Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, março 24, 2010

ANEsteSIA


Revirando esse jardim de cactus, arranco coices dos espinhos da sua mão. Pouso lento no áspero repousar de seus lençóis e recebo um açoite na jugular. Minha visão escure. Ouço um último acorde. Não identifico se era Peter Gabriel ou Genival Lacerda. De fato, estava muito confuso. Sigo revirando, mexendo, bisbilhotando. Percebo cartas não seladas, antigas memórias de carbono 14. Cuspo sensações estranhas, resquícios da noite retrasada. Tudo misturado. Tudo ao mesmo tempo agora. Titãs? Sim. Amor, quero te ver cagar.

Volto, retorno, choro. Um deles perfura meu tímpano que distraído deixa escorrer revelações. Maluquices. Doidices. Sandices. Serenata de prazer aos seus, que analisam as bases eletrônicas da contradição. Não cite O Jardim das Horas, pois estou com a Lurdez da Luz. Viro a página, como a palavra, devoro o fruto. Tenho agora em minhas unhas a sujeira da sua voz na cadência do seu samba embolado em um cigarro.

Continuo a revirar. Raízes arrancadas surgem dos cadernos de pintar. Azul claro decora a horta dos prazeres infantis. Sinto uma denúncia de pederasta, meio que lésbica, com toques heterossexuais. Sim, você está em minhas mãos, mas deixo os dedos deslizarem pela possibilidade que perco na pele mais células queimadas. Enfio no olho uma infinidade de luz que acaba refletindo uma cruz com um Jesus vestindo Lee e um sapatinho da 775. Putz grilis! Acho que agora estou voltando da anestesia.

segunda-feira, março 22, 2010

Meu cérebro pifou.
E eu acho que é pra sempre.

domingo, março 14, 2010

Dia preguiçoso. As gotas da chuva vão se matando no vidro da janela enquanto um velho companheiro me amortece via MP3. Manhã e tarde na vertical, observando um teto que nada lembra a capela Sistina. Momentos de pura contemplação me bastam e um tiro sai da estante em forma de palavras. Eu o já tinha lido, mas sempre é bom relembrar. O velho safado ainda traz ótimos momentos.
Minha identificação quase profana com os seus versos às vezes me confundem e me convidam à liberar a marginalidade presa no interior, seguir a vida sem ligar para as contas, visitar algumas pessoas e simplesmente mandarem se foder; disparar algumas balas em cabeças que se acham pensantes e desmascarar profissionais comunicacionais idiotas. Mas, infelizmente a violência fascinante não povoa a minha massa. Como escape, cuspo certas frases junto ao violão.
A forma de liberação de ódio nem sempre me relaxa ou funciona. Tento gritar - não consigo -, procuro esquecer - o que piora. Não sei muito o que fazer. Em determinadas ocasiões, se torna efêmero. O objeto problemático que causa a situação raivosa, diga-se.
Não sei ao certo o lugar em que quero chegar com essa divagação. Acho que serve para manifestar que sim, sinto raiva. Não estou falando de você, antes que indague. É sobre os outros. Enfim, vou continuar aqui com o meu dia preguiçoso, desejando que as gotas da janela que se matam fossem algumas pessoas... Velho safado, você me faz pensar besteiras.

sábado, março 13, 2010

já foram tantas

Esses dias já passaram
Tão corridos
Por perto desses segundos
Tão doloridos
Que se mataram por serem
Tão sofridos.
Já foram tantos
Que não lembro
Mais dos outros.
E você passa arrastada
Por esse corredor
Enquanto eu vejo da sala
A sua encenação de dor.
Já foram tantas
Que não lembro
Mais das outras.
Essas noites já passaram
Tão doloridas
Por mortes metafóricas
Tão corridas
Que me perco nessas horas
Tão sofrifas.
Leonardo Handa

quinta-feira, março 04, 2010

Catarro de amor

Gozo de alma
Abraço de sangue
Forte de paz
Beijo de porra.
Amor de merda
Truques de fel
Toque de pus
Ferida de luz.
Vida de urina
Cama de sêmen
Trago de fossa
Olhar de esgoto.

Bosta de fogo
Hora de choro
Fóssil de mijo
Catarro de amor.

segunda-feira, março 01, 2010

ele_e_ela

Estou cansado
Do mesmo trapo
Do mesmo tapa
Que me desloca.

Não quero
Ser mais a louca
Que esfaqueia
O seu coração.

Então ficamos
Do ponto que terminamos.
Estou aflito
Nesse conflito.

Eu também quero paz
Não vou mais deixar
A minha unha
Em sua cerne.

Cada qual agora,
Minha amada,
Seguirá o seu caminhar.

Espero conseguir,
Pois sempre imaginei
Contigo prosseguir.

Léo Handa