Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, setembro 30, 2021

Agora quero sentir outra vez as ondas acertarem as minhas pernas. Quero de novo o sol fuzilando os meus olhos. Quero um sentimento dilacerando a minha alma. Quero me sentir livre no local de felicidade. Não quero lembrar das canções ruins. Não quero ler os textos de perdição. "Quero um amor com pedaço de fruta mordida".
Sinto que o retrocesso não é a ocasião.
Não procuro em nada a perfeição, já que a imperfeição sempre me chamou mais a atenção. Gosto do cheiro dos perdedores, da fumaça desgraçada que se espalha pela maresia. Adoro descer no trapiche das memórias poéticas e livres. Encontrar nos rostos dos admiradores da ilha uma verdade que volta a ser virgem devido ao lugar que emana descontração. Pessoas que antes tímidas descobrem um sopro de alegria de pura combustão. Uma liberdade não alcançada entre os fios de conexão.
Quero aquilo que nunca deveria ter saído. Visualizar o novo que ainda não foi criado. Descobrir um capricho não revelado. Desfrutar da carne não abatida. Beber um gole de novidade antes de entrar na madrugada querida. E depois de aproveitar os minutos que desvelam, quero lembrar o passado sofrido, os momentos ressuscitados e os casos contados. Tudo ao som de The Coral ou outra bandinha de som delicado.
Ele não pensou que poderia magoar tanto uma pessoa. Mas o fez. Repensou tantas coisas na confusão que é a sua cabeça doente. Tentou se levantar da cama, enxugando as lágrimas. Deu tontura. Entre o tchau e o fechar da porta, deixou em arrependimento o outro partir. Talvez nunca mais tenha tanto amor canalizado ou sentido assim.
Ele queria dizer mais, conversar, esclarecer, porém, não conseguiu se expressar. Logo ele, que mexe com as palavras, ou achava até então que mexia. Diversas ficaram entaladas na garganta e agora explodem numa dor silenciosa e dilacerante.
O amor é algo confuso, às vezes. Quando você o tem demais, os níveis de dopamina no cérebro são quase equivalentes à primeira carreira de cocaína. É uma euforia. E vira uma gangorra de sentimentos misturados. Com o tempo, alguns querem mais, outros, menos. Esses últimos, por sua vez, não mensuram que podem acabar ferindo os que são mais afoitos. Aí vem a dor, ainda mais quando acompanhada de um rompimento.
E ele nunca pensou que poderia magoar tanto, em sua vida, uma pessoa. Ele sempre era o magoado e acabou desenhando em um papel a imagem de um vilão que está prestes a viver nos próximos capítulos.

domingo, setembro 26, 2021

 Frio da Sibéria faz visita. Aflita ela grita: é setembro. Mais precisamente, final. O tempo, que não é bobo, replica: fica na tua. Toda nua ela deseja dormir, mas se veste porque não possui pelo. Elo, talvez, ela quisesse. Com o gelo, no caso. Mas a sua profissão necessita do despir. O que basta? Apenas rir. Por mais que ame o frio, ficar de cinta-liga no semáforo com o vento calejando a Zona Sul não lhe agrada. Por isso, ela grita: é setembro!

entranhas estranhas

 Ela não acreditou quando lhe mostraram o mundo refletido em olhos de elefantes. Não desejou nenhum bem, mas não deu vazão ao mal. Apenas sorriu um favor pela realidade. Justificou em estrelas cadentes, que acabavam de morrer, seu pouco amor. Caiu do alto do andar que enroscava distraído em um céu de mármore ardido. Pensou estar sonhando com deuses mitológicos em uma banheira de cristais. Pavimentou o caminho com pequenas gotas de chocolate e se entregou nua ao destino traçado por uma caneta Bic vermelha. Abriu a rosa de metal líquido que logo escorreu entre as entranhas estranhas. Fechou a boca para que a borboleta atômica não adentrasse o seu canal mais sincero. Congelou em sentimentos agrupados por besouros azuis que queriam denunciar a carnificina. Se viu magoada em um cálice de pólvora que explodiu alegrias adjacentes. Queria um pouco mais de tempo para continuar a sina do viver. Mas ela não sabia do sentimento, um ferro gravado em seu crânio de isopor. Tentou outras alternativas, como roubar um coração de pedra de algum cavaleiro medieval.

sábado, setembro 25, 2021

Trato ao contrário/ Para fingir o certo que omito
E destranco em sorrisos ensaiados que fojem
Dos meus lábios.
É cediço, mas ignoro/
Frêmito a negação/ Em meu coração
Mesmo batendo oco um desejo verdadeiro.
Grimpo por delgados deletérios/
E faço de suas páginas dobraduras que perduram
Em minha memória salutar.
Não é salobro o meu sentimento/
Prefiro não deixar por aí, espalhado em ares
Que não posso respirar.

 Culpa dos dizeres ingratos que fizeram você me ver, tragando tabaco perfumado com o cansaço da dor. Eu não sei o sofrimento que te traduziu simples. Nem lembro da causa amplificada em ódio repassado com urgência.

SÓ FUI PERCEBER A FALÊNCIA
QUANDO AS PÁLPEBRAS SE FECHARAM.
Tristemente alegre o seu silêncio me calou
Da traição surgiu o amor que aos poucos evaporou.
NADA FEZ A LEMBRANÇA SUPERAR AS HORAS QUE AFOGUEI
EM COPOS DE GIM COM GUARANÁ
ACOMPANHADO DO MEU DISCO PREDILETO.
Se a outra te faz mais bem, quem sou o eu que irá discordar?
Siga o natural que foi criado. A OPÇÃO FOI FEITA PARA ESCOLHER, assim mesma, simples de se explicar EM UMA CANÇÃO DOCE DE MATAR.

Despedaçando a tristeza em acordes dissonantes para aumentar a dose amplificada da dor. Assassina mais uma garrafa de vodca, enquanto relembra memórias de afeto. Era um garoto tão contente, escapando simpatia pelos alinhados dentes. Mas eis que chegou a confusão desandada fora do equilíbrio. Um estranho sentimento que foi ganhando corda, despertando desejos e destilando vontades.

Os chegados ficaram desconfiados, mas o aceito veio pelos lábios dos mesmos. O comportamento opcional contornou feliz em um abraço de aprovação. Toda a alegria do início parecia eterna nas frases levantadas em mastros de caneta tinteiro. O amor, enfim, chegou. E foi embora rápido pela freeway dos desavisados.
Não demorou e a lágrima fugiu do olho e se suicidou em queda livre. Retornou à tristeza sem saber o local em que ela saiu. O vento desgostoso bateu no rosto traçado por feições amarguradas. Ele pensou em desistir, porém, o contrário mostrou o lado certo e ele se libertou. Bêbado.
É madrugada. Normalmente a insônia invade sem pedir licença e leva horas que poderiam ser sonhadoras. O comprimido não causa mais a sensação boa do relaxamento, só traz insatisfação pela não eficácia que não apresenta no rótulo. Tudo bem.
O dia foi um tédio de proporções que não caberiam nesse escrito. É muito fácil reclamar, difícil é arrumar as soluções cabíveis para melhorar esse desempenho, essa tentativa de sobreviver. O doce vai perdendo o gosto até que acaba. Desgustar aos poucos necessita de muita paciência, qualidade que foi jogada no buraco negro de ilusões. E a madrugada segue acompanhada por uma dor de cabeça leve, porém, chata.
Às vezes parece que tudo vai dar certo. Mas, é só o efeito dos primeiros segundos que o tabaco causa. Dura muito pouco a sensação. Há coisas mais fortes. O experimento, por enquanto, não será necessário. Se bem que alucinações fazem parte do não concreto. Imaginar é preciso.
Nada de areia nos olhos. Nada de sonhos perdidos e sem nexo. Nada de amores fugazes. Nada de escárnio. Só há misantropia. E madrugada.
Segue pela estrada. Sozinho. As únicas companhias são as estrelas e o rádio ligado em uma estação qualquer. O locutor parece estar travando um monólogo quando anuncia a próxima canção. "A love that will never grow old". O motorista sente uma fisgada no coração. A lágrima não demora e se joga do olho. Ele relembra o amor perdido. Continua em linha reta. Perde a direção. Estaciona o carro. Acende um cigarro.
Um frio corta o lábio e ele imagina estar envolvido em braços que perdeu. Fica mais um pouco no conforto do inverno que deixou perder o coração. Não entende o por quê de certas coisas. Procura por explicações que não existem. Não compreende. Percebe que está rodando em círculos e sente os disabores do amor. Aumenta o volume do rádio e se deixa guiar pela música. Triste.
Entra no carro. Volta a dirigir. A canção acaba. Inicia outra. Mais dolorosa, mais melancólica, mais claustrofóbica. Ele sente a falta, intensa, forte, cortante como o frio que faz na estrada. O inverno nunca foi tão severo como antes. A solidão retorce a sua essência e ele não quer desafio pior do que esse. Se desconcentra e acerta um barranco. Capota.
Fica desmaiado nos instantes que ele pensa estar em sono profundo. Sonha com o caso perdido entre fumaça e uísque. A noite estava simplesmente bela. Os dois conversavam sobre o nebuloso futuro que poderia surgir. Imaginavam os planos. Traçavam as derrotas. Ficaram bêbados.
Quando ele acorda já está em um quarto branco. Aparelhos ligados e sinais que parecem guiá-lo a lugar nenhum. Uma enfermeira injeta algo em sua veia. Ele volta a encontrar os sonhos. Somente nos sonhos ele consegue ser feliz, pois é quando enxerga o seu amor.
Depois disso ele não acorda mais. Procura dormir sempre nos momentos de medo. Se agarra no sonho para viver em paz. Silêncio.
Bálsamo em abraço/Te quero exato em crise aberta/ De triste sorriso ao sangue em face.
Te cheiro navalha em madeira cortada/ De perfumado dedo sujo ao tanto/ De encanto refúgio no banheiro aberto/ O acesso é livre.
Na Constituição agora desencanto/ Um traçado torpe de linhas correstas/ Com fumaça no rosto e um beijo com gosto de sexo lendo ao puro oposto.
Perceber que aqui - só - solamente com o olho de vidro que ilumina através de várias cores, vejo que a graça está justamente nisso. Tratar de ousar está em acabar de novo o algo niilista. Nem quero pensar que o inverso do meu verso sarcástico provoque ira, não é a intenção. Na real, a vontade é de guerra, mesmo nessa era de sorrisos falsos. Amargo é ainda saber que a claustrofobia do dia cega o causar do riso desesperado. Mas a vida tem dessas coisas do paradoxo, dos paradigmas e das manias. Nem sempre se pode ser bom. Quero arrancar o coração e fazê-lo alimento para os animais. E na tranquilidade fico no esconderijo, com incenso, vela e Jorge Drexler.
Atrasar o que nunca foi começado, agora, inicia um período de vago sentimento. O pensamento está inacabado como acabo com mais um litro. A promessa foi parar, mas fiz algo. Não consegui e prossegui, até terminar. O último gole é o mais preciso e gostoso.
Deixa cá, que perceber é realmente ver a volta das características das mensagens exatamente subliminares. Se ser direto é simplista, então, desconcertar é impreciso na precisão da minha mão cega.
Me emano, mano. Saudade meu caro, o Caetano és, não me engano.
Não há busca
Em troca de algo
Nem calor, nem amor.
É de sorriso que se abre
Um agradecimento.
De fato lógico
Um rompimento
Por hora chegou.
O cataclisma de sentimento
agora vazou.
Não foi culpa dos dois:
Um outro sempre surge (depois).
Atmosférico. Viagem sinistra pelo pensamento audacioso. Remorso inconstante em ação. O teto gira como catavento, mas nada pega, nem relento. Os olhos vidrados trincam no claro. Truques do destino, faro-fino do saber. Entendimento nulo, obtuso retrato de deglutir. Exercício de saber, sem contas a fazer. Poesia riscada, letra quebrada, canção dilacerada. Frase rabiscada da cintura para cima. Frescura de sentir, dor de agoniar. Amor em vão, alegria em grão. Tropeço do acaso, caso do sossego. Leituras apagadas, sentimentos invertebrados. Páginas estupradas, canetas abertas. Vaginas lagrimosas, pênis com rinite. Atmosférico. Hiberbólico sonido de substância lícita, na leitosa vulva que oferece carinho. Pus de felicidade brotando dos lábios, que doloridos sorriem torto. Mas morto um desejo FRANCO, mesmo não conhecendo o significar. Do contrário, honraria o batizado. Atmosférico. Periférica entrada conhecida. Fálico gostar de satisfação. Faça-se honesto, pelo menos no agora. Embora outrora a aurora, flora de sangrar lá fora. Atmosférico. Fake de Coca-Cola com sabor de Pepsi, colorido artificialmente com Suvinil. Falsificação de M.Officer em boutique luxuosa nos Jardins. Atmosférico. Fere até viver.

ÁGATHA

Uma bala perdida
Encontra o corpo aquém
Que além tinha sonhos
E agora deixa a saudade
Na alma de alguém.
Deixa a marca triste
Da infinita lágrima
Que vai em riste
Cortar os olhos
De pura lástima.
Vai permanecer em vida
Na eterna lembrança
De uma criança
Que transpirava alegre
Alguma esperança.
Vai seguir em conflito
Num grito incontrolável
Que pedirá o fim
Da mazela ridícula
Que é apresentável.

sábado, setembro 18, 2021

Aguenta minhas bobagens, minhas asneiras, minhas tolices. Além, suporta os meus dedos, a minha boca e o roçar dos meus lábios. Empresta-me para filtrar a minha voz estriquinada, tratorizante e verbolatente. É desenhada exatamente à face. Nem mais, nem menos. A cantada breguíssima, como o profanador, foi sincera. Curti o riso, compartilhei o humor.
Tem um algo a mais. Possui a característica certa. Arrepia-se. Não sei do que, não sei de que, não sei por quê. De desgraça, talvez. De aguentar. Enxergo errado. Sou míope. Meio surdo, também.
A melhor orelha.
Às vezes precisamos de doses de loucura,
De noites insones,
De silêncio em meio a tanta porcaria que nos invade os olhos e ouvidos.
É preciso sentir essa maluquice
Que bebemos e arrotamos em vida,
Porque nada levamos, a não ser cada impressão digital na pele,
Cada história compartilhada,
Cada beijo alucinadamente dado.
É necessário saber se ouvir,
Mesmo com tanto remédio controlado na mente.
É obrigatório saber amar desenfreadamente,
Sem dosar as consequências,
Mergulhando de piruetas em pedras que nem sabemos se estão fundas.
É preciso sentimento real e muita coragem para estufar o peito e dizer tranquilamente: eu te amo.
Às vezes não é preciso nem dizer com palavras,
Apenas transmitir em gestos simples,
Leves,
Carinhosos,
Generosos e deliciosos.
Não é afoito sentir vergonha.
É lindo quando se pode encontrar alguém
E olhar nos olhos
E repassar docemente o sentimento através da pupila,
Da íris,
Das pálpebras,
Do piscar,
Do brilhar.
E, para tanto, é sim necessária
Uma boa dose de loucura,
Pois a normalidade é careta
E vizinha amiga da idiotice
De não saber aproveitar o momento.

quarta-feira, setembro 15, 2021

_abuso_

os pés descalços
no vidro
ouvido
no fundo
infinito.
calor de mão
no fogão
dedo
dentro
do umbigo.
gemido de criança
sem crença
e nos olhos
o choro
sem bença.  

Millôr Fernardes, colabore

Deixe-o expressar o ódio
Mesmo que em entrelinhas
Nessas linhas vorazes
Que faz ferver os olhares.
Deixe que uns tiros
Tirem a vida alheia
De um cidadão de bem
Que passeava no sábado.
Millôr Fernandes, eles tinham razão
O que fazem de melhor é por opção.
Deixe que a boa pessoa
Prossiga a sua ira
Enquanto isso mais uma família
Vai velando alguém para o além.
Deixe que a vida
Aponte o que perderemos
Pois daqui para o futuro
Será lembrado o que sofremos.
Millôr Fernandes, você sempre avisou a prole
"Certas coisas só são amargas se a gente as engole".