Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quinta-feira, maio 28, 2009

madrugar_portisheadeano_________

"Roads" no fone de ouvido. Vela acesa. Cabeça repousando no travesseiro. Beth Orton, com a sua suave e melancólica voz, dá toda a razão ao penetrar no tímpano.
"Ninguém consegue ver? Temos uma guerra para travar/ Nunca achamos nosso caminho, diferente do que eles dizem / Como pode parecer tão errado? Para esse momento, como pode parecer tão errado? Tempestade na luz da manhã / Eu sinto / Não posso dizer mais, congelada para mim mesmo".
Respira. Inspira. Aspira. Expirra. A poeira da memória provoca sensações indeléveis, ainda mais com a trilha sonora perfeita para vasculhar o velho baú de lembranças. A imaginação a transporta ao mesmo local do primeiro sexo. Também do segundo, do terceiro e do quarto. Ela segura com os cílios a lágrima que não insistiu em cair. A solidão tem dessas coisas: proporcionar uma reviravolta mental.
Tinha tanta esperança carregada no coração, presa em um colar que não tira nem para tomar banho. Mas, como toda e qualquer traição oferece inícios, também possibilita fins. A cicatriz do passado já se fechou, no entanto, provoca dores de vez em quando. A sofreguidão de alguns atos provocam esse descarrego, pensava ela, iluminada pela luz da vela.
Naquele momento, "Strangers", outro petardo sônico a acompanha na trip da ressaca do pensar:
"Alguém pode ver a luz onde a aurora encontra o orvalho e a maré sobe / Você percebeu, ninguém pode ver dentro da sua visão / Você percebeu porque essa visão pertence a você".
Fechou os olhos e abriu um sorriso como se tivesse decifrado um enigma, enganado o pensar, respondido o destino. Ela abraçou o travesseiro e dormiu em um sono alucinante de paz frenética que nenhuma concepção pode explicar. Somente ela e o seu madrugar.

Cego Rever


Uma triste e bela canção arranca um pingo dos canais lacrimais. Faz-se forte a lembrança de um esquecimento que não se dissolveu. O causar de um arrepio viaja em alta velocidade através das veias. Foi mais um sonho ruim, mas eles aparecem na alta madrugada. A música contribuiu no relembrar:

"Um caso por acaso
Causou um desabar.
Fracasso em sentir
Um bom gostar.
Travado um soltar de sentimentos
Repudiou o decepcionar.
Abriu com os olhos
A falsa esperança de criar.
Jogou morno um arquétipo de imaginar.
Parou no momento em que deveria não fraquejar.
Deixou-se ao ar, levando um fim.
Traçou em memórias agonias sem iguais".


O período dificultou os trejeitos do sentir. Revelou uma saída mortal de mentir. Foi triste a iguaria que bebeu. Amaldiçoou o alvo do acaso retumbante. Escorreu pelo ventre uma saudade definitiva. E sobreviveu na consequência do exuberante. Fechou novamente os olhos e se tornou a gostar. Deixou-se após o sofrer e seguiu pelos caminhos do romper. Cheirou a última memória e agraciou o cego rever.

terça-feira, maio 26, 2009

A Canção que Você me Deu


Boa melancolia que me segue nesta manhã chuvosa. Não quero mais encontrar os motivos. Eu acreditava que quanto mais velhos ficávamos, menos dúvidas teríamos. Acontece justamente o contrário. Os anos passam e algumas razões não são esclarecidas. Agarro-me à música que você me deu a fim de me confortar com algo. Já passei da idade de ser um sofredor, mesmo o sofrimento ser considerado um sentimento sem idade. É difícil olhar as pessoas ao redor que remetem as suas características. Mais estranho é perceber que todas se parecem contigo, mas você não se parece com elas. Não consigo explicar. É confuso.

Ontem a noite fiquei me emocionando. Estava sozinho, em frente ao computador, vendo um trailer de um filme brasileiro. Ele me lembrou algumas situações que, incrivelmente, ainda não vivi. Senti falta de algo que ainda não tive contato. Pirei. Acendi um cigarro, mesmo não sendo um fumante, só para tentar sentir o seu hálito. Sinto falta. Quarto com meia-luz, Mark Lanegan na vitrola, troca de carinhos, poesias e vinho tinto. Isso não foi experimentado, porém, sinto falta. Você deve achar que estou ficando louco, perdendo a razão e o controle. De fato, não sei explicar. Confesso que não se trata de desespero, pois estou tranquilo e curtindo a melancolia com uma sagacidade que não imaginava ter. É saudade, isso eu tenho certeza. Mas do quê?

Não quero parecer um lunático como um personagem de David Lynch. O meu lúdico, agora, é vivenciar essas dúvidas, essas incertas que são certas. Afinal, a única certeza é o incerto que sou, com todo o perdão da redundância. Se era para causar impacto, a frase ficou mais parecida com um trocadilho de alguma letra do Humberto Gessinger. São tantas besteiras que acabo me divertindo sozinho nesses devaneios que relato. Sou quase um ator da minha sobrevivência, interpretando um eu que fantasio sem preguiça. Confundo o real.

E agora, aqui, nessa manhã chuvosa, com um céu cinza de uma bobeira modesta, abro um sorriso torto, tendo como conforto a canção que voce me deu. Um outro personagem que sigo interpretando. Um outro fato que sigo relatando. Um outro amor que não é meu. Uma outra situação que não vivi. Um outro beijo que não ganhei. Um outro imaginário que não sou eu. Uma outra confusão que absorveu, ficou no corpo e não morreu.

quarta-feira, maio 20, 2009

O dia em que pato-branquenses e beltronenses se encontraram na capital


Concentração pré-Oasis vira catarse
em bar irlandês ao som da Radiophonics

Parecia um bar da região, não pela arquitetura e decoração, e sim, pela quantidade de figuras carimbadas. Os rostos eram conhecidos. A banda, idem. Só a cerveja popular do local não era a mesma consumida com frequência no Sudoeste.
O lugar da festa, Sheridan’s Irish Pub, definido como um bar irlandês, foi o ponto da reunião dos pato-branquenses e beltronenses que seguiram à capital do Estado para curtir um grupo britânico, mas acabaram um dia antes, graças à agenda, prestigiando a sudoestina Radiophonics, que recentemente fechou contrato com o bar.
Há tempos a banda pensava em alçar vôos maiores, fugindo do esquema-estrada-Pato-Beltrão. Inclusive, chegaram a tocar em São Paulo, capital, quando puderam divulgar o CD demo “Mosaico”. Algo que agora está acontecendo em Curitiba, onde o grupo tocará todas as sextas-feiras no Sheridan’s, localizado no meio da concentração de bares do Batel.
Após uma chegada conturbada, devido ao alto fluxo de carros pela avenida, o espaço em frente ao palco foi lotando de jovens de Pato City e Chico Bel. O forte sotaque do Sudoeste era abafado pela banda de abertura que tocava covers do Creedence Clearwater Revival. Nada mal, mas não empolgava muito.
No canto direito do lugar, uma pequena concentração de alegria iniciava um aquecimento etílico. A cada pessoa que abria a porta, gritos de reconhecimento alertavam que a noite prometia. Última canção. Ufa. A proto-história do Creedence encerrava o set list. No telão, aquele clipe do Red Hot Chilli Peppers que simula um jogo de videogame. A Radiophonics sobe. Um outro clipe entra. Madonna se contorcendo na fase “Ray Of Light”. Mais rostos conhecidos entram no local. Muda o clipe. Morrissey pós-Smiths. Uma pequena microfonia evidencia. “Atenção o Show Vai Começar”. Primeira faixa do disco demo. E assim iniciava a apresentação da Radiophonics, grupo formado por Digão (guitarra/voz), Jabuti (guitarra/vocal), Brod (baixo/vocal) e Marcelo (bateria).
A energia canalizada percorria entre as pessoas. A noite estava propícia para a diversão. Som ótimo, local também. Foi admirável presenciar a banda tão entrosada e tocando com vontade a enigmática “Eulália”, música própria de versos que formam um quebra cabeça de contágio. O público sudoestino, lógico, em uníssono acompanhou a melodia. O vocalista abre um sorriso e solta a já clássica: “massa, meu!”.
Com um set list que não deixava tempo para sossegar e por vezes executando as composições do disco demo, a Radiophonics chegou a um nível de engranzo que comprova a boa fase a qual está passando. Se o reconhecimento regional já existe, é questão de tempo para alcançarem prestígio estadual. Por mais que a concentração de pato-branquenses e beltronenses tenha proporcionado o agito, a banda também conquistou o público não sudoestino do bar.

CD demo
Intitulado “Mosaico”, o grupo vem divulgando e distribuindo o trabalho demo pelos locais onde tocam. Aos interessados, algumas das canções podem ser encontradas no
www.myspace.com/radiophonics.
Gravado em um esquema “do it yourself”, as músicas próprias apresentam um apelo pop sem serem pasteurizadas. Certos arranjos se mostram crus de um propósito que se enquadra em adjetivos positivos, como na canção “Único Amor”, uma balada de melodia perfeita que cresce nos berros do vocalista.
Na bolachinha também se encontra a já clássica “Eulália” e as músicas de trabalho “Mosaico” e “Ela Me Faz Pirar”, que tem todas as qualidades para tocar no rádio, ser tema de casal teen de folhetim ou trilha para algum filme do Jorge Furtado. Agora, para a banda, tudo é uma questão de tempo, pois o caminho já começou.

Leonardo Handa – Jornalista (DRT 6323-PR) –

terça-feira, maio 19, 2009

Duo

Horóscopos mudados. Propósitos razoáveis. Desculpas sinceras. Aceitas depois. Referências abstratas. Motivos explicativos. Joguetes do destino. Consequências variáveis. Conversas destruidoras. Invertidos sentidos. Amor demais. Menos amor. Pensamentos noturnos. Estradas vazias. Soluções difíceis. Infeliz aniversário. Cigarros comprados. Pagamentos atrasados. Momentos alegres. Momentos tristes. Ambiguidade saliente. Sentimento exacerbado. Choro bebido. Tabaco apagado. Complicado viver. Vida segue. Tanta dor. Comunhão alguma. Divisão outrora. Celular desligado. Jantar confiscado. Passado presente. Presente futuro. Futuro passado. Dizeres de impacto. Ausente dizer. Mais melancolia. Dia e noite. Noite e dia. Sortimento furado. Esperança depois. Sonhos claustrofóbicos. Crises constantes. Sexo trocado. Opostos ligados. Culpado expresso. Confesso sim. Produtos sentimentais. Palavras adiantadas. Bebidas ingeridas. Capsúlas indigestas. Festas vividas. Troca e metade. Duas diferenças. Verdade absoluta. Mentira rasgada. Sincera lágrima. Medo agora. Mudança necessária. Uma parte. Outra parte. Parte inteira. Inteira incompleta. Aguentar azedo. Outro sofrimento. Falta de alimento. Tentativa errada. Quebra-cabeça. Contrato expirado. Vômito interrompido. Horas assassinadas. Desejo de gozo. Sempre rápido. Noutro lugar. Banco traseiro. Tempo ficar. Tempo flutuar. Tempo passar. Cura suplicada. Tempero salgado. Belle and Sebastian. Pneu marcado. Lama e caos. Sorriso fechado. Cara emburrada. Lembranças esquecidas. Recordadas aflitas. Droga encontrada. Cronologia mudada. Percepção de culpa. Ausência de culpa. Culpa novamente. Desculpas agora. Verdade sincera. Lágrimas enfim. Madrugadas fracassadas. Planos furados. Corpo furado. Alma furada. Riso furado. "Afe" odiado. Confesso não. Infeliz aniversário. Desejo oposto. Siga a vida. Como será? Sem obrigação. Melhor ainda. Pressionado desencanto. Fragmentos vividos. Momentos bons. Momentos maus. Momentos ruins. Momentos ótimos. Desculpe novamente. Novamente desculpo. Como fazer? Sei lá. Só queria. Solução repentina. Sugestão ausente. Querer sofrer. Desejo o melhor. Viver a vida. Sobreviver também. Mais um. Ano bom? Depende do quê? Horóscopo responde. Sigamos então. Deixe estar. Aniversário passar.

segunda-feira, maio 18, 2009

A perfeita tradução da idiossincrasia


Sem o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o ficcional não seria tão verdadeiramente pitoresco

Parafraseando uma clássica frase do filósofo Nietzsche, o cinema sem as películas de Pedro Almodóvar seria um erro. O exagero é necessário, afinal, não se trata de um normal, mas da pessoa que consegue tirar graça das tragédias. O diretor espanhol possui mais peculiaridade do que a invasão dos Estados Unidos no Iraque, do que a derrota da seleção brasileira na Copa de 1998 e do que a morte de Getúlio Vargas. Ele é praticamente a melhor tradução da idiossincrasia. As suas mulheres bizarras são sexys, os seus personagens são afavelmente caricatos, seus roteiros são miscelâneas de absurdos deliciosos e suas metáforas visuais são deleites antropofágicos para os puristas.
A extensa filmografia de Almodóvar iniciou em 1974, quando dirigiu dois curtas-metragens, “Film Político” e “Dos Putas, A Historia de Amor que Termina en Boda”. Herdeiro direto da linguagem pitoresco-criativa do diretor Luiz Buñuel, influência soberana nos arquétipos almodovarianos, o criador de figuras berrantes e cativantes nasceu pobre em Calzada de Calatrava e ajudava a família em um comércio de objetos de segunda mão. Desde cedo tinha uma única certeza: trabalhar com arte.
No início da década de 1970, mudou-se para Madri, cidade-fetiche mostrada em vários de seus filmes. Estudou cinema na Escuela Oficial de Cine, mas não concluiu o curso devido ao governo do ditador Francisco Franco. Na infância, recebeu ensino religioso. Ganhou traumas. Perdeu a fé. Foi abusado. Resquícios daquelas tristes memórias ganharam físico no longa-metragem “A Má Educação” (2002), um quase fato real baseado em sua experiência em um colégio administrado pela igreja católica, instituição a qual ama ridicularizar em seus compêndios de escárnio e exacerbações. Em “Maus Hábitos” (1983), Almodóvar destilou o seu veneno no roteiro do filme que apresenta um surreal convento habitado por freiras lésbicas e taradas, tudo pintado nas infindáveis cores fortes que cospe em suas direções fotográficas. Afinal, só mesmo o espanhol consegue combinar o gritante vermelho de batons com paredes verde limão, sapatos rosa com cabelos amarelos e vestidos de poá azul com música do Caetano Veloso.
Sem Almodóvar o cinema mundial não teria o preconceito tratado de maneira original. Homossexual assumido, a polêmica pode ser considerada um adjetivo em seus longas-metragens. Em “Labirinto das Paixões” (1982), o autor escreveu um inusitado roteiro onde o filho gay de um imperador se envolve amorosamente com um terrorista que, por sua vez, tem um romance com uma ninfomaníaca. Ojeriza total aos padrões.
Essa característica controvertida já vinha de outros tempos. Antes de se aventurar atrás das câmeras, ele escreveu uma novela em histórias em quadrinhos chamada “Fogo nas Entranhas” e desenvolveu uma fotonovela pornô, “Toda Tuya”. O passado só foi válvula de escape para as suas futuras doidices cinematográficas.

Alma feminina
No final da década de 1980, Almodóvar seguiu uma direção de lirismo marginal mais suavizado, contudo, sem perder os alfinetes palavreados e a estética visual de personagens estróinas. Seu interesse se voltou às mulheres. A sutil mudança lhe rendeu uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro por “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” (1988).
As complexas facetas femininas também davam as caras em seus longas seguintes, “Ata-me” (1990), “De Salto Alto” (1991), “Kika” (1993) e “A Flor do Meu Segredo” (1995). Mas a sua fama de relator urbano do dito sexo frágil nada seria sem a contribuição que conseguiu fazer com atrizes tão talentosas como Carmen Maura (sua parceira artística mais fiel), Cecilia Roth, Marisa Paredes, Victoria Abril, Rossy de Palma e Penélope Cruz. A última, inclusive, só se tornou o que é hoje graças ao apadrinhamento de Almodóvar. Suas primeiras atuações eram dignas de teatro feito em jardim da infância. Depois de dirigida pelo espanhol, aprendeu os mecanismos da profissão, faturando prêmios ao redor do mundo, como o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Vicky Cristina Barcelona” (2008).
O universo feminino de Almodóvar alcançaria o ápice no seu clássico “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999), talvez o melhor de sua filmografia. Nunca os risos e as lágrimas ficaram tão bem dosados, nunca o kitsch se tornou chique e o sombrio tão apaziguador. Mesmo em “Fale com Ela” (2002), filme com destaque masculino, a ótica feminina é o que prevalece.
As mulheres do espanhol são incontroláveis, sexualmente fortes e passionais sem arrependimentos. Sem Almodóvar, a cinematografia não seria tão coloridamente fascinante.

Leonardo Handa – Jornalista

quarta-feira, maio 13, 2009


Em seu ar

Livre eu vou

Não importando

O tempo

Incorporado

Ao vento.


Paraliso o clima,

Volto ao sol

E nunca me lamento.


Em sua água

Não me desencanto

E sigo calmo

O seu canto.


Penso sempre

Em suas costas

As mais belas

Já registradas

Pelas retinas

Hoje cansadas

De voltar.

quinta-feira, maio 07, 2009


Na impressão da letra torta revela as vontades das felicidades vorazes. Atrozes gostos de critérios milimetricamente estudados, tudo para satisfazer os desejos solicitados. Lado avesso dos sentimentos, por assim dizer, graças a violentas noites de prazer roubadas a golpes de alcatrão. Jorge Drexler dava razão enquanto o ponteiro maior do relógio seguia o seu cotidiano de matar os minutos. Segue para o copo mais uma coragem líquida a fim de continuar o testemunho exacerbado de delicadezas fraseadas.

Em um momento interrompe a ação e viaja em pensamentos outros. Segundos de fragmentos imaginados junto ao transtorno bipolar que envoca um novo gole de vodca. Literatura chinesa vendida pela Acadêmia de Letras como retrato paraguaio. Certos pensamentos, de fato, ficam sem nexo, soltos, hipérboles. Resquícios que acabam desconcentrando o raciocínio. Como a frase ali agora pouco lida.

Retorna ao centro do epicentro centralizado na ponta do centralizador. Por pouco escapou do meio. Um meio abraço, um meio tchau, um meio beijo, uma meia ideia, uma meia suja, uma meia furada, uma meia inteira. Novamente, se perde. Volta, então, ao meio tratado, ao meio fim, ao meio dizer, ao meio desculpar, ao meio considerar. O objetivo é único, simples: terminar. Metades relacionais não fazem sentido em envolvimentos que, afinal, querem o todo. Se metades adiantassem, o problema seria solucionado. Mas, como se trata de uma conta, ela precisa de um final. Por isso, termina a carta na imprecisão da letra torta que conta através de delicadezas fraseadas, ao som de Jorge Drexler, em que pede uma desculpa, dá um adeus e deseja força. Sempre.

segunda-feira, maio 04, 2009


Meu underground. Minha memória sem lembrança. Minha lembrança sem memória. Meu livro sem frases. Meu canto sem lados. Minha dislexia sem consoantes. Minha música sem nota. Meu grito sem voz. Meu tempo sem espaço. Meu teclado sem letras. Minha queda sem ar. Meu relógio sem ponteiro. Meu passado sem história. Meu futuro sem previsão. Meu signo sem horóscopo. Meu amor sem sentimento. Minha sinuca sem caçapa. Minha tristeza sem razão. Meu coração sem artérias. Minha fotografia sem luz. Meu calendário sem datas. Meu concreto sem cimento. Minha planta sem semente. Meu genoma sem pesquisa. Meu prato sem comida.


Meu underground...

... Minha simples ironia.