Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

terça-feira, abril 28, 2009

Assassino diário


Deserto-umbigo no fluxo limpo do quarto branco. A janela entre-aberta permite que o ar denso invada o recinto. A tranquilidade se encontra na cama com os olhos fechados e a respiração cansada. Momento único de meditação. A vela compõem o auxílio de projeção de sombras que formam desenhos assustadores e simpáticos. No chão, o cinzeiro cheio até a borda de assassinos diários que não arrancam a vida de uma vez só. São deliciosos, principalmente após as refeições, no entanto, as campanhas de sensibilização dizem que são mortais. A boa alma retorce o sentido e prefere não ligar para a consciência.

23h18. O som do vizinho pede licença e vaza das caixas "Sex On Fire". Kings of Leon sempre permitiu agitos nos neurônios do rapaz, o mesmo que antes relaxava entre os brancos dos travesseiros. Os olhos ouvem, os ouvidos enxergam. Os sentidos se confundem. O pensamento sereno dá lugar a memórias transloucadas de um amor cravado e enterrado tempos depois. Um videoclipe na coluna dorsal se forma, viajando em elementos químicos até o cérebro. O beijo se forma, aparece, ressurge. Os lábios deixam um sorriso escapar. Os poros se abrem. A respiração recupera o movimento. A melodia da canção recobra o sabor da boca, o poder do toque, o calor da epiderme. O cansaço some, a empolgação extrapola dos pés aos fios do cabelo. O gostar explode no nariz, fazendo sentir novamente o perfume terrivelmente doce, e terrivelmente bom. Mas a música acaba. Não fica a melancolia na cabeça. Nem no corpo. Só a lembrança quase esquecida de um período único. Respira, expira, inspira. E acende mais um assassino presente no cotidiano fugaz.

segunda-feira, abril 27, 2009

Linfoma


Um CAOS que
Não recupero
E opero em uma rota
FORA DO ARROTO
Digestivo.

Sugiro um outro CAMPO
Bem mais amplo
Do que o traçado.
Mas sou CONTRARIADO
E alvejado.


Suplico atenção
Na DESORIENTAÇÃO
Que a atual vida
Me questiona.
Só assim para
Não falecer
De linfoma.

quarta-feira, abril 22, 2009

00h00



Poesia das mãos, escorrendo uma sinistra
Vontade de sangrar
Os versos mais tristes
Em homenagem a você,
A responsável pela doença
Que me come
E me evapora
A cada mensagem
Que leio à meia-noite.

Não há razão para tanta marca
Já que agora o que eu quero
É cravar a minha caneta
Em seu olho esquerdo.

Deixe eu vazar a minha sílaba
Mais feroz em sua pele
Arrancando da sua pálpebra
O meu lado mais violento
Que quer florescer frente aos seus olhos
Que eu quero cegar com a palavra
Mais peçonhenta que ainda vou criar
Na semântica do ódio
Das preces que eu vou cuspir
Quando a sua retina
Eu fizer cair.

Leonardo Handa - 23 de janeiro

quarta-feira, abril 15, 2009

Poligamia


Estou praticando muito a poligamia. Não tenho culpa, encontro muitas pessoas interessantes. Quando percebo, o amor já aconteceu. Às vezes é apenas uma transa, em outras é paixão. Nego a culpa e não considero traição, de maneira alguma. Podem me chamar de puto, galinha, cretino e demais adjetivos peçonhentos. O meu veneno é mais em baixo, confesso. O fato é que tal ato me inspira no dia-a-dia, seja através de escritos, doses homeopáticas de gratidão, na minha musicalidade, no jeito de ver as coisas, as pessoas e as leituras. Não é de boa índole, mas aconselho a poligamia a qual me refiro.Ontem a noite a suruba foi geral. Várias posições, encaixes, diálogos e sussuros. Gemidos também, muitos. Culpa da Kim Deal. Ela é fogo. Foi a primeira. Quando percebi, os outros integrantes do Pixies estavam juntos. Quando terminamos, fui para cama com Sonic Youth e, para apimentar o papo cabeça clitoriano (!), convidamos Nietzsche. Na realidade, queríamos o casal estranho Sartre e Simone, mas os dois estavam ocupados demais com as suas putinhas. Passamos duas horas ótimas, com direito a vinho e petiscos. Não ficamos mais devido a contratempos do Sonic Youth, que insistia em ir embora. Foi nesse momento que entraram para a festa o pessoal do Cansei de Ser Sexy. Muito álcool, com sentido cool. Diversão na certa. As meninas são ótimas. Não me acanhei e convidei o Klaxons também, diretos da Europa para o meu quarto. Que transa!Passados alguns minutos de tempo, afinal, houve prorrogação, somente para desconsertar entrou na folia a galera queer. Uma delas era duvidosa, mas a Adriana Calcanhoto sabe muito bem agradar. Ela não veio trajada de seu personagem infantil, eu desdenho a pedofilia. Angela Ro Ro, quando era Keuroac, também se juntou. Gal e Bethania não. Já a Ana Carolina só deu uma passada. Atualmente, ela está mais interessada na Madonna. Outra que passou de relance foi a Nelly Furtado, já que demonstrou interesse ambíguo nos últimos dias. Deliciosamente pop. Para engrossar o caldo, Rufus Wainwright apimentou os sabores. O doce do amargo escorreu pelo papel que tinha escrito versos de amores. Quem curtiu a idéia foi o John Frusciante, um talento que fascinou. Que o diga o falecido River Phoenix. A sacanagem foi legal.Quando acordei, embriagado, é óbvio, outros parceiros dividiam a cama. E lá estavam Ariano Suassuna, Hunter Thompson e Nick Hornby. Ao lado, Fiona Apple, Tori Amos e Patti Smith, todos abraçados. Lindo! Não agüentei e os convidei para mais uma rodada. Orgiástico!!!!!Tudo acabou em caos, com o Queens Of The Stone Age e um gelado café da manhã. Não houve foda, apenas uma boa conversa. Pesada, diga-se de passagem, a respeito de putas e peitinhos de silicone. Logo após, fui trabalhar. Mas eu sei que a noite vai ter mais.

terça-feira, abril 14, 2009

Green Card


Na cadência de um quase samba levanto o seu véu. O olho absurdo revela um lado obscuro que me causa sensações pornográficas. Engulo a saliva. Lambo os lábios. Você me sorri um torto desejo. Eu devolvo um concordar imediato. Não era para ser a conclusão do amor, e sim, a continuação, mas o destino quis o contrário. A noite acabou testemunha da comunhão.

O quarto branco. Os lençóis, as taças, os morangos. O colar despedaçado, o vestido rasgado. A violência gentil do ato, o contato da pele. O raspar dos dedos. Tudo frenético, com o respeito do sentimento. A cena devia ter sido gravada para vermos na separação. Afinal, vai acontecer. Sabemos que o efemêro nos completa. Somos alimento do imediato. Daqui uns anos cada qual voltará ao seu estado regular, desregulando os caminhos iniciados. Não adianta acreditar no contrário, temos a convicção de uma certeza definitiva. Não se trata de amor, são negócios. Mas, se aqui estamos, gozemos um tanto.