Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

domingo, fevereiro 25, 2018

Maria encarnada neste corpo. Todo sábado é dia de mandar as mariposas embora. Confesso, sem vergonha alguma, não sei cozinhar. Para recompensar, limpo um banheiro perfeitamente, de dar gosto ao Bombril. O som que acompanha essa sabatina é The Cure. Já gritei passando pano que meninos não choram, que na sexta-feira fico apaixonado e que às voltas naquele carrossel, eu beijei teu rosto e tua testa. Robert me dá razão enquanto dou um tempinho na limpeza e fico aqui escrevendo essas bobagens. Bom, vamos então para a lavanderia que a roupa branca me espera para um romance nada ideal.
Da carreira o alívio após. O sol, pela janela, acertava a retina enquanto o ato se fazia de fato. Os pássaros pareciam sem graça, talvez desdenhando o clima. Ele nem se incomodou. Queria aquilo. Desejava. Bufava de alegria depois de anos de auto-controle, se permitindo ser orgulho. Não teve receio algum, só quis se jogar, como se fosse de um ineditismo primitivo, daqueles que despertam uma explosão no tímpano, como um primeiro beijo, como um nervoso na hora do gozo, como uma leoa estraçalhando uma zebra. 
Ardeu um pouco, o tempo permitiu o sarar. O sangue se tornou suco e a respiração era calma, mesmo com a adrenalina liberada. Ele estava velho, aspirava pela carreira. Degustou de cada segundo. Comemorou lindamente, afinal, tinha conseguido o tão sonhado emprego que, apesar de aposentado, almejava.
eu também tenho medo
e a entrega causa
eu também tenho passado
mas não quero pausa
eu também acho cedo
e não me furto
pois
eu também sou um roubo
e respiro sem surto.
eu também sou azedo
e mergulho intenso
eu também sou escuro
e tenho um bater extenso.