Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Zzz... Zzz... Zzz...

Bêbado. É assim que estou nessa segunda-feira de madrugada, após uma noite de samba, cerveja e fumaça. "Dois Barcos" é o que escuto enquanto fico no devaneio da vida. "Aponta pra fé e rema", aconselha o Marcelo Camelo. É lindo o sentimento nesse estado de pura recordação. Para refletir a verdade, nem sei qual é a lembrança, mas o saudosismo de algo que nem sei o que é me faz pensar que sou um sortudo. Não tenho a certeza de revelar essa sensação. Não sei o motivo, apenas divido. Não tenho ideia se querem saber, se entendem o que falo, se imaginam o sentir. Algumas coisas não possuem explicação, mesmo que procuramos os motivos, os resultados, as conclusões. Tão difícil entender a vida, não acham?
Eu fiquei pensando enquanto devia agir. Espero que não seja tarde, pois eu te amo. Novamente digo: não sei se querem saber, mas eu digo que gosto, que sinto algo bem forte nesse peito nu, aberto a possibilidade que não sabemos como será. Só digo que se for com você eu suporto o caos, eu reviro os mares, eu sobrevivo a fúria. Eu sei que tonto estou, culpa do álcool, porém, confirmo o sentir. Eu quero sentir, eu preciso sentir. Eu necessito isso junto ao meu corpo: eu quero a sua alma presa à minha, eu quero o seu beijo mais eterno. Eu mereço, enfim. Te amo, te ano, te mamo, te profano. Agora eu... Zzz... Zzz... Zzz... Te vejo em sonho. Boa noite também.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

A Sua Escolha

Há um mundo ali fora
Que explora o que você quer
Embora em sigilo
Estejamos neste abrigo.
Não imploro uma mudança
A andança já é tanta
Quero o seu olhar
Perdido nesta dança.
Eu tenho a minha dose exata
Deste sentimento que quero
E gosto quando você sorri
Mesmo não sorrindo.
Trago do fato uma esperança
A mesma que você escolhe
Carregando no rosto a mudança
De dias percebidos.
Não insista em questionar
Ninguém sabe do tempo
Meu futuro é quase ausente
Mas espero prosseguir.
Temos amor para tanto
Enquanto ainda suportarmos
Já que falas despejamos
E sabemos o travar.
Você tem a dose exata
Deste sentimento vivido
E sei que quer dos lábios
Mais do que palavras.
Traz uma esperança
Colhida na alternância
Que carregou junto ao tempo
De dias percebidos.
L.S. Handa

domingo, novembro 22, 2009

verSos de DesPEDIda

Um derrotado pelo não continuar que tentou brigar e desistiu/ Dos lábios guardarei a memória e riscarei as cicatrizes mais tristes/ Possível foi enquanto resistiu, mas quis o último verso e me caiu/ Na noite solitária o pensamento resposta trouxe/ Difícil acreditar enfim no concluir/ Um barco de razão viajou pelos canais e o corpo pediu abrigo para dormir/ O velho truque é sempre achado farsa, então que se faça decisão antes que exploda o crânio/ Sinto por retirar o seu anseio, mas o meu desejo ainda é livre-arbítrio.

terça-feira, novembro 17, 2009

Um silêncio no fim. A boca, carmim. Batom deixado, nos lábios, assim.
Sincero sorrir, meio triste, enfim. Quis cobrir a falta de alegria em mim.
Pedi um fato, recebi um toque. Fiquei a pedir, não refleti, fim.

terça-feira, novembro 10, 2009

30 e poucos anos

Meia-droga. 22h33. A maldita da Regina Spektor me infernizava pela caixinha preta do meu computador. Às vezes ela é uma chata, mas ajuda muito bem a ter uma boa noite de sono. Minha porção indie estava bem despertada no cerebelo. Até coloquei uma camiseta do The Killers para dormir. Ainda era cedo.
Curti mais um pouco e continuei uma pesquisa idiota sobre filmes da década de 1960. Não tinha a mínima ideia do por que daquilo. Mudei a sonoridade e parti para The Smiths. Os longas-metragens sumiram e logo comecei a bisbilhotar os amores. A fonte, claro, um site de relacionamento, se é que podemos chamar o Orkut disso.
Ok, nada melhor do que as lamúrias de Morrissey como trilha sonora. Primeira vítima: Luiza Vilela. Casou. Teve duas filhas, uma loirinha como ela e a outra morena como o pai, Patrício Albuquerque, advogado, de família tradicional. Um pulha de pessoa, tão arrogante quanto inteligente. Conseguiu a guria mais linda com base em O Pequeno Princípe. Genial! Arrancou-me pelos dedos a moça mais perfeita da cidade para um casamento lindo simplesmente porque não li a porra do clássico de Antoine de Saint-Exupery. Fazer o quê. Página virada e leite derramado.
Quando comecei a digitar o nome da segunda vítima, a bicha do Morrissey começou a me cuspir os versos de Please, Please, Please, Let Me Get What I Want. Tive vontade de chorar. Afinal, Maria Letícia foi a mulher que mais amei. Ela me deixou em depressão. A psicologia moderna nunca mais foi a mesma depois dela. O que ela causou em meu cérebro ninguém conseguiu explicar, nem o Freud! Comecei a desenvolver síndrome de pânico. Eu achava que ia morrer a qualquer momento. Fiquei anos sem poder ver uma moça com vestidos floridos e sentir aquele perfume mais clichê da Natura. Não gosto muito de lembrar, ainda tenho sequelas.
Maria Letícia gostava de filmes iranianos, algo que me dava ânsia. Adoro planos sequência, mas os cineastas do Irã exageram. Como qualquer letrista, Chico Buarque era o nome tatuado em suas costas. Idolatria em doses nada modestas, ela o bebia sem dó nem piedade. E eu que o adorava tanto comecei a sentir ódio. Enfim, atualmente Maria Letícia está solteira, leciona em uma universidade a disciplina de Literatura Brasileira e escreve críticas culturais em uma revista nacional. Terminamos porque eu, no alto da minha ignorância, disse que achava o Paulo Coelho um gênio.
Terceira vítima: Giseila Ribeiro Santanna da Silva Rodrigues. Nome terrível. Ainda não entendo como ficamos um ano, cinco meses, sete dias e três horas. Ela tinha tendências "axézeras". Sua bunda era linda, mas eu continuo a duvidar do seu caráter. Óbvio, me colocou alguns pares de chifres. Por causa dela aprendi umas posições bacanas, o que me ajudou nos outros relacionamentos. Virou stripper, fez um aborto, usou cocaína e dizia que me amava. Isso só me relembrou que a quarta vítima fui eu.
Pior agora que já é tarde, perdi um tempão remoendo o passado por nada. Agora vou ter que ouvir Regina Spektor para pegar no sono e tomar um café requentado. Que merda! Boa noite.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Meio desligado


Ando muito mais do que meio desligado. Não estou caminhando, nem cantando; nem seguindo a porra daquela canção. Ignorei a falsa baiana, o barato total e o drão, mas me exaltei nos mares de Caymmi. Hoje fiz uma canção e não assinei. Péssima. Levantei da rede e vi pela TV um moço que perdeu o lenço e o documento. Fiquei preocupado, afinal, aonde os jovens andam? Perderam a cabeça?

Fiquei um pouco de bobeira e uma abelha entrou na cozinha. Tentei matá-la, mas a desgraçada foi mais rápida: me picou. Acabou chorare. Deixei a água escorrer em minha mão e fiquei ouvindo um barulhinho bom. E o rádio ligado tocava aquela canção. Lembrei de você. Tem coisas que só o Roberto proporciona.

A tarde vazia anunciava pelo canal mais um dia de calor intenso, perfeito para a vadiagem. Sinal fechado para o sol, imaginava eu. Mas ele é muito mais esperto e não economizou na intensidade de seus raios. Tirei a calça para por uma bermuda e achei no bolso 10 reais. Dinheiro na mão é vendaval. Virou carteiras de cigarro.

Insisti em outra música, tentei um samba pra burro no cavaquinho e terminei como se estivesse em um carnaval na obra. Da lata nada tirei, busquei na minha intimidade e não consegui sortimento. Pensei em uma transa, invoquei Caetano e parei na contramão. Não consegui nada de produtivo e voltei para o mar. Curti o fim do sol e retornei ao lar, meio desligado.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Sem

Meu dia em sem
Com o seu aquém
Outrora quisesse
Além contrário
Sem o constrangimento
Nem contentamento.
Noite sub-usada afora
Embora enxergue
Um escuro feliz.
Noturno desejo
No corromper característico
Daquele artifício
De um tom absurdo,
De um ouvido errado
E de outro surdo.
Um resquício de dor
Nesse mútuo prazer
Sem ressentimento achar
Esperando uma cor.
Leonardo Handa

quarta-feira, setembro 30, 2009

Apenas Um

De toda a forma, o meu entregar ao seu lado/ Minha caricatura mais animalesca refletida no espelho/ Os seus olhos a penetrar/ A sua veia a admirar/ O seu coração para despedaçar.
De todo meu, o sincero fel ao escorrer do canal/ Um trunfo para admirar/ Sua respiração a acompanhar/ Segredos trocados na saliva/ Lasciva fala pronta para narrar.
Entrego o meu e acompanho a sua/ Lua baixa pronta de sangrar/ Cálice aberto de admitir/ Troco o pulso pelo momento/ Não adianta argumento/ Perco um pouco para viver.
Rabisco meu nome na pele/ Cicatrizo a fúria na tez do rosto/ Esotérico lido nos lábios/ Letra triste mimetizo nas costas/ Significado seja outrora não compreendido/ Meu amor hoje explícito.
Formam frases por vezes/ Depende agora do ângulo/ Mas apenas um aparece/ Algum sabe, outro esquece/ De maneira certa, tudo fecha/ Meu poema escondido/ Meu sentimento declarado.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Imaginando...


Um copo de conhaque acompanhado de uma tosse chata. A voz rouca por causa dos muitos cigarros e do exagero da noite passada. A meia-luz serve de distração para o inseto que nem percebe a sua real insignificância. A janela um pouco aberta. Apesar do frio, muito odor no quarto de um prédio de classe-média. A fumaça vai bailando encontrando o ar da rua que insiste em ser a veia dos poluentes mecânicos.
Acho que estou com um pouco de febre, sei lá. O bicho na lâmpada está começando a me incomodar. Logo esqueço. Leonard Cohen amortece os meus tímpanos e eu, em transe, me transporto para um campo de aveia. Fecho os olhos. Estou correndo sem direção alguma, só sentindo o vento morno adentrando os meus poros faciais. Sigo como um alucinado acreditando ser o humano mais feliz do mundo somente por causa do sol em meus lábios. O azul do céu é de um absurdo tão belo que praticamente esqueço que existem outras cores. O bardo canadense continua embalando, satisfazendo a minha sensação única de liberdade total. Trilha sonora perfeita para o meu exercício de relaxamento mental. Não sei mais onde estou. Não estou em São Paulo, não estou em um apartamento, não sinto cheiro de asfalto, não sinto o meu cigarro. Mas sinto o cheiro de mato, o calor na minha pele, a brisa em meus braços. Eu sinto um paraíso ao meu redor, o som de um riacho e de pássaros. Abro a boca para tentar engolir o ar e... Cof! Cof! Cof! Mas que inseto filha da puta!!!!!!!!!

domingo, setembro 13, 2009

Cansa


Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, quem sabe. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos tudo misturado jogado no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos, enjoados.

Quando se tenta colocar dois corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas.

Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor também bate na coxa. Como se bate. Mas, o músculo se cansa, leva o vermelho devagar que, enquanto descansa, não resiste e não levanta. O resto, óbvio. Aí não adianta, o jeito é rir ou encarar e entender: o amor cansa.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Sonho


Um dia aflito, repleto de despedidas, encontros e partidas. Meio cinza, meio bobo. O céu de um lamentar sinistro com pitadas de esperança naquelas nuvens de leve laranja que logo desaparecem no girar do mundo. Uma poesia lembrada e iluminada por lâmpadas fluorescentes de um local de autotráfego repleto de fumaça duvidosa. As horas morrendo em um relógio qualquer que está coberto de poeiras vindas de várias regiões. O sol se despede em um bailar desperado como se um casal estivesse realizando o último tango. Gotas iniciam uma chuva que não vinga de preguiça em molhar novamente o que já está úmido. E os pássaros em um voo raso procuram abrigo para descansar a sorte.

Um dos carros estacionam no tapete de asfalto que muitos pneus recebeu em suas costas. A entrada se abre a fim de receber outras situações que vivenciaram aquela canção do Milton. De fato alguns são jovens e ainda não tiveram tempo de degustar a novidade do sabor, mas são sábios o suficiente para entenderem que vão sentir futuramente. O truque não é ensinado em cartilhas, e sim, aprendido na quilometragem.

A bagagem adentra no ônibus como se fosse mais um esperma a conseguir perfurar o óvulo. O tímpano absorve os vários sons emitidos pelo lugar, das crianças gritando ao locutor anunciando mais um horário de embarque. A bituca do cigarro é arremessada. A imaginação traz um outro solo de guitarra. A bituca alcança o solo. E o solo aumenta no ouvido. A imaginação se confunde quando ouve: - tchau.

Um abraço e uma viagem. Encontros e partidas. "Coisa que gosto é poder partir sem ter planos, melhor ainda é poder voltar quando quero". Enquanto não, então, é imaginar. Por isso agora eu durmo para, talvez, te visualizar em um sonho.

quarta-feira, agosto 26, 2009


Daquilo que chamam amor, a lágrima mata a nobre lembrança: a esperança melhor. Mas, a falta de compreensão no cotidiano interferiu no entrelaçar das mãos.
O anel no dedo somente atrapalhou. Difícil se acostumar com o adorno anunciante de uma fase que deveria ser estável. Não foi.

Das poesias fizemos lixo e das músicas fizemos sertanejo. Desenvolvemos preconceito e qualquer ruído virava tragédia.

- O que há conosco?

- Há o fim.

- Espero que não.

quarta-feira, agosto 19, 2009

Um ode ao Adeus


Como será? Não sei. Apenas conto com os bons ventos para que a direção não esteja totalmente perdida. Afinal, lutei ao máximo a fim de contribuir na conquista de dias melhores. Eu sei que ficou enfadonho o sentido, mas a face exposta comprova exatamente isso.
Se um total reconhecimento não encontrado foi, desculpas pela falta de percepção apurada. Tratei de sangrar um pouco para marcar, no entanto, perdi mais do que o necessário, se é que necessidade cabe outro tanto.
Eu sei que vazei como pude, amando e armando ferramentas possíveis na continuação. Espero não ter errado e agora continuo a sobrevivência, seja com doses de tontura ou homeopatia Omar Cardoso.
Aspiro e expiro, fosse cigarro fumado até o filtro, fosse letras redigidas até o final. Fosse anos dedicados às linhas, fosse impressos divulgados em títulos. Fosse momentos conquistados antes, fosse satisfação esperada ontem. Fosse recessos e folgas planejadas, fosse ofício adorado aos montes. Fosse sal em certos dias, fosse sol em tardes prontas. Fosse contentamento publicado, fosse atualização on-line. Fosse foto, fosse fossa. Fosse pólvora, fosse açúcar. Fosse tudo, com nariz ao norte, sem mágoas e sem planos.

Bons ventos...

quinta-feira, agosto 13, 2009

Oculto


Trato ao contrário
Para fingir o certo
Que omito
E destranco em sorrisos
Ensaiados que fojem
Dos meus lábios.

É cediço, mas ignoro
Frêmito a negação
Em meu coração
Mesmo batendo oco
Um desejo verdadeiro.

Grimpo por delgados deletérios
E faço de suas páginas
Dobraduras que perduram
Em minha memória salutar.

Não é salobro
O meu sentimento
Prefiro não deixar por aí,
Espalhado em ares
Que não posso respirar.

Leonardo Handa

domingo, agosto 09, 2009

Narcisando


Cega a Luz
Do isqueiro
No apagado
Quarto isolado
Na memória
Solitária.

Escorre tinta
Do olho aberto
Que enxerga
O rachado teto
Aos poucos
Que cai.

Esporra com pó
O rosto áspero
Que espera
Um beijo
Mas o amor
Está morto
E jogado
Em um canto torto.

Desenha uma fuga
Pelo espelho
E se perde
Na vaidade
Que esconde
Em seu quarto.

O seu medo
É a beleza
Que de tristeza
Se torna bela.

Leonardo Handa

segunda-feira, agosto 03, 2009

Desqualificado Amor de Comercial


Desqualificado amor de comercial de jeans,
De comédia romântica trágica,
De refrigerante sem gás.
Romance adolescente de anúncio de shopping
Comprado em grife americana
Elevado ao último grau de consumo
Que uma revista pode vender.

Amor de embalagem colorida artificialmente
Tendo como acompanhamento
Uma canção de plástico reciclável
Gritada por um jovem com o cabelo
Cuidadosamente desarrumado.

Início de namoro fast-food consequente
Mascado como chiclete Adam's
Comprado na entrada do cinema
E jogado na lixeira do McDonald's.

Amor de consumo involuntário
Vendido em promoção de supermercado
Ilustrado com letras garrafais
E pendurado na vitrine das vaidades.

Romance pop de butique
Que derrete como picolé Kibon
Em alguma loja moda-jovem
De roupas com etiquetas caras
Que aceita cartões de crédito
Facilmente encontrados
Em postos de combustíveis
Com lojas de conveniência.

Leonardo Handa

segunda-feira, julho 27, 2009

Camarim


Faz o fato
Em um topo
E triste desliza
Em artefato.

O coração bate
Sem força
Enquanto a estaca
Penetra o ato.

Abre os olhos
E vê o escuro
Duvida do puro
E cega o fim.

Trava um silêncio,
Repensa a vida
E retorna ao palco
Depois do camarim.


Leonardo Handa

terça-feira, julho 14, 2009

A Pele do Demônio

Antes de mais nada, quero pedir desculpas a quem conseguir chegar ao final da canção. Trata-se de uma composição minha que ainda não tem arranjo de violão finalizado. Portanto, não estranhe aquela falta de sintonia, caso consiga chegar até o término do acorde. Carinhosamente, chamo essa música de "A Pele do Demônio". Ela fala sobre uma prostituta. Não sou muito bom em canções, mas criando coragem resolvi arriscar e colocar esse negócio aqui no meu espaço. Que vergonha. Segue a letra e o vídeo.

Arde em fogo triste
O contato com este corpo
Que dilacera os poros
E abre as minhas ventas.
O toque é exagero
Bem perto do beijo
Mas acostumo o ato
Pois o fato eu engoli.

Não tente de novo
Que eu revolto o estorvo
E arranco do tronco
Um novo ser oco.

Eu posso de um outro
Acabar a hora certa
Caso agora não queira
Continuar a minha oferta.
Arde em fogo triste
O contato com este corpo
Que dilacera os poros
E abre as minhas ventas.

sexta-feira, julho 03, 2009

Rasgo-me, desfaço-me. Tento entregar todas as possibilidades. Não consigo. Eu falho na minha fraqueza que quebra a continuação. Incerto é o seguimento, mas você não quer alterar as linhas cerebrais que transmitem o sentimento. Então eu fico amargo, retiro, tiro e coloco novamente. As palavras escapam totalmente distraidas, sem o devido acompanhamento do pensamento. Certas são tentativas de se acumularem e criarem frases de impacto, porém, elas se racham em um muro que nem a Alemanha teve.
O meu socialismo não pretende se entregar ao capitalismo que rege a sinfonia arterial presente em seu interior. Eu sei que quase sem querer um monópolio presencial você quer dissecar desse lado oriental. Pense um pouco no ocidente das tristes possibilidades que vão derreter pelos olhos já sofridos de ambos. O meu fundo respirar está deixando o frio ar invadir e procurar uma tranquilidade. Eu quero que nos encontremos, mas, por mais que o mundo seja movido pelas perguntas, possíveis respostas são soluções práticas que as equações não estão contribuindo.
Observo com calma, tento probabilidades, vejo os altos e baixos. High and Dry. Triste melodia na densidade craniana que deseja uma fratura somente para esvaziar as redundâncias que continuo a encher o seu encefálo. Perdoe-me. Desculpe pelas minhas contradições. Foi mal pela minha falta de caráter.

quinta-feira, julho 02, 2009

Individual gerando o coletivo



Somente o som de Santogold para gerar uma catarse individual em efeito coletivo. Muito bom.

domingo, junho 28, 2009

Insônia


Trata-se de uma complicação sem razões para desfechos, de um quebra-cabeça difícil de encontrar as peças. Fico pensando na melhor equação resultante de soluções, mas me atraco na inconstante falta de noção. Procuro a reflexão entre as imagens de ondas quebrando com um sol laranja de uma beleza californiana. Imagino-me longe, em outras costas. Fantasio outros acordes, de repente. Fecho os olhos e choro um outro domingo perdido. Sons de Take the long way home. Tímpanos perfurados.

Mas não é motivo de tristeza, afinal, a água vai e vem. O salgado é sábio e entende a hora de partir, apesar da insistente maresia que por vezes penetra a retina desatenta. No entanto, é essa a graça do viver, das mazelas, das dicotomias e dos contentamentos.

Uma vez me perguntaram se eu estava feliz. Eu respondi que estava contente. Chamaram-me de bobo, que eu deveria dizer que me encontrava alegre. Sei lá. Indefinições a parte, o fato é o não esquecimento daquele pôr-do-sol do oeste.

Eu tinha pensado em uma desgraça. Em um sumiço, em um contato. A madrugada não mostrou os caminhos. Apenas me transportei mentalmente para aquele lugar que eu nunca fui, sempre sonhei, mesmo com insônia.

sexta-feira, junho 19, 2009

Uma frase para derrubar as outras

O amor é brega. Uma nojeira capaz de retardar o culto, distorcer a ópera, borrar a arte. É o sentimento mais xaroposo, gosmento e ridículo. Ele deixa a pessoa com sintomas infantilóides, fazendo qualquer um murmurar gracinhas que terminam em “inho”. Fofinho, bonitinho, abracinho, beijinho. Retrocessos diminutivos que deixam qualquer um nominado como imbecil. Ele é brega porque acaba transformando qualquer declaração em petardos românticos. O ser atingido pelo amor é capaz de soltar frases de impacto, como: você é o recheio do meu sonho. Puxa vida, isso é pesaroso.
O amor é meloso. Faz com que o humano ouça beleza em canções tão díspares quanto chatas. Uma nota qualquer acaba se tornando um tema de novela da vida real. O amor é de uma breguice que somente o Odair José consegue cantar. Roberto Carlos caminha pelo mesmo trilho, mas não é charmosamente brega como o Odair. Ele é a mais perfeita tradução. Talvez o último romântico dos melodramáticos esquecidos nas prateleiras do saudosismo. Imbatível. Inquestionável. Capaz de tirar meretrizes de prostíbulos e fazê-las verdadeiras amantes sem medo. As suas músicas são frêmitos. Mulheres expostas que ouvem não tomam mais a pílula. Só mesmo o amor para parir um compositor jucundo.
O amor é uma jactância. Deixa a verruga peluda de um rosto qualquer em imperfeição bela, o detalhe completo para o desenho da cara. Torna a saliência lateral do pé no joanete mais lindo que alguém já teve. O amor é de uma bobeira incrível. Transforma metaleiro em poeta, poeta em best-seller, best-seller em filme, filme em sucesso e sucesso em dinheiro. O amor é ópio, alimento insalubre.
Imagine se o amor pudesse ser comprado em gôndolas de supermercados. Se pudesse ser levado em uma permuta ou comprado em uma liquidação a prazo, com 70% de desconto. Pense no amor servido em restaurantes self-service. Quantos gordos. Quantos calóricos. Quantos gulosos. Tudo o que é demais faz mal.
Mas, basta uma frase soletrada com talento para derrubar todas as outras: eu te amo. Pronto, o mundo desaba. Os lábios se encostam. Os enamorados desafiam as leis da física e fazem dois corpos ocuparem o mesmo espaço. Fazem rimas com estrelas, mar, céu e anexam em bilhetes acompanhados de flores. O amor, realmente, é um escárnio. Terrivelmente bom.
Leonardo Handa

terça-feira, junho 16, 2009

Sexta-feira, pop e cola

Hoje eu quero
Ver o carnaval passar
Em meu site predileto
Também pretendo beber
Cerveja quente na madrugada.

Acender uma bituca e dar
Uma baforada de gelo seco em minha sala.

Sentar ao relento e sorrir pensamentos distantes.

Fazer da dor
O meu
Sentimento a vapor.
Chorar álcool etílico
Em um copo de acrílico.

Lembrar beijos não dados
Em bocas conhecidas
E cair de bêbado
Em minha própria avenida.

Leonardo Handa

sexta-feira, junho 12, 2009

iPod

Uma canção de beijos desesperados rola no iPod. Meia luz escura no apartamento. Ela, deitada no sofá, olha a foto mais feliz: lábios em contato acompanhando a canção. A água ameaça pingar pela torneira da cozinha, mas o que desliza é a mão pelo rosto. O cantor da música dá razão aos sentimentos da moça. O tom aumenta e um falsete desesperado rasga o tímpano sofrido. O olho não segura e permite um deslize.
A lágrima encontra a almofada, que já está molhada desde o verão passado. A sequência de acordes termina e ela volta ao zero, coloca no repeat e se deixa envolver pela atmosfera subversivamente caótica da canção. Levanta-se como quem quisesse se deitar novamente, lança um olhar de desprezo na foto e grita ao primeiro corte. A canção está tocando pela terceira vez. Os joelhos encontram o chão e uma surdez mórbida invade por alguns segundos.
Ela sente deliciosamente o que pensou ser uma lâmina. O objeto fica encaixado enquanto o fluído ameaça escorrer. Desliza. Lisa. Desfaz. Delícia.
Deita-se no tapete felpudo e se deixa atingir por mais um golpe. Dessa vez não resiste e se agarra no vazio sentir do momento. E o iPod para de funcionar.

segunda-feira, junho 01, 2009

Sujeito Oculto


Um torto ao leste reclama direção
Mas segue afoito pelo lado errado.
Não há bússola de consolo
Muito menos central de informação,
Só o destino para aconselhar
A perdição que segue encontrando.

A confusão mental atordoa o coração
E persegue o cotidiano da caminhada.
Percebe que é um sujetio oculto
Entregue ao caos que não construiu.


Eu tentei avisar dos perigos futuros
E você não quis considerar a dor,
Levou à boca os sonhos líquidos
Acreditando serem a razão.


Sabemos que estamos cansados
E o prosseguir é uma estrada
Repleta de placas que não indicam,
Apenas desvirtuam as direções.


Está complicado encontrar
Um solução para a causa.
Então siga torto ao leste
Já que não tem outra opção.

quinta-feira, maio 28, 2009

madrugar_portisheadeano_________

"Roads" no fone de ouvido. Vela acesa. Cabeça repousando no travesseiro. Beth Orton, com a sua suave e melancólica voz, dá toda a razão ao penetrar no tímpano.
"Ninguém consegue ver? Temos uma guerra para travar/ Nunca achamos nosso caminho, diferente do que eles dizem / Como pode parecer tão errado? Para esse momento, como pode parecer tão errado? Tempestade na luz da manhã / Eu sinto / Não posso dizer mais, congelada para mim mesmo".
Respira. Inspira. Aspira. Expirra. A poeira da memória provoca sensações indeléveis, ainda mais com a trilha sonora perfeita para vasculhar o velho baú de lembranças. A imaginação a transporta ao mesmo local do primeiro sexo. Também do segundo, do terceiro e do quarto. Ela segura com os cílios a lágrima que não insistiu em cair. A solidão tem dessas coisas: proporcionar uma reviravolta mental.
Tinha tanta esperança carregada no coração, presa em um colar que não tira nem para tomar banho. Mas, como toda e qualquer traição oferece inícios, também possibilita fins. A cicatriz do passado já se fechou, no entanto, provoca dores de vez em quando. A sofreguidão de alguns atos provocam esse descarrego, pensava ela, iluminada pela luz da vela.
Naquele momento, "Strangers", outro petardo sônico a acompanha na trip da ressaca do pensar:
"Alguém pode ver a luz onde a aurora encontra o orvalho e a maré sobe / Você percebeu, ninguém pode ver dentro da sua visão / Você percebeu porque essa visão pertence a você".
Fechou os olhos e abriu um sorriso como se tivesse decifrado um enigma, enganado o pensar, respondido o destino. Ela abraçou o travesseiro e dormiu em um sono alucinante de paz frenética que nenhuma concepção pode explicar. Somente ela e o seu madrugar.

Cego Rever


Uma triste e bela canção arranca um pingo dos canais lacrimais. Faz-se forte a lembrança de um esquecimento que não se dissolveu. O causar de um arrepio viaja em alta velocidade através das veias. Foi mais um sonho ruim, mas eles aparecem na alta madrugada. A música contribuiu no relembrar:

"Um caso por acaso
Causou um desabar.
Fracasso em sentir
Um bom gostar.
Travado um soltar de sentimentos
Repudiou o decepcionar.
Abriu com os olhos
A falsa esperança de criar.
Jogou morno um arquétipo de imaginar.
Parou no momento em que deveria não fraquejar.
Deixou-se ao ar, levando um fim.
Traçou em memórias agonias sem iguais".


O período dificultou os trejeitos do sentir. Revelou uma saída mortal de mentir. Foi triste a iguaria que bebeu. Amaldiçoou o alvo do acaso retumbante. Escorreu pelo ventre uma saudade definitiva. E sobreviveu na consequência do exuberante. Fechou novamente os olhos e se tornou a gostar. Deixou-se após o sofrer e seguiu pelos caminhos do romper. Cheirou a última memória e agraciou o cego rever.

terça-feira, maio 26, 2009

A Canção que Você me Deu


Boa melancolia que me segue nesta manhã chuvosa. Não quero mais encontrar os motivos. Eu acreditava que quanto mais velhos ficávamos, menos dúvidas teríamos. Acontece justamente o contrário. Os anos passam e algumas razões não são esclarecidas. Agarro-me à música que você me deu a fim de me confortar com algo. Já passei da idade de ser um sofredor, mesmo o sofrimento ser considerado um sentimento sem idade. É difícil olhar as pessoas ao redor que remetem as suas características. Mais estranho é perceber que todas se parecem contigo, mas você não se parece com elas. Não consigo explicar. É confuso.

Ontem a noite fiquei me emocionando. Estava sozinho, em frente ao computador, vendo um trailer de um filme brasileiro. Ele me lembrou algumas situações que, incrivelmente, ainda não vivi. Senti falta de algo que ainda não tive contato. Pirei. Acendi um cigarro, mesmo não sendo um fumante, só para tentar sentir o seu hálito. Sinto falta. Quarto com meia-luz, Mark Lanegan na vitrola, troca de carinhos, poesias e vinho tinto. Isso não foi experimentado, porém, sinto falta. Você deve achar que estou ficando louco, perdendo a razão e o controle. De fato, não sei explicar. Confesso que não se trata de desespero, pois estou tranquilo e curtindo a melancolia com uma sagacidade que não imaginava ter. É saudade, isso eu tenho certeza. Mas do quê?

Não quero parecer um lunático como um personagem de David Lynch. O meu lúdico, agora, é vivenciar essas dúvidas, essas incertas que são certas. Afinal, a única certeza é o incerto que sou, com todo o perdão da redundância. Se era para causar impacto, a frase ficou mais parecida com um trocadilho de alguma letra do Humberto Gessinger. São tantas besteiras que acabo me divertindo sozinho nesses devaneios que relato. Sou quase um ator da minha sobrevivência, interpretando um eu que fantasio sem preguiça. Confundo o real.

E agora, aqui, nessa manhã chuvosa, com um céu cinza de uma bobeira modesta, abro um sorriso torto, tendo como conforto a canção que voce me deu. Um outro personagem que sigo interpretando. Um outro fato que sigo relatando. Um outro amor que não é meu. Uma outra situação que não vivi. Um outro beijo que não ganhei. Um outro imaginário que não sou eu. Uma outra confusão que absorveu, ficou no corpo e não morreu.

quarta-feira, maio 20, 2009

O dia em que pato-branquenses e beltronenses se encontraram na capital


Concentração pré-Oasis vira catarse
em bar irlandês ao som da Radiophonics

Parecia um bar da região, não pela arquitetura e decoração, e sim, pela quantidade de figuras carimbadas. Os rostos eram conhecidos. A banda, idem. Só a cerveja popular do local não era a mesma consumida com frequência no Sudoeste.
O lugar da festa, Sheridan’s Irish Pub, definido como um bar irlandês, foi o ponto da reunião dos pato-branquenses e beltronenses que seguiram à capital do Estado para curtir um grupo britânico, mas acabaram um dia antes, graças à agenda, prestigiando a sudoestina Radiophonics, que recentemente fechou contrato com o bar.
Há tempos a banda pensava em alçar vôos maiores, fugindo do esquema-estrada-Pato-Beltrão. Inclusive, chegaram a tocar em São Paulo, capital, quando puderam divulgar o CD demo “Mosaico”. Algo que agora está acontecendo em Curitiba, onde o grupo tocará todas as sextas-feiras no Sheridan’s, localizado no meio da concentração de bares do Batel.
Após uma chegada conturbada, devido ao alto fluxo de carros pela avenida, o espaço em frente ao palco foi lotando de jovens de Pato City e Chico Bel. O forte sotaque do Sudoeste era abafado pela banda de abertura que tocava covers do Creedence Clearwater Revival. Nada mal, mas não empolgava muito.
No canto direito do lugar, uma pequena concentração de alegria iniciava um aquecimento etílico. A cada pessoa que abria a porta, gritos de reconhecimento alertavam que a noite prometia. Última canção. Ufa. A proto-história do Creedence encerrava o set list. No telão, aquele clipe do Red Hot Chilli Peppers que simula um jogo de videogame. A Radiophonics sobe. Um outro clipe entra. Madonna se contorcendo na fase “Ray Of Light”. Mais rostos conhecidos entram no local. Muda o clipe. Morrissey pós-Smiths. Uma pequena microfonia evidencia. “Atenção o Show Vai Começar”. Primeira faixa do disco demo. E assim iniciava a apresentação da Radiophonics, grupo formado por Digão (guitarra/voz), Jabuti (guitarra/vocal), Brod (baixo/vocal) e Marcelo (bateria).
A energia canalizada percorria entre as pessoas. A noite estava propícia para a diversão. Som ótimo, local também. Foi admirável presenciar a banda tão entrosada e tocando com vontade a enigmática “Eulália”, música própria de versos que formam um quebra cabeça de contágio. O público sudoestino, lógico, em uníssono acompanhou a melodia. O vocalista abre um sorriso e solta a já clássica: “massa, meu!”.
Com um set list que não deixava tempo para sossegar e por vezes executando as composições do disco demo, a Radiophonics chegou a um nível de engranzo que comprova a boa fase a qual está passando. Se o reconhecimento regional já existe, é questão de tempo para alcançarem prestígio estadual. Por mais que a concentração de pato-branquenses e beltronenses tenha proporcionado o agito, a banda também conquistou o público não sudoestino do bar.

CD demo
Intitulado “Mosaico”, o grupo vem divulgando e distribuindo o trabalho demo pelos locais onde tocam. Aos interessados, algumas das canções podem ser encontradas no
www.myspace.com/radiophonics.
Gravado em um esquema “do it yourself”, as músicas próprias apresentam um apelo pop sem serem pasteurizadas. Certos arranjos se mostram crus de um propósito que se enquadra em adjetivos positivos, como na canção “Único Amor”, uma balada de melodia perfeita que cresce nos berros do vocalista.
Na bolachinha também se encontra a já clássica “Eulália” e as músicas de trabalho “Mosaico” e “Ela Me Faz Pirar”, que tem todas as qualidades para tocar no rádio, ser tema de casal teen de folhetim ou trilha para algum filme do Jorge Furtado. Agora, para a banda, tudo é uma questão de tempo, pois o caminho já começou.

Leonardo Handa – Jornalista (DRT 6323-PR) –

terça-feira, maio 19, 2009

Duo

Horóscopos mudados. Propósitos razoáveis. Desculpas sinceras. Aceitas depois. Referências abstratas. Motivos explicativos. Joguetes do destino. Consequências variáveis. Conversas destruidoras. Invertidos sentidos. Amor demais. Menos amor. Pensamentos noturnos. Estradas vazias. Soluções difíceis. Infeliz aniversário. Cigarros comprados. Pagamentos atrasados. Momentos alegres. Momentos tristes. Ambiguidade saliente. Sentimento exacerbado. Choro bebido. Tabaco apagado. Complicado viver. Vida segue. Tanta dor. Comunhão alguma. Divisão outrora. Celular desligado. Jantar confiscado. Passado presente. Presente futuro. Futuro passado. Dizeres de impacto. Ausente dizer. Mais melancolia. Dia e noite. Noite e dia. Sortimento furado. Esperança depois. Sonhos claustrofóbicos. Crises constantes. Sexo trocado. Opostos ligados. Culpado expresso. Confesso sim. Produtos sentimentais. Palavras adiantadas. Bebidas ingeridas. Capsúlas indigestas. Festas vividas. Troca e metade. Duas diferenças. Verdade absoluta. Mentira rasgada. Sincera lágrima. Medo agora. Mudança necessária. Uma parte. Outra parte. Parte inteira. Inteira incompleta. Aguentar azedo. Outro sofrimento. Falta de alimento. Tentativa errada. Quebra-cabeça. Contrato expirado. Vômito interrompido. Horas assassinadas. Desejo de gozo. Sempre rápido. Noutro lugar. Banco traseiro. Tempo ficar. Tempo flutuar. Tempo passar. Cura suplicada. Tempero salgado. Belle and Sebastian. Pneu marcado. Lama e caos. Sorriso fechado. Cara emburrada. Lembranças esquecidas. Recordadas aflitas. Droga encontrada. Cronologia mudada. Percepção de culpa. Ausência de culpa. Culpa novamente. Desculpas agora. Verdade sincera. Lágrimas enfim. Madrugadas fracassadas. Planos furados. Corpo furado. Alma furada. Riso furado. "Afe" odiado. Confesso não. Infeliz aniversário. Desejo oposto. Siga a vida. Como será? Sem obrigação. Melhor ainda. Pressionado desencanto. Fragmentos vividos. Momentos bons. Momentos maus. Momentos ruins. Momentos ótimos. Desculpe novamente. Novamente desculpo. Como fazer? Sei lá. Só queria. Solução repentina. Sugestão ausente. Querer sofrer. Desejo o melhor. Viver a vida. Sobreviver também. Mais um. Ano bom? Depende do quê? Horóscopo responde. Sigamos então. Deixe estar. Aniversário passar.

segunda-feira, maio 18, 2009

A perfeita tradução da idiossincrasia


Sem o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o ficcional não seria tão verdadeiramente pitoresco

Parafraseando uma clássica frase do filósofo Nietzsche, o cinema sem as películas de Pedro Almodóvar seria um erro. O exagero é necessário, afinal, não se trata de um normal, mas da pessoa que consegue tirar graça das tragédias. O diretor espanhol possui mais peculiaridade do que a invasão dos Estados Unidos no Iraque, do que a derrota da seleção brasileira na Copa de 1998 e do que a morte de Getúlio Vargas. Ele é praticamente a melhor tradução da idiossincrasia. As suas mulheres bizarras são sexys, os seus personagens são afavelmente caricatos, seus roteiros são miscelâneas de absurdos deliciosos e suas metáforas visuais são deleites antropofágicos para os puristas.
A extensa filmografia de Almodóvar iniciou em 1974, quando dirigiu dois curtas-metragens, “Film Político” e “Dos Putas, A Historia de Amor que Termina en Boda”. Herdeiro direto da linguagem pitoresco-criativa do diretor Luiz Buñuel, influência soberana nos arquétipos almodovarianos, o criador de figuras berrantes e cativantes nasceu pobre em Calzada de Calatrava e ajudava a família em um comércio de objetos de segunda mão. Desde cedo tinha uma única certeza: trabalhar com arte.
No início da década de 1970, mudou-se para Madri, cidade-fetiche mostrada em vários de seus filmes. Estudou cinema na Escuela Oficial de Cine, mas não concluiu o curso devido ao governo do ditador Francisco Franco. Na infância, recebeu ensino religioso. Ganhou traumas. Perdeu a fé. Foi abusado. Resquícios daquelas tristes memórias ganharam físico no longa-metragem “A Má Educação” (2002), um quase fato real baseado em sua experiência em um colégio administrado pela igreja católica, instituição a qual ama ridicularizar em seus compêndios de escárnio e exacerbações. Em “Maus Hábitos” (1983), Almodóvar destilou o seu veneno no roteiro do filme que apresenta um surreal convento habitado por freiras lésbicas e taradas, tudo pintado nas infindáveis cores fortes que cospe em suas direções fotográficas. Afinal, só mesmo o espanhol consegue combinar o gritante vermelho de batons com paredes verde limão, sapatos rosa com cabelos amarelos e vestidos de poá azul com música do Caetano Veloso.
Sem Almodóvar o cinema mundial não teria o preconceito tratado de maneira original. Homossexual assumido, a polêmica pode ser considerada um adjetivo em seus longas-metragens. Em “Labirinto das Paixões” (1982), o autor escreveu um inusitado roteiro onde o filho gay de um imperador se envolve amorosamente com um terrorista que, por sua vez, tem um romance com uma ninfomaníaca. Ojeriza total aos padrões.
Essa característica controvertida já vinha de outros tempos. Antes de se aventurar atrás das câmeras, ele escreveu uma novela em histórias em quadrinhos chamada “Fogo nas Entranhas” e desenvolveu uma fotonovela pornô, “Toda Tuya”. O passado só foi válvula de escape para as suas futuras doidices cinematográficas.

Alma feminina
No final da década de 1980, Almodóvar seguiu uma direção de lirismo marginal mais suavizado, contudo, sem perder os alfinetes palavreados e a estética visual de personagens estróinas. Seu interesse se voltou às mulheres. A sutil mudança lhe rendeu uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro por “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” (1988).
As complexas facetas femininas também davam as caras em seus longas seguintes, “Ata-me” (1990), “De Salto Alto” (1991), “Kika” (1993) e “A Flor do Meu Segredo” (1995). Mas a sua fama de relator urbano do dito sexo frágil nada seria sem a contribuição que conseguiu fazer com atrizes tão talentosas como Carmen Maura (sua parceira artística mais fiel), Cecilia Roth, Marisa Paredes, Victoria Abril, Rossy de Palma e Penélope Cruz. A última, inclusive, só se tornou o que é hoje graças ao apadrinhamento de Almodóvar. Suas primeiras atuações eram dignas de teatro feito em jardim da infância. Depois de dirigida pelo espanhol, aprendeu os mecanismos da profissão, faturando prêmios ao redor do mundo, como o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Vicky Cristina Barcelona” (2008).
O universo feminino de Almodóvar alcançaria o ápice no seu clássico “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999), talvez o melhor de sua filmografia. Nunca os risos e as lágrimas ficaram tão bem dosados, nunca o kitsch se tornou chique e o sombrio tão apaziguador. Mesmo em “Fale com Ela” (2002), filme com destaque masculino, a ótica feminina é o que prevalece.
As mulheres do espanhol são incontroláveis, sexualmente fortes e passionais sem arrependimentos. Sem Almodóvar, a cinematografia não seria tão coloridamente fascinante.

Leonardo Handa – Jornalista

quarta-feira, maio 13, 2009


Em seu ar

Livre eu vou

Não importando

O tempo

Incorporado

Ao vento.


Paraliso o clima,

Volto ao sol

E nunca me lamento.


Em sua água

Não me desencanto

E sigo calmo

O seu canto.


Penso sempre

Em suas costas

As mais belas

Já registradas

Pelas retinas

Hoje cansadas

De voltar.

quinta-feira, maio 07, 2009


Na impressão da letra torta revela as vontades das felicidades vorazes. Atrozes gostos de critérios milimetricamente estudados, tudo para satisfazer os desejos solicitados. Lado avesso dos sentimentos, por assim dizer, graças a violentas noites de prazer roubadas a golpes de alcatrão. Jorge Drexler dava razão enquanto o ponteiro maior do relógio seguia o seu cotidiano de matar os minutos. Segue para o copo mais uma coragem líquida a fim de continuar o testemunho exacerbado de delicadezas fraseadas.

Em um momento interrompe a ação e viaja em pensamentos outros. Segundos de fragmentos imaginados junto ao transtorno bipolar que envoca um novo gole de vodca. Literatura chinesa vendida pela Acadêmia de Letras como retrato paraguaio. Certos pensamentos, de fato, ficam sem nexo, soltos, hipérboles. Resquícios que acabam desconcentrando o raciocínio. Como a frase ali agora pouco lida.

Retorna ao centro do epicentro centralizado na ponta do centralizador. Por pouco escapou do meio. Um meio abraço, um meio tchau, um meio beijo, uma meia ideia, uma meia suja, uma meia furada, uma meia inteira. Novamente, se perde. Volta, então, ao meio tratado, ao meio fim, ao meio dizer, ao meio desculpar, ao meio considerar. O objetivo é único, simples: terminar. Metades relacionais não fazem sentido em envolvimentos que, afinal, querem o todo. Se metades adiantassem, o problema seria solucionado. Mas, como se trata de uma conta, ela precisa de um final. Por isso, termina a carta na imprecisão da letra torta que conta através de delicadezas fraseadas, ao som de Jorge Drexler, em que pede uma desculpa, dá um adeus e deseja força. Sempre.

segunda-feira, maio 04, 2009


Meu underground. Minha memória sem lembrança. Minha lembrança sem memória. Meu livro sem frases. Meu canto sem lados. Minha dislexia sem consoantes. Minha música sem nota. Meu grito sem voz. Meu tempo sem espaço. Meu teclado sem letras. Minha queda sem ar. Meu relógio sem ponteiro. Meu passado sem história. Meu futuro sem previsão. Meu signo sem horóscopo. Meu amor sem sentimento. Minha sinuca sem caçapa. Minha tristeza sem razão. Meu coração sem artérias. Minha fotografia sem luz. Meu calendário sem datas. Meu concreto sem cimento. Minha planta sem semente. Meu genoma sem pesquisa. Meu prato sem comida.


Meu underground...

... Minha simples ironia.

terça-feira, abril 28, 2009

Assassino diário


Deserto-umbigo no fluxo limpo do quarto branco. A janela entre-aberta permite que o ar denso invada o recinto. A tranquilidade se encontra na cama com os olhos fechados e a respiração cansada. Momento único de meditação. A vela compõem o auxílio de projeção de sombras que formam desenhos assustadores e simpáticos. No chão, o cinzeiro cheio até a borda de assassinos diários que não arrancam a vida de uma vez só. São deliciosos, principalmente após as refeições, no entanto, as campanhas de sensibilização dizem que são mortais. A boa alma retorce o sentido e prefere não ligar para a consciência.

23h18. O som do vizinho pede licença e vaza das caixas "Sex On Fire". Kings of Leon sempre permitiu agitos nos neurônios do rapaz, o mesmo que antes relaxava entre os brancos dos travesseiros. Os olhos ouvem, os ouvidos enxergam. Os sentidos se confundem. O pensamento sereno dá lugar a memórias transloucadas de um amor cravado e enterrado tempos depois. Um videoclipe na coluna dorsal se forma, viajando em elementos químicos até o cérebro. O beijo se forma, aparece, ressurge. Os lábios deixam um sorriso escapar. Os poros se abrem. A respiração recupera o movimento. A melodia da canção recobra o sabor da boca, o poder do toque, o calor da epiderme. O cansaço some, a empolgação extrapola dos pés aos fios do cabelo. O gostar explode no nariz, fazendo sentir novamente o perfume terrivelmente doce, e terrivelmente bom. Mas a música acaba. Não fica a melancolia na cabeça. Nem no corpo. Só a lembrança quase esquecida de um período único. Respira, expira, inspira. E acende mais um assassino presente no cotidiano fugaz.

segunda-feira, abril 27, 2009

Linfoma


Um CAOS que
Não recupero
E opero em uma rota
FORA DO ARROTO
Digestivo.

Sugiro um outro CAMPO
Bem mais amplo
Do que o traçado.
Mas sou CONTRARIADO
E alvejado.


Suplico atenção
Na DESORIENTAÇÃO
Que a atual vida
Me questiona.
Só assim para
Não falecer
De linfoma.

quarta-feira, abril 22, 2009

00h00



Poesia das mãos, escorrendo uma sinistra
Vontade de sangrar
Os versos mais tristes
Em homenagem a você,
A responsável pela doença
Que me come
E me evapora
A cada mensagem
Que leio à meia-noite.

Não há razão para tanta marca
Já que agora o que eu quero
É cravar a minha caneta
Em seu olho esquerdo.

Deixe eu vazar a minha sílaba
Mais feroz em sua pele
Arrancando da sua pálpebra
O meu lado mais violento
Que quer florescer frente aos seus olhos
Que eu quero cegar com a palavra
Mais peçonhenta que ainda vou criar
Na semântica do ódio
Das preces que eu vou cuspir
Quando a sua retina
Eu fizer cair.

Leonardo Handa - 23 de janeiro

quarta-feira, abril 15, 2009

Poligamia


Estou praticando muito a poligamia. Não tenho culpa, encontro muitas pessoas interessantes. Quando percebo, o amor já aconteceu. Às vezes é apenas uma transa, em outras é paixão. Nego a culpa e não considero traição, de maneira alguma. Podem me chamar de puto, galinha, cretino e demais adjetivos peçonhentos. O meu veneno é mais em baixo, confesso. O fato é que tal ato me inspira no dia-a-dia, seja através de escritos, doses homeopáticas de gratidão, na minha musicalidade, no jeito de ver as coisas, as pessoas e as leituras. Não é de boa índole, mas aconselho a poligamia a qual me refiro.Ontem a noite a suruba foi geral. Várias posições, encaixes, diálogos e sussuros. Gemidos também, muitos. Culpa da Kim Deal. Ela é fogo. Foi a primeira. Quando percebi, os outros integrantes do Pixies estavam juntos. Quando terminamos, fui para cama com Sonic Youth e, para apimentar o papo cabeça clitoriano (!), convidamos Nietzsche. Na realidade, queríamos o casal estranho Sartre e Simone, mas os dois estavam ocupados demais com as suas putinhas. Passamos duas horas ótimas, com direito a vinho e petiscos. Não ficamos mais devido a contratempos do Sonic Youth, que insistia em ir embora. Foi nesse momento que entraram para a festa o pessoal do Cansei de Ser Sexy. Muito álcool, com sentido cool. Diversão na certa. As meninas são ótimas. Não me acanhei e convidei o Klaxons também, diretos da Europa para o meu quarto. Que transa!Passados alguns minutos de tempo, afinal, houve prorrogação, somente para desconsertar entrou na folia a galera queer. Uma delas era duvidosa, mas a Adriana Calcanhoto sabe muito bem agradar. Ela não veio trajada de seu personagem infantil, eu desdenho a pedofilia. Angela Ro Ro, quando era Keuroac, também se juntou. Gal e Bethania não. Já a Ana Carolina só deu uma passada. Atualmente, ela está mais interessada na Madonna. Outra que passou de relance foi a Nelly Furtado, já que demonstrou interesse ambíguo nos últimos dias. Deliciosamente pop. Para engrossar o caldo, Rufus Wainwright apimentou os sabores. O doce do amargo escorreu pelo papel que tinha escrito versos de amores. Quem curtiu a idéia foi o John Frusciante, um talento que fascinou. Que o diga o falecido River Phoenix. A sacanagem foi legal.Quando acordei, embriagado, é óbvio, outros parceiros dividiam a cama. E lá estavam Ariano Suassuna, Hunter Thompson e Nick Hornby. Ao lado, Fiona Apple, Tori Amos e Patti Smith, todos abraçados. Lindo! Não agüentei e os convidei para mais uma rodada. Orgiástico!!!!!Tudo acabou em caos, com o Queens Of The Stone Age e um gelado café da manhã. Não houve foda, apenas uma boa conversa. Pesada, diga-se de passagem, a respeito de putas e peitinhos de silicone. Logo após, fui trabalhar. Mas eu sei que a noite vai ter mais.

terça-feira, abril 14, 2009

Green Card


Na cadência de um quase samba levanto o seu véu. O olho absurdo revela um lado obscuro que me causa sensações pornográficas. Engulo a saliva. Lambo os lábios. Você me sorri um torto desejo. Eu devolvo um concordar imediato. Não era para ser a conclusão do amor, e sim, a continuação, mas o destino quis o contrário. A noite acabou testemunha da comunhão.

O quarto branco. Os lençóis, as taças, os morangos. O colar despedaçado, o vestido rasgado. A violência gentil do ato, o contato da pele. O raspar dos dedos. Tudo frenético, com o respeito do sentimento. A cena devia ter sido gravada para vermos na separação. Afinal, vai acontecer. Sabemos que o efemêro nos completa. Somos alimento do imediato. Daqui uns anos cada qual voltará ao seu estado regular, desregulando os caminhos iniciados. Não adianta acreditar no contrário, temos a convicção de uma certeza definitiva. Não se trata de amor, são negócios. Mas, se aqui estamos, gozemos um tanto.

segunda-feira, março 30, 2009

Onde Moram os Moleques


Viajo dentro de uma canção, acompanhado de uma boa xícara de café. Relembro uma infância. Tempos difíceis, mas divertidos. O coração na boca ao pular de um muro alto em uma caixa de areia. Tardes vadias em uma madeireira abandonada. Um quase tétano pego em uma lâmina. Um amigo lá para dar a mão. Início de noite em um pé de ameixa. O horário de verão era sempre comemorado com a empolgação cavalar. Um rádio a pilha. Uma sintonia qualquer. Um pôr-do-sol no interior. Os joelhos sujos, as canelas arranhadas. O All Star acabado. A conga destroçada. O riacho sem peixe, as pedras com rostos humanos, os pássaros soltos. O cachorro companheiro, as piadinhas inocentes, as revistas de catequese. As aulas cabuladas, os dias de futsal, as camisetas brancas limpas com Omo. O truque da moeda, a brincadeira do copo, o medo de ser pego. As meninas de Azaléia, os vestidos rodados, os ensaios na casa mal-assombrada. As noites de sábado. Videogame com Baconzitos. As conversas de madrugada, os sonhos adiados. As cicatrizes nos prazos, os ralados nos dedos. O vidro quebrado do vizinho. A correria depois do almoço. A louça para enxugar, os casos para contar, as férias de inverno e as histórias da praia. Os reencontros em janeiro, o vazio dos potes de biscoitos, as laranjas que viravam bombas e os papelões que se tornavam escudos. As armas jogadas na rua, o limão com sal, o suco de pacote e o bando reunido. O lago companheiro, as roupas rasgadas, o choro sincero, o tombo certeiro. A música acaba, mas a lembrança com o café continua...

sexta-feira, março 27, 2009

Por Favor


Entrego as chaves do meu tímpano

Para que você entre com as suas ladainhas.

Desvisto as minhas complicações

Fazendo do simples a minha tradição,

Mesmo sabendo que voltarei

Às minhas belas contradições.


Não sei dizer se é tarde

Apenas quero aquela paz

As vontades são contrariadas

Então pego outras estradas.


Permito o acesso contrariado

Deixo a entrada aberta

Mas acho que estou morrendo

Um pouco mais por essa fresta.

Vazo um tanto de calafrio

Engulo muito o fel

Tento bloquear o pensamento

E retorno rápido do céu.


Às vezes acho que encontro

Percebo depois que estou tonto

Um pouco procuro a calma

E ela revolta logo a alma.


Então eu me rendo

Permito o acesso contrariado

Para depois novamente

Encontrar-me dormente.


Leonardo Handa - 27/03/2008