Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, junho 30, 2008

O Assassinato


Verso falso

Mentira exata

Amor carente

Tiro no escuro

Sonhos quebrados

Noite perdida

Resposta exata

Poesia suja

Situação engraçada

Dizeres escondidos.


Letra torta

Precisa decisão

Tremor noturno

Ouvido aberto

Imprecisa conclusão

Música triste

Crime passional

Sangue inocente.

quarta-feira, junho 25, 2008

Bobeiras trocadas pelo MSN

Bruno diz:
mas faz parte
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
mas tudo passa, até uva passa
Bruno diz:
até o ferro passa

Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
isso mesmo
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
menos o Rubinho da Fórmula 1, este não passa
Bruno diz:
uahuahauuahuaha
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
mas o Felipe, este sim, é Massa
Bruno diz:

nossa Léo
Bruno diz:
coloca no teu blog essa
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
ihahiahiaihaihaihaihaihiahihaiha

Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
ok, vou pôr
Bruno diz:
até o tempo passa
Leonardo Handa - un, dos, tres, toca la pared diz:
he he he he

Tudo passa, mas a falta fica

Doce manhã banhada pelo astro-rei. As dores do tímpano agora estão amenas. Serenas, no entanto, são as situações mastigadas a cada dia. Mas hoje o primeiro mandamento é acordar feliz. Um café degustado na imprecisão do tempo que não fica estabelecido. Um velho jornal sendo lido como se fosse atual. Comidas sem sabores na geladeira. Uma planta morta no canto da sala. O rádio estragado. O gato implorando por comida descente. Disseram que a viuvez não se ensina, se convive, contudo, difícil é aprender os meadros da situação. Talvez fosse mais fácil ensinar um cachorro assoviar New York New York no mesmo tom do Sinatra. Contudo, a ordem suprema é acordar feliz.
O chão está estúpido. Estupidamente repleto de pó, Nescau, bosta de felino, mijo, papel de bala, migalhas de bolacha, pedaço de pão mofado, jornais e revistas. O cheiro do apartamento não lembra mais a infância, está mais parecido com o odor do Armagedon. Como é um dia para ser feliz, nada melhor do que começar uma bela faxina no recinto.
Doce manhã banhada pelo astro-rei. Uma grande pena a amada não mais presente se fazer, não pela limpeza, mas pela companhia. O cheiro de avó, o adereço no cabelo, vestido florido e pele macia. Faltas que impedem o gosto do viver. Porém, tudo passa. Até uva passa. Inclusive, tem uva passa no chão. Está na hora de limpar e continuar a sobrevida.

quinta-feira, junho 19, 2008

Poligamia


Estou praticando muito a poligamia. Não tenho culpa, encontro muitas pessoas interessantes. Quando percebo, o amor já aconteceu. Às vezes é apenas uma transa, em outras, é paixão. Nego a culpa e não considero traição, de maneira alguma. Podem me chamar de puto, galinha, cretino e demais adjetivos peçonhentos. O meu veneno é mais em baixo, confesso. O fato é que tal ato me inspira no dia-a-dia, seja através de escritos, doses homeopáticas de gratidão, na minha musicalidade, no jeito de ver as coisas, as pessoas e as leituras. Não é de boa índole, mas aconselho a poligamia a qual me refiro.Ontem a noite a suruba foi geral. Várias posições, encaixes, diálogos e sussuros. Gemidos também, muitos. Culpa da Kim Deal. Ela é fogo. Foi a primeira. Quando percebi, os outros integrantes do Pixies estavam juntos. Quando terminamos, fui para cama com o Sonic Youth e, para apimentar o papo cabeça clitoriano (!), convidamos Nietzsche. Na realidade, queríamos o casal estranho Sartre e Simone, mas os dois estavam ocupados demais com as suas putinhas. Passamos duas horas ótimas, com direito a vinho e petiscos. Não ficamos mais devido a contratempos do Sonic Youth, que insistia em ir embora. Foi nesse momento que entraram para a festa o pessoal do Cansei de Ser Sexy. Muito álcool, com sentido cool. Diversão na certa. As meninas são ótimas. Não me acanhei e convidei o Klaxons também, direto da Europa para o meu quarto. Que transa!Passados alguns minutos de tempo, afinal, houve prorrogação, somente para desconsertar entrou na folia a galera queer. Uma delas era duvidosa, mas a Adriana Calcanhoto sabe muito bem agradar. Ela não veio trajada de seu personagem infantil, eu desdenho a pedofilia. Angela Ro Ro, quando era Keuroac, também se juntou. Gal e Bethania não. Já a Ana Carolina só deu uma passada. Atualmente, ela está mais interessada em comer a Madonna. Outra que passou de relance foi a Nelly Furtado, já que demonstrou interesse ambíguo nos últimos dias. Deliciosamente pop. Para engrossar o caldo, Rufus Wainwright apimentou os sabores. O doce do amargo escorreu pelo papel que tinha escrito versos de amores. Quem curtiu a idéia foi o John Frusciante, um talento que fascinou. Que o diga o falecido River Phoenix. A sacanagem foi legal.Quando acordei, embriagado, é óbvio, outros parceiros dividiam a cama. E lá estavam Ariano Suassuna, Hunter Thompson e Nick Hornby. Ao lado, Fiona Apple, Tori Amos e Patti Smith, todos abraçados. Lindo! Não agüentei e os convidei para mais uma rodada. Orgiástico!!!!!Tudo acabou em caos, com o Queens Of The Stone Age e um gelado café da manhã. Não houve foda, apenas uma boa conversa. Pesada, diga-se de passagem, a respeito de putas e peitinhos de silicone. Logo após, fui trabalhar. Mas eu sei que amanhã a noite vai ter mais.
Entenda beleza, eu ainda prefiro o conteúdo. Sua graça me distrai, mas procuro manter a calma. Confesso que já me perdi em seu torso nu. Na sua pele morena. Nos seus cabelos escuros e nos seus olhos castanhos. São tão invencíveis, pedaços sublimes de pecado exacerbado. Em você, eu me perco, reviro o acaso, me torno poeta. Em você, me transformo em plebeu, obedeço os critérios, pratico adultério e procuro um consubstancial. Porém, entenda, ainda primo pelo teor.
Já solicitei tantas vezes, quase nunca fui ouvido. Não adianta, você sempre consegue me seduzir. Eu sou fraco, eu sou carne, eu sou ser, abstrato, confuso, continuado. Quando adentro, fico idiota, caricato: estereótipo de capa de revista. Então, como não agüento, eu me entrego. Mas ainda falta o conteúdo. Portanto, entenda beleza, você está me fazendo perder os valores. Fazia tempo que eu não me entregava em uma batalha. Você continua ganhando. Todas. Estou jogando meus princípios no vaso sanitário, nos tocos de cigarros, nas taças de vinho, no vidro empoeirado, no branco que escurece, na vontade que prevalece. Eu fico tonto. Eu fico torto. Eu fico bobo.
Não vejo razão, Nick Cave não me dá opções. E você nem conhece. Para quê? Não necessita, basta uma Vogue. E, aos poucos, vou me entregando, abrindo as pernas, recebendo o putrefato pela boca, dentes e garganta. Vou engolindo o seu mundo, as suas frivolidades. Quer saber? Nem queire. Já perdi. No entanto, por favor, ao menos procure algo do Cat Stevens, não precisa descobrir a sua biografia, apenas ouça Wild World. Não estou pedindo muito, não estou pedindo que conheça a poesia do Buarque, somente demonstre um pouco de interesse. É muito egoísmo, eu sei. Isso não combina com o seu Dolce & Gabbana. Disparidade. Tudo bem, apenas entenda, beleza, você me corrompe o conteúdo.

quarta-feira, junho 18, 2008

A Troca


Trilhas insólitas do destino

Vejo-me perdido

Mas abro o sentimento

E percebo o bom caminho.

Não acredito hoje no carinho

O meu lado mais feliz

Eu sempre fiz sozinho

Porém, um dia, bem insípido,

Iracundo acordei a vida

E larguei em um caderno

A minha lassidão passiva.


Descrevi aos poucos a situação

Encarei a tal condição.

O pouco dinheiro no bolso

Fez-me perlustrar

Confesso que me precipitei

O pedido me deixou ainda

Muito mais confuso

E aceitei normalmente

O meu adjetivo característico:

A boa e velha solidão.


Você nunca quis mostrar

Em uma assinatura o amor

Eu achei que fosse charme

Mas era pura sinceridade

Agora falso eu trilho

Com verdade, contudo, brilho

O incomum consenso

Que não entendem feliz

O seu intenso safismo.

terça-feira, junho 17, 2008

Eu daria tudo para abrir os olhos e conseguir enxergar o relógio. Mas não consigo. Eu queria acordar e enxergar o seu rosto pela manhã. Mas não enxergo. A nitidez se faz presente apenas em sonhos, improvisos banais do meu cotidiano. Às vezes imagino o ponteiro maior marcando o horário correto, anunciando um encontro outrora firmado. Porém, a distância impede. Então volto a rabiscar velhos poemas decorados em um pedaço de papel de uma agenda do ano de 1999. Bons tempos.
Não lembro ao certo como começava a canção, recordo que o refrão era entoado sempre quando nos encontrávamos. "O passado é seguro / Por isso estamos aqui / 1999 / Vai ser só mais um ano / Um dia na vida uma gota no oceano / Se eu pedisse / Pra você duvidar do que eu digo / Por onde você começaria / Nós todos temos medo / E o meu pode me cegar".
Realmente cegou e hoje, não consigo perceber, contudo, o retrato continua no mesmo lugar. As lembranças, também. Os dilemas, além. Mas repito, ainda: "o passado é seguro, por isso estamos aqui". Eu queria ainda estar lá, naquelas tardes vazias, naquelas conversas jogadas, naqueles assuntos descompromissados, naqueles dias vadios.
Nunca esqueço quando tirado ao violão, uma batalha foi travada ao som daquela que iniciava com "good times for a change". Poético. Deveríamos ter gravado. Mas agora não consigo enxergar e o meu relógio foi quebrado.

sexta-feira, junho 13, 2008

De repente (Leonardo Handa e Larissa Mazaloti)


De repente, a gente percebe o sopro que é a vida.

De repente, sem planejar, a gente dá uma volta

Entre os mortos e pensa na história guardada

Em cada palmo debaixo da terra.

De repente, "eu me vi com medo de viver

Comigo apenas e com o mundo".

De repente, eu te amo um pouco mais.

De repente, a gente percebe que somos feitos de sonhos.

De repente o acaso nos apresenta os deletérios.

De repente somos apenas o repente.

De repente somos um corpo, afinal, recheio de gente.

De repente, em cada extremidade, um dedo.

De repente, utilizamos para tocar, e lembrar que precisamos sentir.

De repente é amor, então, sintamos ainda mais.

De repente, água ardente pra curar a dor.

De repente, água ardente pra esquentar o amor.

De repente somos eu e você.

quinta-feira, junho 12, 2008


Minha miopia querida, não me deixe mesmo enxergar. Ver o quê? Não há nada bom para ser apreciado. O mundo jet set é tosco. Todos são certos em exageros. Não existe mais ninguém com coragem. Tudo é um pacote muito bem pensado. Ousadia não há. A plastificação é o ditante. São os mesmos sorrisos, os mesmos gostos, os mesmos consensos e os mesmos conselhos. Nas ruas, as mesmas conversas. Nas esquinas, os mesmos sapatos. Nas prateleiras, as mesmas películas. Nos jornais, as mesmas notícias. Nos restaurantes, as mesmas comidas, os mesmos sabores. Nos olhos, as mesmas cores. Nada novo. Nada realmente extraordinário. Ninguém mais explode em imaginação, em criatividade. Um modus operandi desgostoso, nojento e supérfluo. Melhor nem ver.


quarta-feira, junho 11, 2008

entranhas estranhas

Ela não acreditou quando lhe mostraram o mundo refletido em olhos de elefantes. Não desejou nenhum bem, mas não deu vazão ao mal. Apenas sorriu um favor pela realidade. Justificou em estrelas cadentes, que acabavam de morrer, seu pouco amor. Caiu do alto do andar que enroscava distraído em um céu de mármore ardido. Pensou estar sonhando com deuses mitológicos em uma banheira de cristais. Pavimentou o caminho com pequenas gotas de chocolate e se entregou nua ao destino traçado por uma caneta Bic vermelha. Abriu a rosa de metal líquido que logo escorreu entre as entranhas estranhas. Fechou a boca para que a borboleta atômica não adentrasse o seu canal mais sincero. Congelou em sentimentos agrupados por bezouros azuis que queriam denunciar a carnificina. Se viu magoada em um cálice de pólvora que explodiu alegrias adjacentes. Queria um pouco mais de tempo para continuar a sina do viver. Mas ela não sabia do sentimento, um ferro gravado em seu crânio de isopor. Tentou outras alternativas, como roubar um coração de pedra de algum cavaleiro medieval.

terça-feira, junho 10, 2008

Era mais um dia normal na vida de Julia Sabrina. Ela, estudante de Comunicação Social, faz parte daquele grupo autodenominado "Inclusos Digitalmente". Tinha tudo arquivado em bytes e megas em seu notebook, presente dado pelo papai, um bancário trabalhador que sustenta duas famílias. Quase ninguém sabe disso. Enfim, Julia acordou e achou que teria mais uma rotina diária. Escovou os dentes, lavou o rosto e foi ao trabalho. No ofício, nada novo. Escreveu umas matérias, atualizou o site da instituição, entrou no Orkut, conversou com amigos no MSN no Google Talk. A manhã passou rápido. Após o almoço, lembrou que precisava ir ao banco, urgentemente.

Não pensou duas vezes e correu como uma velocista até o ponto de ônibus. Foi tão rápida que quase quebrou o recorde dos 200 metros livre. E o notebook junto.

Chegando ao centro da cidade, desceu do busão e caminhou até o banco, aquele laranja. Toda feliz, já que ia dar tempo de resolver a questão, foi atravessar a porta giratória que todos os bancos insistem em ter. Pi pi pi (sinal sonoro). A porta bloqueou. O vigilante chega perto da moça, toda enroscada na porta, se sentindo a pior bandida sem objetivo de roubar. Ele fala:

- Mocinha, você deve estar com algum objeto de metal. Favor, retire-o antes de entrar.

- Não posso, comenta Julia.

- O que você tem nessa bolsa?

- É um notebook.

- Humm, terá que deixá-lo em seu carro, do contrário, não poderá entrar.

- Mas nem carteira de motorista eu tenho, quanto mais um carro. O vigilante achou que ela era alguma empresária de sucesso ou algo do tipo:

- Bom, então terá que deixar o "noteboque" com alguém, do contrário, não poderá entrar. Informou o vigilante. E a fila aumentando, deixando os outros clientes fulos. Julia Sabrina não estava nem aí. Ok, na verdade estava morrendo de vergonha, se sentindo a última pessoa do mundo "inclusa digitalmente". Aliás, veja que engraçado, com tantas campanhas de acessibilidade e emperram logo por causa de um simples notebook. Quanta discrepância. Sabemos que o computador é um elemento muito perigoso mesmo, ele é capaz de emburrecer as pessoas, porém, é inofensivo para um banco. Julia fala:

- Moço, preciso entrar, por favor. Não tenho onde deixar o note, tenho que pagar uma conta hoje.

- Tudo bem mocinha, dessa vez passa, mas espero que isso não aconteça novamente, do contrário, terei que suspender a sua entrada. Vá para trás e volte, assim a porta será liberada.

- Obrigada.

- Moça, mais um detalhe.

- Sim, pois não.

- O sistema do banco está fora do ar, só voltará depois das 16h.
"Ao invés do notebook, meu pai deveria ter me dado uma arma" - pensou Julia Sabrina.


segunda-feira, junho 09, 2008

Ferroso


Depois de muita expectativa, finalmente consegui assistir ao filme Homem de Ferro. Fiz questão de esperar a estréia no cine-teatro da cidade em que resido, Pato Branco (daí), mas confesso que fiquei tentado em baixá-lo, conforme um amigo também revelou. Sem dúvida valeu a pena vê-lo em tela grande, apesar de que o local que projeta os filmes não seja dos melhores. Ainda peca muito, porém, melhor assim do que nada.

Para quem já apreciava as histórias em quadrinhos do Ferroso (sim crianças, ele não é invenção de Hollywood, e sim, de Stan Lee), não vai se decepcionar com o roteiro e direção de Jon Favreau. Tem tudo. Uma boa introdução do herói, a mocinha elegante, reviravolta na história, antagonista doente pelo poder, ação e um ator que exala carisma em doses de uísque. Não consigo imaginar o filme sem o Robert Downey Jr. Ele encarnou o gênio da indústria armamentista do universo Marvel com uma categoria absurda, deixando na poeira as atuações de Christian Bale (Batman) e Hugh Jackman (Wolverine). Não que eles não vestiram as personas adequadamente, mas o Downey Jr. se superou.

O bacana de Homem de Ferro são as referências. Perceberam, por exemplo, que o escudo do Capitão América, outro personagem da Marvel que em breve ganhará as telonas, aparece em uma cena do filme? Não? Então confira a foto acima. No longa-metragem ainda mostra, ao final, o surgimento da sigla SHIELD, organização que já foi comandada pelo Nick Fury, um dos personagens-legais criados pela editora. Como o universo da Casa das Idéias é vasto, nada mais apropriado do que essas citações. O Incrível Hulk (a continuação, no caso, do filme de Ang Lee) também terá referência. Parece que o Capitão América aparecerá. O Tony Stark também, mas não trajado de Homem de Ferro.
A Marvel, mais do que esperta, já está planejamento o futuro, arquitetando e apresentando os seus próximos filmes.

Como o amigo comentou: qual ser(r)á o pr(r)óximo personagem que a Marvel vai apr(r)esentar? Olha, não sei, mas se for o Thor, não será nada mau. Desde que não façam nada parecido com Elektra, já está valendo.

quinta-feira, junho 05, 2008

Economia

Ela passa desfilando ácido pelas calçadas úmidas da cidade negra. Sorri favores como se fosse uma bomba de Napalm pronta para explodir em guerras orientais. Exala fumaça do peito reformado por um estagiário do Pitangy. Sua presença nas ruas inibem os outros seres noturnos. A força do seu olhar corrompe crianças que buscam diversão. Está com meias rosas que somente são descobertas quando Onças espirram de carteiras. Seus lábios não usam qualquer batom. Seu corpo não veste qualquer pano. Ela é distraída, já causou acidentes de trânsito. Ela é perseguida, mas a polícia é sua amiga.
Às vezes vaga solitária pelos bares da cidade. Acende e fuma cigarros Marlboro. Bebe hi-fis turbinados, como se fossem urina do diabo. Não é um tipo descartável, mesmo sendo a favor da ecologia. Já usou casacos de coalas. Têm noites que fica só fazendo cena, manifestando vontade até em pederastas. Mas a maioria quer analisar as suas unhas.
Certo mês quase casou um deputado. Mas ele não entendeu a sua profissão. De tanto amor, ele acabou tirando a vida. A própria. Ela derruba corações, estraçalha casamentos. Pura diversão. Ela é dona do seu negócio. Sabe a hora de usar, entende o poder, administra sagazmente. É figura constante em assuntos empresariais. É uma mulher de sucesso. Como a economia dinamarquesa, poucos conseguem tocá-la.

quarta-feira, junho 04, 2008

Ringtone de protesto


Um bardo lança suas frases destruidoras junto ao ouvido. Escorrem poesia guerrilheira do tímpano, quase um sangue de paixão e devoção. O dedilhado do violão incorpora imagens cinzentas de uma época em que as informações eram camufladas ou substituídas por receitas de bolo. Se algum filho barbudo desaparecia, os vizinhos já sabiam o motivo, mas as páginas não podiam divulgar. Uma mãe foi morta à procura do primogênito. Estilista renomada. As notas oficiais divulgaram problemas no freio do carro. Mas as notas negras revelaram o contrário, uma armação verde, amarela, azul e branca. Período escuro de uma época de ame-o ou deixo-o. Ainda hoje as pessoas recebem informações desencontradas, mais elaboradas e bem escritas. O que existe hoje é uma falta de interesse por parte do eleitorado. Algo meio triste em uma época complicada, porém, vendida como feliz e de crescimento econômico.

O bardo continua a soltar e dilacerar os seus versos antagônicos. Ninguém está ouvindo, eles preferem o novo ringtone lançado pela operadora de celular. Aliás, a concepção de hit não se encontra mais em rádios, e sim, em telefones móveis. A Ivete Sangalo continua absoluta também nesse quesito. Música de protesto, atualmente, é coisa de universitário que usa All Star, mas critica a Nike. A canção morreu na década de 1970. Mentira! Ainda temos Asian Dub Foundation, Manu Chao e Fred Zero Quatro. A palavra ainda conserva a realidade, contudo, é preciso saber ouvir e procurar os autores do gênero. Mas o bardo que agora está no toca-discos ganha prêmios na MTV. Talvez seja o simples fato do respeito, um tanto quanto industrial. Culpa deles mesmos, os criadores da concepção. Se não queriam ser referência futura, que não tivessem iniciado carreiras. A indústria cultural do velho Adorno é sagaz até com os protestantes. Se o Chico Buarque é tão rico e conhecido hoje, ele também deve a ela. Mas ele é deus. Fazer o quê?

terça-feira, junho 03, 2008


Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar.

Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.