Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Pânico

Tudo perdido entre os dedos tortos que nada mais seguram.
O que era alívio hoje causa arrepios no córtex que aos poucos apodrece.
Um constante movimento gera aflição nos olhos que reviram procurando solução.
Artifício constrangido de face esprimida que outrora abria um sorriso devastador de alegria.
Derruba uma água do binóculo natural o qual foi concebido sem a perfeição.
Justifica os atos violentos em sangrentos copos de líquido transparente.
Não quero outra volta, nem inocente, nem inconseqüente.
Desejo o tranqüilo daquilo que um dia eu vi
Mas perdi em pó a vida.
Espero sem noção a porção
Aquela que tira os pecados do mundo
Somente para rasgá-la em vezes inacreditáveis
E reescrevê-la da maneira adequada aos dias atuais,
De pólvora, carvão, foice, facão, terra, engrenagem e capitais.
O corpo sagrado consumido com razão desce ao fóssil quase cancerígeno
Uma última benção de cálice e justiça à injustiça situação do pânico que estabelece
Uma força sem vontade de continuar na trilha da crucificação beata dos seus celibatos.
Nunca desejei tamanho sacrífico de aguentar a situação do desespero que, espero, termine.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Não Vou Lá, Não Estou lá

Não vou lá
Me cansei
O seu cantar
É de matar
E a minha tristeza
É igual.

Não vou entender
Nem reverter
Eu quero um afastar
Que cause dor.

Não vou lá
Já me cansei
Hoje eu fico
Ao lado do fim
Um início de tudo
Contudo, assim.
Explode em meu peito um absurdo inexplicável. Um surto psicótico, uma angústia profunda, um desespero sem narração. Algo terrível como uma canção sertaneja, um filme iraniano, um livro de auto-ajuda. Nenhuma explicação cabe, nenhuma música alivia, nenhum conselho adianta, somente o calmante facilita.

Segunda-feira, 20 de outubro, 2008 - horário de verão

terça-feira, outubro 14, 2008

Los Alamos - Back Seat

Los Alamos é uma banda argentina que faz um pop/rock com influências de bluegrass, spacerock, folk e country. Infelizmente não cantam em espanhol, mas o sotaque em inglês fica bem evidenciado em suas canções. Vale a pena.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Bloody Paper

Sangrando em páginas
Rabiscando o desejo
Aproveitando o momento
Curtindo o sofrimento.
Vendo o tempo
Apreciando o vento
Lambendo o rosto
Jogando palavras
Destacando o argumento.
Sangrando em linhas
Desfilando o sentimento
Olhando a foto
Observando o tratamento.
Sangrando em frases
Justificando pensamentos
Rasbicando gerúndios
Desligando sortimentos.

Leonardo Handa - 10 de outubro - primavera

terça-feira, outubro 07, 2008

Por uma vida mais ordinária


Na calmaria das coisas um caos manifestado. Difícil relatar os acontecimentos, queria mais relaxar em nosso apartamento e comentar os fatos do dia-a-dia. Colocar Tori Amos na vitrola e divagar o afeto. Mas sempre vem o contrário, as contas a pagar, o carro para lavar, o cachorro para alimentar, a poeira dos móveis para tirar, a louça para guardar, o guarda-roupa para arrumar. Está ficando difícil. Quando foi a última vez em que fomos ao cinema? Aquele do Woody Allen ainda era um lançamento. Quando foi a última vez em que abrimos uma boa garrafa de uísque? Aquela que compramos já está completando 12 anos. Acho que agora é a hora.

Não era isso que eu imaginava. Na adolescência, eu pensava que conforme fossemos crescendo os tempos seriam mais proveitosos. Estão sendo criminosos. Crime por não aproveitarmos o salário para gastar com cerveja, crime não por não podermos gozar a rotina, crime de falta de tempo. Eu queria ser um outro tipo de criminoso, um hiperbólico das vontades prazerosas, da leitura de Bukowski aos solos de Miles Davis, dos goles à beira-mar ao caminhar noturno em Caiobá. Aliás, aquele verão ainda estamos deixando para mais tarde, como aquela canção do Amarante. Hora de mudar. E depois de tudo, descansar em paz, sem aquela culpa de que poderíamos ter visitado a família, ter ligado para os amigos, ter marcado compromisso do ofício. Sem ressentimentos, sem argumentos, sem explicação. Simplesmente fechar os olhos e dormir, de preferência, acompanhados de Manu Chao, Jarvis Cocker e Lauryn Hill, a sua preferida.

Agora estamos aqui, definindo quem vai amanhã ao banco, quem comprará o gás, quem pagará a luz, quem procurará veterinário para o totó, quem mandará instalar a internet, quem levantará cedo para atender o cara que vai arrumar a geladeira e quem buscará a roupa na lavanderia. Que coisa, hein? Quero uma vidinha um pouco mais ordinária... Como aquela canção do Neil Young.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Fica a Saudade

Hoje lembrei, ao acordar, de escrever uma carta.
Coloquei a água para ferver e preparei o meu café.
Lembrei das noites mal dormidas, dos dias sofridos.
Dos cigarros derrubados no chão, do cinzeiro transbordando.
O sol perfurou a janela e o raio entrou sem pedir licença.
Não sou observador, confesso, muito menos sentimental,
Mas a cena me pareceu um sinal. Lembrei você.
Iniciei os agradecimentos, os olás, o tudo bem.
A fumaça do café se misturava com a do cigarro.
Contei um pouco da rotina que ainda acabará me matando,
Dos estranhos que acabo entregando intimidades,
Da moça da panificadora, do chuveiro estragado,
Ainda tenho que arrumá-lo. Tenho preguiça.
E do roteiro que ainda insisto em não terminar.
Percebi que faz um ano. Como foi estranho.
O seu perfume adocicado já não mais está presente,
Seus discos de new wave eu já doei,
O anel, penhorei.
Não quero apavorar a sua paciência
No entanto, ainda recebo as suas revistas femininas.
Se possível, cancele a assinatura.
Se não me quer passar o seu endereço, tudo bem,
Mas não desperdice mais dinheiro.
Nunca sei quando estou sendo melodramático, pior que novela.
Não se incomode, só queria dizer que ainda vivo.
Ainda tenho uma recordação sua: aquela foto.
Noite escura, boteco e cerveja. Lembra?
Foi a última. Agora fica saudade.