Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, setembro 27, 2006

O Vento

Um sorriso estranho, demonstrando alegria. Não se cansa de ouvir O Vento para deixar escapar a felicidade de admirar a canção. A adoração à frase "não dizer o que eu penso, já é pensar em dizer" reverbera inúmeras vezes nos ouvidos abertos. O fantástico se faz em brilho nos olhos que continuam a acreditar na sorte, mesmo não confiando no destino. De qualquer, "é de lágrima" que derrama a alegria. O viver tem os seus desatinos, mas "o olhar que não enxerga mais" pede a luz, "neste momento menor", "a gente quer ver... horizonte distante". Porém, mesmo fazendo citações de uma outra canção hermaniana, é com O Vento que vem a demonstração de contentamento.
Difícil explicar as inúmeras sensações e interpretações que a canção causa na cerne, disposta a receber o amor que insiste em permanecer calado. Nada realiza para alterar a situação. O discreto danifica certas exposições. Mas o coração, que é tão vagabundo, ainda quer o pulsar. "Doces deletérios", afinal, "sonho não se dá... o sabor de fel é cortar... é doce te amar, o amargo é quererte pra mim". Tudo bem, novamente outra canção invadiu, mas foi necessário expor.
De qualquer forma, fica expressa a alegria, "alguma coisa a gente tem que amar... mas o quê? Eu não sei mais". Então, "os dias que eu me vejo, só são dias que não encontro mais..."

terça-feira, setembro 26, 2006

Alcanço puto, assassino puta

Faça um ponto de fuga estratégico. Ele terá que ser bem planejado, pode ter a certeza. Caso não for, então corra, pois você vai querer se matar. Se não quiser, relaxe, eu mesmo te matarei. Não uma questão de desapego, eu simplesmente mudo. Mas também falo e escuto. Eu certamente fico, desfaço e crio novamente. Então, arquitete a fuga, o ponto pode estar na sua testa.
Cause um espanto. Destrua um tanto. Estarei, enquanto, olhando para o santo. Não acredito, portanto, aguardo em um canto. Distorça a rima a procure um pouco, o algo ficará em desencanto. Falta coragem? Que seja covarde, acalanto.

A solução não existe. Ainda não foi recriado o impossível. Seja sincera, serena.

Enquanto me canso da canção, reflito o mal-dizer. O meu bem já se foi. De muito penar, morreu. O cálculo errado se fez culpado, gerando a vida que destruiu. Ela se refez, ficou em contradizer. Como eu. Como tu. Devorastes toda.

Foda.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Wado e Realismo Fantástico

Tem uma banda que está causando sérios danos em meus tímpanos. Trata-se do Wado e Realismo Fantástico, mais precisamente, o álbum A Farsa do Samba Nublado. Os dois primeiros Cds, Manifesto da Arte Periférica e Cinema Auditivo, são ótimos. Porém, contudo, senão, o terceiro é essencial. Não me arrisco em dizer que é um dos melhores lançamentos dos últimos cinco anos.
Misture poesia com sacadas musicais de quilates ímpares, acrescente efeitos eletrônicos, ritmos brasileiros e referências pop. Uma belezura. Deixo no post a letra de Deserto de Sal, do disco A Farsa do Samba Nublado. Coisa rica.

Deserto de Sal (Wado/Alvinho)

Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda: então seria pior
Ainda há esperança no chorar soluçante, no cantar gritando
Nos ombros, como papagaios, carregava corvos
E dentro dos lábios o silêncio mudo
No peito um cemitério de ex-amigos mortos

E enterrar os mortos, desapegar dos ossos
Confirmava a vida o que é bom: desprendimento

Ainda há vontade de andar: o que é bom
E embotado nos olhos, o negrume vazava de dentro da carne

No peito um cemitério de velhos sonhos mortos
Nenhum plano vagava no deserto de sal
E num dado momento parecia até que o sol ia nascer
E era mais uma estrela decadente
No deserto de sal

terça-feira, setembro 19, 2006

Gozada


Uma outra noite em fé de sono que não chega. A companhia dessa vez é o café, a fumaça e The Editors. A referência joydivisiana ecoa, tanto nas linhas de guitarra como no vocal quase chorado. Ela pouco conhece a banda, apenas sabe que lhe faz bem. A canção que mais entoa no ouvido é Lights. Apesar do título, quase nada a ilumina. Somente a luz do poste e a brasa do cigarro.
A noite não foi de trabalho. Resolveu tirar folga de si mesma. Deitou em seu sofá, ligou o som e se deixou transportar pelo calor/frio das músicas. Acabara de baixar a bolachinha The Back Room, um título bem apropriado para o momento pelo qual estava passando. Acendeu uma bituca e viajou. O barulho infernal dos carros na rua não mais a incomodavam. O fone de ouvido era muito bom. Importado. Gentileza de seu vizinho contrabandista.

Quando iniciou os primeiros acordes de Camera, ela se transportou imediatamente à infância. Se imaginou sendo balançada pelo seu pai, depois brincando com seu meio-irmão e logo após levando uma bronca de sua mãe. Chorou. Bebeu um gole de café e tragou suavemente. A canção continuou e outras lembranças acertaram o tímpano. Não teve como não recordar do Echo and The Bunnymen, sobretudo daquele show em São Paulo, quando ainda era adolescente.
A noite que era para ser de tranqüilidade acabou remetendo ao saudosismo que escondia em um fundo bem fechado do cérebro. Alguns costumam chamar esse lugar de sub-consciente.

Mas o momento apoteótico chegou ao ouvir Bullets. Não teve dúvida, nem tempo, a adolescência era vivida de novo em linhas de pensamentos despedaçados. Fechou os olhos. Viu o primeiro beijo. A primeira transa. O segundo amor. O primeiro não tinha sido tão bom. Gozou no lençol. Derramou café. Esqueceu o cigarro. Olhou para a vela acesa no criado-mudo. Sonhou acordada. Finalmente conseguiu relaxar. E a fé do sono chegou. Rezou e dormiu. Tranqüila. E gozada.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Minha viagem do fim de semana...

Tudo começou tranqüilo. Eram 6h da madrugada. A viagem prometia doses homeopáticas de risadas. Não só prometeu como as gargalhadas realmente vieram. O ônibus chegou atrasado, mas chegou. As pessoas interessadas em conhecer alguns meios de comunicação adentraram no veículo e se mandaram para o Oeste de Santa Catarina. Os outros que queriam diversão também foram pelo conhecimento, porém, tinha que ser divertido.
Cada qual se ajeitou em um lugar. O fundo ficou reservado aos sagazes, que iniciaram o processo de truco, seis, nove, doze. A ida foi muito calma, conforme o combinado. Alguém que dormiu quase a viagem toda, ficou curtindo um som super bacana do Wado e o Realismo Fantástico. Os Pixies também tiveram a vez. Pois bem, rápida parada para um café da manhã e logo os primeiros arrotos foram esbravajados em plena luz do dia. Não que seja proibido o arroto na manhã, é que a noite eles fazem mais sentido.
A programação iniciou em um jornal diário, depois vieram as TVs e as rádios. Todas de extrema importância curricular, os atentos fizeram as suas anotações e os espertos registraram em seus HDs fresquinhos. Um ou outro arroto vazava, seguido de risadinhas safadas.
Mas, foi no retorno que as coisas começaram. O repertório de canções esgraçadinhas foram surgindo como que em instantes, de repente, sem pausas. Um medley das melhores recordações infantis, com direito a períodos adolescentes de músicas duvidosas. Foi então que uma sessão extraordinária de retratos começaram, com direito a vídeos dignos de entrarem no You Tube. Uma de nossas colegas iniciou um esboço de dançarina profissional, relembrando os tempos da finada É O Tchan. A coreografia ficou tão boa, com direito a rebolados e balanços para frente e para trás com o tronco, que, desde já, está eleita a melhor coreografia já realizada em um ônibus. Não foi coisa comum, os passos realmente de catarse, espécie rica de momentos de pura alegria. Porém, contudo, todavia, antes, os intrépidos companheiros resolveram marcar a prosperidade com um retrato fétido em um banheiro ambulante. O aperto presente recheado de arrotos e risos transbordou o corredor dos afoitos que, lógico, estavam loucos para descansar. Mas, os alérgicos a monotonia queriam apavorar com o trajeto que era de volta. Provavelmente serão tachados de chatos e hipérboles. O que conta, com certeza, foi a diversão.
Chegado ao destino, com litros e litros de histórias para lembrar, somente sobra o grito eternizado por gargantas adjacentes que desbravaram o achado: uma brincadeira faz-me-rir. E é claro, um arrrooooooooouuuuuuutttttttttttttttttttttttttttt pôs o fim em mais uma aventura. Os participantes que comemorem. Afinal, não é sempre que se pode revelar uma dançarina, uma cantora lírica de arroto, um nipônico calvo, uma Heloísa Helena revoltada, uma menina Smallville, um cara que sai com caras confusas nas fotos e um outro de All Star embebido em um paletó. A diversão é assim mesma: feita de idiossincracia.

quinta-feira, setembro 14, 2006

F-I-A-S-C-O

Existem tantas coisas para chamarmos de fiasco. Aliás, que palavra lírica, não acham? Acho o conjunto de sons que "fiasco" forma tão melodioso. Algumas sílabas parecem tão perfeitamente encaixadas, sônicas, perfeitas. Tenho a impressão de que "fiasco" foi arquitetada na precisão mais estratosférica que o seu sentido quer significar. Detalhe por detalhe, encaixe por encaixe. Certeiramente sutil, mas com força extrema em seus sons. Ótima em ocasiões de fúria perversa ou em rebaixamentos de escalões exacerbados. "A vida é um fiasco". "O ser humano é um fiasco". Que poder que a palavra exerce, não concordam?
F-I-A-S-C-O: simples, três vogais, três consoantes. A sílaba tônica passa despercebida se você analisar com ouvidos desafinados. Mas, mesmo assim, ela é capaz de estourar tímpanos, dependendo da maneira como é profanada. Pode causar lágrimas, términos de relacionamentos, catarse coletiva, vinganças premeditadas. Ferimentos expostos na tônica dominamente que muitas vezes nem analisamos. Afinal, poucos são os sagazes que percebem as nuances gramaticais e sônicas dos escritos, sobretudo, das palavras. Elas ficam ao vento, às vezes. Não no sentido de não prestar a devida atenção ao enunciado, mas sim, em seus constantes subjetivos ativados. Um enunciado pode ter vários significados. Assim como um fiasco pode significar. De repente, fiasco para um não é o mesmo para o outro. Então, se a crítica mais atroz ferir no cerne um sentimento de repúdio, trate de analisar melhor o enunciado. Contudo, como esbravejou Frank Jorge, "um pouco de talento não faz mal a ninguém".

quarta-feira, setembro 13, 2006

Amor Amigo

Existem tantos tipos de amores que não caberiam nos pêlos da virilha. Assim como a penugem, alguns sentimentos amorosos ficam escondidos em um canto estrategicamente planejado. Tanto faz o local, quanto mais oculto melhor, dependendo do gênero de amor, é claro. Mas, de todos os joguetes e estilos, o amor amigo é um dos mais sinceros e viscerais. Quem ama prova. Às vezes demora. Quando vem, é seguido de um dilúvio de palavras e carinhos, com direito a contradições em verbetes necessários se o acaso solicitar.
As conversas ficam mais deliciosas, com pausas que por vezes se tornam silêncios importantes para as reflexões sobre o assunto discutido. Em outros amores, as pausas entre as frases se transformam em desconforto imediato. Já no amor amigo, o silêncio não é desagradável, chega até ser refrescante, como aquela cerveja gelada degustada em um dia intenso de verão em um bar a beira-mar onde a brisa marítima bate calmamente no rosto.
O compromisso pré-estabelecido no início do amor que, com absoluta certeza, iniciou de um beijo faiscante e prolongado, quem sabe sinuoso, repleto de toques e deslizes no pescoço, sem direito de evitar a paixão. Aquela coisa de momento perfeito e contato labial. Nada daquelas falácias de amor à primeira vista. Pois bem, a idéia inicial do parágrafo acabou escapando pelos dedos, mas a continuação é a seguinte: o compromisso pré-estabelecido no início do amor chega a causar náuseas nos mais intimidados, que necessitam do amor, porém, fogem da aventura por temer as outras manifestações do sentimento, seja amor chiclete, amor carnal, amor fétido, amor meloso, amor infantil, amor sadomasoquista... E por aí em diante. No amor amigo, não precisa se preocupar com as suas ramificações, elas inexistem. Caso existam, é o amor amigo que não existe e, sim, outro tipo do sentimento que tanto gerou poesias, contos, músicas, filmes, peças de teatro, esculturas e pinturas.
Não se trata de uma exacerbação ao amor amigo, mas sim, um manifesto sincero de e sobre a amizade. Tantas pessoas queridas passam tão corridas por nossas vivências que, infelizmente, algumas viram apenas uma fotografia de lembrança colocada em álbuns de recordações. Elas são tão raras. Essas sim, caberiam e sobrariam nos pêlos da virilha. Até nas depiladas.

segunda-feira, setembro 04, 2006

David Bowie e Neil Young

O velho David Bowie me traz algumas razões nesta noite fria. Como já disse o bom vinho que é o Neil Young, "rust never sleep" (a ferrugem nunca dorme). A citação a esses dois ícones da música é por uma boa razão. A sensação sonora que ambos proporcionam é de rachar o ouvido mais gélido. Difícil achar o significado mestre a respeito de Bowie e de Young. O certo se torna incerto, o correto se transforma em incorreto e o ambíguo vira amigo, conforto em música que esses roqueiros adicionam em temperaturas baixíssimas como as da região sulista do país. Se fosse na Inglaterra ou nos Estados Unidos os sentimentos seriam mais soberbos. Mas, como cabe aqui a contradição, por essas plagas os sentidos são os mesmos, afinal, a música deles é universal.
Interessante é ouvi-los em um mesmo dia, devorando os dizeres que cada qual reverbera em canções emblemáticas. Os tempos de ouro deles já se foram, por vezes vomitam obras ainda alimentícias. Porém, também erraram na carreira que levaram no concebível exagero aceitável. Lembrando novamente Neil Young, "rock'n roll cant never die". Amém.
Recordo que Bowie foi o meu primeiro grande ídolo, quando ainda eu tinha cinco anos, tudo por causa do filme infanto-juvenil, Labirinto. As músicas do "senhor do poço do fedor eterno" causaram tamanho estrago nesse que vós escreve, a ponto de eu achar que era filho legítimo dele. Minha imaginação naquela época era muito fértil, graças à minha mãe que não tinha rédeas no açúcar. Eu degustava muito qualquer espécies de doces. Não à toa, meus dentes de leite eram todos cariados. Meus dentes eram de leite doce. Desculpe o trocadilho, confesso, realmente ficou enfadonho. Pois bem, voltando, Labirinto rompeu minha infância, foi como se minha virgindade enfim tivesse sido arrancada do meu âmago. Em plena infancia, que se fez muito doce, devido ao açúcar, meus primeiros sonhos eróticos foram com a Jennifer Connely, a protagonista do filme. Eu sempre a amei. Meu pinto era todo dela. Bronhas e bronhas tiveram dedicação exclusiva a ela, somente a ela. E foi assim que eu perdi a infância, da maneira, pelo menos para mim, mais doce, já que o açúcar continuava a adocicar os meus sonhos mais cariados. Contudo ao som do Bowie. Orgiástico!!!!! E olhe que eu ainda nem tinha porra. Eu não era porra alguma!!!! Puxa vida, peço inúmeras desculpas novamente pelo trocadilho, mas esse eu não podia deixar passar.
Escrevi tanto a respeito de Bowie que acabei esquecendo do Young. Vale ressaltar que o segundo salvou a minha adolescência, que, confesso, nunca enferrujou. Ainda está por aí, às vezes escondida nas mesmas canções do Young. "Harvest" influenciou até demais os meus poucos apurados tímpanos. Eu ainda continuo tentando. Assim como Young, Bowie e outros heróis que romperam as fases da vida. Ave à música.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Envelhecer é se deixar estar

É difícil aceitar que o envelhecimento é algo inevitável. Em algumas pessoas esse fato se torna doença. Hoje em dia existem vários processos para tentar retardar as gravidades da idade. Tanto faz se é botóx, lipoaspiração, massagens estéticas, geléias no rosto, banho de argila importada da Tasmânia e demais opções que às vezes soam como burlesca. Melhor ainda é se deixar levar pelas ações das intempéries da condição humana. Envelhecer com dignidade é a conseqüência mais aceitável, menos aos hipérboles e suas manias de juventude acima de tudo. Aquele ditado que "quanto mais velho melhor" poderia ser levado mais a sério. É legal observar os corajosos que aceitam os seus cabelos brancos, as suas rugas de experiência, a queda desenfreada de cabelo, a falta de colágeno na pele. Não se trata de vaidade, o negócio aqui é saber se por no lugar. Não é porque a velhice chega que algumas pessoas vão se privar de certos prazeres. Para quase tudo há a quase solução. Só não existe quase velhice.
Determinados indivíduos conseguem acompanhar o processo de mais um outono com a cabeça erguida, olhando para o avente em um horizonte distante que somente os românticos possuem a perspicácia de aprovar, encarar, se jogar, amar e aceitar. Os Rolling Stones sabem o que isso quer dizer, mas a Sophia Loren não.
A vida é repleta de obstáculos. E os da idade também devem ser levados em questão, sobretudo. Eternamente jovem já era, devia ter ficado nas mesas do Ivo Pitangui. Se bem que um seio farto de silicone é belíssimo, mas os naturais não causam mal. O artificial tem as suas peculiaridades, por vezes, fatais.
Imagine se todos resolvem nunca mais envelhecer, que triste seria não ter a imagem de avó que sempre temos, com aqueles vestidos floridos, cheiro de talco, cabelos branquinhos como se flocos de neve tivessem acabado de cair. Ou então, aquele avô engraçado brincando com seu neto em um dia qualquer de sol, em um parque coberto por folhas do outono. Como é engraçado ver o avô na velha poltrona, roncando um sono delicioso devido a programação chatolóide da televisão. E ao lado dele, a avó desenhando com o tricô mais um suéter para o neto que acabou de se formar. Não consigo imaginar avós em mesas de cirurgia plástica. Até mesmo porque, isso deve ser muito triste.