Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, março 31, 2008


Via expressa dos sentimentos mal vividos, com direito a trilha sonora de cotovelos já esfolados. Não alcança as possibilidades da depressão, já que o fundo do poço foi explorado. Intermináveis frases de boteco na cabeça que solicita a paz sangrenta, aquela em que a conquista vem acompanhada de resquícios de dor. O desinteresse é afoito. Não aceita mais os desafios, desintegra a conseqüência e disfarça o sorriso existente.

Mas ainda acredita naquele sol escondido entre as canções de salvação, nas letras dos heróis que se libertaram em overdose de paixão. Alguém certa vez escreveu que a morte é uma arte. Eles faleceram com razão, emoção e no momento certo. Teve um outro que disse que o rock acabou. Apenas mudou de endereço. Se antes era encontrado em lojas, agora está nos blogspots diários. Não era bem isso que pensava enquanto caminhava pela via expressa. Apenas serve de consolo.

Havia um tempo em que as frases eram mais azuis. Hoje são rabiscadas sem inspiração. A ode ao passado é referência e a carência é mais uma ferramenta inventada pela industria cultural. Já o ódio quem inventou foi a Bíblia.

Continua a percorrer o castelo do destino cruzado. Entre um gole e outro se imagina em um paraíso de fontes de álcool, montes de fumaça e estátuas de cereja urinando martini. O doce amar é acelerado no azedo corte dos sonhos sem significados. Freud seria uma farsa e Jung seria ilusão. Um mundo sem os deletérios da explicação. Não existiria a perfeição e a clemência por atenção se definiria em migalhas de alcatrão. Como nada é agrado, então fica o atestado. Enquanto segue o giro, o aflito, o grito, o beijo é tosco e modorrento.

Acorda do sonho. Uma insuportável dor de cabeça é a companheira presente, sem a calcinha, as demências, a saia jeans e o batom vermelho 14. Não encontro nada além que um paracetamol na gaveta. A verdade seja dita, a vontade era de encontrar um ácido, mas o hábito trocado agora exige outras formas de diluir a dor. Uma receita médica preescreveu descanço, contudo, preferiu a ausência.

Hoje está há dois meses escrevendo versos vagos, sentimentos distantes e pensando no fruto moreno perdido e reconquistado. Não pretende perder outra vez. Por isso agora procura a via expressa dos sentimentos mal vividos, pois pretende não mais passar.

quinta-feira, março 27, 2008

Eu digo não. Não quero foder a vida, não quero desse jeito, nem do outro. Não pretendo seguir assim dessa forma, não é meu objetivo de vida. Não vivo de rótulos, não vivo de paixões, mas desejo loucuras e não tenho sentimentos. Quero continuar nesta vida da maneira que estou guiando. Não quero enroscos, preocupações, partilhas, ansiedades. Sou extremamente egocêntrico nos aspectos mais variados. Se hoje estou disponível, amanhã não estou mais. Chuto o balde, revolto o estorvo, crio paralelos e estremeço o apego. Quero ódio, quero fome, quero outra situação. Se era para ficar desse jeito, então cuspo no prato. Não aceito propostas, não assino cheques, não quero contratos, não quero mandamentos. Agora quero um isolamento abstrato. Risco minha cara, marco um x, traço um tempo. Não pretendo melhorar o que comecei e se for preciso termino em caos. Se necessário embarco no primeiro ônibus, encaro o absurdo e reestabeleço outro padrão. Fico bravo, fico puto, fico frêmito. Não quero ruídos. Eu digo não.

terça-feira, março 25, 2008

Accelerate


Oficialmente, o álbum ainda não foi lançado, mas já vazou pelas trilhas on-line. "Accelerate" é o novo álbum da banda de Athens, Georgia, Estados Unidos, R.E.M. As faixas remetem exatamente o significado do título. Há tempos Michael Stipe e companhia não soavam tão frenéticos.

Os discos anteriores continham alguns momentos de brilhantismo. "Around The Sun" foi subestimado. "Reveal" era ótimo e seguia um pouco o trabalho iniciado com o depressivo, mas extremamente belo "Up", talvez o mais melancólico, modorrento e lírico CD do grupo. Contudo, "Automatic For The People" continua, indiscutivelmente, a melhor coleção de canções do R.E.M.

Em "Accelerate" a banda não retorna ao passado, como alguns haviam anunciado. Ela apenas aprimora muitas idéias já compostas, porém, não pense que encontrará deja vus. Quem saiba até ache, como na canção que abre o trabalho, "Living Well Is The Best Revenge". A levada da guitarra de Peter Buck lembra as linhas registradas no oitentista "Document". Apenas isso.

Depois de "Man-Sized Wreath", entra nos ouvidos a música de trabalho "Supernatural Super serious", a segunda melhor do disco. A melodia é grudenta e apresenta a faceta incrível do R.E.M. de compor indeléveis harmonias. Culpa do Mike Mills, baixista e tecladista, sem dúvida o Paul McCartney da banda.

Outras que se destacam são "Accelerate", faixa que empresta o nome para o álbum, e "I'm Gonna DJ", a música mais pesada já gravada pelo R.E.M. Sensacional.


Muito prazer, sou Leonardo Handa, jornalista nas horas cheias e nas vagas, divagador. Amante de música, cafetão de cinema e traficante de literatura. Gosto de dormir com a Fiona Apple, mas sempre acordo com a PJ Harvey. Já fui desenhista e acabei como letrista. David Bowie foi o meu expoente na infância, muito por causa do filme Labirinto. Hoje admiro outros ingleses, porém, o camaleão ainda tem a sua relevância no meu tímpano. Não gosto de mentiras, mesmo sendo uma, e prefiro as verdades inventadas. Não gosto de novela, falta paciência, e odeio comida tailandesa. Tenho um lado extremista e sou adepto à geografia. Meus ideais são discretos, mesmo com o Che Guevara em uma das minhas camisetas. Prefiro ainda o Chico Mendes.

segunda-feira, março 10, 2008

7.158.325-2


Um xis, um zero. Certo dois, incógnita três. Quatro vezes quatro igual a 16, mas espero que a somatória alcance mais. Danço sozinho com os olhos fechados ouvindo Fiona Apple em um quarto escuro. A esposa de Paul Thomas Anderson me excita.

1- A sua voz penetra no tímpano tão macio que não causa dor.

2- Seus versos sobre a dor são sensacionais.

3- Ela toca piano, maravilhosamente.

4- Ela é estranha.

5- Ela gosta de apagar palitos de fósforo com a língua.

6- Apenas com três álbuns lançados, já compôs músicas melhores do que a Alanis. Mas isso tudo mundo consegue.

7- Suas músicas são ótimas para alcançar orgasmos.

Mas o fato não é esse, e sim, aquilo outro que, por pouco, não desistiu. São os números da questão que trarão o resultado final e acertado. Se noves fora não interferem, então fecho os olhos e gozo. Não tenho a culpa em minhas mãos, a situação é mais foda do que bonita. Porém, não ligo, não tenho sensibilidade. Meus números são 7.158.325-2. Aliás, todos somos números. Conta bancária, número. Senha, número. CPF, número. Carteira de motorista, número. Quando é preso, também vira um número. Ou vira código: secreto, de barras ou libras. Se perde a audição, vira código. Se perde a fala, também. E quando morre, vira comida de verme. Contudo, os números continuam. "33 Jesus na Cruz cabral".

Engraçado como as camisetas da moda nos dias de hoje possuem números. É um tal de 55 para cá, 66 para lá, 72 acolá. Muitas bolsas femininas também apresentam numerais. E tamanho de sutiã, igualmente. Já camisinha tem tamanho. Imagine, você chega ao atendente da farmácia e pede: "me vê camisinha tamanho 21". O que seria, centímetros? Resultado: bem dotado.

Portanto, três discos já são suficiente para ter uma boa obra musical. Três também são os nomes do esposo da Fiona Apple. Nada melhor do que três orgasmos em uma noite.

segunda-feira, março 03, 2008

Poema Rápido

Um acaso
Para escrever
No obtuso
Sentir de vomitar
A claustrofobia
Diária do viver,
Pensando que o gostar
Não passa
De uma falsidade
Que prega
O infalível verbo
Intitulado amar.

Arregaça com fúria
O sentimento azedo
Que dilacera o ventre
E faça do excesso
O lado avesso
De um beijo fulminante
E nojento.