Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Hideo

Uma lágrima explode no chão ao cair de um metro e setenta e cinco. Os olhos vermelhos denunciam uma noite de aflição. Não há como negar, a dor pode interromper imediatamente um coração.
O dia cinza até que ficou perfeito, maquiou com precisão a paisagem bucólica da despedida. Nunca foi tão difícil um adeus. Um ser agora repousa, espero que em braços orientais encontrados em um navio de partidas que gerou muitas famílias. Há vários anos. A terra do sol nascente não apresentava esperança, a despedida era o melhor. Ficou a saudade. Agora fica mais, impregnada na lembrança de um ente que foi o primeiro neto de vários vindos. De vários queridos.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Aos antigos

Houve uma época em que eu acreditava na amizade eterna, como as canções do Milton Nascimento da década de 1970. Mas nunca é fácil deparar com uma realidade que muda em uma freqüência alucinante.
As emoções são mutantes.
Quem sabe, em um futuro próspero, as coisas se aproximem. Nada será como antes, eu sei. Só espero que seja apenas dois porcento do que já foi.
Muitos pensamentos percorreram ao rever o primeiro episódio da minissérie da Rede Globo, "Queridos Amigos". Com o texto sagaz e esperto de Maria Adelaide Amaral, o entretenimento pode causar arrepios nos mais sentimentais, nos mais saudosistas. Claro que me encontro nesse grupo, aqueles que reverenciam o passado e o lembram em formas de histórias com finais felizes e infelizes.
A abertura do drama mencionado conta com uma canção do Milton, que, por coincidência, se chama "Nada Será Como Antes". Perfeita. Composta na melhor década da safra mpbística, a música está no álbum Clube da Esquina.
Eu já estou com o pé na estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
E eu que sempre tive o pé no futuro, hoje analiso melhor os fatos passados, os acontecidos, as direções tomadas. Tudo passou, mas ficou a saudade. Restou ainda o gosto de cerveja na boca, o tabaco entre as unhas, a lembrança de domingos em reunião com música, roda, conversa, cinema, internet e besteiras inteligentes. Análise de vidas inconseqüentes que tinham razão para tal. Poesia em série composta com frases de efeito que perfuravam o coração mais aflito. Mas tudo passava quando havia uma confraternização. Não precisava ter motivo, apenas acontecia. Era noite, era dia. "Giro aflito, beijo e grito". Não lembro de ter encontrado substitutos à altura, só recordo ter passado entre pessoas que possuem um charme. "Sei que nada será como antes".
Tudo retornou à mente só por causa de um episódio de uma minissérie de um canal que criticam como manipulador. Se a intenção, digamos, fosse manipular as boas lembranças, o passado vivido e também aproveitado em certos momentos, então, confesso, eu me entrego a essa manipulação. Maldito Milton Nascimento, eu te amo.

terça-feira, fevereiro 19, 2008


quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Faz o teu epitáfio, pra que através de ti a morte morra de rir desses que vivem aqui.
Venham também assistir a esse espetáculo, e que a minha lápide lhes sirva de oráculo.

E depois acabou-se a língua humana.
O que sobrar, a peste arrebanha.
A cova é o lugar onde o homem trabalha,
E a morte é o salário que ele ganha.

O homem já não existe,
Nem existe nada igual.
Você que está lendo isto
Só pode ser um animal.

S.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Um retorno ao passado - parte I


Em 1995, o Paralamas do Sucesso lançou o disco ao vivo Vamo Batê Lata. O título veio de uma faixa do álbum anterior, Severino, um tanto quanto subestimado na época em que foi lançado, mesmo contendo pérolas do pop brasileiro como Cagaço e Músico (composta com o onomatopéico Tom Zé).

Vamo Batê Lata - o álbum, duplo, por sinal - foi um sucesso em vendas e levantou a carreira da banda de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Naquela época, o rock tupiniquim passava por um período de baixa, já que o ritmo ditante de modas era o sertanejo que explodia em duplas vindas de todas as partes do país.

Divido em dois CD's, além do registro ao vivo, o segundo disco vinha com quatro faixas inéditas: Uma Brasileira, Saber Amar, Luiz Inácio (300 Picaretas) e Esta Tarde. A primeira foi um arrasa quarteirão nas rádios, tendo a participação nos vocais de Djavan e composição de Herbert Vianna e Carlinhos Brown que, naquele tempo, era um aspirante a hit-maker. Já Luiz Inácio (300 Picaretas) nos remete a imagem de um metalúrgico-líder-sindical que acabou se tornando presidente de uma nação colonizada por portugueses.

O disco fez parte de uma época bacana da minha vida. Ele me lembra muito a praia, mais precisamente, Coroados, próximo à Guaratuba. Recordo que caminhava pela areia, logo nas primeiras horas da manhã (antigamente eu acordava cedo) ouvindo em um antigo walk-man (leia-se fita K7) as canções de Herbert Vianna. Eu sempre ia longe ao som do solo de guitarra de Laterna dos Afogados. A música, inclusive, foi trilha sonora de muitos romances. Não diferente comigo. A paixão era legal naquele tempo. Depois virou distância, cartas e esquecimento. Hoje é puro saudosismo de uma adolescência bem vivida.

Outra faixa que ainda desperta lembranças é Trac Trac, composta pelo argentino Fito Paez e que ganhou releitura do vocalista do Paralamas do Sucesso. O tema é repleto de imagens, mas que, com certeza, difere de pessoas para pessoas. O refrão tem um significado de conquista de verão, ao menos para mim. "Dá-me tu amor, solo tu amor", canta Herbert com vocal de Fito.

Difícil imaginar algumas recordações litorâneas sem a presença de Vamo Batê Lata. O sol nascendo, as gaivotas pousando na areia, a brisa matinal no rosto e os luais nas costas paranaenses. Foi um "romance ideal".
Leonardo Handa - Verão de 2001.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

"Seu maior sonho vai se realizar". Dizia a sorte do dia. Mas quando e que sonho? Foi então que ela percebeu: - Não tenho sonhos. A moça não tinha metas, não almejava planos, não criava expectativas. Ela vivia de parábolas e de metáforas, porém, nunca com perspectivas futuras. Já tinha jogado no bicho, na Lotomania e comprado uma Telesena, mas nunca pensava no futuro. Só percebeu que faltava audácia no viver no momento em que leu: "Seu maior sonho vai se realizar". Ela que nem tinha sonhos, quanto mais um "maior". Rascunhos as suas vontades em um papel, percorreu as suas memórias e lembrou de um antigo pedido realiza na infância. "Quero ser cantora de cabaré". Quase conseguiu. Hoje tem emprego em uma zona onde dupla velhos sucessos da Cher.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Prefácio

Acredita no destino
Das insanas impurezas
Que o tempo apresentará
A beleza da tristeza.

Não se culpe pelo acontecido
O temido ainda há de ocorrer
Agora que percorre pelo sangue
O assassino de poetas.

Um escuro ver estará
No primeiro momento de apagar
As iniciais depressões
Desse outro viver.

Um laço ficará representando
Sempre a lembrança do fato,
Mas é uma vez por ano
Não é mais prefácio.

Leonardo Handa

PS: O bacana de ler um escrito é fazer as suas próprias interpretações, livres de opiniões de terceiros. Mas às vezes é interessante observar apontamentos de outros, nem que sejam do autor, sobre determinado texto.
Existem algumas letras - no caso, estou falando de música - que possuem tamanha simplicidade na estrutura textual que de fato escondem o real sentido. Um exemplo são as composições do Los Hermanos. Na canção "Do Sétimo Andar", do álbum Ventura, Rodrigo Amarante traça a angustiante observação de uma mãe que vê o seu filho virar um mendigo. As informações não estão implícitas, mas estão lá. Basta um pouquinho de observação que se percebe. "Prefácio" segue no mesmo estilo, porém, o assunto é a Aids.