Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, junho 24, 2021

Bagagens

As malas estão prontas e deixadas perto da porta
Não tenha medo do que virá nas próximas horas.
Eu sei que temos contradições, mas deixe estar
Melhor aproveitar do que ficar com carícia torta.
Deixo minha concepção de sentimento em seu retrato
Não tenho medo do que virá e lhe digo que saberei suportar.
Procuro em outro tempo o consolo enquanto desejo seu abraço
Mas as malas estão aí e só você sabe para onde levá-las.
Só lhe peço para voltar os seus olhos a si
Não se preocupe com o que vai acontecer
Viva a intensidade se puder, sem se arrepender do viver
A saudade permanecerá caso o que tenha falado seja verdadeiro.
Meu dedilhado ao violão não está triste
Pois vale qualquer coisa, menos a mentira
E como sei que não houve admiro a preocupação
Só que despedidas sempre hão de surgir.

lsH 
 Eu quero aquele verso torto, todo fodido, rasgado e arregaçado. Aquele que vibra a vida com uma ardência nada categórica, muito alegórica, hiperbólica e cheia de cólera. Algo que fale mal, deliciosamente. Um jorro na cara de lambuzar os olhos lacrimejados. Quero uma canção arrancada do coração, sangrenta, como uma balada que estupra o peito. Venha-me, solte-me e cuspa-me aquela frase gritada, igual uma puta num coito interrompido. Quero o tremular das pernas, o balançar das cadeiras, a quebra da lombar no berro em si bemol. Desejo a gostosura das falácias inconsequentes, da porra quente de uma estúpida masturbação. Também quero o ódio para alimentar meu corpo em fúria, só para que a vazão da marginalidade não me faça esquecer o quanto é bom se sentir assim: em pulso, em nervosismo, em pele, em carne e em cerebelo. Quero extirpar cada silaba com gostosura de framboesa, como uma criança retardada que grita de birra em um supermercado, constrangendo seus pais e seus irmãos. Eu quero uma poesia violentada, escancarada, toda aberta de tanto levar pau, besuntada de metáforas que escorrem através de uma cruz carregada por escritores vivos. Eu vejo a saliência dos miseráveis que desejam o mal, pelo simples fato de não terem o que falar, mas que necessitam de assunto. Mas eu quero devagar, sem essa pressa messiânica de WhatsApp, que fragmentada causa asco, asno, sono, oco e opaco. Quero a literatura espumante, decorada com verborragia, temperada com simplicidade, com gosto de livro mordido. Eu quero entrega. Não essa sua falta de vontade de brigar. Eu quero uma guerra de vogais, consoantes, sílabas. Eu quero o alfabeto inteiro, merda!
Eu

segunda-feira, junho 21, 2021

Simples assim

Você não escolheu o seu corpo. Você era um espermatozoide não pensante e sem emoções, viajou, encontrou o óvulo, fecundou e putz grilis, que merda. Herdou as condições físicas dos seus pais, aceite e um beijo. Mas, você pode modificá-lo, lógico, seja com atividades físicas, boa ou má alimentação, com sedentarismo, pilates, sentado no sofá comendo Ruffles e tomando Fanta ou correndo dos crushs. São dois polos: o corpo perfeito daquele seu amigo do Instagram que você dá likes ou a condição da vida, por preguiça, que te leva a acumular gordura, triglicerídeos e colesterol ruim. De toda a maneira, a nossa relação com o organismo parece que nunca está a contento. Invejo as pessoas bem resolvidas com suas carnes.
Desde quando o homem resolveu ser bípede, existe uma relação difícil com a estrutura física. Certos casos, inclusive, podem ser patológicos, como apontou o neurologista Oliver Sacks. Em determinadas situações, as pessoas nem reconhecem seus próprios braços. Fisicamente é uma coisa, mentalmente, é outra. Alguns até se mutilam. Já outros indivíduos procuram motivos ou razão para dar condição aos seus pensamentos, como seguir o mandamento de que o importante é ter uma alma saudável. “A ideia de que somos espíritos presos dentro de um invólucro carnal é tão poderosa, tão persuasiva, que você tende a pensar assim, mesmo que não seja crente”. São milênios de quase protagonismo entre o que entendemos por alma e essa coisificação física. E dá-lhe disciplina, cilícios e flagelações. Mas, também, dá-lhe anorexia, bulimia e cirurgias plásticas. Olá Michael Jackson, tudo bem? Como está teu corpinho?
A atração pelas intervenções é tão prazerosa que torna a dor um prazer irremediável. Vide as tatuagens. São tão viciantes, é uma experiência maravilhosa, um alívio quando você vê o resultado, ainda mais quando faz com um profissional do caralho. Alô Ricardo Reis, para mim, você é o melhor. Enfim, o rabisco na pele nos dá a sensação de que podemos derrotar o inimigo pelo menos uma vez, além de nos dar a dica: quem manda no meu corpo, sou eu, não você, espírito reencarnado. Se queria fazer algo, que fizesse em outra vida, não com a minha, seu jaguara.

Se não escolhemos o corpo, ao menos cabe a nós fazermos o que bem entendermos dele. Abraço!

domingo, junho 20, 2021

Sons

O ouvido alheio
Se irrita
Na gíria que grita
De uma sala qualquer


Fica difícil relaxar
Na confusão dos sons
Que não comunicam
Na caixa que pulsa.


O convívio que cansa
Quando o ruído alcança
A distração do fato.


Cansei de ignorar
Essa repulsa que dança
O meu desesperar.


lsH - 20 de junho - 20h45