Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, outubro 23, 2020

Uma Canção de Natal

 Ele estava lá enquanto os fogos anunciavam

Sabe-se qual o motivo para o entusiasmo.
Seus olhos refletiam a solidão da sala
Enquanto brindes eram comemorados.
Apesar de presente, a mente se encontrava ausente
E em outro lugar seu pensamento voava.
Não tinha casa alguma que gostaria de dormir
A não ser aquela que bucólica imaginava.
Vieram abraços que eram estranhos, mas não temia
Havia sorrisos que distraídos não o atraíam.
Bebeu seu último gole de sidra azeda
E abriu a porta para uma tentativa de fuga
Queria o passado naquele momento
Quando seus pais compravam pijamas
E seus irmãos comemoravam o ato simples.
Perdido ele atravessou a rua
E na encruzilhada avistou a lua
E como milagre algo rasgou o céu
E sua falsa esperança desapareceu.
Léo Handa - 2013

domingo, outubro 11, 2020

 O amor no anoitecer, estremecendo o lábio que vazando assobia: vamos partir. O sorriso nasce como um sol que anuncia renascimento-morto. O povo ignora o sofrimento de um término, mas esquece que da dor uma força bruta, brota. E o pôr-de-algo vem surgindo rabiscando o céu com tintas laranjas. O reflexo no olhar enaltece o gostar. O lábio agora se abre e no outro se fecha, com o astro rei se despedindo e avisando: amanhã, novamente, eu brilho.

 De toda a forma, o meu entregar ao seu lado/ Minha caricatura mais animalesca refletida no espelho/ Os seus olhos a penetrar/ A sua veia a admirar/ O seu coração para despedaçar.

De todo meu, o sincero fel ao escorrer do canal/ Um trunfo para admirar/ Sua respiração a acompanhar/ Segredos trocados na saliva/ Lasciva fala pronta para narrar.
Entrego o meu e acompanho a sua/ Lua baixa pronta de sangrar/ Cálice aberto de admitir/ Troco o pulso pelo momento/ Não adianta argumento/ Perco um pouco para viver.
Rabisco meu nome na pele/ Cicatrizo a fúria na tez do rosto/ Esotérico lido nos lábios/ Letra triste mimetizo nas costas/ Significado seja outrora não compreendido/ Meu amor hoje explícito.
Formam frases por vezes/ Depende agora do ângulo/ Mas apenas um aparece/ Algum sabe, outro esquece/ De maneira certa, tudo fecha/ Meu poema escondido/ Meu sentimento declarado.

 Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, quem sabe. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos misturados e jogados no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos, enjoados.

Quando se tenta colocar dois corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas.
Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor também bate na coxa. Como se bate. Mas, o músculo se cansa, leva o vermelho devagar que, enquanto descansa, não resiste e não levanta. O resto, óbvio. Aí não adianta, o jeito é rir ou encarar e entender: o amor cansa.

 Trago aqui os olhos

Que admiraram
Sua feição em instante.
Quero hoje
Aquilo de ontem
E constante.

O volátil amor baseado na cibernética

 Para que serve essa porra de amor? Eita sentimento mais complexo que irrita. Agita o cérebro, emburrece. Na primeira manhã, café, doces, cigarros e beijinhos. No primeiro mês, ainda. No segundo mês, também. Depois, desgaste. Café, doces, cigarros e beijinhos misturados e jogados no chão. O líquido preto, amargo. O chocolate, meio-amargo. Os cigarros, amassados. E os beijinhos podem ficar enjoados. O que um não quer, dois não sentem.

Quando se tenta colocar ambos os corpos no mesmo espaço, nem sempre é fácil se ajeitar. Afinal, são duas cabeças e personalidades na divisão do local. Ainda no início, óbvio, o encaixe é perfeição. Abraços apertados, mãos entrelaçadas, pernas encostadas, olhares compenetrados e lábios encaixados. Depois, corpos meio tortos, mãos nada firmes, pernas amolecidas, olhares míopes e bocas rachadas.
Frescor na linha de partida. O dado é jogado, algumas casas são avançadas, a novidade é linda de morrer e o coração o órgão pulsante que vai levando harmoniosamente o sangue para as partes baixas. Lógico. O amor também bate na coxa. Como se bate. Mas, o músculo se cansa, leva o vermelho devagar que, enquanto descansa, não resiste e não levanta. O resto, óbvio. Aí não adianta, o jeito é rir ou encarar e entender: o amor cansa quando um acha que se basta.

 Vento horizontal em obtuso caso

Perfurando leve o pensamento sujo.

O lençol molhado em cama seca
E a tez deitada esperando agrado.
Caráter esfacelando em combustão
E olho em sal um tanto maltratado.
Vento horizontal levante em grau
E um pouco de veneno com cal
Enquanto avalia o desejo pensado
Enfraquecendo-o na segunda base.
As pálpebras desistem de lutar
E permitem um doce madrugar.