Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, setembro 25, 2019

Momento


No meu momento mais bonito
Eu conto os seus cílios enquanto sonha
A cada um, eu falo silenciosamente: eu te amo.

Na minha condição mais delicada
Eu deixo o meu corpo transparente para você
E aguardo seu sinal para sinceramente te encaixar.

Na minha vida mais miserável
Só aguardo um aceno seu para me fazer sorrir
E seguir tranquilamente pelo lado da calçada em que está você.

Não há busca
Em troca de algo
Nem calor, nem amor.
É de sorriso que se abre
Um agradecimento.
De fato lógico
Um rompimento
Por hora chegou.
O cataclisma de sentimento
agora vazou.
Não foi culpa dos dois:
Um outro sempre surge (depois).

domingo, setembro 22, 2019

Tenha-me à pele
SEM PUDOR
E não traga dor
QUANDO UM BEIJO
me causar a vontade de voltar.
FAÇA-ME do avesso, pois
o seu endereço
É meu lábio superior
QUE ENCONTRA a estrada
Do seu inferior.
Destaca-me do seu ser
Revertendo o fluxo
Do contrário saber
Em momentos arbitrários
De silêncio e fazer.
Abra-me em um abraço
Que me fecha em você.
E em um momento eu sinto o seu compasso
Que acelera a cada passo
Que te faço.
Feche-me em um beijo
Que me abre em você.
minha febre adorada
meu porre de vodca
minha doce angústia
meu dia nascendo
minha alma desencarnada
meu filho não ejaculado
minha casa mobiliada
meu povo faminto
minha droga injetada
meu amigo confidente
minha letra inconsistente
meu verso corrompido
minha poesia dilacerada
meu motel preferido
minha amante titular
meu eu desperdiçado
e minha vida interrompida. 

AbsTRATO

Triste insiste
Em não derramar
Do copo a precisa
Poesia que
Se desmancha.
Alcança antes
Uma letra feia
Com texto lindo
Que remete
Ao passado romântico.
A borda cheia
De sílabas agora
Vaza palavras.
Desperta a esperta
Esperança de
Se embriagar
Em poemas abstratos.

Escondidas Verdades

Truques ambíguos
De ordinária beleza revelada
No coração mais perfeito
De uma alma torturada.
Falsa condição projetada
Nos dizeres mais concretos
Nos sorrisos mais discretos
Mas foram nos olhos
Que explícitos revelaram
A condição incorreta.
Nuvem de pólvora
Em um quarto amarelo
Repleto de angústia.
Um dia, quem sabe,
Encontrem as verdades.
Tantos janeiros
Presos nesse corpo
Que muito torto
Pede água.
A vida deu razão
Mas perdeu
Antes da comunhão:
Um outro ato
Que se foi de fato.
Agora fica o dia da derrota
Da boca aberta por palavras,
Sangue e traição.
Ficam as noites de estrelas
Não cadentes pousando
Na cama suja de outros amores.
Mas não foi culpa do ódio
A culpa foi da paixão.
lsH
Eu lembro perfeitamente daquele dia.
Sem precisar falar, você já me conhecia.
Se ainda não levo a sério as minhas palavras,
Talvez um dia elas farão sentido.
E se a primavera não for boa,
Terá o verão, todavia.
E se não estamos juntos,
É fruto da nossa cria.
lsH

quarta-feira, setembro 18, 2019

Às vezes precisamos de doses de loucura, de noites insones, de silêncio em meio a tanta porcaria que nos invade os olhos e ouvidos. É preciso sentir essa maluquice que bebemos e arrotamos em vida, porque nada levamos a não ser cada impressão digital na pele, cada história compartilhada, cada beijo alucinadamente dado. É necessário saber se ouvir, mesmo com tanto remédio controlado na mente.
É obrigatório saber amar desenfreadamente, sem dosar as consequências, mergulhando de piruetas em pedras que nem sabemos se de fato estão fundas. É preciso sentimento real e muita coragem para estufar o peito e dizer tranquilamente: eu te amo. Às vezes não é preciso nem dizer com palavras, apenas transmitir em gestos simples, leves, carinhosos, generosos e deliciosos.
Não é afoito sentir vergonha. É lindo quando se pode encontrar alguém e olhar nos olhos e repassar docemente o sentimento através da pupila, da íris, das pálpebras, do piscar, do brilhar. E, para tanto, é sim necessário uma boa dose de loucura, pois a normalidade é careta e vizinha amiga da idiotice de não saber aproveitar o momento.
Meu escárnio escarrado
Na carne cortada
Que jorra sangue
De álcool acumulado.
O porco ali jogado
É pútrido e carente
De uma mente alucinada
De uma época passada.
Agora o bicho é outro
E o processo necessário
Pois eu quero novo gozo
Sem memória maltrata.

domingo, setembro 15, 2019

_abuso_

os pés descalços
no vidro
ouvido
no fundo
infinito.
calor de mão
no fogão
dedo
dentro
do umbigo.
gemido de criança
sem crença
e nos olhos
o choro
sem bença.
lsH

Millôr Fernardes, colabore

Deixe-o expressar o ódio
Mesmo que em entrelinhas
Nessas linhas vorazes
Que faz ferver os olhares.
Deixe que uns tiros
Tirem a vida alheia
De um cidadão de bem
Que passeava no sábado.
Millôr Fernandes, eles tinham razão
O que fazem de melhor é por opção.
Deixe que a boa pessoa
Prossiga a sua ira
Enquanto isso mais uma família
Vai velando alguém para o além.
Deixe que a vida
Aponte o que perderemos
Pois daqui para o futuro
Será lembrado o que sofremos.
Millôr Fernandes, você sempre avisou a prole
"Certas coisas só são amargas se a gente as engole".
lsh

quinta-feira, setembro 05, 2019

A alma está meio grunge. Sei lá se acordou assim. Não lembro. O dia anterior foi de destruição, quando decretei o meu corpo em estado de calamidade pública. Agora, neste momento, se encontra fumando um cigarro, dedilhando uma guitarra desafinada e grunhidos milimetricamente desajeitados.

O dia clareia. Um pássaro pousa na fiação elétrica enquanto o sol parece dizer, solitariamente: mais um dia vagabundo está surgindo. Aproveito o embalo e pego minha camisa xadrez de flanela que estava no criado mudo. Ela fede a maconha, incenso de Flor de Lótus e falsificação de Hugo Boss. Como não lembro se dormi, até que estou contente.
Deixo de lado a guitarra e sigo até a cozinha preparar um café. Acendo o fogão com um Zippo que tem um adesivo do Pato Donald. Estranhamente, parece que ele está sorrindo para mim enquanto derramo pó de café no azulejo cinza. A água já fervendo e ouço: Bom dia! Caralho, tinha mais alguém neste apartamento? Eu trouxe alguém? Dormi com quem? Por que não lembro? Não usei nada forte na noite passada. Um cidadão, só de cueca boxer, se encosta-se à porta da cozinha-lavanderia e diz: Daí camarada, como está? – Fico sem reação. Não sou dessas pessoas que se perde quando algo inusitado acontece, mas naquele momento eu me permiti ficar totalmente perdido. – Olha, a princípio estou bem, mas o que faz aqui em casa? – Foi a única frase que consegui esboçar enquanto a água já estava fervendo. – Sou o cara que você conheceu na noite anterior, bem quando a banda da casa estava tocando “Plateau”, do Meat Puppets, não lembra? – É claro que eu não lembro, nem lembrei de desligar o fogo. Mais intrigado, solto: Hey, a gente ficou, transamos ou algo do tipo? – Ele olha no fundo da cozinha, visualizando um quadro que tenho do Bowie e responde: Alguma dúvida? – Odeio quando alguém me responde algo com outra pergunta. Sinto-me a pessoa mais burra de toda a rua. Aliás, qual é mesmo o nome da minha rua?
Passo o café, extremamente confuso. Eu estou confuso, o café não foi passado confusamente, esse eu consegui fazer direitinho. Sou perito em passar café, antes que eu esqueça de mencionar a minha única qualidade. Convido o cidadão para se sentar e degustar um pãozinho de três dias. Ele sorri e fala: Não lembra meu nome? – Com o sorriso mais amarelo que as primeiras páginas da Veja, respondo: Não, desculpas imensas, não tenho a mínima ideia de quem você seja. Cabisbaixo, revela: Cara, eu sou você 20 anos mais novo! Como não consegue se reconhecer? Suas memórias estão tão apagadas de tanto ácido que não consegue se identificar? Que não consegue nem ao menos reconhecer certos traços, como essa cicatriz no canto do olho direito quando você e seu irmão caíram de uma árvore, ou quando você fez essa tatuagem no braço com o nome de um amor que morreu em Curitiba? Como assim camarada?
Ao ouvir aqueles sermões, tão rápidos quanto os do Frei Policarpo, bebi meu café, comi meu pão borrachudo, acendi um cigarro e, calmamente, falei: Que porra é essa? Agora estou tendo alucinações baratas para confortar os meus 48 anos? Tudo bem que não fiz nada que preste nesta vida. Plantei uma árvore pelo menos. Não tentei ter filhos e não tenho habilidades para ser escritor. O que eu sei fazer é passar café.
Uma luz branca surge repentinamente em meus olhos. De repente o cara que se dizia eu sumiu, não sinto mais gosto de café em minha boca e estou em minha cama, abraçado a uma camisa xadrez, que cheira Hugo Boss, canela e um pouco de cigarro. Naquele momento, de manhã, sem ressaca alguma, penso, está na hora de por marginalidade nessa vida novamente. Nem que seja grunge.

segunda-feira, setembro 02, 2019

Black Dog

Eu também alimento um,
Admito.
Mas eu preciso de dias assim
Para, enfim,
Lembrar que sobrevivo.
Eu queria, na realidade, um sobreaviso
De que a vida
É muito mais do que isso.
Eu tento, eu aguento
E de novo alimento.
Eu corro da sua mordida
Mesmo em certos dias
Ser abocanhado.
Eu me perco na corrida
E me abraço em manias
Apesar de errado.
Alguns meses se parecessem
Com o fim do mundo
E eu recordo dos sorrisos que me acompanham.
Deixo seu caráter passar fome
E conforme vai passando
Eu traço outro presente
Independente do passado.
Um dia, eu sei, apesar de difícil
Seu olhar de esfomeado
Será acalanto sem quebranto
Mas até lá, se eu me entregar
Não quero ser eu
Que continuará te alimentar.
lsH

sexta-feira, agosto 09, 2019

Entenda beleza, eu ainda prefiro o conteúdo. Sua graça me distrai, mas procuro manter a calma. Confesso que já me perdi em seu torso nu. Na sua pele morena. Nos seus cabelos escuros e nos seus olhos castanhos. São tão invencíveis, pedaços sublimes de pecado exacerbado. Em você, eu me perco, reviro o acaso, me torno poeta. Em você, me transformo em plebeu, obedeço os critérios, pratico adultério e procuro um consubstancial. Porém, entenda, ainda primo pelo teor.

Já solicitei tantas vezes, quase nunca fui ouvido. Não adianta, você sempre consegue me seduzir. Eu sou fraco, eu sou carne, eu sou ser, abstrato, confuso, continuado. Quando adentro, fico idiota, caricato: estereótipo de capa de revista. Então, como não aguento, eu me entrego. Mas ainda falta o conteúdo. Portanto, entenda beleza, você está me fazendo perder os valores. Fazia tempo que eu não me entregava em uma batalha. Você continua ganhando. Todas. Estou jogando meus princípios no vaso sanitário, nos tocos de cigarros, nas taças de vinho, no vidro empoeirado, no branco que escurece, na vontade que prevalece. Eu fico tonto. Eu fico torto. Eu fico bobo.

Não vejo razão, Nick Cave não me dá opções. E você nem conhece. Para quê? Não necessita, basta uma Vogue. E, aos poucos, vou me entregando, abrindo as pernas, recebendo o putrefato pela boca, dentes e garganta. Vou engolindo o seu mundo, as suas frivolidades. Quer saber? Nem queire. Já perdi. No entanto, por favor, ao menos procure algo do Cat Stevens, não precisa descobrir a sua biografia, apenas ouça Wild World. Não estou pedindo muito, não estou pedindo que conheça a poesia do Buarque, somente demonstre um pouco de interesse. É muito egoísmo, eu sei. Isso não combina com o seu Dolce & Gabbana. Disparidade. Tudo bem, apenas entenda, beleza, você me corrompe o conteúdo.

quinta-feira, agosto 08, 2019

Pense que ainda existe amor.
Está na esquina, no copo do bar.
Ali embaixo do nariz, 
Do chafariz.
Nos deslizes da mão do jogador.
Pense que ainda há.
Permanece em Bagdá
No coração do homem bomba
No olhar das pessoas de lá.

Pense que ainda existe amor
No carro que só pega no tranco
Em sua pele morena do sol
Nas ruas de Pato Branco.

Pense que ainda existe
Consiste em observar
Perto daqui, longe do mar.
Na hora de se abraçar.
lsH.
Negras, belas
Em tabelas
De contas
A massagear:
Olhares, egos,
Nos mais
Lindos passeares.
Em lares, bares,
Cidades,
Com saias
Floridas
De pétalas norteadas
De puro
Encanto
Em todos os cantos
Que os prantos
Ousam parar
Só para vê-las
Elegantes e galantes
A cantar.
lsH

segunda-feira, agosto 05, 2019

Meu coração 
É gelo
Que berra
de tédio
Sem você
Como elo.

Minha aflição
Não é farsa
Quando em
Seu abraço
eu me encerro. 

sexta-feira, agosto 02, 2019

Uma outra noite de fé sem sono. A companhia dessa vez é o café, a fumaça e The Editors. A referência joydivisiana ecoa, tanto nas linhas de guitarra como no vocal quase chorado. Ela pouco conhece a banda, apenas sabe que lhe faz bem. A canção que mais entoa no ouvido é Lights. Apesar do título, quase nada a ilumina. Somente a luz do poste e a brasa do cigarro.
A noite não foi de trabalho. Resolveu tirar folga de si mesma. Deitou em seu sofá, ligou o som e se deixou transportar pelo calor/frio das músicas. Acabara de baixar a bolachinha The Black Room, um título bem apropriado para o momento pelo qual estava passando. Acendeu uma bituca e viajou. O barulho infernal dos carros na rua não mais a incomodava. O fone de ouvido era muito bom. Importado. Gentileza de seu vizinho contrabandista.
Quando iniciou os primeiros acordes de Camera, ela se transportou imediatamente à infância. Se imaginou sendo balançada pelo seu pai, depois brincando com seu meio-irmão e logo após levando uma bronca de sua mãe. Chorou. Bebeu um gole de café e tragou suavemente. A canção continuou e outras lembranças acertaram o tímpano. Não teve como não recordar do Echo and The Bunnymen, sobretudo daquele show em São Paulo, quando ainda era adolescente.
A noite que era para ser de tranquilidade acabou remetendo ao saudosismo que escondia em um fundo bem fechado do cérebro. Alguns costumam chamar esse lugar de sub-consciente.
Mas o momento apoteótico chegou ao ouvir Bullets. Não teve dúvida, nem tempo. A adolescência era vivida de novo em linhas de pensamentos despedaçados. Fechou os olhos. Viu o primeiro beijo. A primeira transa. O segundo amor. O primeiro não tinha sido tão bom. Gozou no lençol. Derramou café. Esqueceu o cigarro. Olhou para a vela acesa no criado-mudo. Sonhou acordada. Finalmente conseguiu relaxar. E a fé do sono chegou. Rezou e dormiu. Tranquila. E gozada.

terça-feira, julho 30, 2019

Um Beijo no Marlboro

Ali de bobeira
Encostado no muro
Meu sangue quente
E o seu filtro me chamando.
Tenho em mente a maldade
A crueldade dos anos
E as consequências do agora
Mas você me satisfaz,
Muito mais que não demora.
Não demora o meu prazer
Não demora o meu fazer
Não demora o seu caráter
Não demora o seu querer.
Ali de bobeira
Deitado no capô
Vejo as estrelas adormecerem
Enquanto te beijo calmamente.
lsH

Sorriu

Minha memória me trouxe algumas saudades. 
Instantes não frequentes de encontros e realidades. 
Certas, deveras, seriam imaginações. 
Mas quis os bons astros que não. 
E é por isso que ela me relembra de coisas lindas. 
Constantes sorrisos e abraços compartidos. 
Compaixões de dias sofridos, mas alimentados com esperança. 
Hoje, crescida, a criança berra outros sortimentos. 
Os sentimentos, contudo, prosseguem mesmo que esquecidos. 
Desejou hoje que lembrasse aquele tempo, de flor na cabeça, de bata rasgada e cigarro mentolado. 
E sorriu.
lsh

segunda-feira, julho 29, 2019

Observação


Eu gosto dos olhares que se encontram na rua
Dos sorrisos tortos que se comunicam.
Eu gosto dos perdedores de face nua
Que não tem medo de mostrar a fragilidade.
Eu gosto das pessoas que frequentam boteco
Que não tem o medo de expor suas vidas
Que contam seus causos
Em forma de deliciosas mentiras.
Eu gosto dos diferentes, das mulheres
De braços tatuados e colares extravagantes.
Eu gosto daquelas que não alisam o cabelo
E deixam que a bagunça balance livremente.
Eu gosto dos barbudos, com seus braços finos
E suas camisetas de 3 números a mais.
Eu gosto das sutilezas da MPB
Das letras diretas que tremem o coração.
Eu gosto da Tiê e seus poucos acordes
Que me fazem molhar a ponta da cabeça.
Eu gosto de sentir o cheiro do seu cabelo pela manhã
E tocar o seu sexo só para incomodar.
Eu gosto das imperfeições malandramente instauradas
Nos rostos dos miseráveis que sabem sorrir.
Eu só odeio a segunda-feira, mas todas as coisas
Necessitam de um início, inclusive a observação.
lsh

sexta-feira, julho 26, 2019

Coisa desprezível


Tenho naquilo em que o meu ódio se manifesta
A mais nefasta sensação de desconforto em vida.
Carrego em mim essa loucura disfarçada de calma
Mas uma espada está cravada no meu coração.

Tudo o que eu faço parece ter o efeito inverso
Como se o universo estivesse anunciando o fim
A única forma de suspiro tranquilo é encontrado
Quando meus olhos se fecham, simulando a morte.

A confusão da sua visita junto ao meu corpo nu
Faz os meus dedos respingarem sentidos pestilentos
A mente retorce argumentos pifiamente vis
E a cabeça adentra o espiral da psicose permitida.

Cansado de me lançar aos braços da esperança
Recordo os tempos quando eu não a tinha
E é para o passado que desejo imensamente voltar
Mesmo que me feche o futuro de possibilidades.
lsh

quinta-feira, julho 25, 2019

Declínio


Para o alívio, respiração.
Mas às vezes, não é condição.
Tenho a loucura no corpo
Que me deixa um ser torto.

A cabeça é uma aflição
Que desesperadamente fala ao coração:
- Querido, chegou a hora.
No entanto, não é agora.

O olho se torna um vulcão
Que só jorra confusão.
Procuro qualquer alívio
E encontro doses de declínio.
lsh

domingo, julho 21, 2019

Iguais a nós se põe percebido

Na constante dessa hora
Vou embora do dessabor
E levo comigo o ventilador
Porque para onde eu vou
Bate um tremendo calor.
O seu sorriso
Eu levo na memória
Outrora quiséssemos algo
Que não fossem apenas lembranças.
Agora visualizamos a casa vazia
Os discos em uma caixa de papelão
E nos meus braços o Jamelão.

Um último beijo, por fim, desistimos
E seguimos cada qual um sentimento.
O ódio já foi esquecido e, estremecido
Tornou-se aquela comodidade
Que talvez, somente com a idade,
Iguais a nós se põe percebido.
lsH

sábado, julho 20, 2019

Eu Vou

Eu vou fumar todos os cigarros. 
Vou desaparecer com a fumaça. 
Vou consumir todos os remédios. 
Vou sumir com a ansiedade. 
Vou procurar todos os métodos, vou seguir nos erros. 
Vou revirar os vodus. Vou beber a macumba. 
Vou ao submundo. 
Vou morrer para ressuscitar. 
Vou beber aquele veneno. 
Vou tragar todas as derrotas. 
Vou viver a mesma situação. 
Vou amar outra pessoa. 
Vou prosseguir como estorvo. 
Vou seguir como perdido. 
Vou chorar a mesma música. 
Vou escrever um novo roteiro. 
Vou estraçalhar o meu peito. 
Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. 
Vou chupar o amargo. 
Vou contar os segundos. 
Vou atirar nos minutos. 
Vou atropelar um coração. 
Vou sofrer o caramba. 
Vou reviver o futuro. 
Vou viver o passado. 
Vou praticar o presente. 
Vou me perder na estrada. 
Vou pedir uma carona. 
Vou viajar pelo deserto. 
Vou ser amigo da solidão. 
Vou encontrar a derrota. 
Vou cortar a cabeça. 
Vou cheirar óleo diesel. 
Vou ressecar o olho. 
Vou furar a mão com um prego. 
Vou subir uma montanha de pó. 
Vou sorrir a tristeza. 
Vou desapegar o contato. 
Vou desejar um abraço. 
Vou querer muito mais. 
Vou pensar no roçar de pele. 
Vou querer algo mais. 
Vou lembrar de você. 
Vou novamente sofrer. 
Vou correr pelas escadas. 
Vou encontrar o topo. 
Vou pular no abismo. 
Vou cair com os olhos abertos. 
Vou dormir para te achar. 
Vou sonhar para viver.
lsH

quinta-feira, junho 27, 2019

Clássico 
A febre desse amor em clima pulsante
E a sua garganta linda em minhas mãos.
O tanque de uísque pousado na mesa
E o estoque de alcatrão entre os vãos.
Giro os olhos afoitos em direção aos dedos
Enquanto seu suspiro tranquiliza o redor
E a minha tentativa de invasão se torna certeira
Conseguindo a compreensão do furor.
Observo os detalhes dos poros do seu pescoço
E o arrepio da pele morena que me fascina.
Não há nada melhor do que essa vacina
Ao menos para alguém que sentia uma carnificina.
O levantar do seu sufoco fica calmo
Enquanto a minha ânsia se torna plácida
E aquilo que eu havia segurado
Permito contigo soltar com pouco estrago.
Bem devagar eu saio e alcanço o gole
Bebido como leite pela boca úmida
E acendo meu filtro branco como se fosse o primeiro
De outros muitos que virão clássicos.
lsH
Algumas frases que não falo mais depois dos 35
Cerveja barata é legal. Sabe onde encontro mais? Tudo o que preciso é de um colchão e sinal de internet, além da minha bicicleta. Cerveja barata é bom, né? Tudo o que eu quero é curtir a vida e gozar a liberdade com meus amigos. TODOS OS DIAS. E viajar muito, lógico.
Quero ter um trabalho bem flexível, sabe? Desses que a gente tem tempo para fazer outros projetos, escrever poesias, livros, pintar camisetas. Quero sempre estar atualizado com os filmes, os livros, as músicas, além de estar sempre buscando aperfeiçoamento. Eu quero uma vida de sarcasmos, saca? Tipo Calvin e Haroldo.
Definitivamente, cerveja barata é tudo na vida.
Eu vou trabalhar num escritório que me permita me concentrar em coisas criativas, até eu ser reconhecido e poder largar tudo na real e sair por aí vivendo de arte. Não acho que eu esteja pedindo muito. Sério, quero ser reconhecido logo.
Caralho, essa cerveja barata é a MELHOR COISA QUE ALGUÉM JÁ INVENTOU!
Misturar remédios e álcool é tão gostoso. Meus pés estão doendo, não aguento mais dançar. A festa foi do caralho, acabei encontrando um louco, ficamos falando sobre filosofia hindu por umas quatro horas, até cansarmos, aí fomos beber uma CERVEJA BEM BARATA. Não voltei para casa, peguei carona com estranhos que me levaram para um local mais estranho ainda. Até hoje não sei os nomes daquelas pessoas.
Quando eu passar dos 30, terei essa disposição que tenho hoje aos 22. Mestrado é coisa para quem não se deu bem na vida. Será que eu deveria ter cursado algo na área de tecnologia? Quem sabe nanotecnologia? Foda-se o emprego, vou viajar para o litoral do Rio Grande do Sul com os meus parças!
Não estou querendo um relacionamento agora. Acho que nem curto esse lance. Vou sempre conseguir viver sozinho. O que é essa ferida no meu pênis?
PORRA, ESSA CERVEJA BARATA É UMA LOUCURA!
Acho que só sairei com uma pessoa a partir do momento que pintar aquela conexão, me entende? Aquela coisa meio mística, meio hippie, meio John e Yoko. Não ligue para a bagunça. Parei de tomar aqueles remédios. A felicidade existe sim e está guardadinha numa caixinha de música que toca Caetano.
Não consigo nem me imaginar com 35 anos. Nem quero viver até lá.
PU-TA QUE O PA-RIU. CERVEJA BARATA É O NÉCTAR DA AFRODITE EM DIA DE SÃO PEDRO!

quarta-feira, junho 26, 2019

Eu não queria mais voltar. Por alguma razão, cá estou. Confesso que não me sinto muito confortável. Até atrapalha meu pensar. Não consigo deixar claro. Muito menos, escuro. Não queria estar de novo recolhendo cada fragmento que me compõe. Não queria estar novamente escrevendo o "não". Não me via começando outra vez as frases com essa palavra tão miúda de três letrinhas. Não passou. Sei lá se vai passar. Mas, se retornei, foi por alguma questão. E ela é você. Talvez eu esteja apenas encantado, como me disseram, apesar de que me sinto muito apaixonado. Nem preciso comentar isso contigo. Está longe. Longe fisicamente. Longe emocionalmente. Em outra direção que, lógico, não é a minha. Tenho em mente que para ti foi um caso, outra conquista para ficar registrada na pele, como pessoas que colecionam amores. No entanto, para mim, uma sensação de algo não terminado. Enfim, nem tudo na vida precisa ter um final. Só não queria ter retornado para o início. Do sofrer, calado, no caso.
Para cumprimentar, não precisa fazer a chuca, não precisa lavar a bunda, não precisa ser santo. Para cumprimentar, não precisa ser amado, não precisa ser corno, não precisa ser arrogante. Para cumprimentar, não precisa vestir roupa de marca, não precisa estar sem, não precisa estar com. Para cumprimentar, não precisa ser rico, não precisa ser pobre, não precisa ser de classe alguma. Para cumprimentar, não precisa estar manso, não precisa estar bravo, não precisa estar contente. Para cumprimentar, não precisa se machucar, não precisa se alegrar, não precisa se entregar. Para cumprimentar não precisa ter medo, não precisa ignorar, não precisa estar bêbado. Para cumprimentar, não precisa estar de chinelo, não precisa estar de All Star, não precisa estar de Prada. Para cumprimentar, não precisa ser elegante, não precisa se mostrar o prepotente, não precisa ser o melhor. Para cumprimentar, não precisa estar em dia com o imposto de renda, não precisa ter viajado para a Europa, não precisa falar a mesma língua. Basta olhar.

terça-feira, junho 25, 2019

Melancolia minha, daquilo que vivi ontem, ou daquilo que vivo agora.
Melancolia nossa, tão ausente quanto tu.
Melancolia outrora, futuro breve, obtuso instante.
Melancolia a noite e ao dia.
Melancolia boa deste momento
Melancolia ótima para refletir
Melancolia incrível para amar
Melancolia linda ao vento.
lsH
Bate coração, mudo de razão
Neste peito oco de foco
E carente de exclamação.
Perfura a carne ao leite
O reler da veia que percorre
E junto ao pulso, escorre.
Bate coração, seu estúpido
Entope a artéria com amor
E jorre em sorrisos
Qualquer pequeno calor.
Termine longamente nunca
Mesmo que agora fique
E sem que haja despedida
Eu quero sem partida.
lsH

Esse Meu Doce Matar

Quebrei a cara.
Que cara eu sigo?
Persigo o curto.
O caminho fácil.
Qual a graça?
Pergunta simples.
Sigo errado.
Pelo menos, acho.
Se acho,
Certeza
Não tenho.
Mas se tenho algo
Algo talvez
Eu sinta.
Analiso
E sintetizo
O que escapa.
Um mapa
De fragmentos
Descolados na memória
Soltos por aí
Em ilhas digitais
Sem reset
Sem delete
Sem gilete
Sem deleite.
Troco um destino
Por dois carinhos.
Mas tenho
Carência?
Só aderência
De permitir
Meu egoísmo.
Penso
Logo, resisto.
Desisto
Ao contrário
Pois sou
Bem otário
Quanto ao sentimento.
Queria o inverso
Mas serei frio?
Não entendo.
Compreendo que afasto
Todavia é meu erro?
Porém, contudo, senão?
Quem sabe você
Que me abrirá
Abrigará aqui
Uma resposta acolá.
Enquanto isso,
Vou ali
Sozinho fumar
Algo que
Pelo menos
Me faça sentir,
Nem que seja
Esse
Meu
Doce
Matar.
lsH

Até de amor nos curar

Nada se compara a você.
Eu queria ter um derrame de amor,
Por ti.
Meu rádio toca a mesma canção
Meu tímpano está viciado
E o meu corpo também.
Por ti.
Respiro aquilo que te cheirei
Do peito até sua nuca
Da tatuagem até a virilha.
Nada se compara a você
E tenho medo
Que tudo será comparado,
Nos próximos,
Nos outros,
Nos vácuos.
Eu queria ter uma ferida contigo
Que continuasse aberta
Até de amor nos curar.
lsH
Na aventura dos sentidos
O tempo resgata os perdidos
E aquele ali, que antes
Escrevia poesias marginais
Agora elabora discursos
Para os petistas.
E o calor de seus lábios
Hoje esfriam o amor
Que os direitistas, ora exacerbados
Portanto cancelam
Gritos exacerbados.
No trajeto da sua letra
Algo ecoa nesse ouvido
Porque no outro, eu duvido
Que a Marina vá profanar.
Mas na aventura dos sentidos
O tempo resgata
Até os esquecidos
E a dança cega da digitação
Far-se-á breve, por obrigação.
Eu vou fumar todos os cigarros. Vou desaparecer com a fumaça. Vou consumir todos os remédios. Vou sumir com a ansiedade. Vou procurar todos os métodos, vou seguir nos erros. Vou revirar os vodus. Vou beber a macumba. Vou ao submundo. Vou morrer para ressuscitar. Vou beber aquele veneno. Vou tragar todas as derrotas. Vou viver a mesma situação. Vou amar outra pessoa. Vou prosseguir como estorvo. Vou seguir como perdido. Vou chorar a mesma música. Vou escrever um novo roteiro. Vou estraçalhar o meu peito. Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. Vou chupar o amargo. Vou contar os segundos. Vou atirar nos minutos. Vou atropelar um coração. Vou sofrer o caramba. Vou reviver o futuro. Vou viver o passado. Vou praticar o presente. Vou me perder na estrada. Vou pedir uma carona. Vou viajar pelo deserto. Vou ser amigo da solidão. Vou encontrar a derrota. Vou cortar a cabeça. Vou cheirar óleo diesel. Vou ressecar o olho. Vou furar a mão com um prego. Vou subir uma montanha de pó. Vou sorrir a tristeza. Vou desapegar o contato. Vou desejar um abraço. Vou querer muito mais. Vou pensar no roçar de pele. Vou querer algo mais. Vou lembrar de você. Vou novamente sofrer. Vou correr pelas escadas. Vou encontrar o topo. Vou pular no abismo. Vou cair com os olhos abertos. Vou dormir para te achar. Vou sonhar para viver.

domingo, junho 02, 2019

E esses sonhos de você querer, seja lá o que satisfaça. O olhar para uma pequena nuvem se dissolvendo em prantos a molhar o árido do seu sentir. O admirar de um casal rindo da hora qualquer do clima a conviver. O se identificar da situação no calor da emoção de um beijo roubado. O acordar ao lado de uma pele que você passou a madrugar trocando sutilizes de tocar. O acompanhar de um respirar de uma criança que nem sabe as alegrias que a espera. O sonhar acordado de um dormir tranquilo. E aqueles quereres que sempre ousam sem explicar.

O ponto

Era um ponto negro, pequeno, localizado no centro do peito. Às vezes coçava, chegava até arder. Não foi dada importância desde que surgiu. Parecia como um aglomerado de melanócitos, algo comum, de acordo com os dermatologistas. Com o tempo foi crescendo. Na adolescência, mais precisamente, ficou do tamanho de uma tampinha de Fanta. Começou a incomodar, porque doía: pontadas agudas que pareciam como a sensação de palitos de gelo adentrando a carne. Certas vezes, porém, o pontomudava de cor, deixando a negritude de lado e assumindo um tom azulado, como um céu de inverno pela manhã, depois que a geada se dissipa com os primeiros raios solares. Naqueles dias, a cabeça reagia de forma estranha, algo como um misto de euforia e felicidade, sentimentos não tão comuns para a época.
Mas, depois de alguns dias, voltava a ficar escuro, como uma obra do Caravaggio sem a réstia da luz presente em seus quadros. Foi então que apareceu a letra M dentro do ponto, de melancolia, de melodrama, de merda, de metástase, de mal, de murmúrio, de maldição.
A vida seguiu como deveria, com períodos de tristeza, descontração, alegria, fraqueza, desamor, punições e lágrimas. E o ponto estava maior, agora encobrindo todo o peito. Tinha dias que ficava cinza, atingindo um Pantone 8785 Iron Horse. Quando assim estava, o Nebraska do Bruce Springsteen se tornava um disco feliz, fazia de Landslide do Fleetwood Mac uma canção de esperança e do filme Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica, um tratado sobre a alegria. Eram nesses períodos que a circunferência sombria aproveitava para se alimentar de coisas que a ajudassem a ter uma coloração mais quente, quiçá, um amarelado ou alaranjado. No entanto, o preto puro sempre voltava e, quando retornava, era com uma força de 20 elefantes selvagens em busca do cemitério de seus antepassados que entoaram barridos ao longo dos séculos.
Eis, então, que aquilo que não foi levado a sério, tomou conta do corpo todo e ganhou a força de um monstro cósmico, capaz de sugar para o seu interior a cor mais forte, a luz mais intensa. E, desde então, o ponto negro com um M no meio se isolou para abençoar a tristeza, sua prima de primeiro grau, que seguiu a sobrevoar os corpos desprevenidos, pronta para plantar novos pontinhos escuros em peitos abertos.
lsH

quarta-feira, maio 29, 2019

A Razão

Qual eco atravessa o surdo coração da sua razão?
Em mesas digitais com três mesários é encontrado?
É preciso mais do que isso para prevalecer, você me diz.
Mas se contradiz quando derruba seu papel de bala no chão.
Você me quer mais educado em todas as situações
Só que não olha os miseráveis ao seu redor.
Fortalece alianças para celebrar os mais belos casamentos
E fornece tratamentos àqueles que não querem a cura.
A rua infestada destilada por certo o algo incerto
Porque bandeiras são levantadas todos os dias
E ninguém entende para qual norte são apontadas.
A senhora queria um lindo beijo no recém-nascido
Com câmeras registrando cada frame do ato
Por uma única razão?
Sim, emocionar o eco que atravessa surdo
O coração daqueles mesmos que batem a sua razão.
lsH

domingo, maio 19, 2019

Tudo Normal

Tal e qual, até demais.
Teu sorriso amarelo
A minha blusa preta
O desgaste do pensar.

Tal e qual, o sentimento
As pessoas se doendo
A raiva escorrendo
E a vontade de amar.

Tal e qual, o quê?
Há tempos um buquê
Não recebi, sabe você
E o coração a coçar.

Tal e qual, tudo normal
Espero pelo dia
Que talvez chegará
Como um animal.

Tal e qual, simplesmente total
Aguardo um decreto
E espero contente
O velho sentimental.
lsH

terça-feira, maio 14, 2019

Eu detesto a maneira que o Régis Tadeu escreve
Não acredito nas verdades do Jornal Nacional
Novela boa é novela velha, que reprisa no Viva
E eu tenho muita sede quando como queijo.
A vida é bela, mas a gente se fode nela.
Citronela no repelente combina super bem
O novo disco do Cícero é mais ou menos
E eu tenho muita sede quando como queijo.
Não consigo olhar para a Cláudia Leitte
Nem um amigo meu, porque é cego.
Às vezes acho Jorge Furtado patético
E eu tenho muita, muita sede quando como queijo.
90% do país não entende as letras do Djavan
Wander Wildner é um charlatão talentoso
Masterchef é um programa ridículo
E o pão no meu queijo me deixou com sede.
lsH

sexta-feira, maio 03, 2019

Clássico
A febre desse amor em clima pulsante
E a sua garganta linda em minhas mãos.
O tanque de uísque pousado na mesa
E o estoque de alcatrão entre os vãos.
Giro os olhos afoitos em direção aos dedos
Enquanto seu suspiro tranquiliza o redor
E a minha tentativa de invasão se torna certeira
Conseguindo a compreensão do furor.
Observo os detalhes dos poros do seu pescoço
E o arrepio da pele morena que me fascina.
Não há nada melhor do que essa vacina
Ao menos para alguém que sentia uma carnificina.
O levantar do seu sufoco fica calmo
Enquanto a minha ânsia se torna plácida
E aquilo que eu havia segurado
Permito contigo soltar com pouco estrago.
Bem devagar eu saio e alcanço o gole
Bebido como leite pela boca úmida
E acendo meu filtro branco como se fosse o primeiro
De outros muitos que virão clássicos.
lsH

sábado, abril 27, 2019

A dúvida que fica
A dúvida que passa
Há dúvida ainda
Em cada letra, relaxa.

O acordeonista



A paz, apenas uma, no singular mesmo, simples e sincera, ele queria. Envolto na névoa, abraçado ao seu acordeom, pensava como o último ano tinha sido belo, com o amor pleno, o cantar sereno e as melodias encantadoras. Mas o acaso, primo-irmão do destino, cunhado do agora, despertou-se de um sono maluco, em que a cocaína lhe deu frenesi e vontade de acordar para causar o tumulto. O músico, que havia se acostumado com a vida do hoje, teve junto ao acaso uma briga dilacerante, onde o principal afetado foi o cérebro, que ganhou uma linda síndrome que retirou do lugar os seus pensamentos. Ele só queria seguir tranquilo pela composição perfeita a qual acreditava ter realizado. Enganou-se.
Certa vez, ao se apresentar numa comunidade do interior de uma cidade pequenina, presenciou a ladainha de um fazendeiro que tinha a sensibilidade tremenda de causar intrigas. Esse senhor, que apresentava-se honesto, tinha escondido nos olhos uma maldade voraz, como o raiar de uma segunda-feira infernal. Não se sabe ao certo, porém, dizendo-se gostar do acordeonista, o convidou para uma festa em sua propriedade. Ao chegar lá, os convidados o olharam estranhamente. Mal sabia que o senhor tinha lhe pregado uma desgraça. Espalhou para todos que o artista tinha fama de mentiroso, que enganava as pessoas porque havia nascido com a ganância no corpo e que, apesar das suas lindas músicas, não passava de um ridículo aproveitador.
Mesmo com a boca e os dedos trêmulos, pôs-se a cantar e a tocar uma canção que dizia mais ou menos assim: "Mentiras pingando da sua boca como sujeira / Mentiras em cada passo que você dá / Mentiras, sussurrou em muitos ouvidos".
Todos naquele momento perceberam que tudo estava estranho e começaram a jogar seus copos de vinho em direção ao palco. Um vidro acertou seu olho, cujo sangue tingiu sua camisa de seda, presenteada pela sua mãe. Calmamente, desplugou seu instrumento e berrou ao microfone: "O poder da influência se trata de ganância quando não há uma ferramenta sincera para se construir o belo. O entendimento de vocês, em abraçar apenas um lado, cegos pelas posses e pelo poder desse senhor fazendeiro, não dá a ninguém o direito de julgar". Mais copos foram jogados.
Hoje, ele apenas queria ser um canário do reino, mas teve sua reputação calada gratuitamente, sem entender o motivo. E, após uma época de maravilhas colhidas, enxerga nos sonhos os olhos debochados do fazendeiro que, simplesmente, sentia inveja de não ter nascido com o dom musical, tão pouco, com a voz encantadoramente rouca do acordeonista.

segunda-feira, abril 15, 2019

Para você que flutuou os meus sonhos mais eróticos,
Daqueles em que o mínimo era as roupas rasgadas,
Que uma engasgada não significava nada,
Que uma picada era o lindo em sua bunda.
Para você, o amor que me torturou, que me enlouqueceu, que deixou os meus dias em calafrios com o seu não tentar.
Para você, o meu pulmão de fumante, o meu corpo de alcoólatra, a minha fraqueza desesperada.
Para você que perfurou, mesmo sem saber.
Para você, os meus versos mais belos, mas nunca compostos.
Para você, a minha vida com trilha sonora vinda do nórdico,
Dos instrumentos mais inusitados, das partituras menos clássicas.
A você a minha rapsódia em si bemol para Guitar Hero.
Para você que me conquistou na primeira letra do verso nada romântico que deixou o meu sangue mais medonho.
Para você que me permitiu gostar de você, em sua cama, com a minha língua em cada pedaço do seu corpo,
Autorizando um adentrar, um gozar e um abraçar.
Para você que me ofereceu a melhor orelha para morder com a precisão que por vezes ficava demais afoita.
Para você que me aqueceu com um simples olhar. Para você que me deixou amar.
lsH
Do futuro, vamos
Consequência é preciso.
Ao ouvir reprovação,
Gosto,
Pois inquietação existe.
Do fundo do poço, aposto
É preciso ter cuidado.
E quando sorrir, desculpe
Mas mostrarei meu desgosto
Só para provocar.
as bases
é lindo quando
se fortalece
e reconhece
mesmo que
sem gostar
é o que
prevalece.
Faço algo para me distrair. Espantar essa coisa coisada nos olhos. Esse líquido de sono que escorre. Esse bocejo que não me socorre. 
Faz tempo que penso em algo para me consumir. Uma ira aguda na garganta. Um tiro na narina. Um barco sem marina.
Fico um bom período sem imaginar. Mas insiste um sonho. Um furo no peito. Um espaço sem leito.
Frasco vazio está presente no momento. Um moinho sem vento. Nordeste sem sertão. Gaúcho sem chimarrão.
Fracasso é o perceber do agora. Comemoração sem vitória, sonho sem dormir, coração sem sangue, lábios sem sorrir.
Vocês vão se dar mal
Defensores do bom costume
Que não se acostumem
Com suas indecisões
Pois a nossa decisão
Vai nos levar além
Algo que já aconteceu
No pior sentido
Que levou para lá
Uma mulher que não defendia
O seu bandido de estimação
São vocês que não entendem
Que direitos humanos
Não são a mesma coisa
Que assassino e ladrão
Como é difícil compreender
Algo tão simples?
O cérebro secou?
Por que piorou?
Agora se o policial morreu
Querem o mesmo pedestal?
Sugerem que os valores inverteram
Mas foram os seus que desvalorizaram.
E hoje eu estou puta
E quero inverter junto aos outros
E engrossar o coro
Porque já nos disseram:
Feminino de luto
É luta.
lsH

quarta-feira, abril 03, 2019

A vida
Ávida
à vida
a vista
Vista
Mista
Insista
Persista
A vida.

quarta-feira, março 27, 2019

Crises

Para tudo o que eu faço, fico nervoso antes de iniciar. Não consigo mais relaxar quando acordado, somente dormindo. E tenho dormido muito. A vida desacordado tem sido a fuga mais perfeita para as crises de pânico que sinto ultimamente. Tenho sobrevivido, mas está sendo um martírio. Desculpe utilizar essa palavra gratuitamente, pois não fiz nada de tão relevante assim no alto dos meus 37 anos. 
Meu coração dispara, procuro me concentrar na minha respiração e não pirar. Não tenho conseguido totalmente nos dias atuais. Confesso que já fui muito melhor no autocontrole, hoje ele parece um lixo em decomposição. Antigamente, eu me orgulhava tanto em conseguir me manter seguro mesmo em uma situação de calamidade. Mas meu cérebro está tão derretido de tantas crises que meus neurônios só me mandam sinais negativos. É como eu não fosse eu. Estou perdendo, aos poucos, o melhor de mim, o melhor da vida, o melhor do gozar, o melhor do amor-próprio. 
Acredito muito nesse lance de energia. O meu corpo é capaz de uma auto-cura, porém, só tem sido auto-currado. Um horror. A baixa frequência na minha bateria tem atrapalhado até no simples ato de dirigir um carro. Ontem fiquei apavorado, mal consegui guardá-lo na garagem. Não quero que isso aconteça nunca mais.    

sexta-feira, março 22, 2019

Pela janela eu vou vendo. 
Os carros passam. 
Os galhos das árvores se movem. 
As crianças com suas bicicletas se divertem. 
Folhas de outono pousam sobre o para-brisa. 
O táxi que me leva daqui tem a placa com a primeira letra do seu nome. 
Melancolicamente, sorrio sozinho ao perceber isso. 
A rua está deserta, apenas carros estacionados. 
Seus donos devem estar na sala de estar, assistindo TV, curtindo a família, ou na cozinha, preparando um jantar, quem sabe acompanhados do amor, dos filhos. 
Quem sabe estejam sozinhos, tomando um bom vinho. 
Não sei o final ou o início que isso dará. 
Da minha despedida, da minha ausência, da minha derrota. Agora apenas sigo ao aeroporto...

quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Para o amor, o bastar
O exagero, o gostar
A carícia, o acordar
O café, o sorrir
A voz, sussurrar
O beijo, o selo
O abraço, o continuar
lsH