Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

domingo, setembro 25, 2016

É madrugada. Normalmente a insônia invade sem pedir licença e leva horas que poderiam ser sonhadoras. O comprimido não causa mais a sensação boa do relaxamento, só traz insatisfação pela não eficácia que não apresenta no rótulo. Tudo bem. 
O dia foi um tédio de proporções que não caberiam nesse escrito. É muito fácil reclamar, difícil é arrumar as soluções cabíveis para melhorar esse desempenho, essa tentativa de sobreviver. O doce vai perdendo o gosto até que acaba. Desgustar aos poucos necessita de muita paciência, qualidade que foi jogada no buraco negro de ilusões. E a madrugada segue acompanhada por uma dor de cabeça leve, porém, chata.
Às vezes parece que tudo vai dar certo. Mas, é só o efeito dos primeiros segundos que o tabaco causa. Dura muito pouco a sensação. Há coisas mais fortes. O experimento, por enquanto, não será necessário. Se bem que alucinações fazem parte do não concreto. Imaginar é preciso.
Nada de areia nos olhos. Nada de sonhos perdidos e sem nexo. Nada de amores fugazes. Nada de escárnio. Só há misantropia. E madrugada.
Segue pela estrada. Sozinho. As únicas companhias são as estrelas e o rádio ligado em uma estação qualquer. O locutor parece estar travando um monólogo quando anuncia a próxima canção. "A love that will never grow old". O motorista sente uma fisgada no coração. A lágrima não demora e se joga do olho. Ele relembra o amor perdido. Continua em linha reta. Perde a direção. Estaciona o carro. Acende um cigarro.
Um frio corta o lábio e ele imagina estar envolvido em braços que perdeu. Fica mais um pouco no conforto do inverno que deixou perder o coração. Não entende o por quê de certas coisas. Procura por explicações que não existem. Não compreende. Percebe que está rodando em círculos e sente os disabores do amor. Aumenta o volume do rádio e se deixa guiar pela música. Triste.
Entra no carro. Volta a dirigir. A canção acaba. Inicia outra. Mais dolorosa, mais melancólica, mais claustrofóbica. Ele sente a falta, intensa, forte, cortante como o frio que faz na estrada. O inverno nunca foi tão severo como antes. A solidão retorce a sua essência e ele não quer desafio pior do que esse. Se desconcentra e acerta um barranco. Capota.
Fica desmaiado nos instantes que ele pensa estar em sono profundo. Sonha com o caso perdido entre fumaça e uísque. A noite estava simplesmente bela. Os dois conversavam sobre o nebuloso futuro que poderia surgir. Imaginavam os planos. Traçavam as derrotas. Ficaram bêbados.
Quando ele acorda já está em um quarto branco. Aparelhos ligados e sinais que parecem guiá-lo a lugar nenhum. Uma enfermeira injeta algo em sua veia. Ele volta a encontrar os sonhos. Somente nos sonhos ele consegue ser feliz, pois é quando enxerga o seu amor.
Depois disso ele não acorda mais. Procura dormir sempre nos momentos de medo. Se agarra no sonho para viver em paz. Silêncio.
Bálsamo em abraço/Te quero exato em crise aberta/ De triste sorriso ao sangue em face.
Te cheiro navalha em madeira cortada/ De perfumado dedo sujo ao tanto/ De encanto refúgio no banheiro aberto/ O acesso é livre.
Na Constituição agora desencanto/ Um traçado torpe de linhas correstas/ Com fumaça no rosto e um beijo com gosto de sexo lendo ao puro oposto.
Perceber que aqui - só - solamente com o olho de vidro que ilumina através de várias cores, vejo que a graça está justamente nisso. Tratar de ousar está em acabar de novo o algo niilista. Nem quero pensar que o inverso do meu verso sarcástico provoque ira, não é a intenção. Na real, a vontade é de guerra, mesmo nessa era de sorrisos falsos. Amargo é ainda saber que a claustrofobia do dia cega o causar do riso desesperado. Mas a vida tem dessas coisas do paradoxo, dos paradigmas e das manias. Nem sempre se pode ser bom. Quero arrancar o coração e fazê-lo alimento para os animais. E na tranquilidade fico no esconderijo, com incenso, vela e Jorge Drexler.
Atrasar o que nunca foi começado, agora, inicia um período de vago sentimento. O pensamento está inacabado como acabo com mais um litro. A promessa foi parar, mas fiz algo. Não consegui e prossegui, até terminar. O último gole é o mais preciso e gostoso.
Deixa cá, que perceber é realmente ver a volta das características das mensagens exatamente subliminares. Se ser direto é simplista, então, desconcertar é impreciso na precisão da minha mão cega.
Me emano, mano. Saudade meu caro, o Caetano és, não me engano.
Não há busca
Em troca de algo
Nem calor, nem amor.
É de sorriso que se abre
Um agradecimento.
De fato lógico
Um rompimento
Por hora chegou.
O cataclisma de sentimento
agora vazou.
Não foi culpa dos dois:
Um outro sempre surge (depois).

sexta-feira, setembro 23, 2016

Nosso Sangrento Amor


Eu faço seu ouvido sangrar
Com as falácias profanadas
Enquanto eu tenho o fálico
Em vermelho no madrugar.
Eu posto coisas em sua mente.
Você diz que eu desvirtuo suas verdades.
E eu respondo que deve ser por isso
Que continua comigo.
Mas no fim a gente ri,
E aquilo que nos move
É o sentimento que alimenta
Mais um dia que promove.
lsH

quinta-feira, setembro 22, 2016

vago nesse caso que vasa na minha rua uma saudade castanha. é loucura, quiçá. não entenda o contrário. sobrevoo em disparates mais uns quadrados. revelo um intruso que confundo com glória, mas é de álcool que exercito outra ação. sou vegetariano de purismo. e revejo que o realejo da minha ofuscada inclusão não serve para banquete de concretismo barato.

sexta-feira, setembro 16, 2016

_abuso_


os pés descalços
no vidro
ouvido
no fundo
infinito.
calor de mão
no fogão
dedo
dentro
do umbigo.
gemido de criança
sem crença
e nos olhos
o choro
sem bença.
lsH

domingo, setembro 04, 2016

Algum exercício para tirar a mente desse marasmo. Algum tempo que valha para tirar esse relógio do estorvo. Algum fruto que sirva de melhor alimento do que a maça oferecida pela serpente. Alguma metáfora que contribua para a sobrevivência diária. Alguma canção que exploda com gratidão o meu tímpano. Algum político que além de promessas ofereça a prática. Algum conteúdo que nos encha de satisfação e nos faça caminhar o mesmo trilho. Algum problema que nos desencaminhe para o lado errado. Algum acerto que se mostre errado para provar que o correto às vezes é um grande saco incômodo. Algum soco no rosto que ajude a melhorar essa cara. Algum provérbio que seja citado erroneamente e influencie todos os estudantes retardados. Algum administrador que provoque o caos em uma grande empresa. Algum capitalismo para ressaltar que o modelo socialista não deu certo. Algum socialismo que apresente ao capitalismo como se deve seguir o momento econômico. Alguma frase confusa que faça pensar. Alguma conclusão nenhuma concluída em algo que nada se finde. Alguma classe desconexa que reverbere o ostracismo dos cânticos dos malditos. Alguma coisa que tenha de fato conteúdo. Algum beijo seu já está bom.
E aí você conhece uma pessoa. Sabe que ela peida, mija, tem excrementos, pega gripe e pode ter chulé, mas se entrega mesmo assim. Conta suas particularidades, não para de falar sobre a sua vida, quer dividir tudo ao mesmo tempo. Relaxe, melhor não entregar tudo de uma só vez. Se acontecer de novo, um outro encontro, vai se descascando aos poucos. 
Você sabe que pode se machucar ou, pior, se machucar de novo devido a outra experiência. Porém, por que não se arriscar? A vida é repleta disso e tudo vem acompanhado de peidos, de mijos, de excrementos, de gripe e até chulé. E você sabe que vale a pena.
Vocês se beijam, trocam afagos, curtem o abraço e compartilham o momento. Quase que nem no Facebook, porém, com o contato físico, o que é muito bom e salutar. Tudo está ótimo: a conversa, as carícias, o enroscar dos pelos e a saliva. A pessoa lhe deixa em casa, você sai com um sorriso imenso, lembra que quando os lábios se encostaram começou a tocar "Everybody Hurts" no rádio, acende um cigarro e repassa o episódio. Abre a porta de casa, vai ao banheiro urinar, se olha no espelho e percebe que uma linda espinha apareceu, repentinamente, no canto do lábio inferior. Aí, você pensa: porra, será que isso foi percebido? Para isso, basta recordar: ainda existe o peido, o mijo, os excrementos, a gripe e, quem sabe, até o chulé. Então, deixe estar.