Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, dezembro 12, 2018

Relato

Manter a calma não tem sido algo fácil. Eu viajo numa mente que às vezes tenho certeza de que não é a minha. Tudo fica confuso e um sentimento de não pertencimento me estraga muitas horas do dia. Resta uma única constatação: sou doente. 
Quando se trata dessas coisas do psíquico, fica extremamente complicado das outras pessoas entenderem. Elas podem até te ajudar como acham melhor, mas nem sempre acertam. Outras vezes, pensando no seu melhor, causam erros. Ao invés de você relaxar, fica mais transtornado e procura disfarçar. O disfarce é a pior coisa. E eu estou próximo de cair. São tantos anos nessa situação, tantos remédios, tantas terapias, tantas meditações, tantas drogas, tantos cigarros, tudo um tanto, um tanto de tudo. Já fui de Jesus ao amor, do álcool ao ansiolítico. Nada foi certeiro. Não queria soar como um pessimista, nem era essa a intenção, porém, soou. 
Tenho respirado de todas as formas, sentindo o coração acelerar e desacelerar. O coração, aliás, por vezes sinto fraco, por vezes sinto forte, por vezes sinto vivo, por vezes sinto morto. Já entendeu do que estou falando? 
O meu sonho é aproveitar a vida como ela deve ser curtida. Eu tenho uma teoria exemplar em minha cabeça, mas a prática é um lixo. Desenho imagens belas, bonitezas situações onde eu sou feliz. Contudo, não estou sendo no plano físico, nem no mental. É tão ruim. O pior é se firmar um derrotado, traído pela própria cabeça, sem ao menos conseguir controlá-la no momento em que é preciso. E ela me desafora justamente nos períodos em que sou convidado para ser feliz. Afinal, a felicidade não existe, o que existem são os momentos felizes. Odair José, lhe amo por isso.
Nesse momento, repenso em tudo o que eu gostaria de dar um tempo. Porém, eu magoaria as pessoas. É nessa hora em que reflito: - não está na hora de ser um pouco egoísta? De certa maneira, eu já sou, todavia não é certo eu me entregar de vez e ver no que vai dar? Confesso que é justamente isso que quero agora: dar um tempo de tudo. Esse é o meu relato. 

sexta-feira, novembro 02, 2018

Finada
Uma canção de beijos desesperados rola no iPod. Meia luz no apartamento. Ela, deitada no sofá, olha a foto mais feliz: lábios em contato acompanhando a canção. A água ameaça pingar da torneira da cozinha, mas o que desliza é a mão pelo rosto. O cantor da música dá razão aos sentimentos da moça. O tom aumenta e um falsete desesperado rasga o seu tímpano sofrido. O olho não segura e permite um deslize.
A lágrima encontra a almofada, que está molhada desde o verão passado. A sequência de acordes termina e ela volta ao zero, coloca no repeat e se deixa envolver pela atmosfera subversivamente caótica da canção.
Levanta-se como quem quisesse se deitar novamente, lança um olhar de desprezo para a foto e grita ao primeiro corte. A canção está tocando pela terceira vez. Os joelhos encontram o chão e uma surdez mórbida a invade por alguns segundos.
Ela sente deliciosamente o que pensou ser uma lâmina. O objeto fica encaixado enquanto o fluído ameaça escorrer. Desliza. Lisa. Desfaz. Delícia.
Deita-se no tapete felpudo e se deixa atingir por mais um golpe. Dessa vez não resiste e se agarra no vazio sentir do momento. E o iPod para de funcionar.
lsH
O casal
Na calmaria das coisas um caos manifestado. Difícil relatar os acontecimentos, queria relaxar em nosso apartamento e comentar os fatos do dia-a-dia. Colocar Tori Amos na vitrola e divagar o afeto. Mas sempre vem o contrário, as contas a pagar, o carro para lavar, o cachorro para alimentar, a poeira dos móveis para tirar, a louça para guardar, o guarda-roupa para arrumar. Está ficando difícil. Quando foi a última vez em que fomos ao cinema? Aquele do Woody Allen ainda era um lançamento. Quando foi a última vez em que abrimos uma boa garrafa de uísque? Aquela que compramos já está completando 12 anos. Acho que agora é a hora.
Não era isso que eu imaginava. Na adolescência, eu pensava que conforme fossemos crescendo os tempos seriam mais proveitosos. Estão sendo criminosos. Crime por não aproveitarmos o salário para gastar com cerveja, crime por não podermos gozar a rotina: crime de falta de tempo. Eu queria ser um outro tipo de criminoso, um hiperbólico das vontades prazerosas, da leitura de Bukowski aos solos de Miles Davis, dos goles à beira-mar ao caminhar noturno em Caiobá. Aliás, aquele verão ainda estamos deixando para mais tarde, como aquela canção do Amarante. Hora de mudar. E depois de tudo, descansar em paz, sem aquela culpa de que poderíamos ter visitado a família, ter ligado para os amigos. Sem ressentimentos, sem argumentos, sem explicação. Simplesmente fechar os olhos e dormir, de preferência, acompanhados de Manu Chao, Jarvis Cocker e Lauryn Hill, a sua preferida.
Agora estamos aqui, definindo quem vai ao banco amanhã, quem comprará o gás, quem pagará a luz, quem procurará veterinário para o totó, quem mandará instalar a internet, quem levantará cedo para atender o cara que vai arrumar a geladeira e quem buscará a roupa na lavanderia. Que coisa. Quero uma vidinha um pouco mais ordinária... Como aquela canção do Neil Young.
lsH
Estamos sendo vigiados. Estão conseguindo fazer uma ditadura maquiada. Os esquerdistas serão expostos contra muros de fuzilamentos. O Partido dos Trabalhadores foi dizimado e não vai se recuperar. Os outros sofrerão com o poder dos homens. Os Policiais Militares não vão aceitar críticas, sobretudo de artistas, e vão adentrar teatros como era antigamente. Um filme como Tropa de Elite nunca chegará aos cinemas nacionais. Aliás, o último com crítica política será Aquarius. Os demais projetos serão engavetados.
Quando chegamos em um momento em que a "maior instituição" deste país relacionada às lutas sociais, que eram os estudantes, renega o protesto, é porque se perdeu a luta e será preciso repensar a briga por direitos. E se você não está preocupado com os próximos 20 anos e somente com o hoje, saiba que de repente o seu agora é dizimado com pólvora diante de seus olhos neste momento.
Não se esqueça, estamos sendo vigiados.

domingo, setembro 23, 2018

Indireta

Quando o sentimento explode, ocorre tudo. Sangue na parede, frases em catarse, hiperbólicas canastrices, dramas cavalares e falsidades não ensaiadas. Pode acontecer um teatro que chamam de ridículo ou incertezas em falas vagas. Mas é preciso ouvir sempre os dois lados. 
Também há o universo umbigo, a centralidade da razão que nem certa é possível e tudo aquilo que se completa em achismos. Existe sim a falação de merda, mas até dela se extrai conteúdos. E é isso.
lsH

Nosso Sangrento Amor


Eu faço seu ouvido sangrar
Com as falácias profanadas
Enquanto eu tenho o fálico
Em vermelho no madrugar.
Eu posto coisas em sua mente.
Você diz que eu desvirtuo suas verdades.
E eu respondo que deve ser por isso
Que continua comigo.
Mas no fim a gente ri,
E aquilo que nos move
É o sentimento que alimenta
Mais um dia que promove.
lsH

terça-feira, setembro 18, 2018

Às vezes precisamos de doses de loucura, de noites insones, de silêncio em meio a tanta porcaria que nos invade os olhos e ouvidos. É preciso sentir essa maluquice que bebemos e arrotamos em vida, porque nada levamos a não ser cada impressão digital na pele, cada história compartilhada, cada beijo alucinadamente dado. É necessário saber se ouvir, mesmo com tanto remédio controlado na mente. 
É obrigatório saber amar desenfreadamente, sem dosar as consequências, mergulhando de piruetas em pedras que nem sabemos se de fato são duras. É preciso sentimento real e muita coragem para estufar o peito e dizer tranquilamente: eu te amo. Às vezes não é preciso nem dizer com palavras, apenas transmitir em gestos simples, leves, carinhosos, generosos e deliciosos.
Não é afoito sentir vergonha. É lindo quando se pode encontrar alguém e olhar nos olhos e repassar docemente o sentimento através da pupila, da íris, das pálpebras, do piscar, do brilhar. E, para tanto, é sim necessário uma boa dose de loucura, pois a normalidade é careta e vizinha amiga da idiotice de não saber aproveitar o momento.
Aguenta minhas bobagens, minhas asneiras, minhas tolices. Além, suporta os meus dedos, a minha boca e o roçar dos meus lábios. Empresta-me para filtrar a minha voz estriquinada, tratorizante e verbolatente. É desenhada exatamente à face. Nem mais, nem menos. A cantada breguíssima, como o profanador, foi sincera. Curti o riso, compartilhei o humor.
Tem um algo a mais. Possui a característica certa. Arrepia-se. Não sei do que, não sei de que, não sei por quê. De desgraça, talvez. De aguentar. Enxergo errado. Sou míope. Meio surdo, também.
A melhor orelha.
Meu escárnio escarrado
Na carne cortada
Que jorra sangue
De álcool acumulado.
O porco ali jogado
É pútrido e carente
De uma mente alucinada
De uma época passada.
Agora o bicho é outro
E o processo necessário
Pois eu quero novo gozo
Sem memória maltrata.

sábado, setembro 08, 2018

Respirar

A mente quer
E o corpo não
Os poros pedem
E os olhos murcham.
Os pelos caem
E a testa arde
A tontura é explícita
E a arte em vão.
O pulso rompe
E o grito surge
O lobo rosna
E a cabeça surta
O remédio é hóstia
E o real é réstia
A rua convida
E o coração detesta
A respiração apita
E a pele arrebenta.
A pressão muda
E os passos calam
O cigarro amedronta
E o pânico vem.
Eu busco a fuga
E saída não tem.
lsh.

sábado, agosto 04, 2018

Longe, bem longe.
Estado separado.
Sinto tremendo,
Afeto meu, desespero.
Inseguro ar puro
Apurado em feto
Amputado nunca.
Queria o jeito
Daquele falado.
Bem estreito
Adentro íntimo.
Tem que ser
Com significado
Com signo
Com significância.
Sem vingança
Sem cretino
Sem certificado.
Tem que ser
No ser tendo
A serenidade obtendo.
lsH

Laputa


Emprega em minha prega
O seu lamento diário.
Fraco argumento para despregá-la
Mesmo sendo eu
Uma puta sem documento.
O meu amor está em guerra
E o seu olho me fere em fera
A sua guitarra me distorce
Mas tenho o ouvido ferido.
Reclama afoito o coito
Não deixando mais do que um troco.
Desconversa em público verso
Para depois jogar o inverso
Que não entendo anexo.
O seu amor não é pagável
Inviável sentimento apresentado
Sentado me quer nua
Naquela nuance absurda e muda.
lsH
Uma linda canção arrastada transformou o seu holograma em matéria, em tátil, em massa. Ainda com os olhos fechados eu procurava enxergar com as mãos, somente para descobrir cada intimidade da sua pele. A música chegou ao final. Aquela mesma e manjada nota derradeira fez tanto sentido na profundida castanha dos seus cabelos que, de fato, não vi. Após abertos, percebi como o tempo e o destino revelaram tardiamente a sua presença, "que entrou pelos sete buracos da minha cabeça", como cantou Caetano. Afinal, o baiano é a nossa satisfação sonora dividida e contemplada. Mesmo assim, me pergunto: - Por que só agora? Tínhamos de ter tido outra oportunidade. Se fosse um ano antes, o diferente se faria presente, as angústias seriam açúcar, os dizeres, coloridos, e os beijos, não clandestinos. Mas, como "os infernos são os outros", basta continuar com os olhos fechados.
Meia-luz, meia taça, meio vinho, meio assim. Meio abraço. Metades. Sejamos. O meu grito foi de fúria. Fúria de viver. Fúria de gostar. Fúria de azar. Fúria de natureza. Fúria de final. Fúria de fazer. O seu foi de desespero, de lamento, de tristeza, de pesar. Juntemos, então, cada qual em uma outra canção com apenas três notas dedilhadas que imprimiu o sentir das coisas ali expostas. Uma delicadeza noturna que os amantes da razão entendem com perfeccionismo salutar. Eu queria ter citado outro poema, mas esqueci os versos. De toda a forma, imprimiu na boca a sede metafórica das delícias sobrescritas em meu peito. Se todos os dias fossem assim, eu seria o rei de mim. Portanto, sigamos. O caminho aberto das possíveis adjacências, os textos intermináveis sobre o fel, o mel, o céu. A cicatriz descoberta e marcada em um Dia de Independência da nossa nobre nação. A dobra revelada quando caído o pano apresentou. Um sono em seu ombro, agora, continuou no meu sonho. Prometo sempre estar em sua confusão, mesmo que seja a última, a vice-campeã, a prata, o bronze e o amálgama.
lsH
um sono bipolar. seja lá o que isso queira dizer. não venha. o quê? não tenho opção. como assim? não quero mais sonhar, continuar, prolongar. não sei do que você está falando. nem queira, não faça, nem peça. mas o que há? não há, exatamente isso. todos temos problemas, eu sei, existe contorno. não! só em traços da faber castell, não quero iniciar mais uma palestra a respeito dos sentimentos. sem dúvida, nem quero ouvir. então trate de fazer como aquele pintor e corte as suas orelhas. como? chega! mas qual o motivo? que seja qualquer um, já tenho tantos que nem mais quero lembrá-los. muito complicado, viu? então não veja, fure os seus olhos com pregos enferrujados, contraia tétano, fique estrábico, rasgue a retina. nunca te percebi assim, nunca te senti tão frio. então não sinta, perca o tato, retire as digitais, queime as mãos. prefiro, agora, não ter provado o gosto. ótimo! aproveite e pegue o seu cheiro e o arremesse para bem longe daqui junto as coisas que doei, que gastei, que sofri. antes não tivesse sido. exatamente, que nem tivesse, pois nem de você estou falando. não entendo? então, eu já disse, nem queira. mas eu quero! por favor, não tente, coloque os seus cinco sentidos nessa sacola do Carrefour e veja se ela se decompõe em menos de dois anos.
lsH

Negro Castelo

seu maldito, meu coração
apostaria um novo ritmo
mas com ele, o meu ouvido
se alimenta de emoção.
não deixe o abandonar
causar um furo no tímpano
que vaza lamentos
e agradece sortimentos.
seu maldito, o seu passado
é melhor do que
qualquer presente.
Mesmo ausente
confio a ti o seu ensinamento.
lsH

terça-feira, junho 26, 2018

Eu não queria mais voltar. Por alguma razão, cá estou. Confesso que não me sinto muito confortável. Até atrapalha meu pensar. Não consigo deixar claro. Muito menos, escuro. Não queria estar de novo recolhendo cada fragmento que me compõe. Não queria estar novamente escrevendo o "não". Não me via começando outra vez as frases com essa palavra tão miúda de três letrinhas. Não passou. Sei lá se vai passar. Mas, se retornei, foi por alguma questão. E ela é você. Talvez eu esteja apenas encantado, como me disseram, apesar de que me sinto muito apaixonado. Nem preciso comentar isso contigo. Está longe. Longe fisicamente. Longe emocionalmente. Em outra direção que, lógico, não é a minha. Tenho em mente que para ti foi um caso, outra conquista para ficar registrada na pele, como pessoas que colecionam amores. No entanto, para mim, uma sensação de algo não terminado. Enfim, nem tudo na vida precisa ter um final. Só não queria ter retornado para o início. Do sofrer, calado, no caso.
Para cumprimentar, não precisa fazer a chuca, não precisa lavar a bunda, não precisa ser santo. Para cumprimentar, não precisa ser amado, não precisa ser corno, não precisa ser arrogante. Para cumprimentar, não precisa vestir roupa de marca, não precisa estar sem, não precisa estar com. Para cumprimentar, não precisa ser rico, não precisa ser pobre, não precisa ser de classe alguma. Para cumprimentar, não precisa estar manso, não precisa estar bravo, não precisa estar contente. Para cumprimentar, não precisa se machucar, não precisa se alegrar, não precisa se entregar. Para cumprimentar não precisa ter medo, não precisa ignorar, não precisa estar bêbado. Para cumprimentar, não precisa estar de chinelo, não precisa estar de All Star, não precisa estar de Prada. Para cumprimentar, não precisa ser elegante, não precisa se mostrar o prepotente, não precisa ser o melhor. Para cumprimentar, não precisa estar em dia com o imposto de renda, não precisa ter viajado para a Europa, não precisa falar a mesma língua. Basta olhar.

segunda-feira, junho 25, 2018

Melancolia minha, daquilo que vivi ontem, ou daquilo que vivo agora. Melancolia nossa, tão ausente quanto tu. Melancolia outrora, futuro breve, obtuso instante. Melancolia a noite e ao dia. Melancolia boa deste momento Melancolia ótima para refletir Melancolia incrível para amar Melancolia linda ao vento.
Madrugada. Sei lá que horas. Estou sem relógio, sem celular e sem carteira. Meus documentos, não tenho ideia. Eu só lembro de nós dois. E, mesmo assim, nada sei. Após a briga, acho que fui afogar a dor de cotovelo. No posto de combustíveis, nessa beira de estrada, toca R.E.M. Uma rádio FM qualquer sintonizada. Um caminhoneiro retorce o rosto. Não entendo se é por causa da música ou da minha presença. No bolso, uma carteira de Marlboro pela metade. Nas mãos, um isqueiro Zippo falsificado. No céu, tantos pontinhos piscando que imagino: se não tiver vida em outra constelação tudo isso é um tremendo desperdício de espaço. Será que os ETs louvam algum deus? Pensamento sem noção para o momento. Michael Stipe não se cansa de dizer que "sometimes everything is wrong" e o caminhoneiro continua com a mesma cara, um misto de que acabou de peidar com contemplação de assassinato, seja lá o que isso signifique. Nem lembro o que estou fazendo aqui. Apenas sei que é madrugada. Procuro alguma pista. Vou até o banheiro, ligo a torneira e molho meu rosto. No relance que tenho com o espelho, visualizo uma marca de batom no pescoço. Vermelho. O lábio está um pouco rachado, como se eu tivesse beijado por longos minutos e, após, pego uma friagem sulista daquelas que dá inveja aos catarinenses. Acendo um cigarro. O caminhoneiro invade o recinto. Pergunta: - e então, era gostosa? - Quem? - Indago. - Aquela linda ruivinha que te largou aqui. - Maldita puta! Aí eu lembrei. Tinha acabado de ser roubado.
Esse Meu Doce Matar Quebrei a cara. Que cara eu sigo? Persigo o curto. O caminho fácil. Qual a graça? Pergunta simples. Sigo errado. Pelo menos, acho. Se acho, Certeza Não tenho. Mas se tenho algo Algo talvez Eu sinta. Analiso E sintetizo O que escapa. Um mapa De fragmentos Descolados na memória Soltos por aí Em ilhas digitais Sem reset Sem delete Sem gilete Sem deleite. Troco um destino Por dois carinhos. Mas tenho Carência? Só aderência De permitir Meu egoísmo. Penso Logo, resisto. Desisto Ao contrário Pois sou Bem otário Quanto ao sentimento. Queria o inverso Mas serei frio? Não entendo. Compreendo que afasto Todavia é meu erro? Porém, contudo, senão? Quem sabe você Que me abrirá Abrigará aqui Uma resposta acolá. Enquanto isso, Vou ali Sozinho fumar Algo que Pelo menos Me faça sentir, Nem que seja Esse Meu Doce Matar. lsH
Meu rádio toca a mesma canção Meu tímpano está viciado E o meu corpo também. Por ti. Respiro aquilo que te cheirei Do peito até sua nuca Da tatuagem até a virilha. Nada se compara a você E tenho medo Que tudo será comparado, Nos próximos, Nos outros, Nos vácuos. Eu queria ter uma ferida contigo Que continuasse aberta Até de amor nos curar. lsH
Na aventura dos sentidos O tempo resgata os perdidos E aquele ali, que antes Escrevia poesias marginais Agora elabora discursos Para os petistas. E o calor de seus lábios Hoje esfriam o amor Que os direitistas, ora exacerbados Portanto cancelam Gritos exacerbados. No trajeto da sua letra Algo ecoa nesse ouvido Porque no outro, eu duvido Que a Marina vá profanar. Mas na aventura dos sentidos O tempo resgata Até os esquecidos E a dança cega da digitação Far-se-á breve, por obrigação.
Eu vou fumar todos os cigarros. Vou desaparecer com a fumaça. Vou consumir todos os remédios. Vou sumir com a ansiedade. Vou procurar todos os métodos, vou seguir nos erros. Vou revirar os vodus. Vou beber a macumba. Vou ao submundo. Vou morrer para ressuscitar. Vou beber aquele veneno. Vou tragar todas as derrotas. Vou viver a mesma situação. Vou amar outra pessoa. Vou prosseguir como estorvo. Vou seguir como perdido. Vou chorar a mesma música. Vou escrever um novo roteiro. Vou estraçalhar o meu peito. Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. Vou chupar o amargo. Vou contar os segundos. Vou atirar nos minutos. Vou atropelar um coração. Vou sofrer o caramba. Vou reviver o futuro. Vou viver o passado. Vou praticar o presente. Vou me perder na estrada. Vou pedir uma carona. Vou viajar pelo deserto. Vou ser amigo da solidão. Vou encontrar a derrota. Vou cortar a cabeça. Vou cheirar óleo diesel. Vou ressecar o olho. Vou furar a mão com um prego. Vou subir uma montanha de pó. Vou sorrir a tristeza. Vou desapegar o contato. Vou desejar um abraço. Vou querer muito mais. Vou pensar no roçar de pele. Vou querer algo mais. Vou lembrar de você. Vou novamente sofrer. Vou correr pelas escadas. Vou encontrar o topo. Vou pular no abismo. Vou cair com os olhos abertos. Vou dormir para te achar. Vou sonhar para viver.

domingo, junho 24, 2018

Eu quero aquele verso torto, todo fodido, rasgado e arregaçado. Aquele que vibra a vida com uma ardência nada categórica, muito alegórica, hiperbólica e cheia de cólera. Algo que fale mal, deliciosamente. Um jorro na cara de lambuzar os olhos lacrimejados. Quero uma canção arrancada do coração, sangrenta, como uma balada que estupra o peito. Venha-me, solte-me e cuspa-me aquela frase gritada, que nem uma puta num coito interrompido. Quero o tremular das pernas, o balançar das cadeiras, a quebra da lombar no berro em si bemol. Desejo a gostosura das falácias inconsequentes, da porra quente de uma estúpida masturbação. Também quero o ódio para alimentar meu corpo em fúria, só para que a vazão da marginalidade não me faça esquecer o quanto é bom se sentir assim: em pulso, em nervosismo, em pele, em carne e em cerebelo. Quero extirpar cada silaba com gostosura de framboesa, como uma criança retardada que grita de birra em um supermercado, constrangendo seus pais e seus irmãos. Eu quero uma poesia violentada, escancarada, toda aberta de tanto levar pau, besuntada de metáforas que escorrem através de uma cruz carregada por escritores vivos. Eu vejo a saliência dos miseráveis que desejam o mal, pelo simples fato de não terem o que falar, mas que necessitam de assunto. Mas eu quero devagar, sem essa pressa messiânica de WhatsApp, que fragmentada causa asco, asno, sono, oco e opaco. Quero a literatura espumante, decorada com verborragia, temperada com simplicidade, com gosto de livro mordido. Eu quero entrega. Não essa sua falta de vontade de brigar. Eu quero uma guerra de vogais, consoantes, sílabas. Eu quero o alfabeto inteiro, merda!
lsH
As malas estão prontas e deixadas perto da porta
Não tenha medo do que virá nas próximas horas.
Eu sei que temos contradições, mas deixe estar
Melhor aproveitar do que ficar com carícia torta.
Deixo minha concepção de sentimento em seu retrato
Não tenho medo do que virá e lhe digo que saberei suportar.
Procuro em outro tempo o consolo enquanto desejo seu abraço
Mas as malas estão aí e só você sabe para onde levá-las.
Só lhe peço para voltar os seus olhos a si
Não se preocupe com o que vai acontecer
Viva a intensidade se puder, sem se arrepender do viver
A saudade permanecerá caso o que tenha falado seja verdadeiro.
Meu dedilhado ao violão não está triste
Pois vale qualquer coisa, menos a mentira
E como sei que não houve admiro a preocupação
Só que despedidas sempre hão de surgir.
lsH

sexta-feira, maio 04, 2018

Penso eu, aqui. A razão, lá longe. A canção lenta conforta. O violão, acalanto. Os dizeres, solidão. Algo ruim? Hoje não. Um dia o desespero à espera bateu e voou. Refleti, mas o reflexo me enganou. Traição? De dor causar. Erupção. O relógio parou, o dia acabou. O futuro cadê? O presente, qual é? O passado, aqui. Confundi os tempos, inverti as conjulgações. Quer saber? Dormi.

quarta-feira, março 28, 2018

Apagar o apego já que é
Difícil encontrar o desapego.
Apagar o desejo já que é
Difícil esquecer sem fraquejo.
Apagar o amor já que é
Difícil superar a dor.
Apagar o sentimento já que é
Difícil ter sortimento.

Apagar para tentar consertar
Porque nada está certo.
Apagar as memórias
Para tentar viver de vitórias.

Apagar as histórias para
Não viver de derrotas.
Apagar o passado para
Vivermos melhor o presente.

(Jean Carlos Fontes e Leonardo Handa)
No caminho
Do sempre quis
Tanto foi que fiz
Na estrada
Do tanto faz
Percorremos
Para trás.

sábado, março 17, 2018

Dá vontade de gritar. Vontade de fugir, vontade de partir e de desistir. Dá vontade de fumar mais, de beber mais e de comer mais. Dá vontade de não dar satisfação, de não trabalhar mais e de não se envolver mais. Dá vontade de reiniciar tudo, de ser niilista, de se revoltar e de agir como o Coringa do Heath Leadger. Dá vontade de rir para o despero, de não se apegar e de tocar o foda-se. Mas aí você tem a certeza de que é nascido do signo de virgem simplesmente porque pensa demais.
É tanto vazio nesse espaço cheio
É tanto desamor nesse amor
É tanta alegria nesse sofrer
É tanta tristeza nessa felicidade
É tanto amigo nessa solidão
É tanta falsidade nessa realidade
É tanta falta nesse completo
É tanto verde nesse concreto
É tanta abstinência nessa bebida
É tanto início nesse fim.
lsH - O Fim

sexta-feira, março 16, 2018

Madruga insone, catacombe cerebral dos dizeres infernais. Da fumaça um beijaço que no sonho se encontra, ali, descoberto, com o úmido sereno abençoando em posição de feto. O som, lá distante, anuncia de um alto falante mais uma canção angustiante. Mas, aqui, entreaberto, reverbera um acalanto oitentista que faz o longe passar vergonha.

A Primeira Vez


Ela não estava perdida na vida, apesar de acreditar que sim. Sua entranha, recém violentada, ardia de saudade de um passado romântico. Enquanto voltava para casa, com gosto de abacaxi na boca, pensava na cidadezinha em que morava antes de se aventurar pelas ruas úmidas da metrópole. A cena mentalmente visualizada era a de um pé de ameixinha, a qual ficava trepada durante 30 minutos diários, se lambuzando com as frutas frescas e abençoadas pela chuva constante. O doce sabor da adolescência.
Ao chegar em seu apartamento, foi até a cozinha procurar por algo que tirasse aquele azedume de sua língua. Optou pelo conhaque, mesmo com o apetitoso bolo de chocolate que estava deliciosamente provocante sob a mesa de quatro lugares e tampo de granito falso. Calmamente, bocejou um pouco de álcool, como se fosse um antisséptico bucal. Caminhou até a janela e ficou observando os viciados em crack, alucinados, afoitos e sedentos por mais uma pedrinha para jogar amarelinha-viajante. Tomou um gole caprichado e cuspiu, acertando a cabeça de um dos zumbis que estava na calçada. Rapidamente se escondeu para que ninguém visse a sua travessura. Sentiu uma pontada entre as pernas e levantou a saia para verificar. Estava toda assada. A pele havia sido maltratada. Os grandes lábios pareciam a Angelina Jolie.
Olhou a lua, amarela como um queijo fresquinho. Sentiu cheiro de buceta em seus dedos. Para ela, um odor familiar que era sinônimo de dinheiro. A ardência que a fez remeter saudades foi causada por um pastor evangélico, avantajado como uma Coca-Cola de 2,5 litros. Ao menos pagou com bonificação.
Sua primeira vez, aos 13, no meio do mato, entre uma pequena cachoeira e um estábulo, foi com Roberto, um menino de 16 anos e pau de jumento. Ao ver pela primeira vez um caralho, não tinha ideia do tamanho normal de um. Ao percebê-lo excitado, teve uma única certeza: essa coisa não vai entrar em mim. Mas Roberto, que já era experiente com cabras, realizou um trabalho repleto de delicadeza. No entanto, socou bem no fundinho, o que causou nela uma dor de três dias, fazendo-a a perceber que de fato possuía uma bexiga, a qual agradeceu por não ter estourado.
Quando ela saia com o pastor, era sempre essa saudade que sentia: do pinto do Roberto. Então, ela encheu mais um copo de conhaque, entortou num só gole, pegou um caderninho e começou a escreveu um poema, cujo título recebeu uma frase clichê: a primeira vez a gente nunca esquece.
biografa-me, a cada letra, sílaba. 
me fraseie, calmamente. 
escrita-me, letra por letra. 
descubra-me, como pétala a pétala que o outono derruba para outras nascerem em vindoura estação. 
e desperta-me com um selo, 

um registro,
um fragmento.
decifra-me no presente
e que o passado fique a limpo, agora,
no desejo de respeito e agradecimento,
porque nós partimos para nos encontrarmos.

lsH

segunda-feira, março 12, 2018

Necessário sentir para prosseguir
Seja lá qual for o existir.
Vai e segue o coração partido
Em um fracasso de estado.
A fossa abre mais fissuras
Na sua insistente frescura
Mas continuo sentindo
Dos poros o algo partindo.

Lembro quando disse
Que seria loucura não conseguir
Afinal o amor estava ao lado
Tinha que ter força e sorrir.

Não neguei e joguei
Veio a chuva e levou
Longe vai aos poucos
O seu lado meio torto.

Sigo não sei como
Guiando o louco que alimento
E que quero segurar
Na dor cruel do coração
Que vaza sentimento.
Da lógica o verbo escroto
E da visão a imensidão.
Da dua boca o calo seco
E das mãos o soco inglês.
O verso de amor se pôs
Junto ao agosto que morreu
E das cruzes a solidão
Da fumaça morta de paixão.
Do nascer o morrer armado
De armas brancas e abençoadas
E do meu coração a cremação
De cinzas impuras e desalmadas.
Do riso o catequismo ao contrário
E dos corpos o comungar em um orgasmo
E da liturgia dos amantes tortos
O penúltimo romântico com marasmo.
Oração ao contrário
Infernal por acaso, onde você estará amanhã? E quando aquele canto sujo da cozinha, entre a prateleira e o fogão ser limpado, sim, as chamas vão se levantar. Com as mãos para os altos, vou interceptar anjos loiros, lindos, gostosos, de abdomens celestiais, só como vingança pelo milagre do ato. Se o chão, como um todo, belíssimo e completo, estiver brilhante e cheiroso, aí sim, não terei o que utilizar como dízimo à salvação de um cego que vê. Tudo seria tão mais feliz, gracioso e perfeito se pudesses perceber o quanto da sua falta de sensibilidade é gritante. Amém.
lsH
A habituação das coisas envolve a repetição. O ato envolve, portanto, a prática. É assim que a capacidade quase natural se constitui numa quase segunda natureza dos indivíduos. Não conheço muito de filosofia, mas se não me engano, Aristóteles abordava a respeito, mas salientando que isso era mais complexo do que essas simples frases. Num primeiro momento, a teoria considera os hábitos e as práticas da habituação de forma mecânica e passiva. O cara dizia que a ação pressupõe a discriminação de uma situação em ordem a fim de dar uma resposta adequada, sempre associada a objetivos, sendo impossível separar o momento externo da ação (o comportamento) dos momentos interiores (o processo).
Mas o que quero dizer com essa falácia? Que o filósofo argumentava que a repetição melhora as coisas, tornando as pessoas mais perspicazes na realização, sei lá, da arte, por exemplo. No entanto, não significa que isso necessite ser feito sempre da mesma forma. Ao repetirmos uma ação sempre há alterações, mesmo que pequenas, automáticas na aprendizagem continuada. Quando repetimos, por vezes, costumamos associar alguns progressos ou melhorias. Um tatuador sempre se aperfeiçoa com a prática. Um músico se sobressai, independente se tocou pela quadragésima vez uma obra de Bach. Ou seja, acaba se transformando em refinamento, através de tentativas refinadas. A prática permite o progresso sempre na repetição crítica.
Uma repetição crítica reconhece os erros anteriores e compreende aperfeiçoamento através dos erros anteriores, com mais emoções e análises. Quando uma repetição passa a não ser mecânica, origina progresso. O processo de aprendizagem é assim. Os alunos repetem o alfabeto até memoriza-lo e assim vão juntando as pecinhas com palavras e frases. E, por vezes, acreditamos que a repetição pode nos levar a caminhos iguais, já sabidos e com resultados não satisfatórios. Mas é graças a ele que, justamente, podemos perceber que existem outros trajetos. O amor é assim. Sabemos exatamente o que vai acontecer, de relacionamento em relacionamento, sempre carregando vícios passados, porém, com a diferença de que foi na repetição que aprendemos o que não fazer.

quarta-feira, março 07, 2018

Despedida. Nunca é fácil. Fica um caroço desgraçado na garganta e umas coisas líquidas nos olhos. Não sei qual o momento mais difícil, o último abraço ou o carro partindo. Sei lá. Já foram tantas que deveria estar acostumado. Mas nunca estamos. Algumas são deveras horríveis, sobretudo àquelas quando alguém sai magoado, quando a despedida fica perdida, não finalizada como deveria. Se é que deveria. Essa foi uma. Em outras ocasiões, o tchau é feliz, mesmo que triste, algo bipolar. Porém, saber que a pessoa está buscando a sua lenda pessoal, o viver constante e tocando o foda-se da segurança, é muito lindo acompanhar, torcer e comemorar: vai lá guria, alguém está fazendo algo, pelo menos. E esse alguém é você!
"Na mulher interessante a beleza é secundária, irrelevante e até mesmo desnecessária. A beleza morre nos primeiros quinze dias, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse de mulher em mulher anunciando: ser bonita não interessa, seja interessante".
Tati Bernardi
Só com calma
Nunca é fácil. Quando o amor escorre pelos tímpanos e surda a sobrevida, aproveita e deixa mudo e cego. Remete uma confusão muito além dos sentidos. O sentimento é ferido no momento em que uma das partes renega, e a outra, ainda não. Nunca é fácil. Parafraseado, para sofrer, basta estar vivo. Receitas até que adiantam, mas não causam alívio rápido. Não é paralisante. É cerimonial.
Pois é, nunca é fácil. Porém, existe acalanto. A percepção, somente através dos meses. O lugar-comum é válido? Sim, portanto, resta ao tempo incluir um doce no sangue para chegar ao cérebro, rebatendo no coração, trazendo novamente a lucidez dos sentidos no sentimento ferido, que cicatriza, mas só com calma.

domingo, fevereiro 25, 2018

Maria encarnada neste corpo. Todo sábado é dia de mandar as mariposas embora. Confesso, sem vergonha alguma, não sei cozinhar. Para recompensar, limpo um banheiro perfeitamente, de dar gosto ao Bombril. O som que acompanha essa sabatina é The Cure. Já gritei passando pano que meninos não choram, que na sexta-feira fico apaixonado e que às voltas naquele carrossel, eu beijei teu rosto e tua testa. Robert me dá razão enquanto dou um tempinho na limpeza e fico aqui escrevendo essas bobagens. Bom, vamos então para a lavanderia que a roupa branca me espera para um romance nada ideal.
Da carreira o alívio após. O sol, pela janela, acertava a retina enquanto o ato se fazia de fato. Os pássaros pareciam sem graça, talvez desdenhando o clima. Ele nem se incomodou. Queria aquilo. Desejava. Bufava de alegria depois de anos de auto-controle, se permitindo ser orgulho. Não teve receio algum, só quis se jogar, como se fosse de um ineditismo primitivo, daqueles que despertam uma explosão no tímpano, como um primeiro beijo, como um nervoso na hora do gozo, como uma leoa estraçalhando uma zebra. 
Ardeu um pouco, o tempo permitiu o sarar. O sangue se tornou suco e a respiração era calma, mesmo com a adrenalina liberada. Ele estava velho, aspirava pela carreira. Degustou de cada segundo. Comemorou lindamente, afinal, tinha conseguido o tão sonhado emprego que, apesar de aposentado, almejava.
eu também tenho medo
e a entrega causa
eu também tenho passado
mas não quero pausa
eu também acho cedo
e não me furto
pois
eu também sou um roubo
e respiro sem surto.
eu também sou azedo
e mergulho intenso
eu também sou escuro
e tenho um bater extenso.

quarta-feira, janeiro 31, 2018

A linha da minha
Está ligada à sua,
Mesmo quando
O asfalto é a linha
Que traça o destino.

Queira o futuro
Que na próxima
O máximo seja
Mais perto.

lsH

terça-feira, janeiro 16, 2018

Porque o amor é entrega e recebimento. É açoite, mas é lirismo. Não é dor no início, é alívio. Só se fores virgem. Porque amor é metade cheio e metade vazio. Porque é razão e vazão. Também é introdução, argumentação e fim. É dissertação de vestibular. É conclusão de curso, é tese de doutorado. Porque amor é bom e ruim, mas se percebe, contudo, que é explosão de sentimentos. É tarefa para bem-humorados. Não pode ser forçado. Porque amor é sinceridade, é intimidade. São besteiras compartilhadas. Um peido que escapou debaixo das cobertas, uma remela matinal no olho ou pelinhos no nariz. Amor é cuidado e descuidado. É continuado e descontinuado. Porque tem sorrisos, lágrimas, beijos e abraços. Porque é aquela música que marca um momento, de Ting Tings a Cícero. É canção brega que toca em rádio AM. É Odair José, Ariano Suassuna, e.e. Cummings, Grazi Massafera, Roberto e Erasmo Carlos, Bee Gees, Jesus Cristo, Armando Nogueira e Chicholina. Porque amor é orgasmo, é coito interrompido e broxada. Amor é ferida, é casquinha, é cicatriz, é cura e acalanto. É fruto e mordida.