Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, junho 27, 2019

Clássico 
A febre desse amor em clima pulsante
E a sua garganta linda em minhas mãos.
O tanque de uísque pousado na mesa
E o estoque de alcatrão entre os vãos.
Giro os olhos afoitos em direção aos dedos
Enquanto seu suspiro tranquiliza o redor
E a minha tentativa de invasão se torna certeira
Conseguindo a compreensão do furor.
Observo os detalhes dos poros do seu pescoço
E o arrepio da pele morena que me fascina.
Não há nada melhor do que essa vacina
Ao menos para alguém que sentia uma carnificina.
O levantar do seu sufoco fica calmo
Enquanto a minha ânsia se torna plácida
E aquilo que eu havia segurado
Permito contigo soltar com pouco estrago.
Bem devagar eu saio e alcanço o gole
Bebido como leite pela boca úmida
E acendo meu filtro branco como se fosse o primeiro
De outros muitos que virão clássicos.
lsH
Algumas frases que não falo mais depois dos 35
Cerveja barata é legal. Sabe onde encontro mais? Tudo o que preciso é de um colchão e sinal de internet, além da minha bicicleta. Cerveja barata é bom, né? Tudo o que eu quero é curtir a vida e gozar a liberdade com meus amigos. TODOS OS DIAS. E viajar muito, lógico.
Quero ter um trabalho bem flexível, sabe? Desses que a gente tem tempo para fazer outros projetos, escrever poesias, livros, pintar camisetas. Quero sempre estar atualizado com os filmes, os livros, as músicas, além de estar sempre buscando aperfeiçoamento. Eu quero uma vida de sarcasmos, saca? Tipo Calvin e Haroldo.
Definitivamente, cerveja barata é tudo na vida.
Eu vou trabalhar num escritório que me permita me concentrar em coisas criativas, até eu ser reconhecido e poder largar tudo na real e sair por aí vivendo de arte. Não acho que eu esteja pedindo muito. Sério, quero ser reconhecido logo.
Caralho, essa cerveja barata é a MELHOR COISA QUE ALGUÉM JÁ INVENTOU!
Misturar remédios e álcool é tão gostoso. Meus pés estão doendo, não aguento mais dançar. A festa foi do caralho, acabei encontrando um louco, ficamos falando sobre filosofia hindu por umas quatro horas, até cansarmos, aí fomos beber uma CERVEJA BEM BARATA. Não voltei para casa, peguei carona com estranhos que me levaram para um local mais estranho ainda. Até hoje não sei os nomes daquelas pessoas.
Quando eu passar dos 30, terei essa disposição que tenho hoje aos 22. Mestrado é coisa para quem não se deu bem na vida. Será que eu deveria ter cursado algo na área de tecnologia? Quem sabe nanotecnologia? Foda-se o emprego, vou viajar para o litoral do Rio Grande do Sul com os meus parças!
Não estou querendo um relacionamento agora. Acho que nem curto esse lance. Vou sempre conseguir viver sozinho. O que é essa ferida no meu pênis?
PORRA, ESSA CERVEJA BARATA É UMA LOUCURA!
Acho que só sairei com uma pessoa a partir do momento que pintar aquela conexão, me entende? Aquela coisa meio mística, meio hippie, meio John e Yoko. Não ligue para a bagunça. Parei de tomar aqueles remédios. A felicidade existe sim e está guardadinha numa caixinha de música que toca Caetano.
Não consigo nem me imaginar com 35 anos. Nem quero viver até lá.
PU-TA QUE O PA-RIU. CERVEJA BARATA É O NÉCTAR DA AFRODITE EM DIA DE SÃO PEDRO!

quarta-feira, junho 26, 2019

Eu não queria mais voltar. Por alguma razão, cá estou. Confesso que não me sinto muito confortável. Até atrapalha meu pensar. Não consigo deixar claro. Muito menos, escuro. Não queria estar de novo recolhendo cada fragmento que me compõe. Não queria estar novamente escrevendo o "não". Não me via começando outra vez as frases com essa palavra tão miúda de três letrinhas. Não passou. Sei lá se vai passar. Mas, se retornei, foi por alguma questão. E ela é você. Talvez eu esteja apenas encantado, como me disseram, apesar de que me sinto muito apaixonado. Nem preciso comentar isso contigo. Está longe. Longe fisicamente. Longe emocionalmente. Em outra direção que, lógico, não é a minha. Tenho em mente que para ti foi um caso, outra conquista para ficar registrada na pele, como pessoas que colecionam amores. No entanto, para mim, uma sensação de algo não terminado. Enfim, nem tudo na vida precisa ter um final. Só não queria ter retornado para o início. Do sofrer, calado, no caso.
Para cumprimentar, não precisa fazer a chuca, não precisa lavar a bunda, não precisa ser santo. Para cumprimentar, não precisa ser amado, não precisa ser corno, não precisa ser arrogante. Para cumprimentar, não precisa vestir roupa de marca, não precisa estar sem, não precisa estar com. Para cumprimentar, não precisa ser rico, não precisa ser pobre, não precisa ser de classe alguma. Para cumprimentar, não precisa estar manso, não precisa estar bravo, não precisa estar contente. Para cumprimentar, não precisa se machucar, não precisa se alegrar, não precisa se entregar. Para cumprimentar não precisa ter medo, não precisa ignorar, não precisa estar bêbado. Para cumprimentar, não precisa estar de chinelo, não precisa estar de All Star, não precisa estar de Prada. Para cumprimentar, não precisa ser elegante, não precisa se mostrar o prepotente, não precisa ser o melhor. Para cumprimentar, não precisa estar em dia com o imposto de renda, não precisa ter viajado para a Europa, não precisa falar a mesma língua. Basta olhar.

terça-feira, junho 25, 2019

Melancolia minha, daquilo que vivi ontem, ou daquilo que vivo agora.
Melancolia nossa, tão ausente quanto tu.
Melancolia outrora, futuro breve, obtuso instante.
Melancolia a noite e ao dia.
Melancolia boa deste momento
Melancolia ótima para refletir
Melancolia incrível para amar
Melancolia linda ao vento.
lsH
Bate coração, mudo de razão
Neste peito oco de foco
E carente de exclamação.
Perfura a carne ao leite
O reler da veia que percorre
E junto ao pulso, escorre.
Bate coração, seu estúpido
Entope a artéria com amor
E jorre em sorrisos
Qualquer pequeno calor.
Termine longamente nunca
Mesmo que agora fique
E sem que haja despedida
Eu quero sem partida.
lsH

Esse Meu Doce Matar

Quebrei a cara.
Que cara eu sigo?
Persigo o curto.
O caminho fácil.
Qual a graça?
Pergunta simples.
Sigo errado.
Pelo menos, acho.
Se acho,
Certeza
Não tenho.
Mas se tenho algo
Algo talvez
Eu sinta.
Analiso
E sintetizo
O que escapa.
Um mapa
De fragmentos
Descolados na memória
Soltos por aí
Em ilhas digitais
Sem reset
Sem delete
Sem gilete
Sem deleite.
Troco um destino
Por dois carinhos.
Mas tenho
Carência?
Só aderência
De permitir
Meu egoísmo.
Penso
Logo, resisto.
Desisto
Ao contrário
Pois sou
Bem otário
Quanto ao sentimento.
Queria o inverso
Mas serei frio?
Não entendo.
Compreendo que afasto
Todavia é meu erro?
Porém, contudo, senão?
Quem sabe você
Que me abrirá
Abrigará aqui
Uma resposta acolá.
Enquanto isso,
Vou ali
Sozinho fumar
Algo que
Pelo menos
Me faça sentir,
Nem que seja
Esse
Meu
Doce
Matar.
lsH

Até de amor nos curar

Nada se compara a você.
Eu queria ter um derrame de amor,
Por ti.
Meu rádio toca a mesma canção
Meu tímpano está viciado
E o meu corpo também.
Por ti.
Respiro aquilo que te cheirei
Do peito até sua nuca
Da tatuagem até a virilha.
Nada se compara a você
E tenho medo
Que tudo será comparado,
Nos próximos,
Nos outros,
Nos vácuos.
Eu queria ter uma ferida contigo
Que continuasse aberta
Até de amor nos curar.
lsH
Na aventura dos sentidos
O tempo resgata os perdidos
E aquele ali, que antes
Escrevia poesias marginais
Agora elabora discursos
Para os petistas.
E o calor de seus lábios
Hoje esfriam o amor
Que os direitistas, ora exacerbados
Portanto cancelam
Gritos exacerbados.
No trajeto da sua letra
Algo ecoa nesse ouvido
Porque no outro, eu duvido
Que a Marina vá profanar.
Mas na aventura dos sentidos
O tempo resgata
Até os esquecidos
E a dança cega da digitação
Far-se-á breve, por obrigação.
Eu vou fumar todos os cigarros. Vou desaparecer com a fumaça. Vou consumir todos os remédios. Vou sumir com a ansiedade. Vou procurar todos os métodos, vou seguir nos erros. Vou revirar os vodus. Vou beber a macumba. Vou ao submundo. Vou morrer para ressuscitar. Vou beber aquele veneno. Vou tragar todas as derrotas. Vou viver a mesma situação. Vou amar outra pessoa. Vou prosseguir como estorvo. Vou seguir como perdido. Vou chorar a mesma música. Vou escrever um novo roteiro. Vou estraçalhar o meu peito. Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. Vou chupar o amargo. Vou contar os segundos. Vou atirar nos minutos. Vou atropelar um coração. Vou sofrer o caramba. Vou reviver o futuro. Vou viver o passado. Vou praticar o presente. Vou me perder na estrada. Vou pedir uma carona. Vou viajar pelo deserto. Vou ser amigo da solidão. Vou encontrar a derrota. Vou cortar a cabeça. Vou cheirar óleo diesel. Vou ressecar o olho. Vou furar a mão com um prego. Vou subir uma montanha de pó. Vou sorrir a tristeza. Vou desapegar o contato. Vou desejar um abraço. Vou querer muito mais. Vou pensar no roçar de pele. Vou querer algo mais. Vou lembrar de você. Vou novamente sofrer. Vou correr pelas escadas. Vou encontrar o topo. Vou pular no abismo. Vou cair com os olhos abertos. Vou dormir para te achar. Vou sonhar para viver.

domingo, junho 02, 2019

E esses sonhos de você querer, seja lá o que satisfaça. O olhar para uma pequena nuvem se dissolvendo em prantos a molhar o árido do seu sentir. O admirar de um casal rindo da hora qualquer do clima a conviver. O se identificar da situação no calor da emoção de um beijo roubado. O acordar ao lado de uma pele que você passou a madrugar trocando sutilizes de tocar. O acompanhar de um respirar de uma criança que nem sabe as alegrias que a espera. O sonhar acordado de um dormir tranquilo. E aqueles quereres que sempre ousam sem explicar.

O ponto

Era um ponto negro, pequeno, localizado no centro do peito. Às vezes coçava, chegava até arder. Não foi dada importância desde que surgiu. Parecia como um aglomerado de melanócitos, algo comum, de acordo com os dermatologistas. Com o tempo foi crescendo. Na adolescência, mais precisamente, ficou do tamanho de uma tampinha de Fanta. Começou a incomodar, porque doía: pontadas agudas que pareciam como a sensação de palitos de gelo adentrando a carne. Certas vezes, porém, o pontomudava de cor, deixando a negritude de lado e assumindo um tom azulado, como um céu de inverno pela manhã, depois que a geada se dissipa com os primeiros raios solares. Naqueles dias, a cabeça reagia de forma estranha, algo como um misto de euforia e felicidade, sentimentos não tão comuns para a época.
Mas, depois de alguns dias, voltava a ficar escuro, como uma obra do Caravaggio sem a réstia da luz presente em seus quadros. Foi então que apareceu a letra M dentro do ponto, de melancolia, de melodrama, de merda, de metástase, de mal, de murmúrio, de maldição.
A vida seguiu como deveria, com períodos de tristeza, descontração, alegria, fraqueza, desamor, punições e lágrimas. E o ponto estava maior, agora encobrindo todo o peito. Tinha dias que ficava cinza, atingindo um Pantone 8785 Iron Horse. Quando assim estava, o Nebraska do Bruce Springsteen se tornava um disco feliz, fazia de Landslide do Fleetwood Mac uma canção de esperança e do filme Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica, um tratado sobre a alegria. Eram nesses períodos que a circunferência sombria aproveitava para se alimentar de coisas que a ajudassem a ter uma coloração mais quente, quiçá, um amarelado ou alaranjado. No entanto, o preto puro sempre voltava e, quando retornava, era com uma força de 20 elefantes selvagens em busca do cemitério de seus antepassados que entoaram barridos ao longo dos séculos.
Eis, então, que aquilo que não foi levado a sério, tomou conta do corpo todo e ganhou a força de um monstro cósmico, capaz de sugar para o seu interior a cor mais forte, a luz mais intensa. E, desde então, o ponto negro com um M no meio se isolou para abençoar a tristeza, sua prima de primeiro grau, que seguiu a sobrevoar os corpos desprevenidos, pronta para plantar novos pontinhos escuros em peitos abertos.
lsH