Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Envelhecer é se deixar estar

É difícil aceitar que o envelhecimento é algo inevitável. Em algumas pessoas esse fato se torna doença. Hoje em dia existem vários processos para tentar retardar as gravidades da idade. Tanto faz se é botóx, lipoaspiração, massagens estéticas, geléias no rosto, banho de argila importada da Tasmânia e demais opções que às vezes soam como burlesca. Melhor ainda é se deixar levar pelas ações das intempéries da condição humana. Envelhecer com dignidade é a conseqüência mais aceitável, menos aos hipérboles e suas manias de juventude acima de tudo. Aquele ditado que "quanto mais velho melhor" poderia ser levado mais a sério. É legal observar os corajosos que aceitam os seus cabelos brancos, as suas rugas de experiência, a queda desenfreada de cabelo, a falta de colágeno na pele. Não se trata de vaidade, o negócio aqui é saber se por no lugar. Não é porque a velhice chega que algumas pessoas vão se privar de certos prazeres. Para quase tudo há a quase solução. Só não existe quase velhice.
Determinados indivíduos conseguem acompanhar o processo de mais um outono com a cabeça erguida, olhando para o avente em um horizonte distante que somente os românticos possuem a perspicácia de aprovar, encarar, se jogar, amar e aceitar. Os Rolling Stones sabem o que isso quer dizer, mas a Sophia Loren não.
A vida é repleta de obstáculos. E os da idade também devem ser levados em questão, sobretudo. Eternamente jovem já era, devia ter ficado nas mesas do Ivo Pitangui. Se bem que um seio farto de silicone é belíssimo, mas os naturais não causam mal. O artificial tem as suas peculiaridades, por vezes, fatais.
Imagine se todos resolvem nunca mais envelhecer, que triste seria não ter a imagem de avó que sempre temos, com aqueles vestidos floridos, cheiro de talco, cabelos branquinhos como se flocos de neve tivessem acabado de cair. Ou então, aquele avô engraçado brincando com seu neto em um dia qualquer de sol, em um parque coberto por folhas do outono. Como é engraçado ver o avô na velha poltrona, roncando um sono delicioso devido a programação chatolóide da televisão. E ao lado dele, a avó desenhando com o tricô mais um suéter para o neto que acabou de se formar. Não consigo imaginar avós em mesas de cirurgia plástica. Até mesmo porque, isso deve ser muito triste.