tenha sido lançado nesse gênero que, hoje em dia, tem sido sinônimo para conquistar prêmios em festivais cinematográficos. De toda forma, vale a pena conferir os devaneios de uma pessoa que entra em crise aos trinta anos, quando, realmente, a vida adulta parece dar vazão ao real sentido que, de fato, se propõe. Caso isso não aconteceu contigo, é porque você não tem trinta anos ou ainda continua vendo longa-metragens estrelados pelo Jack Black.

Um adendo: uma pena não terem aproveitado sagazmente a presença da Rachel Bilson que, mesmo interpretando em banho-maria, consegue deixar os machos de plantão com saudades da Summer de "The O.C.". A moça talvez tenha o olhar mais expressivo desde o surgimento da Sidnei, da trilogia "Pânico", interpretada pela Nave Campbell. Very cool.
Leonardo Handa






terça-feira, julho 24, 2007


Os versos abaixo são de uma música sem título, composta para uma menina de olhos de água, pele macia e dedos largos. A distância hoje é lance, mas do futuro nada sabemos. Portanto, se você estiver lendo, a foto já denuncia. Dielli, é você.

Carregue daqui os meus sonhos
Leve-me junto também.
Desfaça os meus planos
Leve-me muito mais além.

Desfaça o que eu já fiz
Eu ando na beira por um triz
Coloco em risco a vida
Mas quero me ver feliz.

Por isso, me tire daqui
Cole a minha foto em sua lembrança
Rasgue o pessimismo que eu fiz
Só não me deixe mais aqui.

Faça-me, quando preciso
Mas deixe-me cair na vodca como alívio.
Você sabe que eu complico
Mesmo assim eu suplico
Eu sei que tenho chance
Pois você está ao meu alcance
Ajuda-me a descolar o sofrimento
Traga novamente o sortimento

Tudo isso eu quero, porque eu te amo
Exalo fumaça quando eu te vejo
Traga os meus pensamentos até você.

E quando eu choro é porque eu sofro
Reconstrua o meu desejo
E desfaça o meu sorriso.
Leonardo Handa

segunda-feira, julho 23, 2007

Sempre esquecemos o quão estranho é simplesmente estar vivo

É um frio que corta a alma, divide em dois, retrocede em três. Um vento gelado adentra pelos póros e chega ao sangue, congelando o batimento do coração. Suspensão no ar, lágrima gravitacional, Jesus cibernético, ondas laterais, sacrifícios infernais... Não há definições precisas nessa imprecisão de sentimentos confusos e angustiantes.
O amanhacer congelante deixou um estalaquetite preso aos cílios. O abrir dos olhos fez cair um pedaço de gelo que encontrou o chão. Um forte som surgiu ao final da queda. Parecia uma bomba de Napalm sendo jogada em um jardim da infância. A trilha sonora perfeita para os comedores de criancinhas. Mas era a tristeza que ditava as regras enquanto a indelicadeza era vista em olhos mais adultos.
Reflete no espelho a imagem de um deus perdido, derrotado, alienado e fracassado. Dispara em fúria contra a parede, rasgando mais um pedaço de pele maltrada. A tatuagem fica desfigurada devido ao ataque de fúria. Fecha os olhos no amanhecer congelante e canta mentalmente uma melodia que diz: "A vida é uma canção".

"Você diz que a vida é um sonho em um lugar onde não podemos dizer o que isso significa/ Talvez alguma cena na estrada que, quando dirigimos, deixamos no passado/ Não há como dizer onde estaremos em um dia ou uma semana/ E não há promessas de paz ou felicidade".

"Bem, é por isso que você se apega a cada coisinha/ E pulveriza e desconcerta todos os seus sentidos/ Talvez a vida seja uma canção, mas você está com medo de cantar sozinho até o final".

"É hora de desistir de tudo o que costumávamos conhecer/ Idéias que fortaleçam quem somos/ É hora de desatar as amarras que nunca libertarão nossas mentes das correntes e algemas em que estão".

Oh, me diga o que é bom em dizer que você é livre/ Num mar escuro e tempestuoso você está acorrentado à sua história e, certamente, afundando mais rápido/ Você diz que sabe que o bom Deus está no controle/ Ele vai abençoar e guardar sua alma cansada e inquieta/ Mas no fim do dia, quando todo preço já for pago, você vai se elevar e sentar-se perto dele num velho assento de ouro/ E não vai me dizer porque você vive como se estivesse com medo de morrer/ Você morrerá como se estivesse medo de ir".

"É hora de desistir de tudo o que costumávamos conhecer/ Idéias que fortaleçam quem somos/ É hora de desatar as amarras que nunca libertarão nossas mentes das correntes e algemas em que estão".

"Bem, a vida é um sonho porque nós estamos todos andando durante o sono/ Você pode nos ver parados em filas como se fôssemos mortos-vivos/ E nós construímos nosso castelo de cartas depois esperamos que ele caia/ E sempre esquecemos o quão estranho é simplesmente estar vivo".