Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, maio 28, 2008

Voe

Voa criança sem asas de anjo. Encontre no céu as respostas sem nexo. Procure os pássaros que você não conseguiu pegar. Veja de cima a situação causada. Observe os pobres que por aqui agora rezam. Lágrimas continuam nascendo e morrendo dia-a-dia. A movimentação segue pelos olhos de vidros que ainda registram o ocorrido, as grades, o apartamento, os advogados e os possíveis envolvidos. Veja como isso se tornou uma saga. Talvez você não entenda o sentido da palavra, mas deixe-se invadir pelo universo. Ninguém vai tirar o seu mundo. Não agora. Dê um "olá" ao colorido de borracha perdido no ar. Um mar neutro de sinceros sonhos. Alguns perdidos no azul também querem. O clima continua explodindo em terremotos chineses, em terrenos orientais. A mãe Dináh, uma pena, não nos avisou antes. Então sorria criança, quem sabe as asas de anjo cresçam em suas costas. Voe para nunca mais voltar.

terça-feira, maio 27, 2008

quarta-feira, maio 21, 2008

Texto sem Pensar

Sem parar no inválido destino que agora é traçado. Percorre pelo lado escuro da via úmida dos desejos sanados. O molhado invade em enchente o quente do túnel. Os olhos não enxergam o que querem ver, somente as mãos conseguem visualizar. Bem devagar, adentra o lugar. Um gosto de fruto doce saliva na boca. A língua lambe os lábios obscuros, pintados de negros com batom 68. Mais um e é o ápice.
Um trocar de fluídos vai escorrendo pelos públicos carinhos ardentes. Um dedo faz a diferença no trajeto, um gemido aumenta a intensidade, um sorriso no breu não é apreciado. Caos no enroscar das peles, pêlos invadem o sabor, o deslize alcança a pêra. Percorre os caminhos conhecidos. A velocidade atinge o máximo, o tremer rebate nas pernas, o mundo se torna pequeno, ninguém lembra os próprios nomes, mas outros mais feios são recordados, a cicatriz é esquecida, as dívidas, os compromissos e os filhos também, o vórtice vira vértice que se torna parábola que mutante fica fórmula e em químico termina o cálculo.

sexta-feira, maio 16, 2008

Ela chegou de mansinho e me atingiu. Veio devagar, sem avisar. Não sei ao certo como me encontrou, mas me derrubou. Talvez eu estivesse sozinho, ouvindo MPB da década de 1970. Ou, quem sabe, eu estivesse trabalhando. Não sei. De toda a forma, ela me acertou e me levou para a cama.
Eu lembro ainda que no início desta semana estava tudo bem. Tinha vigor. Apesar do frio, os dias eram plenos, bacanas, interessantes e produtivos. Mas você insistiu, chegou. Às vezes tenho vontade de matá-la, arrancá-la de mim, cuspí-la. Contudo, a culpa é minha. Falta cuidado. Minha mãe sempre disse que você não presta. Não discordo. Nunca. Adoro minha mãe.
Agora, por sua culpa, não posso aproveitar o meu final de semana, nem beber minha cervejinha. Você tem inveja, ciúmes, sei lá. Você quer morar comigo, mas eu não quero. Entenda, pelo amor de Deus: GRIPE, EU TE ODEIO!

segunda-feira, maio 12, 2008

E-mail nosso de cada dia - parte II

Lula na Inglaterra pergunta à rainha:
- Senhora rainha, como consegue escolher tantos ministros tão maravilhosos? Sua majestade responde:
- Eu apenas faço uma pergunta inteligente. Se a pessoa souber responder ela é capacitada a ser ministro. Vou lhe dar um exemplo. A rainha manda chamar Tony Blair e pergunta:
- Mr. Blair, seu pai e sua mãe têm um bebê. Ele não é seu irmão nem sua irmã. Quem é ele? Tony Blair responde:
- Majestade, esse bebê sou eu. Ela vira pra Lula:
- Viu só? Mereceu ser ministro.
Lula maravilhado volta ao Brasil. Chama a ministra Dilma Roussef e lasca a pergunta:
- Companheira Dilma, seu pai e sua mãe têm um bebê. Ele não é seu irmão nem sua irmã. Quem ele é? A ministra responde:
- Senhor presidente, vou consultar nossos assessores e a base aliada e lhe trago a resposta. Vai então e cobra a resposta. Ninguém sabe. Aconselham perguntar ao ex-presidente FHC, que é muito inteligente. Dilma liga pra FHC:
- Fernando Henrique, aqui é a Dilma Roussef. Tenho uma pergunta pra você: se seu pai e sua mãe têm um bebê e esse bebê não é seu irmão nem sua irmã, quem é esse bebê? O ex-presidente responde imediatamente:
- Ora senhora ministra, é lógico que esse bebê sou eu! A ministra vai correndo levar a resposta: - Sr. Presidente, se meu pai e minha mãe têm um bebê e esse bebê não é meu irmão nem minha irmã, é lógico que ele só pode ser o Fernando Henrique Cardoso. Lula dá seu sorrisinho sabido e diz:
- Te peguei, companheira Dilma. Sua resposta está completamente errada... O bebê é o Tony Blair!

sábado, maio 10, 2008

A Mãe da Batalha Afegã

Fecho os olhos e vejo tudo. A cicatriz em minhas mãos, o sangue na minha testa. Solicito mais um pouco, mas a piedade não se apresenta. Tento mais um pouco, nenhuma resposta obtenho. Espero o momento exato para acordar. Percebo que não estou dormindo. Pássaros no céu anunciam a despedida. Folhas praticam queda livre dos galhos. Portishead é a trilha sonora.
Continuo no mesmo lugar, os braços abertos, a esperança fechada. Percorro por caminhos meus desconhecidos enquanto salvadores sorriem conseqüências abstratas. Eles não sabem do que se trata, não conhecem a maldição, não sabem o que estão fazendo. Meu peito nu jorra aquilo que me era direito, aquilo que me era esquerdo, aquilo que me guiava. O rompimento enfim foi selado.
Desço do mundo, grito um profano, corto meu tímpano, cego meu rosto, reconstruo o ápice e forço a pureza. Tiram meu bem, escondem meu amar, catalizam a violência, arrancam meu filho e vencem minha glória. Bem que tentei, porém, sofri. Um tiro no escuro perdido veio de encontro ao meu corpo. Depois de tanto lutar, agora padeço. Sobreviva criança, a sua mãe agora descança.
Fere mais
A ferida
Aberta
Com uma faca
Enferrujada.

Fere o olho
Com um soco
De palavras
Desconcertantes.

Cure, agora,
A ferida com band-aid
Já usado.

Lamba meu sangue
Que escorre na sua pele.

sexta-feira, maio 09, 2008

Prateleira


quinta-feira, maio 08, 2008

Segue arrumando as coisas antes de partir. Uma velha camiseta amarela lhe traz lembranças de um dia especial.
Era um sábado, fazia sol. Saiu pela rua sorrindo, ouvindo em seu iPod a última do Gogol Bordello. Parecia um velho indie. Calça jeans e All Star. Ele tinha todas as propriedades para ser respeitado pelos outros. Vivia de elogios. Chegou a um café e pediu um chá gelado, comeu um pastel de palmito e seguiu o trajeto.
Entrou em uma velha loja de CDs. Achou um disco do The Smiths, um outro do Echo and The Bunnymen e um raro do A-ha. Anos 80. Aliás, a velha camiseta: China Girl.
Continuou a caminhar, encontrou certos conhecidos e tantos mais que pensava conhecer, mas que não passavam de uma janelinha do MSN. Avistou uma banca de revistas. Encontrou um passatempo. Leitura pop. Seguiu pela Rua XV. Sentou.
- Muito bacana o som desse rapaz - Disse um alguém.
- O cara é foda! - Respondeu.
- Posso me sentar?
- Pode. Curte música pop?
- Muito. Extremamente. Bem bacana sua camiseta. O camaleão ainda me emociona.
- Verdade.
- Você não sente que a vida seria tão sem graça se não houvesse a música?
- Com certeza, mas este seu apontamento é um plágio. Pelo jeito você gosta de Nietzsche.
- Gosto. Bastante. E você, prefere quem?
- Quase não leio filosofia, mas gosto do Amarante.
- Ah, sério? Sou muito mais o Camelo. Richards ou Jagger?
- Humm, esta é difícil. Fico com o Richards.
- Juno ou Pequena Miss Sunshine?
- Juno, sem dúvidas!
- Ah, capaz. A Preslyn é ótima.
- Concordo, mas a Ellen Page também é foda.
- Verdade. Isobel ou Lanegan?
- Os dois, como já estão fazendo. A doçura com o tabaco.
- Azedo ou amargo?
- Prefiro o Josh Homme.
- Boa. Jorge Ben ou Jorge Ben Jor?
- Nenhum dos dois. Prefiro A Tábua de Esmeraldas.
- Para finalizar, tenho alguma chance?
- Nenhuma, mas podemos dividir um cigarro, o que acha?
- Tudo bem.

terça-feira, maio 06, 2008

O Homem Imaturo

Jogos de amar. Um cordão desamarrado, um livro aberto, uma lágrima suicida. Alguém ajuda a moça da cicatriz amarrar o All Star. Depois, lê o livro para ela. A lágrima foi seca pela própria, já que estava sozinha no dia em que ouviu Joni Mitchell. Era cega. Não nasceu assim, culpa de um problema genético herdado de seu pai. Ele falaceu quando a moça ainda era criança. Dez anos. Mas ela não o culpa, pelo contrário, agradece. A deficiência lhe proporcionou uma audição extraordinária. Característica que ela utiliza com maestria na condução do violino. Não gosta dos clássicos, prefere o pop. Belle and Sebastian.
Jogos de amar. Ela estava passeando com o seu cão, o Paçoca, pelo parque central da cidade. Um lugar repleto de árvores que tem um rio cortando a extensão do local. Era outono. As folhas faziam um carpete nas trilhas, muitas delas ainda úmidas, como se estivessem sido salpicadas pela deusa da estação. Ela não percebeu, mas seu cadarço desatou. O cachorro parou. Ela não entendeu. Por mais que Paçoca soubesse que havia algo errado, ele não foi ensinado a avisar quando um cadarço se desamarrava. O cão sentou e ficou chorando. A moça, preocupada, começou a conversar com o cachorro que, aflito, não sabia o que fazer. Muito burro. Coitado.
Onze minutos se passaram. A moça continuava a não compreender. Um belo rapaz calçando o novo tênis produzido pela indústria cultural que tem como garoto propaganda aquele jogador inglês parou de correr e sorriu:
- Linda, o seu tênis está desamarrado.
- Ah, então era isso. Obrigado moço, eu não vi. Sou cega.
- Imagina, foi só desatenção.
- Não moço, você não entendeu. Sou cega mesmo. E, acredite, dos dois olhos.
Ela não se segurou e deu uma gargalhada. O cara acompanhou a piada e também riu. O cão ficou tão aliviado que chegou a urinar, como se um estresse tivesse acabado de falecer entre um céu de brigadeiro com confetes e serpentinas, com fogos de artifícios e luzes coloridas. Tadinho do Paçoca.
O cara e a moça ficaram conversando, caminhando pela trilha de folhas úmidas. Paçoca parecia sorrir, ele gostou do rapaz. Abanava o rabo como se estivesse pronto para decolar no tal céu de brigadeiro com confetes e serpertinas pelo ar, com fogos de artifícios e luzes coloridas. Repetindo. Tadinho do Paçoca, os cachorros se contentam com tão pouco.
Depois de conhecerem um pouco mais sobre a vida de cada, o quase novo casal procura um banco para sentar. A moça deixa um livro cair da sua bolsa. "O Apanhador No Campo de Centeio". A versão era em braile. Lógico.
- Também gosto deste livro. Eu me identifico com o personagem. Comentou o rapaz.
- Eu ganhei o livro ontem, ainda não comecei a ler, mas os meus próximos sempre falam muito bem dele, da história e tudo o mais. Ela odiava quando encerrava as frases com "tudo o mais".
- Bacana, aliás, como é o seu nome?
- Clara, e o seu?
- Dario, como aquele jogador de futebol.
- Desculpe, sou ignorante quanto a fatos históricos futebolísticos.
- Tudo bem, nem eu sei ao certo quem foi ele. Meu pai era um fanático pelo futebol, mas eu neguei as origens, para o desgosto dele.
- Eu quase não lembro do meu pai. Ele morreu ainda quando eu era criança. Também tinha problema na visão, acho que na córnea, sei lá. Tenho apenas uma vaga lembrança dele me balançando no quintal em um dia de inverno murmurando uma canção da Joni Mitchell.
- Sou ignorante musicalmente, não conheço nada da cantora.
- Deveria, claro, se quiser conhecer. A mulher é fantástica. É uma poetisa. Ou seria poeta? Nunca sei o termo correto.
- Acho que poetisa é o certo.
- Deve ser. Enfim, a Joni me salvou muitas vezes, adoro o álbum "Blue".
- Vou procurar algo dela na internet.
- Ah não, tem comprar em CD. O MP3 deixa as canções tão... mecânicas, frias, absurdamente sem volumes. Parece que as variações não existem. O vocal fica sempre estranho. Desculpe, devo estar te enchendo com essa papo romântico e revolucionário contra o MP3. É que meu ouvido é mais sensível do que as pessoas que enxergam.
- Tudo bem, não está me enchendo. Tenho um segredo, cortanto o assunto. Eu sei ler em braile.
- Ah é? Nossa, estou admirada.
Ele pegou o livro das mãos de Clara e deslizou com os dedos pelas frases do autor JD Salinger. Ela quase teve um orgasmo. Tudo bem, mero exagero de linguagem, mas a moça ficou mais encantada. Imaginou-se trocando beijos com o rapaz, jantares a luz de velas, ambos dançando coladinhos ao som de "River", conversando casos e besteiras, descobrindo as imperfeições da pele de cada um, as pintas, as cicatrizes, as feridas e as manchas. Tudo no toque, o olhar através dos dedos.
- Você está prestando atenção no que estou lendo?
- Desculpe Dario, viajei. Viajei legal. Desculpe, mas que horas são?
- 17h34.
- Nossa, desculpe, mas preciso ir. Por favor, qual é o seu telefone, vamos nos encontrar em outra hora, tomar um café, beber um vinho, sei lá.
- Claro, vou anotar... vou anotar aonde?
- Pode ser na contracapa do livro, eu tenho uma caneta na minha bolsa.
Anotado o telefone, Clara foi sorrindo ao lado de Paçoca que, por sinal, estava morrendo de fome. Isso ele sabia avisar. Chegava a ser escandaloso. Alardeava em uivos capazes de romper a barreira sonora do agradável. Era um desesperado. 17h30 era o horário dele comer e já se passavam quatro minutos. Sorte que a casa de Clara era perto do parque.
Depois de dar comida ao cachorro, ela percebeu: como iria ver o telefone anotado se era cega? E como Dario não percebeu isso? E Paçoca não sabia ler. Que cão inútil. Clara percebeu o cachorro que soltou um daqueles gemidos tão peculiares que fazem esses animais os seres mais bacanas do universo. Enfim, pensou, é para isso que servem os vizinhos.
Dois dias se passaram e Clara resolveu ligar. Uma voz cansada atendeu o telefone:
- Quem é?
- Oi, é a Clara, eu queria falar com o Dario. Um soluço foi ouvido. Clara sentiu, então, que lágrimas estavam se suicidando do outro lado da linha.
- Moça, o Dario faleceu a dois dias.
- O quê? Ela não acreditou, não conseguia imaginar o praticamente homem da sua vida ter ido, quem sabe, para o tal céu de brigadeiro com confetes e serpertinas pelo ar, com fogos de artifícios e luzes coloridas imaginadas pelo Paçoca que, por sinal, deu um outro daqueles gemidos no momento do "o quê?".
- Sim, faleceu.
- Como assim? Como? Meu Deus...
- Ele estava voltando para casa depois de uma de suas caminhadas e um rapaz o abordou. Pediu os tênis, Dario reagiu e levou uma facada... A voz do outro lado da linha não conseguiu completar a frase. O pranto se tornou desespero. O telefone foi desligado.
Clara, sem saber o que fazer, apenas colocou o CD da Joni Mitchell no som, pôs a canção "River", chamou o Paçoca, o abraçou e chorou, chorou como se nunca tivesse conhecido a potência de uma lágrima saindo pelos canais dos olhos. Paçoca se levantou, saindo dos braços de Clara e pegou com a boca a edição em braile do O Apanhador No Campo de Centeio" e levou até ela. Sem entender, virado exatamente na contra-capa, Clara leu com os dedos a última frase, na verdade, um extra, não está na versão original do escrito: "O homem imaturo é aquele que quer morrer gloriosamente por uma causa. O maduro se contenta em viver humildemente por ela".
Fim.