Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sábado, junho 25, 2022

 Melancolia minha, daquilo que vivi ontem, ou daquilo que vivo agora.

Melancolia nossa, tão ausente quanto tu.

Melancolia outrora, futuro breve, obtuso instante.

Melancolia a noite e ao dia.


Melancolia boa deste momento

Melancolia ótima para refletir

Melancolia incrível para amar

Melancolia linda ao vento.


lsH

 Madrugada. Sei lá que horas. Estou sem relógio, sem celular e sem carteira. Meus documentos, não tenho ideia. Eu só lembro de nós dois. E, mesmo assim, nada sei. Após a briga, acho que fui afogar a dor de cotovelo. 

No posto de combustíveis, nessa beira de estrada, toca R.E.M. Uma rádio FM qualquer sintonizada. Um caminhoneiro retorce o rosto. Não entendo se é por causa da música ou da minha presença.

No bolso, uma carteira de Marlboro pela metade. Nas mãos, um isqueiro Zippo falsificado. No céu, tantos pontinhos piscando que imagino: se não tiver vida em outra constelação tudo isso é um tremendo desperdício de espaço. Será que os ETs louvam algum deus? Pensamento sem noção para o momento. 

Michael Stipe não se cansa de dizer que "sometimes everything is wrong" e o caminhoneiro continua com a mesma cara, um misto de que acabou de peidar com contemplação de assassinato, seja lá o que isso signifique. Nem lembro o que estou fazendo aqui. Apenas sei que é madrugada. 

Procuro alguma pista. Vou até o banheiro, ligo a torneira e molho meu rosto. No relance que tenho com o espelho, visualizo uma marca de batom no pescoço. Vermelho. O lábio está um pouco rachado, como se eu tivesse beijado por longos minutos e, após, pego uma friagem sulista daquelas que dá inveja aos catarinenses. Acendo um cigarro. 

O caminhoneiro invade o recinto. Pergunta: - e então, era gostosa? - Quem? - Indago. - Aquela linda ruivinha que te largou aqui. - Maldita puta!

Aí eu lembrei. Tinha acabado de ser roubado.

 Eu vou fumar todos os cigarros. Vou desaparecer com a fumaça. Vou consumir todos os remédios. Vou sumir com a ansiedade. Vou procurar todos os métodos, vou seguir nos erros. Vou revirar os vodus. Vou beber a macumba. Vou ao submundo. Vou morrer para ressuscitar. Vou beber aquele veneno. Vou tragar todas as derrotas. Vou viver a mesma situação. Vou amar outra pessoa. Vou prosseguir como estorvo. Vou seguir como perdido. Vou chorar a mesma música. Vou escrever um novo roteiro. Vou estraçalhar o meu peito. Vou cuspir o azedo. Vou dar um beijo seco. Vou chupar o amargo. Vou contar os segundos. Vou atirar nos minutos. Vou atropelar um coração. Vou sofrer o caramba. Vou reviver o futuro. Vou viver o passado. Vou praticar o presente. Vou me perder na estrada. Vou pedir uma carona. Vou viajar pelo deserto. Vou ser amigo da solidão. Vou encontrar a derrota. Vou cortar a cabeça. Vou cheirar óleo diesel. Vou ressecar o olho. Vou furar a mão com um prego. Vou subir uma montanha de pó. Vou sorrir a tristeza. Vou desapegar o contato. Vou desejar um abraço. Vou querer muito mais. Vou pensar no roçar de pele. Vou querer algo mais. Vou lembrar de você. Vou novamente sofrer. Vou correr pelas escadas. Vou encontrar o topo. Vou pular no abismo. Vou cair com os olhos abertos. Vou dormir para te achar. Vou sonhar para viver.

 Até de amor nos curar


Nada se compara a você.

Eu queria ter um derrame de amor,

Por ti.


Meu rádio toca a mesma canção

Meu tímpano está viciado

E o meu corpo também.

Por ti.


Respiro aquilo que te cheirei

Do peito até sua nuca

Da tatuagem até a virilha.


Nada se compara a você

E tenho medo

Que tudo será comparado,

Nos próximos,

Nos outros,

Nos vácuos.


Eu queria ter uma ferida contigo

Que continuasse aberta

Até de amor nos curar. 


lsH

 Na aventura dos sentidos

O tempo resgata os perdidos

E aquele ali, que antes 

Escrevia poesias marginais

Agora elabora discursos

Para os petistas. 


E o calor de seus lábios

Hoje esfriam o amor

Que os direitistas, ora exacerbados

Portanto cancelam

Gritos exacerbados.


No trajeto da sua letra

Algo ecoa nesse ouvido

Porque no outro, eu duvido

Que a Marina vá profanar.

Mas na aventura dos sentidos

O tempo resgata

Até os esquecidos

E a dança cega da digitação

Far-se-á breve, por obrigação.

 Já fomos mais inteligentes

Já fomos mais sagazes

Já fomos mais felizes

Já fomos mais interessantes

Já soubemos escrever.

Já soubemos interpretar.

Já fomos mais leitores.

Já fomos mais amáveis

Já fomos mais amantes

Já fomos mais sorridentes.

Já soubemos distinguir.

Já soubemos brincar.


Já fomos mais futuro

Hoje somos saudosistas

Para o bem e para o mal

Até a morte, amém. 

lsH