Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, abril 30, 2012

Clássico

A febre desse amor em clima pulsante
E a sua garganta linda em minhas mãos.
O tanque de uísque pousado na mesa
E o estoque de alcatrão entre os vãos.

Giro os olhos afoitos em direção aos dedos
Enquanto seu suspiro tranquiliza o redor
E a minha tentativa de invasão se torna certeira
Conseguindo a compreensão do furor.
Observo os detalhes dos poros do seu pescoço
E o arrepio da pele morena que me fascina.
Não há nada melhor do que essa vacina
Ao menos para alguém que sentia uma carnificina.

O levantar do seu sufoco fica calmo
Enquanto a minha ânsia se torna plácida
E aquilo que eu havia segurado
Permito contigo soltar com pouco estrago.

Bem devagar eu saio e alcanço o gole
Bebido como leite pela boca úmida
E acendo meu filtro branco como se fosse o primeiro
De outros muitos que virão clássicos.

lsH

quinta-feira, abril 26, 2012

É simples. Quer manter um segredinho, então não conte a ninguém. Não foi o Drummond que disse "que se não queres que ninguém saiba, não o faças"?. O problema é quando envolve o amor. O negócio complica. Aí envocamos o Oscar Wilde e toda a sua maluquice ao falar que "o segredo do amor é maior do que o segredo da morte". Portanto, vamos manter o segredo? Lógico. Mas para isso terei que te matar.   

quarta-feira, abril 25, 2012

Gás

Olha, às vezes uma cólera transborda o sangue nos olhos. Uma semi-fúria total de quebradeira. Isso surge quando acabo por confiar a pele, mas quando percebo, torno-me alheio. A cada experiência, menos a decência transparece imediata, e o que você acredita ser correto, é divergência nas palavras de outrem.
Foram tantas caras quebradas que já nem sei que cara sou. Na realidade sei, mas achei que a frase tinha impacto, então deixei aqui mesmo. O fato é que as pessoas conversam (ainda bem), no entanto, também possuem o carisma de massacrar. Não sou burro, não sou anta, não sou arquétipo, porém, esse modelo eu conheço bem e vesti no passado. Hoje, não serve mais. Engordei. Portanto, o esparramo aqui jorrado na mais gloriosa subjetividade que me cabe, fica de registro aos que são cegos na opção do momento e acreditam que o carinho das pessoas não se modifica em gás carbônico.   

terça-feira, abril 24, 2012

Não mando notícias, não mando nada. Não mando nem no famigerado coração. Não mando em ninguém, não mando amém. Não mando nem em auto-combustão. Não mando na Sarah, não mando na Ella, não mando na Elis, não mando na Etta. Não mando tomar no cu. Não em ti. Não mando em mim. Não mando à merda, não mando ao céu, não mando ao inferno, não mando no filho. Não mando na mãe, não mando em bandos, não mando em você. Não mando beijos, não mando abraços, não mando em canções, não mando em lágrimas, não mando gostar. Mas se gostou, obrigado, pois pelo menos mandarei amar. 

sábado, abril 21, 2012


Eu preciso pôr a leitura em dia. Preciso amar mais. Preciso amar menos. Preciso esquecer rápido. Preciso te respeitar mais. Preciso de mais música. Preciso de pessoas. Preciso conhecer novas. Preciso ir para a Ilha do Mel. Preciso renovar meus votos. Preciso estabelecer metas. Preciso mudar. Preciso voltar. Preciso de outra calça. Preciso me livrar de velhas roupas. Preciso perdoar. Preciso odiar. Preciso de coragem. Preciso de fraqueza. Preciso ser mais esperto. Preciso de burrice. Preciso de um filme. Preciso me exercitar mais. Preciso dormir mais. Preciso beber mais. Preciso fumar menos. Preciso de uma pessoa. Não preciso de ninguém. Preciso parar de mentir. Preciso de calor. Preciso de frio. Preciso ser preciso. Preciso ser impreciso. Preciso de pessoas loucas. Preciso de agitos. Preciso de descanso. Preciso de alimento. Preciso de amor. Preciso de outros sentimentos. Preciso não sentir. Preciso apavorar. Preciso me drogar. Preciso me limpar. Preciso de você. Preciso de você longe. Preciso diluir. Preciso estabelecer. Preciso corromper. Preciso infringir. Preciso incomodar. Preciso meditar. Preciso de carinho. Preciso dar carinho. Eu preciso pôr a minha leitura em dia.    

Manhã de glória, pensava ele. O céu estava com uma cor idiota, que lhe dava raiva, mas ao mesmo tempo, contentamento. A música do vizinho debaixo falava sobre um tal de Mr.Scarecrow. Deixou a preguiça na cama e foi fazer o café. Mas antes, percebeu algo: um corpo estranho ao seu lado se mexia. Resolveu não acordá-lo e se encaminhou até a cozinha.

Deixou a água fervendo e correu ao banheiro tirar o hálito podre matinal. Ao se olhar no espelho, percebeu uma marca em sua bochecha. Algo parecido com uma mordida. Definitivamente era uma mordida. Não se lembrava como aquilo havia acontecido. Teria sido o corpo estranho? A embocadura era razoavelmente grande. Ficou confuso. Escovou os dentes, mijou e voltou à cozinha.

A água, já fervida, era observada pelo ser que tinha despertado. - Bom dia - falou. - Dormiu bem? - perguntou. - Sim, como um anjo. Sua cama é deveras confortável. Deveras? Indagou-se mentalmente. Quem ainda fala essa palavra? Ele não deve nem ter 22 anos! - Que bom que gostou - comentou, meio sem jeito. - Uma pergunta: como viemos parar aqui? Eu sei que é a sua casa, mas poderia me explicar como chegamos? - Mais perdido que um japonês em baile funk, ele não soube responder. - Desculpe, não consigo nem lembrar o seu nome. - Prazer, Gabriel - respondeu. - Prazer Gabriel, você está em meu apartamento e eu não tenho resposta alguma. Apenas sei o que você sabe, ou seja, nada! 

Os dois tomaram café, conversaram como estranhos e estavam recordando a noite anterior, que de memórias apenas os flashbacks eram presença. Trocaram ideias sobre música, falaram que gostavam de The Decemberists e, assim que o efeito da droga passou, lembraram que eram namorados.

quinta-feira, abril 19, 2012

Referências


Quando eu vejo alguém como o Tom Zé, ainda mais em um documentário visceral de sentimentos, eu fico agitado. Fico louco, fico puto, fico ansioso. O absurdo de sua genialidade, mesmo que reconsiderada tardiamente, não cabe apenas como exemplo, mas sim, mandamento para ser colado na porta da geladeira. E estou falando em todos os sentidos, não apenas os musicais. Exemplo? Profissionalmente.
O cara possui as melhores referências e é a própria. Certa vez, quando lecionava Cultura Brasileira para o curso de Publicidade e Propaganda da Fadep, Faculdade de Pato Branco, perguntei aos alunos quem conhecia o compositor baiano. Fiquei pasmo ao testemunhar que dos cerca de 40 acadêmicos, nenhum levantou o braço. Fiquei catatônico. Achei um tremendo absurdo ver aquela cena. Tentei considerar a média de idade, 19 anos. No entanto, isso não serviu de desculpa, pois conheço adolescentes de 15 anos que sabem pelo menos que o Tom Zé participou do Tropicalismo. E é exatamente isso que eu critico e continuarei: falta referência. Quando se tem, encho os pulmões e grito: estão erradas!
Como o sentido agora se torna amplo, não se trata apenas do Tom Zé, que de repente profissionalmente não servirá em nada. Trata-se de procurar as coisas certas para edificar a idiossincrasia profissional, sobretudo comunicacional, se for o caso. Não adianta, se ficar ouvindo somente sertanejo universitário, você não vai escrever bem. Tenho dito, com toda a desculpa necessária. Vai conseguir escrever, claro que conseguirá! Mas não será exatamente bom, não será criativo e não será da porra!
Fazer o mais do mesmo é cavar os sete palmos que você precisa para se decompor. O negócio é compor. E se tiver diferenciais, aí sim, cavalgará de maneira mais contente e, até quem sabe, feliz. Por isso que precisamos de TomZés para não nos tornarmos reclames ambulantes que acordarão e a primeira coisa que postarmos no Facebook será: "mais um dia neste trabalho idiota".

Tarde

Falta paciência às vezes. Encarna um espírito de porco e se desconcentra rapidamente. Tenta relaxar ao som de alguma canção da trilha de Elizabethtown, mas só consegue aumentar a ira. Não se suporta mais. Vive em jogos de cartas, cigarros e vinho vagabundo. O corpo arde. Uma febre nada convencional. O carisma escorre pelo ralo do chuveiro em forma de porra. O hálito fica ácido enquanto fica olhando a foto do portarretrato trincado, presente no criado-mudo. Tenta pôr tudo para fora através do vômito.
Não consegue focar seu objetivo. Entorta mais um gole. Perde-se na curva entre o banheiro e o quarto. Vira mais um. Bate o dedinho na quina da cama. Bebe mais. Atira o copo pela janela do oitavo andar. Era de plástico. Joga-se na cama e vê os próprios olhos sairem pelo nariz. Ele queria beber mais um gole, mas lembrou que jogou o copo. Fecha as pálpebras... E dorme sem paciência, já que mais um dia vai amanhecer tardiamente.

quinta-feira, abril 05, 2012

Tanta coisa para ouvir e eu repito os mesmos álbuns, como um círculo cretino que de maneira idiota eu giro. E muitas vezes roda afoito, não me permitindo aos tímpanos apreciar novas texturas. Várias pessoas fazem isso, mas no caso, com o amor, ou seja lá a definição que prefiram optar. O se permitir, ousar, se deixar levar, dá lugar aos clássicos dos anos 60, à facilidade beatlemaníaca, à comidade setentista, ao enjoado solo do Brian May e às eletroquinices oitentistas. Salve a bicha do Morrissey, sempre bom de retornar.