Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O Doce

Simplesmente deslizar os dedos pelo teclado, sem objetivo, sem razão, apenas acompanhando a música que me faz lembrar um dos sentimentos mais fortes já vividos. Mais do que o amor. O exagero percorre os olhos e alcança os tímpanos nos agudos indecifráveis da sua voz. A cada nota o coração acelera. A cada ruído o pulso desperta. Sim, estive morto em outras horas. Agora volto para reencontrar aquilo que deixei em uma caixa de sapato. Meu velho Converse é o companheiro da empreitada. Não se trata de outra memória adolescente, por mais que várias sejam boas demais para serem vividas novamente. Agora o verso é outro. A cadência do meu samba explode na pele os sentidos ordinários, os sentidos claustrofóbicos, os sentidos fodidos, os sentidos exarcebados, os sentidos de vazão. São frutos novos que aos poucos serão devorados pela alma renovada. Eu quero destrinchar com os dentes aquilo que os pedaços sentimentais proporcionaram outrora. O caos aumentará a gana niilista que sentirei no momento em que desabotoar a veia da ligação. O cabaço será arrancado com os dedos. O pulmão nunca sentirá tamanha a força. Terá que reaprender a respirar. Quero que a cabeça exploda em energia solística de acordo com as guitarras de Paranoid Android, para depois descansar em paz sobre a linha de piano da Tori Amos. A musicalidade penetrará os sete buracos. Após as lágrimas de alegria o constante plano de recriação surgirá das unhas um amarelo de fumaça causado pelo cigarro. A loucura do não entendimento terá sentido quando os olhos se fecharem. O céu brigadeiro aparecerá em outro plano metafísico que nem Galileu imaginou. O plástico em mutação codificará um natural belo e pacífico. E no surto psicótico uma beleza irá comprovar o doce que é simplesmente estar vivo.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Cavalar

Às vezes uma vontade cavalar de assassinar invade os poros mais abertos. Uma raiva percorre nas veias de sangue sujo, o qual não foi bem filtrado e seguiu pelo corpo. O cérebro entende o pútrido e lança comandos de sentimentos hostis. Os olhos reagem com um vermelho 14 que deixa a visão da vingança, da cólera e da hidrofobia mais lírica. Um martelinho de plástico de criança se tornaria a arma mais letal, de um lúgubre intenso que faz saltar do coração o pulso mais preciso de cirurgião plástico. O golpe certeiro arrebentaria o crânio, explodindo os miolos que voariam como poesias drummondianas. A cena, em slow motion, ficaria armazenada na memória RAM e entraria no TOP 10 do Youtube. Seria como uma direção caprichada de Tarantino.
Após parte da massa cinzenta se esvaindo, a admiração contemplada teria o acompanhamento de um dos melhores amigos de um homem vingativo: o Jack. O Jack Daniels. E cigarros Camel. O gosto de alcatrão e uísque na boca ampliaria o sabor do ato, da arte recém composta com vontade, um pedaço de plástico e sangue. Contudo, antes de traçar um plano brilhante para desovar o cadáver e comemorar tamanha artimanha, um recorte cerebral penetra a consciência das adversidades e lembra: não leve a vida tão a sério, afinal, você não sairá vivo dela.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Fetal


Cálice de fel
A ser bebido
Pelo amor concebido
No último dezembro

Agora é repassado
A outro caso corrompido.
Jorra do pulso
Um menino arrependido
Que deu um beijo sustenido

Em um roubar adormecido.
O olhar inocente apresenta
Uma vontade compartilhada
Quando nunca esquecida
Abraçou o desconhecido.

Engole o amargo
Do cálice final
E o ano acaba
No belo repouso
De posição fetal.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Eu quero aqui. Agora. Não abro mão dessa condição hoje imposta e aceita. Mas quero o melhor, sem sofrimento. Quero o argumento mais preciso. Desejo o ser mais condicional. Não vou tirar a vida própria. Só recriar o amor.

Não fácil, sendo.
Mentiras vem
Outras vão
E ainda creio
Nos vários ternos
De solidão.
Contudo, quem sabe,
Um dia outro
Complemento tanto
E retorno a acreditar
Naquela ilusão.
Fecho os olhos
Sonhando destinos
Em cada esquina
Em cada passo
Analiso os olhos
Compasso os calços
Imagino muitos
E confesso poucos.
Mas, um dia, quem sabe
Aos largos falsos
Um criar avulso
Encontro um tanto
Um segredo torto.

Segredo Torto (L. S. Handa)