Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, maio 29, 2006

Ela quer a continuação do beijo

Um retorno garantido pela parte financeira que lhe propôs. Nada mau para uma noite de quinta-feira, geralmente subestimada devida à véspera que ela herda. Trata-se da sexta-feira, dia mais lucrativo para as garotas que exibem as suas qualidades em pedaços sumários de panos.
Quando ela retornou ao seu ponto, não conseguiu esquecer o beijo. O sabor destacado do batom ainda invadia com satisfação a lembrança. Procurou a outra entre as ruas escuras do bairro. Não sabia o seu nome, nem recordou como tudo aconteceu. Apenas desejava mais um toque labial.
Percorreu por horas as calçadas irregulares, muitas com corpos narcóticos jogados como se tivessem sido abandonados por suas almas. Em algumas vezes, ela tropeçava neles com seu salto 15-momentos-de-altura-garantida-que-já-matou-um-nefasto-homem-que-fodeu-e-não-quis-pagar. Ela ficou muito puta e cravou a ponta agulha na cabeça do infeliz. A meretriz perdeu as cadeiras. Logo após o acontecido, se sentiu orgulhosa. Afinal, ela nunca tinha matado um cliente. As outras colegas de trabalho já haviam conquistado esse prazer.
A madrugada já tinha passado e ela não conseguiu encontrá-la. Voltou ao seu apartamento vagabundo e decidiu que quando a noite chegasse, ela iria procurá-la novamente. Enquanto o momento não chegava, se jogou na cama impregnada por algum perfume da Avon e procurou o sono que perdeu. Mas, logo a noite chegou... To Be Continued.

sexta-feira, maio 26, 2006

Beijo


Um beijo confuso. Molhado. Quente. Ardente. Propositalmente acontecido, acompanhado de um roçar lento de narizes. Situação orgástica. O lábio deslizava pelo queixo e o rosto áspero procurava o carinho da mão. Os olhos úmidos cruzavam visões com ângulos fechados. Os dedos tinham cheiro de fumaça, de uísque, de grama cortada, de sangue. As unhas borradas eram escárnios, de uma rudeza completamente bela. A maquiagem torta estava apanhada. Havia uma escuridão nos cílios que causava uma vontade doentia de iluminá-los. A boca era de um desenho estranho, quase cubista, mas que se encaixava perfeitamente. O toque lento por vezes ficava afoito. A respiração lenta acertava os póros que rebatiam novamente o ar. A pele morena ganhava proporções de pintura perfeita enquanto as luzes dos carros refletiam na tez.
Após o beijo que pareceu um canto dissonante de elfos clamando alegria, o mundo começou a ser um lugar bonito. A brisa da noite tinha aroma de baunilha. O silêncio se fez presente. Apenas um murmúrio singelo quebrou e acompanhou a sinfonia de motores de carros, buzinas, tiros, crianças gritando, putas no cio, rapazes expostos, policiais observando, meninas cheirando, garotos morrendo e cachorros fodendo.
Um cigarro foi aceso. A fumaça penetrou no ar denso. A outra mão procurou consolo e foi aceita pela ulterior que vazia também pedia aconchego. Novamente um outro beijo aconteceu. Ainda mais tenso, mais abstruso. Difícil entender. As bocas pareciam ímãs. Um sabor cáustico era sentido e os corpos encostaram-se ao poste da esquina, fetidamente perfeito. O local era de uma sujeira bem articulada, com traços embriagados e decoração pesadamente negra, como uma película de Marcelo Piñeyro.
Amantes torpes se deixaram entregar em um momento. Não foi efêmero, nem trivial. Havia constância. Cada qual atravessou a rua, sem palavras, sem despedida. Seguiram os seus caminhos, este sim, planejado pelo horário e pelos clientes que esperavam. Ela entrou em um carro cinza. A outra ficou utilizando o poste como apoio. Ambas sumiram quando a névoa subiu, mas o beijo se tornou eterno nos instantes que as solitárias sentiram uma razão de existência.

L.S. Handa

terça-feira, maio 23, 2006

Falas Cortadas


Um triste
Olhar
Enquanto o sono
Vadio
Vinha buscar
A atenção vazia
Do seu amar.
Conversa em crise
Em calados momentos
Mortos em gritos
De exatos tormentos
Recriados ao lado
Do puro jogado
Desejo obsceno
Não realizado.
Vontades
Contadas
Em sono
Ausente
Que agora se esvai
Em profundo soluço
Sentido presente
Nas falas cortadas.
L.S. Handa

segunda-feira, maio 22, 2006

Repugnante Tormento


Remete uma canção
Na dor mais antiga
Da eterna paixão
Pelo pó que levantou.

A lágrima absurda
Ecoa surda no berro
Da repugnante tradição.

Há tiros na escuridão
E silêncio na infância
Que insiste em se perder
No tempo da conclusão.

Sopra no barro um remorso
Causado pelo tempo.
Socorre ao álcool
Um pouco mais de lamento.

A lágrima absurda
Ecoa surda no grito
De repugnante tormento.
L.S. Handa

sexta-feira, maio 19, 2006

Pirotecnia acertando os olhos cor de jambo, enquanto o último raio solar acerta o coágulo de pensamento que evapora com o álcool. Passa pelo lado errôneo da superficial vida que ela entrega em sorriso. Deixa-se bela em uma imagem guardada em um porta-retrato comprado em liqüidação. Evapora em meio a neblina que cega a visão sedenta por coragem. Mas desiste quando uma canção estraçalha a vontade de ganhar. Ainda corre através do tempo um sentimento antigo com desejos camuflados. A pele demonstra a situação e a boca sela os segredos oportunos que não serão vomitados. Uma perfeita contradição explode junto ao peito que emite um ruído quase agudo, que até os surdos entenderiam. Mas aqueles que não preferem ouvir ficam mesmo na discrepância. Afeto por afeto, ela se satisfaz em solidão.Carrega em si um desafio tosco, enfeitado pela publicidade que fere a imaginação deturpada. Fala de felicidade alheia e esquece a sua. Perde-se na memória, tornando-se mártir esquecido. Isso é a vida.

Um Outro a Voltar

Venha vazar
O desejo
Junto ao veneno
Que ameno
Escorre pela boca

Alcance o sentimento
Do momento
Que desconcerta
Quando programado

Esqueça o amanhã
Se o agora
É o que importa

Revolte o avesso
Em compasso
Que se abre
E permite o encaixe

Deixe por enquanto
O acontecer se formar
Quem sabe depois
Volte a repetir.

L.S. Handa

Presente

Cometemos erros (grotescos)
Cometemos excessos
Alimentamos fracassos.

Praticamos deslizes
Dedicamos fiascos
Rompemos acasos
Fizemos sucesso/ Alimentamos angustias.

Dizimamos o amor/ Cometemos o ódio/ Comentamos o descanso.

LEMOS TORTURAS/ AJOELHAMOS NO ALTAR

Praticamos pecados
Ignoramos recados
Mastigamos hóstias
Fizemos a doçura.

COMEMOS O AMARGO/ RASGAMOS MANDAMENTOS
MATAMOS ILUSÕES/ SORRIMOS A TRISTEZA

tOCAMOS o FIM
vomiTAMOS A PUreza.

L.S. Handa

terça-feira, maio 16, 2006

De leve

De leve um sono bate. Leve em termos corretos. Levemente aflito, também. Levando em conta o horário que mais tarde fica. Além do mais, leve em consideração o transtorno do momento. Um tic tac feroz arrebenta com o tímpano. Ele sangra. Jorra o líquido vital pelas veias rompidas. O carro ainda está em exposição: destroçado.
O tempo passa. Novamente, tic tac, tic tac, tic tac. O relógio na parede da sala de espera não se cansa. O pensamento amigo não cria verdades positivas. A angústia aumenta. O tormento bate. Tic tac, tic tac. O coração aflito bate freqüente. Mais tic tac. Uma vontade de dar um tiro certeiro no relógio. Procura um sofá. Recolhe o rosto. Pensa no pior. Um médico chega. Notícias ruins. Notícias terríveis. Lágrimas em instantes.
O sono se perde no leve passar das horas que agora parecem não existir. A existência em um adeus, seco, pálido, triste. Procura o telefone para a ligação mortífera. Chora. Deixa-se em desespero. Sofre. Escorre pela parede o corpo que ele encostou. E dorme.

segunda-feira, maio 15, 2006

EMO, nada de CORE, apenas EMO

Está difícil. A cada filme, um novo tombo. Imagens certeiras que cegam, derrubam, estraçalham a córnea. O corpo se ergue no respiro, no momento da pausa. Tudo em vão. O mais recente chute no saco – sem direito a auto-defesa – foi “Punch-Drunk Love”, do idiossincrático Paul Thomas Anderson, esposo de outra estranheza conhecida pela alcunha de Fiona Apple (cantora e compositora). Ambos, talvez, formem um dos casais com mais influências mancebas idealistas que já se formaram na Terra. Por mais que as conseqüências veteranas estejam presentes na vida artísticas dos dois. Somente para reforçar, sim, eles são casados.
Tanto Paul quanto Fiona já deixaram registrados seus clássicos, em suas devidas áreas de atuações. O primeiro realizou um dos filmes mais admirados na recente história do cinema. “Magnólia”, com Tom Cruise e Juliane Moore, conquistou os cinéfilos de plantão com um emaranhado conjunto de histórias que se desdobram no final. Por dizer de Fiona, a moça debutou no mercado musical com o álbum “Tidal”, em uma época em que compositoras como Alanis Morissette ditavam as regras. Sub-produtos influenciados por Joni Mitchell e Tori Amos, mas com resquícios de consistência aptos a encorpar o saboroso caldo do mundo pop alternativo. “Criminal” foi a canção carro-chefe que levou Fiona a outra audiência. Logo após, pariu o elevado “When the Pawn...” (o resto do título não poderá ser fornecido, do contrário este texto ficará ligeiramente longo: demasiado).
O álbum apresenta em grande inspiração a compositora desbravando letras com apelos extra-sentimentais, onde a primeira pessoa, o “eu”, aparece em muitos inícios, meios e finais de frases. “Minha linda boca vai emoldurar as frases que irão contestar a sua fé no homem”, destila Fiona em determinada parte do álbum, que é melhor ficar assim mesmo, subtendida.
Retornando ao chute no saco, “Punch-Drunk Love” derruba, desconcerta, destrói. Do início ao fim. É um daqueles filmes que te prende pela necessidade de se transportar no personagem principal, sem fundamento algum. A pretensão existe, de fato, mas desnorteia até o momento em que os caracteres sobem. Você não entende, se esforça para buscar a mensagem, fica perdido. Mas no fim das contas, se emociona. E é assim que acontece quando se ouve Fiona Apple, qualquer álbum dos três que ela lançou. Algo também parecido com o que acontece nos adolescentes, sempre com problemas nem sempre entendidos, sem razão real de fundamento que acabam emocionando, por vezes, o eleitorado.
A cada novo filme descoberto na prateleira da locadora, excluindo os blockbusters que chegam aos pacotes, um tombo freqüente acontece. As referências estão ficando cada vez mais complicadas, perdendo o caminho. Nada importa, a perdição sempre se fez presente mesmo. Difícil é entender, como Paul e Fiona. Mas emociona.

sexta-feira, maio 12, 2006

Sleep tonight

No revés de um ato mal calculado, levanta em claves de sol um disparo afoito de lágrimas. Ecoa no momento surdo que não acalma, com os olhos repletos de remela carbonizada pelo fogo do cigarro. Empunha a guitarra e tenta buscar acordes dissonantes não existentes. Na realidade, desconcerta apenas o sono que não chega. Desiste. Passa, então, a buscar a companhia dos heróis encartados em Cds.

Um pouco de Mophine é capaz de ajudar. “The Night” e “Cure of Pain”, clássicos injetados no tímpano para auxiliar na reflexão sincera sobre as conseqüências do viver. O sax barítono presente no decorrer dos dois álbuns amortece o sentimento. Coisa fina.
Para desandar mais ainda na melancolia, “UP”, do R.E.M. Depressão eletrônica de primeira estirpe. Agora lágrimas molham o travesseiro.

O sono esboça um início. Nada chega, apenas rabiscos traçados tortos com precisão de bêbado. Um outro som vem a calhar. “The Man Who”, segundo e definitivo trabalho dos escoceses do Travis. A faixa 5 remete a uma calma tão particular que é impossível não abrir um sorriso solitário. E a moça que está com insônia sorri, boba, feliz, sozinha, em plena madrugada, deitada em sua cama. Esquece o álcool e dorme. “Sleep tonight”.

segunda-feira, maio 01, 2006

Ciao

22h58. Não dá para acreditar, mas um canção da Courtney Love me emociona. "Never Gonna be The Same". Particularmente incrível a sensibilidade da canção. É claro que nem todos vão ter esse mesmo sentimento. Ainda bem. Eu sou muito egocêntrico por certas coisas. E abro o peito para levar tiro. Quem quiser disparar que faça o favor de acertar. De mira errada já basta os trabalhadores dos casebres, verdadeiros caolhos ou míopes de razão.
23h02. Sandman está jogando areia em meus olhos. Eles agüentam mais um pouco. Só mais uma canção. Afinal, o feriado prolongado está acabando. Mais uma tragada em respeito ao gosto de ressaca que permitirá manter-se no decorrer dos dias que passarão arrastados, como aqueles que se entregaram às ideologias paradas. Alías, muitas compradas em comunidades pelo Orkut. O efêmero é arma de munições consideráveis. Chega a dar nojo de alguns seres.
23h05. Persiste. Uma mosca passa em frente ao monitor. Ela também está com sono, está bem zonza. Pronto. Agora ela caiu. Assim como vários outros alvos fáceis. Isso está começando a ficar enjoado.
23h06. A última canção acabou. O último cigarro eu matei. O sono nasce e me domina. Entrego-me. Cursor no iniciar. Desligar. Ciao.