Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Trilha Sonora

Qual a trilha sonora ideal para aquecer os ouvidos?

Não há como responder isso sem remeter ao persongem Rob Gordon, interpretado por John Cusack, em Alta Fidelidade. Levantando, então, o critério do personagem, incorporo as "cinco mais" para aquecer os ouvidos:
1 - "Automatic For The People" - do R.E.M. Mesmo que soturno, a sonoridade desse álbum serve como um ótimo cobertor de orelha.
2 - Toxicity - System of a Down. As conseqüências sônicas e vocais furiosos são de fazer escorrer suor dos tímpanos.
3 - Ventura - Los Hermanos. O frio e o calor se alternam, trazendo a temperatura ideal na cartilagem.
4 - Tanto Tempo - Bebel Gilberto. Delicada gostosura para aquecer qualquer ouvido idiossincrático.
5 - Primal Scream - Evil Heat. Porrada para terminar com as últimas células que ainda resistem bravamente. Para ficar com zunido de felicidade no ouvido.

Aos hermanos

No atraso das horas eu perco a consciência na alta madrugada que absorve. A fumaça do cigarro encobre a face suja que eu deixei em seu lençol. Antes de partir, escrevi em um guardanapo os lamentos que eu sempre sofri, sempre guardei, sempre vivi. Espero que leia até o fim. Não tenha tanta certeza quanto ao meu retorno, um pouco de suborno talvez ajude, mas a certeza nunca foi uma grande virtude do meu ser. A única certeza que eu tenho é o incerto que eu sou. Se você é mais sentimental do que eu, isso eu sei. Porém, minhas lágrimas são mais sofridas. Não tive coragem de pôr a sua casa em minha sacola e nem te levei para ver o mar. Ainda estou na fila do pão lendo jornal e tragando um cigarro. Eu sei o que é ter e perder alguém. Tanta dor eu senti e o outro alguém é meu conhecido. Eu também pequei pela vontade, mas o amor de verdade evaporou com o chá quente que você não tomou. Sair de casa é se aventurar, já que maldizeres você me causa. Não quero ficar nesse sofá. Todo carnaval tem o seu fim e a minha quarta-feira de cinzas nunca acaba. Todas continuam em um cinzeiro que conservo como relíquia. Eu deixo tudo assim mesmo, não me acanho em ver. Eu gosto do estrago. E nem se atreva a me dizer, eu não entendo do samba e você muito menos do Noel Rosa. Você deve achar que é uma grife brasileira instalada em Londres. Eu não vou mudar, eu vou ficar só. Não segure a minha mão e veja só como tudo se acabou. O barraco desabou. Tudo está assim. Meu sincero fim.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Cinco sentidos + equilíbrio

Os cinco sentidos quando aguçados de uma boa companhia ficam mais perceptíveis. Eles nos orientam e também desorientam, causando sensações em nosso equilíbrio que passa pelo perfeito ao descontentamento. Mas quando temos uma pessoa que podemos contar ao nosso lado, os sentimentos bons invadem e alagam a alma. Caetano Veloso compôs frases certeiras brincando com os sentidos. Na canção “A Tua Presença”, ele entrega: “A tua presença entra pelos sete buracos da minha cabeça/ A tua presença/ Pelos olhos, boca, narinas e orelhas/ A tua presença paralisa meu momento em que tudo começa/ Desintegra e atualiza a minha presença/ A tua presença envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas”.
Os sentidos se completam. Às vezes precisamos tocar para ver. Em outras situações, precisamos ver para cheirar. Sem falar do cacoete que, quando pedimos para observar melhor uma coisa, as mãos tocam o objeto para realmente termos certeza de que aquilo que estamos tocando é o que estamos vendo.
Os sentidos também são extensões das nossas lembranças. Quantas vezes passamos por uma paisagem e, por falta de uma máquina fotográfica, registramos com os olhos o momento. Ou quando passamos por alguém desconhecido que usa um perfume marcante, que remete a recordações de pessoas conhecidas que utilizam o mesmo perfume. Parece que isso encurta a distância, a falta da presença, o acaso (des)percebido. Assim como quando saboreamos um bom feijão com arroz feito pela avó. Mais lembranças invadem o encéfalo.
O legal é também quando estamos ouvindo rádio no carro e de repente toca uma música que marcou época, seja no amor, nos encontros clandestinos, nas festas da faculdade, nos encontros com os amigos. Como já disse o filósofo Nietzsche: “A vida sem a música seria um erro”. E como seria se não pudéssemos escutar as peripécias com as palavras e com as melodias que um Chico Buarque pode fazer. Ou então a invenção sonora dos Beatles, o contagio imediato dos Strokes, o desconcerto vocal da Marisa Monte, o saudosismo do Noel Rosa ou a poética dissonante do Leonard Cohen. São tantos exemplos que é até um crime citar somente essas bandas e músicos. Escolhas nem sempre são fáceis. E os cinco sentidos também nos ajudam a escolher, além de nos proporcionar equilíbrio. Sobretudo quando temos uma pessoa especial fazendo companhia, ouvindo nossos dilemas, vendo nossas expressões, sentindo nosso cheiro, abraçando nossos momentos e sentindo o nosso sabor.

domingo, setembro 18, 2005

É muita chuva para uma semana inteira!

E desaba. É muita chuva para uma semana inteira. Todos os dias. Quase 24 horas por dia. 24 dias por hora. Um tédio de proporções cavalares que corre por um campo livre de pasto verde. Estou falando dos cavalos agora. São tantos coices por hora que perdi a memória. Minha cabeça ainda dói. É um sistema em forma de câncer que vai acabando com o pensamento.
Desisto! Nem consigo explicar.

Vou engolindo umas palavras. Bebendo outras. Consumindo comprimidos. E cumprindo os dilemas. Arg!

Chega, vou dormir pra te ver em "um sonho bom". Até.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Salve, salvas, Semana da Pátria escapando...

Semana da Pátria escapando pela larga esquina da avenida repleta de enfadonhos. A bandeira não reluz tanto mais, nem tanto menos, muito além do que não se faz. A ordem e o progresso não se encontram, apenas bordados em cor verde qualquer, que ultimamente o interesse não interessa, com todo o perdão da redundância.. A vontade é escrever vagas, já que administradores desastrados tentam provar o comprovado. Dicotomia é a arma do negócio. Contradições são extensões de interesse não público, o privado ainda possui os seus jogos.
A nossa terra é o bem amado (?). Do que interessa “Brasil, de amor eterno seja símbolo/ O lábaro que ostentas estrelado/ E diga o verde-louro dessa flâmula/ Paz no futuro e glória no passado”. Joaquim Osório Duque Estrada tem um bom texto publicitário, sobretudo acompanhado da crescente música de Francisco Manoel da Silva. Embriagados de paixões talvez os dois estivessem. Se fosse hoje, escorrendo pelos becos do desgosto pútrido os compositores estariam. Agora engarrafados foram lançados ao mar, onde muitos enganados procuram um cais. Mas é o caos que retorce em um horizonte torto de edições mal finalizadas que impera.
Pobre do Dom Pedro I, com seu nome extenso de pura vaidade planejada, às margens do Ipiranga gritando a célebre frase. Eles são bons publicitários. Antes tivesse desejado a morte. Não, mas ele foi teimoso e não quis deixar os espanhóis se multiplicarem. Talvez se os hispânicos fossem os desbravadores do “verde-louro”, muitos Pablos Nerudas tivessem nascidos nesse “berço esplêndido”. Mas o filho teu não foge a luta, e optamos pela independência pintada a golpes de canetas esferográficas fabricadas com mão-de-obra barata. E da nossa água ninguém irá roubar, só quando um louco liberar as ogivas de desespero nos acertar. Até lá, já teremos contaminado todo o rico transparente líquido que sem sabor nos sacia. Salve símbolo augusto da paz.
E o coro dos descontentes ainda ecoa. Está se transformando em objeto diluído em um pote de cultura de massa. A revolta também é publicidade, também serve para ser vendida em grandes redes de supermercados. Se duvidar, pode ser encontrada até na versão em pó. Mas, se preferir, fique com a versão refil, assim você preserva o meio ambiente. A vida segue. E a Semana da Pátria vai escapando com “os” malas a paraísos fiscais que estão muito longe de nossos anais.

terça-feira, setembro 06, 2005

Drink

Entorpecido. Estou perdendo as chaves na fechadura. Aos poucos ela vai engolindo. É muito boa essa sensação. Mal agradecido. Não digo nem um obrigado pelo trato e sigo ao meu destino colorido.

A estrada é reta, mas o meu caminho é torto. Muitos tropeços acompanhados pela cinza fumaça que vaza da minha boca. O Johnny está comigo. Ele desce pela minha garganta calmamente. O céu estrelado rodopia com as poucas nuvens que insistem em atrapalhar. Mas eu nem ligo. Quem atrapalha pelo menos está fazendo alguma coisa.

E vou seguindo. "Se ela te fala assim, com tanto rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente. Se ela te fosse direta, você a rejeitaria". Já dizia o trecho daquela canção, daquela banda carioca que eu venero. E acabo.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Sem título específico

EM MEU QUARTO eu guardo você em um porta retrato com antiga moldura. Você está sorrindo. Não lembro bem a data, mas fazia muito frio. Os meus lábios estavam rachados. Se não me engano ouvíamos U2 dividindo o fone de ouvido que eu comprei no Paraguai. Nós matávamos o tempo com doses paralizantes de puro ócio.
Você estava vestida com aquela jaqueta vermelha que eu não te dei. Eu estava com aquela touca preta roubada de um amigo em comum. Acabei furtando também a sua melhor companheira. Nós ríamos muito sobre essa situação. SIM!!! Era U2 mesmo!!!!!!! Aquela do Achtung Baby que fala de uma maneira única.
Agora é tão estranho vê-la em imagem, antes eu podia tocá-la. Puxa vida, quanta saudade. Mas a vida tem dessas coisas, como dizia o Ritchie, aquele que engoliu a menina veneno.
Deixo-te em meu quarto (ainda). Faz frio, como naquele dia, mas eu sei que protegida em uma casa de madeira você está. Saudosismo.