Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

domingo, junho 28, 2009

Insônia


Trata-se de uma complicação sem razões para desfechos, de um quebra-cabeça difícil de encontrar as peças. Fico pensando na melhor equação resultante de soluções, mas me atraco na inconstante falta de noção. Procuro a reflexão entre as imagens de ondas quebrando com um sol laranja de uma beleza californiana. Imagino-me longe, em outras costas. Fantasio outros acordes, de repente. Fecho os olhos e choro um outro domingo perdido. Sons de Take the long way home. Tímpanos perfurados.

Mas não é motivo de tristeza, afinal, a água vai e vem. O salgado é sábio e entende a hora de partir, apesar da insistente maresia que por vezes penetra a retina desatenta. No entanto, é essa a graça do viver, das mazelas, das dicotomias e dos contentamentos.

Uma vez me perguntaram se eu estava feliz. Eu respondi que estava contente. Chamaram-me de bobo, que eu deveria dizer que me encontrava alegre. Sei lá. Indefinições a parte, o fato é o não esquecimento daquele pôr-do-sol do oeste.

Eu tinha pensado em uma desgraça. Em um sumiço, em um contato. A madrugada não mostrou os caminhos. Apenas me transportei mentalmente para aquele lugar que eu nunca fui, sempre sonhei, mesmo com insônia.

sexta-feira, junho 19, 2009

Uma frase para derrubar as outras

O amor é brega. Uma nojeira capaz de retardar o culto, distorcer a ópera, borrar a arte. É o sentimento mais xaroposo, gosmento e ridículo. Ele deixa a pessoa com sintomas infantilóides, fazendo qualquer um murmurar gracinhas que terminam em “inho”. Fofinho, bonitinho, abracinho, beijinho. Retrocessos diminutivos que deixam qualquer um nominado como imbecil. Ele é brega porque acaba transformando qualquer declaração em petardos românticos. O ser atingido pelo amor é capaz de soltar frases de impacto, como: você é o recheio do meu sonho. Puxa vida, isso é pesaroso.
O amor é meloso. Faz com que o humano ouça beleza em canções tão díspares quanto chatas. Uma nota qualquer acaba se tornando um tema de novela da vida real. O amor é de uma breguice que somente o Odair José consegue cantar. Roberto Carlos caminha pelo mesmo trilho, mas não é charmosamente brega como o Odair. Ele é a mais perfeita tradução. Talvez o último romântico dos melodramáticos esquecidos nas prateleiras do saudosismo. Imbatível. Inquestionável. Capaz de tirar meretrizes de prostíbulos e fazê-las verdadeiras amantes sem medo. As suas músicas são frêmitos. Mulheres expostas que ouvem não tomam mais a pílula. Só mesmo o amor para parir um compositor jucundo.
O amor é uma jactância. Deixa a verruga peluda de um rosto qualquer em imperfeição bela, o detalhe completo para o desenho da cara. Torna a saliência lateral do pé no joanete mais lindo que alguém já teve. O amor é de uma bobeira incrível. Transforma metaleiro em poeta, poeta em best-seller, best-seller em filme, filme em sucesso e sucesso em dinheiro. O amor é ópio, alimento insalubre.
Imagine se o amor pudesse ser comprado em gôndolas de supermercados. Se pudesse ser levado em uma permuta ou comprado em uma liquidação a prazo, com 70% de desconto. Pense no amor servido em restaurantes self-service. Quantos gordos. Quantos calóricos. Quantos gulosos. Tudo o que é demais faz mal.
Mas, basta uma frase soletrada com talento para derrubar todas as outras: eu te amo. Pronto, o mundo desaba. Os lábios se encostam. Os enamorados desafiam as leis da física e fazem dois corpos ocuparem o mesmo espaço. Fazem rimas com estrelas, mar, céu e anexam em bilhetes acompanhados de flores. O amor, realmente, é um escárnio. Terrivelmente bom.
Leonardo Handa

terça-feira, junho 16, 2009

Sexta-feira, pop e cola

Hoje eu quero
Ver o carnaval passar
Em meu site predileto
Também pretendo beber
Cerveja quente na madrugada.

Acender uma bituca e dar
Uma baforada de gelo seco em minha sala.

Sentar ao relento e sorrir pensamentos distantes.

Fazer da dor
O meu
Sentimento a vapor.
Chorar álcool etílico
Em um copo de acrílico.

Lembrar beijos não dados
Em bocas conhecidas
E cair de bêbado
Em minha própria avenida.

Leonardo Handa

sexta-feira, junho 12, 2009

iPod

Uma canção de beijos desesperados rola no iPod. Meia luz escura no apartamento. Ela, deitada no sofá, olha a foto mais feliz: lábios em contato acompanhando a canção. A água ameaça pingar pela torneira da cozinha, mas o que desliza é a mão pelo rosto. O cantor da música dá razão aos sentimentos da moça. O tom aumenta e um falsete desesperado rasga o tímpano sofrido. O olho não segura e permite um deslize.
A lágrima encontra a almofada, que já está molhada desde o verão passado. A sequência de acordes termina e ela volta ao zero, coloca no repeat e se deixa envolver pela atmosfera subversivamente caótica da canção. Levanta-se como quem quisesse se deitar novamente, lança um olhar de desprezo na foto e grita ao primeiro corte. A canção está tocando pela terceira vez. Os joelhos encontram o chão e uma surdez mórbida invade por alguns segundos.
Ela sente deliciosamente o que pensou ser uma lâmina. O objeto fica encaixado enquanto o fluído ameaça escorrer. Desliza. Lisa. Desfaz. Delícia.
Deita-se no tapete felpudo e se deixa atingir por mais um golpe. Dessa vez não resiste e se agarra no vazio sentir do momento. E o iPod para de funcionar.

segunda-feira, junho 01, 2009

Sujeito Oculto


Um torto ao leste reclama direção
Mas segue afoito pelo lado errado.
Não há bússola de consolo
Muito menos central de informação,
Só o destino para aconselhar
A perdição que segue encontrando.

A confusão mental atordoa o coração
E persegue o cotidiano da caminhada.
Percebe que é um sujetio oculto
Entregue ao caos que não construiu.


Eu tentei avisar dos perigos futuros
E você não quis considerar a dor,
Levou à boca os sonhos líquidos
Acreditando serem a razão.


Sabemos que estamos cansados
E o prosseguir é uma estrada
Repleta de placas que não indicam,
Apenas desvirtuam as direções.


Está complicado encontrar
Um solução para a causa.
Então siga torto ao leste
Já que não tem outra opção.