Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Sublime

O que fazer
Agora que entrou?


Não foi por pressão
A situação ajudou.


Se não há dor
Então eu continuo.

Eu sinto como prova De amor
E espero que não se arrependa,
Pois vou querer mais.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Samba a um

Um vazio absurdo. Um eco invade com intensidade as paredes pintadas em tom pastel. Ele não diz nada, apenas ecoa. O período não é dos melhores. A melancolia na observação urbana acrescenta ainda mais as constantes erupções de sentimentos não recebidos. Falar da tristeza é muito fácil, difícil é vivê-la. Mas nem sempre foi assim. "Não sou eu que me navega, quem me navega é o mar", já dizia Paulinho da Viola.
As horas vão matando a angústia da falta de sabor na hora do almoço. O pão amassado pelo diabo até que fica saboroso sem o amor. Nem mesmo as comédias românticas levantam o seu astral que está perdido em algum tabuleiro de cigana enganadora. Se as cartas não mentem, o coração acusa.
Agora ela está em um imenso salão ouvindo um samba antigo, remexendo fora de ritmo a sua sandália descascada. É Carnaval, mas ela gosta mais da Quarta-feira de Cinzas, quando todos os ossos voltam à realidade do viver. Mais um samba a um.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Sonhos

"Agora eu vos ordeno: perder a mim para vos encontrardes; e apenas quando todos vós tiverdes me renegado, é que haverei de querer voltar a vós".
Nietzsche
Os sonhos são estranhos. Muitos. Não lembro ao certo a real definição realizada por Freud. Também não me importo. Só gosto quando ele relaciona tudo ao sexo. Sonhar com água: sexo. Sonhar com faca: sexo. Sonhar com túnel: sexo. Sonhar com pêra: sexo. Sonhar com banana: sexo.
Estranhamente, ter um sonho com beijo não está relacionado diretamente ao sexo. Sonhar com beijo, de acordo com os entendidos, significa conseguir algo desejado. Beijo dado ou recebido quer dizer acréscimo de afeto. Ver pessoas se beijando, amor não declarado. E um beijo na face? Significa que você poderá ter sucesso amoroso. Caso no sonho você beije alguém na boca, mostra que você é imprudente em suas atitudes. Se você beijar um morto, é melhor você não comentar com ninguém sobre os seus planos. Beijar com paixão é receber benefícios daquele que foi beijado e, se o seu sonho for além e ver-se beijado por uma divindade, todos os seus pedidos serão atendidos. Agora, o mais bacana - a cereja do martini - é se você beijar uma mulher bem vestida; isso quer dizer que você casará com uma viúva rica. De todo o modo, o fato é que os sonhos são estranhos.
Eu tenho uma aflição quando acordo e sei que sonhei com algo, mas não consigo lembrar a história. Convenhamos, sonhos são histórias. Algumas, ótimas. Outras, dignas de um Cannes. Pior ainda se o sonho não chega ao final, aí, provavelmente, entrará na lista dos melhores do Festival de Sundance. Chega a dar um refluxo. E foi isso o que aconteceu. Não consegui um beijo, apenas troca de afeto. A pessoa que, aliás, nunca vi na vida, porém, espero encontrar, não negou, contudo, também não deu. Apenas disse colado ao meu ouvido a frase acima do Nietzsche. Por isso não vejo a hora de voltar a dormir.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Existe Uma Luz Que Nunca Sai


Ele está se perdendo, não alcança mais a satisfação de outrora. O tempo foi o seu rival predileto, hoje se tornou amigo de confidências. Desmorona memórias de um passado repleto de vitórias, ouve os seus discos prediletos retirados de uma estante de lembranças e derrama lágrimas de pó com ácaros e bactérias. Não entende o futuro, mas continua a acreditar no presente, mesmo que ausente estejam as suas virtudes transparentes.

Certo dia, quando passeava perto do Jardim das Américas, pensou estar tendo um deja vú, porém, se tratava de uma visão real. A cena de um cachorro brincando com uma criança que, por sua vez, ao correr para o outro lado da rua foi atropelada, remeteu-o à infância que degustou com primor. O rapaz lembrou do período no hospital, no gesso do braço, no hematoma da perna e na cicatriz que até hoje carrega no canto do rosto. Lembrou como tinha sido infeliz a sua mãe junto ao seu pai e como um acidente banal aproximou-os. Era década de 1980 e, mesmo aos sete anos, o álbum predileto se chamava "The Queen Is Dead", do Smiths. "Balão Mágico" e "Trem da Alegria" eram cócegas fraternais para os seus ouvidos.

A tal cena do acidente foi um canal que trouxe, resumidamente, a retrospectiva da sua vida, sem direito a narração em off nem efeitos sonoros. O único som que serviu como trilha foi "Bigmouth Strikes Again", por mais que a sua preferida fosse "There is a Light That Never Goes Out" (Existe Uma Luz Que Nunca Sai). Até hoje, os versos do refrão são os seus preferidos, simples, mas que remetem fortes significados: "E se um ônibus de duplo-andar colidir conosco, morrer ao seu lado é tal como uma maneira maravilhosa de morrer/ E se um caminhão de dez toneladas nos matar, morrer ao seu lado, bem, é um prazer, o privilégio é meu".

Mas o fato é que ninguém nunca morreu de amores por ele. Ele, com certeza, morreria, pois quando atropelado, na realidade, ele estava salvando o seu cachorro da morte. Quebrou um braço, mas salvou o amigo, talvez o único da infância. Hoje ele vive de passados.



segunda-feira, janeiro 07, 2008

História fictícia

Alta madrugada. Não sei que horas são exatamente, meus olhos não registram muito bem o momento. Meu fiel companheiro, o cigarro, exerce função fugaz para com o período. Não lembro de ter sentido medo, mas recordo do seu beijo. As luzes da Marechal Deodoro parecem mais poéticas quando a anfetanima patina pelo cérebro. Adoro caminhar na solidão do asfalto sob o efeito do ilícito.
Alta madrugada. Resolvo tirar as botas para sentir o frio do concreto. Acendo um outro cigarro que não é para ficar só. Invento uma canção vagabunda enquanto percebo a sola do pé sangrar. Vejo alguns carros passarem, bem longe. Uma moça de cabelo claro corre fugindo de algum pilantra desocupado, sem sono e sem dinheiro. Não ligo muito para a situação, pois o meu destino é outro.
Alta madrugada. Estou cheirando a uísque falsificado por crianças chinesas que moram no Paraguai. Continuo a minha caminhada rumo ao nada do seu coração. Encontro a chave do apartamento escondida em baixo de um capacho com os dizeres "bem vindo". Acendo a luz e um corpo desnudo anuncia um sono profundo no sofá da sala. O cheiro de cigarro está preso no local. Abro uma janela somente para sentir o vento soturno visitar o meu rosto. Estou com um pouco de sono e com os pés sangrando. Vou ao banheiro e tomo uma ducha de água fria. Adoro a dor do corte de encontro com a água. Enxugo-me com uma toalha branca. Volto para a sala segurando um outro cigarro recém nascido com a ajuda do meu isqueiro Bic. Admiro o repousar tranquilo da criatura que um dia disse me amar. Deito-me junto, coladinho e ouço a voz sussurando: - Bem vindo ao lar.

sábado, janeiro 05, 2008

Lado


Tanto quanto passa o tempo. A sua sede é a minha. Saudade quando jovens éramos e aproveitámos as nuvens. Agora comemos os agrados que presentes finalmente se encontram. Felizes ainda somos enquanto podemos ver. A cegueira imposta pela distância é apenas um fragmento que há de corrigirmos. Cada qual vai batalhando, vai se carregando.

Eu olhei para o mar no momento em que precisava de abrigo. Uma meia lua cheia acertou na mosca a visão embaçada. Uma imagem trouxe a calma necessária. Na Ilha eu não percebi as coisas, apenas deixei o tempo trazer as melhores horas vividas. O sol se fez, assim como a tempestade. O raio partiu uma vida, mas descarregou a sua aflição. O caos teve seu período necessário, acabou em gotas de orvalho morrendo em meus lábios. O farol me trouxe razões em uma manhã. A sua mensagem eu percebi. Acolhi o chamado e agora abro um sorriso.

Um cinza estranho recebeu a presença dos corpos. Não estranhe a cautela. Eu sei que de fatos já fizemos retratos, por isso vemos no caso um extravaso de vazar. Vaza de um lado, arrumamos de outro. Acabamos com tudo, enquanto arremato. Pisco em um canto e salvo o vazado. Um olho se fecha, agora percebo. Não é triste o recado, só tenho o pecado. Vamos em frente, pois nos temos ao lado.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Ilha do Mel - parte 1

Mais um retorno. É tão triste voltar de um lugar tão espetacular, fantástico e mágico. Até um pato-branquense fica interessante na Ilha do Mel. O local transforma as pessoas, seja pela beleza, pelas praias ou simplesmente pelos momentos de ir ao banheiro dar uma cagada. Tudo parece que fica maravilhoso. Até os períodos sinistros ficam melhores, como o retorno do Forte e a tão perigosa chuva e o raio "muito bombando", além da tempestade em alto-mar, mesmo com alguém, praticamente, arrancando a sua coxa direita. As marcas ainda estão presentes.
Um dos momentos que mais marcaram a temporada foi o Nego Blue dedicando uma música para a galera de Pato Branco. Melhor ainda ver a cara de surpresa dele ao anunciarmos que éramos do Sudoeste do Paraná. A canção Eclipse Oculto, do Caetano, a partir de agora tem outro significado. Eu que já gostava da composição, por hora, admiro mais ainda. "Nosso amor não deu certo, gargalhadas e lágrimas". Foi lindo! Como disse minha amiga Dani-vamos-competir-as-cagadas: - Você tá muito baiano!
O resto continua no próximo post