Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Para o amor, o bastar
O exagero, o gostar
A carícia, o acordar
O café, o sorrir
A voz, sussurrar
O beijo, o selo
O abraço, o continuar
lsH

sexta-feira, fevereiro 22, 2019

No caminho
Do sempre quis
Tanto foi que fiz
Na estrada
Do tanto faz
Percorremos
Para trás.
Apagar o apego já que é
Difícil encontrar o desapego.
Apagar o desejo já que é
Difícil esquecer sem fraquejo.
Apagar o amor já que é
Difícil superar a dor.
Apagar o sentimento já que é
Difícil ter sortimento.

Apagar para tentar consertar
Porque nada está certo.
Apagar as memórias
Para tentar viver de vitórias.

Apagar as histórias para
Não viver de derrotas.
Apagar o passado para
Vivermos melhor o presente.

(Jean Carlos Fontes e Leonardo Handa)
O anel

Eu estava ali
Meio distraído
Quando te vi.
Seus olhos
Piscaram timidez
E eu retribuí.
Cheguei mais
Mexi os lábios
E te pedi.
Você aceitou
Pularam faíscas
E eu tremi.
No meu ninho
Te abriguei
E curti.
Com os dedos
Acariciei devagar
E abri.
Depois me permitiu
Eu me abriguei
E gemi.

Léo SH.
Eu vou
Eu vou fumar todos os cigarros. Vou desaparecer com a fumaça. Vou consumir todos os remédios. Vou sumir com a ansiedade. Vou procurar todos os métodos, vou seguir nos erros. Vou revirar os vodus. Vou beber a macumba. Vou ao submundo. Vou morrer para ressuscitar. Vou beber aquele veneno. Vou tragar todas as derrotas. Vou viver a mesma situação. Vou amar outra pessoa. Vou prosseguir como estorvo. Vou seguir como perdido. Vou chorar a mesma música. Vou escrever um novo roteiro. Vou estraçalhar o meu peito. Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. Vou chupar o amargo. Vou contar os segundos. Vou atirar nos minutos. Vou atropelar um coração. Vou sofrer o caramba. Vou reviver o futuro. Vou viver o passado. Vou praticar o presente. Vou me perder na estrada. Vou pedir uma carona. Vou viajar pelo deserto. Vou ser amigo da solidão. Vou encontrar a derrota. Vou cortar a cabeça. Vou cheirar óleo diesel. Vou ressecar o olho. Vou furar a mão com um prego. Vou subir uma montanha de pó. Vou sorrir a tristeza. Vou desapegar o contato. Vou desejar um abraço. Vou querer muito mais. Vou pensar no roçar de pele. Vou querer algo mais. Vou lembrar de você. Vou novamente sofrer. Vou correr pelas escadas. Vou encontrar o topo. Vou pular no abismo. Vou cair com os olhos abertos. Vou dormir para te achar. Vou sonhar para viver.
Delirante

Meu último beijo não dado
Meu câncer aqui guardado.
Meu abraço corrompido
Meu soluço empobrecido.

Meus olhos repletos de água
Minhas narinas com sangue
Minha pele vazando suor
Meu corpo pedindo clamor.

Meu penúltimo desejo negado
Minha opinião deixada de lado
Minha despedida angustiante
Seu canalha delirante.

lsH
Fica a Saudade
Hoje lembrei, ao acordar, de escrever uma carta.
Coloquei a água para ferver e preparei o meu café.
Lembrei das noites mal dormidas, dos dias sofridos.
Dos cigarros derrubados no chão, do cinzeiro transbordando.
O sol perfurou a janela e o raio entrou sem pedir licença.
Não sou observador, confesso, muito menos sentimental,
Mas a cena me pareceu um sinal. Lembrei você.
Iniciei os agradecimentos, os olás, o tudo bem.
A fumaça do café se misturava com a do cigarro.
Contei um pouco da rotina que ainda acabará me matando,
Dos estranhos que acabo entregando intimidades,
Da moça da panificadora, do chuveiro estragado,
Ainda tenho que arrumá-lo. Tenho preguiça.
E do roteiro que ainda insisto em não terminar.
Percebi que faz um ano. Como foi estranho.
O seu perfume adocicado já não mais está presente,
Seus discos de new wave eu já doei,
O anel, penhorei.
Não quero apavorar a sua paciência
No entanto, ainda recebo as suas revistas femininas.
Se possível, cancele a assinatura.
Se não me quer passar o seu endereço, tudo bem,
Mas não desperdice mais dinheiro.
Nunca sei quando estou sendo melodramático, pior que novela.
Não se incomode, só queria dizer que ainda vivo.
Ainda tenho uma recordação sua: aquela foto.
Noite escura, boteco e cerveja. Lembra?
Foi a última. Agora fica saudade
Lua

O instante
Da carência
Na lágrima
Que escorre
Do céu
Lembrando
O que passou
E um dia voltou
Mas o presente
É vivo
E acabou.

A solidão
No instante
E a carência
Está.

Na lágrima
Que escorreu
E no dia seguinte
Morreu.

l.s.H
Que tédio.
Alguns dias são simplesmente assim. As horas se arrastam, todo o seu trabalho não passa de pasta de amendoim estragado e um bocejo é a coisa mais animadora que acontece nas últimas duas horas.

A gente sempre pensa que os outros estão melhores. Ou imaginamos onde poderíamos estar caso não estivéssemos sentado nessa cadeira de couro sintético. "Eu estaria na praia de Cumbuco". "Quem sabe eu poderia estar escalando algum Pico do Paraná". "Eu queria estar numa casa do campo, compondo rocks rurais".

No fim, estamos aonde? Na maldita cadeira de couro sintético, digitando algo nesse computador que tem um farelo de bolacha Maria entre as teclas, com fones de ouvido para nos isolarmos de nossos colegas de trabalho e enchendo a boca para dizer que hoje a vida não está legal.

O que você está fazendo para melhorar essa situação? Acabou de se mudar, o condomínio veio no valor errado, você vai pagar a mais pelos outros, por causa da organização idiota que os escritórios hoje possuem. Qualquer um, em todas as áreas: tudo desorganizado. O crime até oferece INSS e contribui no FGTS para garantir seguro desemprego. O crime é organizado, no caso.

Fazer o quê? Pegar uma arma, subir um morro, roubar uma boca de fumo, assumir o tráfico, fazer uma festa funk ou pagode, chamar a comunidade, pegar a morena mais gostosa do pedaço, fazer um filho com ela, ir à praia no fim de semana, farofar, comprar um XXL, um Nike, cheirar uma carreira de coca e ir dormir. Isso?

Pelo menos imaginar isso me tirou do tédio. Mas ainda não é o que eu quero.
Negras, belas
Em tabelas
De contas
A massagear:
Olhares, egos,
Nos mais
Lindos passeares.
Em lares, bares,
Cidades,
Com saias
Floridas
De pétalas norteadas
De puro
Encanto
Em todos os cantos
Que os prantos
Ousam parar
Só para vê-las
Elegantes e galantes
A cantar.
Pense que ainda existe amor.
Está na esquina, no copo do bar.
Ali embaixo do nariz, do chafariz.
Nos deslizes da mão do jogador.
Pense que ainda há.
Permanece em Bagdá
No coração do homem bomba
No olhar das pessoas de lá.
Pense que ainda existe amor
No carro que só pega no tranco
Em sua pele morena do sol
Nas ruas da cidade de Pato Branco.
Pense que ainda existe
Consiste em observar
Perto daqui, longe do mar.
No simples ato de se abraçar.
Derrame essa lágrima em sua taça de conhaque. Beba pelo amor que deixou escorrer pelos dedos, pelas entranhas, pelas castanhas em sua boca, pelo medonho que te acompanha nas madrugadas. Faça tudo lentamente, nem tente apagar rapidamente, que a criatura da dor será mais persistente.

O momento trará a carência, tenha certeza. Pegue na mão dela e vá passear. Abrace-a e durma de conchinha. Apesar de gelada, é necessária. E, quando novamente a lágrima cair, misture ao café e deguste.

Ao entrar no Facebook e vê-lo com seu o status de relacionamento alterado, vai doer. Com certeza você vai olhar o Mural dele. Vai doer. Lógico que olhará novamente suas fotos. Vai doer. Não terá remédio que ajude, nem o Rivotril para te ajudar a pegar no sono. Pegue seu pijama, faça um chá e vá dormir.

Ao caminhar na rua, com seu vestido dado de presente e, caso encontrá-lo com seu grupo de amigos, respire. Caso tenha força, encare. Caso não, fuja. Sua casa tem um sofá confortável e uma coleção de comédias românticas que ajudarão no sofrimento do momento. E, claro, vai doer.

Depois de alguns meses, talvez passe. Leva muito tempo superar uma traição. Mas passa. No entanto, vai doer.
Atmosférico.
Viagem sinistra pelo pensamento audacioso.
Remorso inconstante em ação.
O teto gira como catavento,
mas nada pega, nem relento.
Os olhos vidrados trincam no claro.
Truques do destino, faro-fino do saber.
Entendimento nulo,
obtuso retrato de deglutir.
Exercício de saber, sem contas a fazer.
Poesia riscada,
letra quebrada,
canção dilacerada.
Frase rabiscada da cintura para cima.
Frescura de sentir, dor de agoniar.
Amor em vão, alegria em grão.
Tropeço do acaso, caso do sossego.
Leituras apagadas, sentimentos invertebrados.
Páginas estupradas, canetas abertas.
Vaginas lagrimosas, pênis com rinite.
Atmosférico.
Hiperbólico sonido de substância lícita, na leitosa vulva que oferece carinho.
Pus de felicidade brotando dos lábios,
que doloridos sorriem torto.
Mas morto um desejo FRANCO,
mesmo não conhecendo o significar.
Do contrário, honraria o batizado.
Atmosférico.
Periférica entrada conhecida.
Fálico gostar de satisfação.
Faça-se honesto, pelo menos no agora.
Embora outrora a aurora, flora de sangrar lá fora.
Atmosférico.
Fake de Coca-Cola com sabor de Pepsi,
colorido artificialmente com Suvinil.
Falsificação de M.Officer em boutique luxuosa nos Jardins. Atmosférico.
Fere até viver.
Eu quero a urgência de uma das canções do Doolittle. Qualquer uma do álbum. The Pixies sempre me trouxe alívio. Eu quero ser afoito neste momento de armageddon. Quero explodir em um momento único. Quero o imediato. Quero mais rápido do que preparar um Nissin Miojo. Quero cru, quero vivo, quero só. Eu quero o artificial dos lábios da Pamela Anderson, quero as almofadas de falar da Angelina Jolie. Quero dormir com você e acordar com a Cat Power. Eu quero um grito no vácuo. Eu quero um surdo no berro. Eu quero a alma em migalhas. Eu quero o coração do pássaro mais raro, do felino mais extinto, da pedra preciosa não descoberta. Eu quero a sua melhor canção não composta. Eu quero a calma em raiva. Eu quero um beijo roubado. Eu quero um acorde quebrado.
Tenho pensado, tenho andado.
Não cheguei a resultado
Cheguei atrasado.
Tenho ficado, tenho passado.
Fiquei por aí, assim assado.
Tenho testado, tenho dialogado.
Tenho psiquiatra, tenho falado.
Tenho dormido, tenho acordado
Tenho dormido, tenho focado.
Tenho focado, tenho levantado.
Tenho acordado, tenho desfocado.
Dois pontos no pescoço
De propósito
E com gosto.
Quase um pedaço
Retirado
Após agosto.
Agora, em setembro
Eu lembro. O quê?
Que existe amor
Ele maiúsculo é Amor

Quando chega o amor, não se trata de prisão. Que me desculpem os poetas mais tristonhos, mas quando Ele chega é libertação. São os sorrisos prontos, soltos e leves de se encantar. É a música quando faz sentido junto ao ouvido. É lamento também, mas depois são dessabores jogados em lixo reciclável.

Quando se tem é uma bobeira incrível. É beleza em cada detalhe, mesmo na feiura do concreto rabiscado pela pichação. É encontrar um desenho de coração onde, na verdade, é assinatura de uma gangue. É uma parede com garranchos ganhando arte aos olhos dos românticos.

Quando se há, corpos desafiam a física e fazem duas massas caberem no mesmo espaço, reprimindo a lógica e espremendo os átomos. Não há porque se viver sem. E, parafraseando Nietzsche, sem o amor a vida não teria o menor cabimento.

Quando se explode, não precisam existir os homens bombas e suas batalhas religiosas e territoriais em nome de seu deus. Mas algo tão simples e, ao mesmo tempo tão complexo de se sentir, é abafado por políticas, regras, sentimentos passados e demais artifícios que compreendemos como errados, no entanto, são tantas raízes mal plantadas que geraram frutos tão estragados, cujos gostos ninguém sabe diferenciar.

Quando Ele se colide, de frente ao coração, mente e alma, para a hora, o minuto e o segundo do seu eu. Torna-se mais fácil rir e perceber: a vida pode ser banal, mas possui muito mais beleza do que cabe na residência do seu crânio.