Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, maio 31, 2007

Björk, my lover!


Período total de não ouvir o trivial. Mas caio na dúvida: a islandesa Björk é algo acessível? É que a cantora é tão comentada mundo afora que parece normalidade a sua discutível música. O seu primeiro álbum, Debut, deu o que falar na época de lançamento, devido a voz e aos ritmos eletrônicos nunca explorados de maneira tão ampla. Não à toa, a baixinha inspirou petardos sônicos da estirpe de patamares como Portishead e Massive Attack, origando assim, um tal de trip-hop.

Björk também é conhecida pelos seus vídeos nada convencionais, muitos dirigidos por Michel Gondry, o intrépido diretor de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança. Aliás, a sagacidade e o talento do diretor já foram utilizados como recursos catalisadores para a grandiloqüência de outros artistas mais talentosos.

Além disso, a islandesa também já fincou os seus sentimentos em um filme, demonstrando que sempre procura estar cercada de pessoas abastadas, já que foi dirigida por ninguém menos do que Lars Von Trier, talvez o último grande diretor dos últimos tempos, ao lado de Gus Van Sant e Wong Kar Wai. O filme em questão é o claustrofóbico Dançando no Escuro que possui uma das cenas mais chocantes que um ser humano já pôde registrar. Não seria delicado da parte detalhar a cena, pois ela se encontra no final da película. De toda a forma, Björk mostrou talento na arte cênica, muito graças aos seus vídeo-clipes frêmitos.

E agora, novamente a pergunta: a islandesa Björk é algo acessível? Quem teria a coragem de fazer um disco somente com o acompanhamento de vozes fazendo as vezes de instrumentos musicais, sem o auxílio de sequer um ruído de sons de violões, baterias e contrabaixos e, mesmo assim, soar tão pesado e também delicado? A cantora vez e é um dos trabalhos mais belos já gravados pelo mundo pop, chamado Medulla. Quem teria a coragem de subir no pico de um monte gelado na Islândia, somente com um lap-top e compor um dos discos mais estranhos do planeta? Então, a cantora também fez isso. Então é melhor encerrar a pergunta e decretar de fato que a islandesa não é acessível. O contentamento em achar a resposta é tão bom, pelo simples detalhe que os fracos de ouvido sempre a rejeitarão.




Assista e dê uma analisada do que a moça é capaz. Recentemente ela lançou o CD Volta, uma volta à estranheza bela que os talentosos ainda sabem fazer. Inspirador.

segunda-feira, maio 28, 2007

Escárnios


"Se quiser viver uma vida feliz, amarra-se a uma meta, não às pessoas, nem às coisas"


Albert Einstein


Doce necessidade de vazar. Vejo com as mãos, mas sou cego dos dedos. Procuro com a língua, mesma sendo surda. Ouço, então, pelos olhos e respiro com os ouvidos. Confundo o céu da boca com o fim do mundo que muito próximo saiu em câncer do meu pulmão. Por isso agora eu quero vazar antes que eu volte a confundir.

Percorro pela paralela que se une e um quadrado anuncia: é o novo caminho. Ele é quebrado e pequenos losângolos de afiadas pontas se formam e cortam os meus lábios. É quando eu acordo.


"A vida é aquilo que ocorre enquanto você está ocupado fazendo outros planos"


John Lennon


Levanto e apanho na entrada de casa, ainda de pijama, o jornal jogado na umidade matinal da grama. A matéria de capa é a respeito de crianças que estão aprendendo italiano a fim de conservarem a cultura de seus descendentes. Rápidos olhos passam pelo texto que não chama a atenção. Afinal, somos apenas italianos? A carência cultural legítima da região se resume aos macarrões e polentas? Para falar a verdade, não penso muito nisso.

Viro a página do jornal e desisto. Hoje em dia não se escrevem mais matérias como antigamente. Lembro de duas frases, uma do Lennon e outra do Einstein. Recordo à vida. Pego um pedaço de guardanapo e inicio um pífio de um triste escrito:


Prestes


Eu tenho uma arma contra o olho/ Prestes para acabar com a sua aflição/ Já que o meu amar é o seu matar/ Estou quase pronto para disparar/ Vai ser um estrago e você não precisará me perdoar


É sexta-feira de manhã, estou com um gosto azedo na boca. Uma saliva de dipirona me transtorna. Vou até à janela e na rua eu não te encontro. Miro os olhos para a chuva e te vejo em uma gota que desliza como bailarina pelo sujo vidro da janela. Procuro novamente o auxílio do físico e respiro. Ponho uma roupa e sigo. Mas deixou o pensamento egocêntrico reverbando na massa de cinzas: amarra-se a uma meta, não às pessoas, nem às coisas. Confundo-me com a contradição e continuo através de outros planos. John Lennon, você tinha razão.

quarta-feira, maio 23, 2007

Losers

Mais um dia chuvoso. Chega a causar resignação em almas mais sofríveis. A claustrofobia metafórica invade o coração mais covarde, da pessoa mais doentia, do humano mais depressivo, dos olhos mais cegos e do sentimento mais repreendido. Alguns julgam de extremista, mas as causas não foram apuradas. Enquanto isso, permite-se não segurar e derrama uma gota pelo canal. Seria lindo se não fosse a conseqüência.
E a chuva continua. Há vento também soprando na janela poesia noturna nunca encontrada. Bares, putas, cadáveres, drogados, bêbados e normais. Litros e mais litros tomados destilados em copos sujos de vidro trabalhado. Garotas sorrindo um pouco de louvor para tentar arrecadar o vício do amanhã. E os velhos analisando as coxas salientes da madame de vermelho desbotado. O nojo escorre pela boca do drogado que procura um doce para saciar a fome de viver, mas os melhores açucares estão longe dali. A umidade transtorna o personagem da noite mais escondido. A normalidade repudia qualquer ser noturno. É aí que entra o suicida que saiu de casa, devido à claustrofobia metafórica que corroia a lembrança mais infeliz, que ele quer guardar na eterna caixa das saudades. Dormir é algo que ele não consegue mais. Amigos foram transformados em bonecos de barro, que agora enfeitam a sua estante de depressão. A cidade engoliu o que ele tinha de melhor: alegria. E agora o suicídio é o caminho mais óbvio. Corre através da chuva procurando um lugar, não um abrigo, algo mais próximo de um cenário de filme almodovariano. Cores fortes. Mas não encontra. Volta para casa. Antes, é assaltado. E tudo retorna ao desprezo normal.

publicado originalmente em julho de 2005

terça-feira, maio 22, 2007

Três casos


- Será que a calmaria um dia chegará?


A mente aflita se perguntava isso todo o dia. Ela já passou por períodos de turbulência que causaram erosões estratosféricas no sentimento descolorido. Em outros momentos, uma dúvida entre beber cicuta ou um tiro na nuca passava percebida entre o reflexo do espelho que mostrava um rosto repleto de cansaço. As indagações sempre vinham em momentos de embriaguez plena, com uma ponta de cigarro colada nos lábios, pronta para derrubar mais uma cinza no pescoço. O raio de esperança visitava raramente e, quando vinha, era em períodos curtos.


O céu brigadeiro escorria em melancolia quando a lembrança insistia em aparecer. Geralmente, amores perdidos em cidades litorâneas. O último se perdeu em carreiras contínuas de misericórdia e satisfação. Era desde nascência uma alma distraída que tropeçava em poesias não finalizadas. O encontro sempre vinha em explosões vulcânicas entre beijos e amassos, sem falar das conversas sobre a Tori Amos. A trilha sonora perfeita de ambos continha ainda o Belle and Sebastian, Dave Matthews Band, Travis, Joanna Newson, Paula Cole, Billie Holiday, Chet Baker e Wado. O último, junto ao seu Realismo Fantástico, embalava com mais sabor as ondas amanhecidas de uma praia deserta. E o cigarro sempre se fazia presente. Mas um dia o fim chegou e a lágrima voltou.


A noite de céu limpo e estrelado sempre vinha quebrado quando o outro amor tentava, em mais um caso perdido, reatar. A mente aflita não engolia a persona. Um dia, distraída, caiu em conversa açucarada e um beijo ela deu como agradecimento. Acontece que um efeito chicletes sabor morango apareceu e telefonemas incansáveis iniciaram. Mas o cansaço chegou e um outro fim apareceu, sem lágrima alguma dessa vez.


- Será que a calmaria um dia vai chegar?


Mais um dia com a mesma pergunta. Um outro gole ajudava a amenizar a dor constante no meio do peito perfurado por uma bala de algodão. A solidão começava a ficar amiga, em imagem nua de calafrios constantes com fobia de pisar em ruas coloridas. Eis então que o acaso aplica um plano e em um desafio um novo amor acertou. Foi na beira da Praia Grande que os olhos começaram a brilhar diferente. O calafrio desapareceu e a fobia morreu. Porém, o amor dessa vez morreu, com um tiro no olho devido a um assalto mal traçado.


A calmaria, portanto, não chegou. E agora a mente aflita, novamente, deixa escorrer uma outra lágrima que chegou.

segunda-feira, maio 21, 2007

Invisível DJ



Já ouviram o novo CD do IRA!? O legal dele já começa pela capa, uma foto de uma mosca de perfil. E o título, alguém entendeu? "Invisível DJ". Só analisando a letra da canção homônima para entender o significado. Uma lástima e também uma vitória para quem for baixar pela internet. Lástima: pois perde toda a arte e beleza do encarte produzido pelo fera André Nassar. Vitória: estará economizando cerca de 36 reais. Isso só nos faz pensar que o CD está com os dias contados. Mais três anos e acaba.


Voltando ao novo disco do grupo paulistano, musicalmente falando, não apresenta nenhuma surpresa sônica. É o velho "mais do mesmo" de sempre. Mas, ao contrário do Capital Inicial, o IRA! ainda sabe fazer disso um ponto a favor. Um adendo: o que é aquela música do Capital, "Eu Nunca Disse Adeus". Que pop mais meladinho. Enfim, cada um sabe o que faz.


A canção mais bacana de "Invisível DJ" não é o single "Eu Vou Tentar", composição de Rodrigo Koala da banda Hateen, mas sim, "Mariana Foi Pro Mar". A letra da música narra a tal vida da moça que dá título à canção. Um mulher que sofreu e depois de tudo foi para o mar, esquecendo o seu passado ridículo de fracassos. Mariana perdeu o marido para a vizinha, então melhor amiga. Ambos foram encontrados no Japão. Ao invés de explicar, eis a letra em seguida para se deliciar.





Mariana foi pro mar/ Deixou seus bens mais valiosos com o cachorro/ E foi viajar/ Foi de coração/ Pois o marido saiu pra comprar cigarros/ E desapareceu/ Foi visto no Japão/ Com a vizinha, sua ex-melhor amiga/ Mariana foi ao chão/ E ela pensou por muitas vezes/ Se usava sua Mauser ou o gás de seu fogão/ Mas seu último direito/ Ela viu que era um erro/ Mariana foi pro mar/ Mariana se cansou/ Olhou o que restava de sua vida/ Sem direito a pensão/ Sem um puto pra gastar/ Sempre foi moça mimada/ Mas tinha em si a vocação do lar/ E foi numa tarde de domingo/ Que ganhou tudo no bingo/ Sorte no jogo, azar no amor/ E sua bagagem estava pronta/ Parecia que sabia do seu prêmio de consolação/ Mudou o itinerário, trocou o funerário/Pelo atraso do avião/ Uma lágrima de sal/ Percorre o seu rosto/ Misturando-se ao creme facial/ Onde foi que ela errou?/ Se acreditava na sinceridade/ De sua vida conjugal/ E se ela pensava muitas vezes/ Se usava uma pistola ou o gás do seu fogão/ Mas ela mudou o itinerário/ Trocou o obtuário pelo atraso do avião/ Hoje ela desfila pela areia/ Com total desprezo pelos machos de plantão/ Ela está bem diferente/ Ama ser independente/ Mariana foi pro mar.

PS: Só lembrando que no próximo dia 26, o IRA! estará em Francisco Beltrão. Salve!

sexta-feira, maio 18, 2007

Hipertenso


Meu coração é tão vagabundo que agora deu para bater mais rápido. A dobradinha cigarro e cafezinho combina muito com a minha personalidade, mas agora preciso maneirar. E eu que achei ser um Highlander, descubro que sou hipertenso, na flor da idade dos 25 anos. Mais dois anos e eu padeço. Não agüento falar em gordura trans, alimentos lights e comida saudável. Prefiro os abobináveis prazeres do álcool, o sabor da massa e as mazelas do pó. Ok, tudo bem, exagerei no último. "Ando só, pois só eu sei, por onde ir, por onde andei..." Adoro me sentir a vítima. Pior que agora nem estou me fazendo, pois sou, de fato, uma vítima. Uma vítima das inconseqüências da idade, da publicidade, dos ídolos marginais, do glamour da violência, dos saberes dos malditos poetas... dos corações psicodélicos. Se o meu cardiologista estiver correto, sobra pouco agora. Mas prometi à Stella que não ficaria por aqui neste final de semana. Eu ainda sobreviverei.

Bom, utilizei este espaço hoje simplesmente para contar um pouco sobre o meu novo futuro: vida saudável. É claro que não será seguida. Ainda tenho outros cigarros para fumar. Outras bebidas para tomar e outras comidas para vomitar. E outra, o exame deve estar errado. Hipertenso o caralho!


Só pra descontrair, fica uma foto neste post de uma bruxinha muito safada. Ela adora levar uma vassoura no rabo...

terça-feira, maio 15, 2007

A arte da violência

Violência feliz em versos de pura exacerbação fantástica. Como um vídeo da Bjork. A cada palavra, uma facada no olho. A cada sílaba, um corte na narina. A cada frase, um rasgo no rosto. E assim vai dilacerando as outras partes do corpo.

O sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.

Violência feliz em conversas que agridem através de verborragias certeiras. Um tiro no cu de dor e pólvora. Uma metralhadora sonora continua a estraçalhar o sexo mais virginal de mocinhas inocentes e carentes. Muitas já levaram uma dedada dos seus pais. Mas é o texto marginal que as consola. E arranca lágrimas de carnificina gratuita.

O sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.

Violência feliz como um filme do Lars Von Trier que em sua depressão recolhe as idéias mais infelizes da tradição de agredir o ouvido. Um ataque parecido com o do Guy Ritchie em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fulmegantes. Ou pior, como as películas de Park Chan-Wook, aquele que dirigiu os socos no estômago que são Old Boy e Lady Vingança. A Coréia do Sul nunca mais foi a mesma após esses dois desbundes. Verdadeiros deslocamentos de úteros realizados por uma pica de elefante.

O sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.

Violência feliz nas melodias de Michael Stipe. Claustrofobia infantil de criança recém estuprada, abusada e gozada. Característica de agressão nos versos de Tori Amos e sua insistente ousadia de mostrar as marcas da violência sexual em sua vagina entre-aberta. A voz e o piano tiveram mais significado depois que ela surgiu no mundo musical. Ampliação lírica no estraçalho não puritano de Fiona Apple. Entranhas agora deixam que os vermes saiam comendo vulvas, grandes lábios e pentelhos. Mesmo assim...

... o sangue segue escorrendo calmamente, lindamente e sagazmente.

domingo, maio 13, 2007

De fato um traço eu risco, no artigo de rabisco do seu rosto. É claro que insisto, e arrisco um palpite. Um trâmite eu desenvolvo, mas não quero nada de novo. Apenas um asterico para relembrar. Outra vontade foi pensar. Agora ao quadrado elevado, um certo traço é riscado. Contradigo o início, recomeçando o contrário. É um artifício de perigo, mas eu confesso: sou ordinário. Então um caso é beijado, meu rosto fica desfigurado, me perco no acaso e não retorno ao passado. Mas resta um resquício, pegajoso e ultrapassado.

quinta-feira, maio 10, 2007

Rezemos que...

Eba, temos um santo genuíno e brasileiro. Ave graças à bondade de Chico Bento XVI que proporcionou tal honraria a nós, tupiniquins de falácia apurada. Agora sim podemos respirar tranqüilo perante ao Vaticano, agora podemos comemorar em sermos o país com o maior número de católicos do mundo. O Papa que agora não é mais pop que nos abençoe mais, em sua redoma blindada de pura esperança e fé de não levar um tiro no olho. Enquanto isso, os nordestinos descem contentes de seus ônibus lotados, todos rumando para São Paulo, buscando a visão privilegiada da sombra do santo padre. Salve a paz, aleluia.
Agora resta esperar que outros seres humanos, mortos em circunstâncias ímpares, se tornem novos santos para serem vendidos em papéis e imagens, medalhinhas e livretos na canônica mais próxima. Levanto o voto para que a Leila Diniz seja beatificada, a santa das putas. Hoje em dia existe santo para tudo. Caminhoneiro (o rebite). Agricultor (os grãos transgênicos). Drogados (as seringas e as sedas). Bêbados (o bar da esquina). Estudantes (os professores displicentes). Músicos (o amor). Regentes incansáveis dos vagabundos e dos pecadores. Oramos, amém. Digo, orar não, que isso é coisa de evangélico.

Rezemos. Rezemos que o Papa pare de pautar as notícias dos nossos principais telejornais, jornais diários e sites da internet. Rezemos que o "padinho" Cícero abençoe os nordestinos, os brasileiros mais sagazes do país. Rezemos que o dedo do Lula cresça novamente. Rezemos que os padres parem de pegar as criancinhas nas sacristias. Rezemos que Deus explique por que motivo criou os seres humanos: os vírus da Terra. Rezemos que o cupim encontre a sua verdadeira função na natureza e que desista de comer a madeira alheia. Rezemos que as mulheres não tenham vindo realmente das costelas dos homens, o Adão já sofreu o merecido. Rezemos às lindas putas universitárias da cidade, que abaixem um pouco o preço ou que ofereçam desconto para quem tiver carteirinha de estudantes (mesmo que falsificadas). Rezemos que a segunda leitura seja banida do divertimento total que é assistir a uma missa. Rezemos que o evangélio seja passado aos fiéis de maneira simplória e traduzida para o português. Apenas, então, rezemos.

quarta-feira, maio 09, 2007

Momentos de pura pornografia gratuita (roteiro para um pornozão) - ESCÁRNIO TOTAL - NEM LEIA

Ele caminhava com o seu "I-Pobre" ao som de Michael Bolton. Usava um shorts apertado. Vermelho. A tarde estava se despedindo e a noite pedia licensa. Os passos do rapaz eram apressados, assim como a banda que estampava a sua camiseta. Sex Pistols. Tudo combinando. Distorcido como um filme do Almodóvar. Ele tinha lábios bem desenhados. Carnudos, por assim dizer. Os braços eram contornados, definidos.
A certa altura da caminhada, uma morena toda graciosa solta o seu melhor sorriso. Algo sugestivo. O rapaz retribui e corresponde. Ela pára e pergunta com uma voz sabor baunilha:
- Que horas são? Ele responde:
- É hora de foder.
É nesse momento em que o rapaz puxa a menina para um matinho e agarra com vontade cavalar. A moça sente o volume crescendo nas suas nádegas macias de apalpar, roliças de invejar. O dedo do moço escapa e toca a buceta. Ela diz:
- Me lambe, por favor. Ele não resiste e entra violentamente com a língua. Ela não agüenta e geme. Passa um tempo e peida. Mas foi um peidinho tão gracioso que ele achou lindo. Com a língua já cansada, ele a beija mais um pouco. E pede:
- Agora é você! Ela cai de boca. Chupa com vontade. Ela o morde. Ele geme. Xinga-a de puta:
- Como assim, puta? Então foda o meu cu. Ele atende a vontade. Cospe e enfia. Inverte, retorce, deixa-a de quatro. Ela tinha orgasmos pelo ânus. Mais 15 minutos. Goza na cara.

Corta.

Agora inicia outro filme. Sem roteiro, sem presença. Só fodendo.

Não falei que seria pura besteira.

segunda-feira, maio 07, 2007

Heartless Bastards

Queria não pensar, às vezes. Não relembrar momentos, não compartilhar angustias, não pensar futuros. Queria ser um inseto insignificante que rasteja pelos cantos obscuros repletos de doença e poeira. Seguir o viver pútrido da atmosfera e do ambiente aos quais foram destinados. Não passar em certas experiências que causam um câncer no pensamento mais claustrofóbico de prisão repugnante.
Queria não ter opção, às vezes. Viver por aí como um nômade quadrúpede à procura do não sei o quê, não sei o qual, não sei o como. Só caminhando e caçando o alimento. Não ter sentimentos, não entrar em contradições, não ser preso, não ser solto. Apenas seguir a ordem natural das coisas. Mas, como já disse aquele abastado lugar-comum: penso, logo existo. Antes, então, existisse em uma cabeça de fósforo pronta para o destino prólogo, acender a chama de um fogão, de um cigarro, de uma fogueira e apagar. O lado negativo da efemeridade de viver também tem a sua função. Menos o viver das moscas e dos cupins, as corcovas do zebu. Ave crucis. Queria também não pensar nisso, às vezes.
Queria não ter a criatividade noturna dos bêbados de ocasião. Queria não pensar em alternativas e possibilidades outras que poderiam ser tomadas antes, como que se fossem goles de destilado amargo. Queria a solidez não pensante dos girinos que são comidos pelos predadores naturais. Queria, outra vez, não pensar nisso, às vezes.
Queria não ter escrito essas frases. Às vezes. Porém, elas precisavam sair nesse momento. Ao contrário do início do texto, eu precisei pensar agora. Não queria, às vezes. As ocasiões acontecem e muitas têm o seu fim. Aguardo na angustia.

sexta-feira, maio 04, 2007

Memória


O sol bate fraco no rosto. A brisa do mar abençoa a face. As ondas morrem nas costas de areia. A luz vai se despedindo em um belo adeus de dever cumprido. As aves voam rumo ao adormecer. Um grupo de pessoas inicia um lual, mesmo ainda sem a presença do satélite natural. A fogueira aos poucos joga faíscas pelo ar. O coração solitário do irmão companheiro segue batendo no ritmo da canção: uma música falando dos tempos difíceis da adolescência. Todos acompanham a melodia virando goles e mais goles de um vinho vagabundo. A frente está o trapiche que recebe mais indíviduos à procura de dias de paz. O astro rei lança um beijo final nos corpos dos presentes.

Uma lembrança morta ressucita devido ao clima. Uma corrente percorre pelo grupo que continua a cantar versos de saudade. As mãos se unem em um momento instantâneo de aprovação plena. Olhares se enroscam na fulgaz vontade de acabar com o tempo ali mesmo, paralizar a ocasião, abraçar a oportunidade, beber a atmosfera. O truque dos joguetes do destino nunca será descoberto, somente os tolos ainda procuram o seu segredo. A canção termina. A noite chega.


***


Silêncio. O trovador solitário anuncia a próxima música aos que preferem ouvir. Outros gostam mais de acompanhar em desafinos grandiloqüentes a canção. Um estrofe conhecido percorre pelos tímpanos. Os olhos de uma garota se fecham neste momento. Ela deve estar recordando os bons momentos que teve ao lado do amado, ou certa lembrança da juventude, quando pensava em mudar o mundo com palavras de ordem. Com o passar da idade, o espírito revolucionário aos poucos falece. Uma lástima.


***


O vinho sobe. Os olhares agora são lentos. Três amigos se distanciam um pouco do grupo e vão admirar as ondas na noite iluminada pela lua cheia. Trocam promessas bêbadas, se abraçam em comemoração à amizade. Relembram outras datas. Traçam planos. Selam compromissos.


***


Alguém inicia os acordes de "Father and Son", do Cat Stevens.


***


Dezembro de 2003.


***


Passado quase quatro anos, agora restam as lembranças e as promessas não terminadas. Será que elas se encontrarão?

quarta-feira, maio 02, 2007

Pela Rua XV

Casa de massagens anúncia:

"Você precisa vir aqui, conhecer sem compromisso três gatinhas e algo mais. 3322-9626 - Apartamento central, discreto e aquecido".

Que orgasmo! Passado o tentador convite, eis que eu e a minha amiga caminhamos por mais alguns metro pela Rua XV e encontramos outros vários anúncios repletos de linda poesia. Todos devidamente colocados em papéis fixados ao longo dos telefones públicos do local. A variedade de produtos era incrível. Os nomes também. Larissa, Ana, Alexandra, Valquíria, Polaca, Deusa Folgosa, Vinícius, Jonas, Suzete, Claudete e mais outros diabos. Verdadeiros amantes prontos para tudo e para todos. Corajosos que vendem pernas, bucetas, cus, peitos, bocas, caras e o resto do corpo por certos reais pagos na saída. Se um drink vier acompanhado, melhor. Destaque para o anúncio de um tal de Gabriel, "bonito, aberto e viril".
A falta de opção quase inexiste. Se você ficar na mão, é por pura falta de vontade ou vontade até de mais. Basta encontrar qualquer telefone público da Rua XV de Curitiba para encontrar as opções mais desejáveis, com direito a serviço completo oferecida por algumas. E por alguns também. Diversidade na certa. Alguns profissionais do sexo atendem até casais, com direito ao número 35 do kamasutra. Se não gozar, 50% do dinheiro garantido. Tentador.
Agora, encontrar esses produtos ao vivo em plena XV, num domingo a tarde, é algo extremamente raro. Somente ligando e marcando um encontro. Confesso que a curiosidade bateu. Mais sorte tiveram umas amigas minha que fizeram amizade com uma puta em uma pastelaria perto da Universidade Federal, bebendo uma cerveja para extravassar a alegria de estar na capital. Coisa rica. E o mais legal é que ela não mentia o seu nome. Ou era Ana Paula ou Cristina. Ou seria outro? Não lembro. O certo é que quando as mulheres se juntam, elas formam uma verdadeira confraria de frases interessantes. Menos as burras, é lógico.
Após mais alguns passos pelo local, eu e a minha amiga resolvemos parar no Wings. E digo de passagem exagerada que, desde já, esse lugar é o meu Café Perk (em referência ao café em que os Friends aim para jogar conversa fora. Aquele do seriado americano que acabou). Logo que entrei lembrei de Blues Line, do Bloc Party. Não sei o motivo. De toda a forma, a imagem era muito boa, com direito à aqueles doces e tortas variados, até mais que os anúncios sexuais que vimos ao longo da Rua XV ou Rua das Flores ou ponto da Borboleta 13 ou o escambau. Bom, era de comer. Urrul!

Agora fica a saudade de novo... :(

terça-feira, maio 01, 2007

Primeiro de maio

Um dia triste. Acordo depois de uma noite divertida com pessoas extremamente queridas. A primeira visita, um encontro com um grande amigo, talvez o melhor. A conversa sagaz e por vezes claustrofóbica me fez relembrar outros passados. Depois da turbulência, agora um estado de espírito mais calmo. Ainda bem que a distância não nos fez adversários, e sim, cúmplices. Saudade sempre após o abraço. E agora, quando será a próxima? Tenho a impressão de ter visto a esperança no fundo da retina. O bacana é que agora você vai vivendo. Continuo na torcida pelo sucesso que estampa em seu rosto. Deixamos estar.
Passado o saudosismo, ele mesmo continua em outra ação. Agora uma balada com o primo, a irmã e o cunhado. Rock'n roll! Mais precisamente, John Bull e todos aqueles quadros espalhados pelas paredes. Figuras de astros da música que desperta sentimentos ímpares, que faz acreditar que a vida vale a pena e que ainda existe emoção antes do dinheiro. Na entrada do bar, a santa ceia com alguns personagens talentosos e... mortos. Jimi, Lennon, Harrison, Joplin, Marley, Mercury, Muddy... não lembro os outros, o meu estado alcóolico iniciava um processo cavalar. Exacerbado. Diversão de toda forma. Afinal, com aqueles três não há erro. Fora as conversas a respeito de cinema, música e quadrinhos. Sinto sempre a saudade de vocês. Por isso aproveito até a última gota de suor a presença quando estou. De fé, Sandrey, Hideki, Ana e Wellington, valeu mesmo.
Agora eu vou, mas de certa forma eu fico. Queria ter escrito algo mais poético, mas na atual situação bagaceira a qual me encontro, saiu esse esboço. Uma ode à amizade!

Saudade já