Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

terça-feira, junho 28, 2016

Delirante


Meu último beijo não dado
Meu câncer aqui guardado.
Meu abraço corrompido
Meu soluço empobrecido.
Meus olhos repletos de água
Minhas narinas com sangue
Minha pele vazando suor
Meu corpo pedindo clamor.
Meu penúltimo desejo negado
Minha opinião deixada de lado
Minha despedida angustiante
Seu canalha delirante.

Cicatrizes


Quando as cicatrizes coçam é chuva? Só se for aquela que remete às lembranças, somente para recordá-lo de como conquistou cada uma. Aliado ao álcool, tenho a impressão que elas ficam vivas, se mexendo na pele, atiçando o cérebro. 
Já são algumas. Não importa quantas. Cada qual com um significado nos dias atuais. Nesta época do ano, elas são revividas. Na cabeça, eu diria que são os cornos. Muitos. Sem mencionar os que virão. Sou quase como peste. Um dia sempre sou traído. Nas costas, resquícios de noites. Muitas. Pior que lembro de todas. Unhas, dentes e até canivete. Tem também um sinal feito por uma tesoura. Foi bem violento. Na mão, um acidente. Eu diria de trabalho. Não vem ao caso. Nos joelhos, o radicalismo, a vontade momentânea de praticar esportes radicais. Sempre me fodo. Nos pés, as voltinhas pelas pedras das praias. Essas eu tenho com orgulho. Volta e meia coçam para valer, principalmente quando imagino a areia, o sol, o vento, as pessoas lindas e bronzeadas, o sal, o mar e a alegria. Algo bobo, mas que alimento.
E, agora, particularmente uma coça para caralho, despertando uma semi-ira. Aquela que ficou bem localizada, ao centro do peito. Essa me lembra o seu aniversário.

domingo, junho 26, 2016

Eu não queria mais voltar. Por alguma razão, cá estou. Confesso que não me sinto muito confortável. Até atrapalha meu pensar. Não consigo deixar claro. Muito menos, escuro. Não queria estar de novo recolhendo cada fragmento que me compõe. Não queria estar novamente escrevendo o "não". Não me via começando outra vez as frases com essa palavra tão miúda de três letrinhas. Não passou. Sei lá se vai passar. Mas, se retornei, foi por alguma questão. E ela é você. Talvez eu esteja apenas encantado, como me disseram, apesar de que me sinto muito apaixonado. Nem preciso comentar isso contigo. Está longe. Longe fisicamente. Longe emocionalmente. Em outra direção que, lógico, não é a minha. Tenho em mente que para ti foi um caso, outra conquista para ficar registrada na pele, como pessoas que colecionam amores. No entanto, para mim, uma sensação de algo não terminado. Enfim, nem tudo na vida precisa ter um final. Só não queria ter retornado para o início. Do sofrer, calado, no caso.
Eu sempre tive um problema ou, talvez, uma solução: o sofrimento por antecipação. Repentinamente, quando a mente está de bobeira, imagino como será quando meus pais morrerem, como seguirei meu caminho, como será minha vida sem eles, como será a minha solidão, a minha tristeza. Um dia a morte virá e tudo aquilo que sabemos, mas não vivemos ainda. 
Este é apenas um exemplo bobo que, psicologicamente, não é nada aconselhável. Eu utilizo como ferramenta de previsão, de como deverei agir no futuro. Serve para alguma coisa? Não tenho a mínima ideia. O mais recente arquétipo, no momento, mais próximo, bem mais próximo, pois se trata de dias, é a despedida de amigos. Há um mês, meu amor pediu o desquite, agora, fico sabendo que uma grande amiga vai partir, navegar novas ruas, respirar novos amores, trabalhar novos retratos, curtir outros compartilhamentos, aproveitar novas aventuras. E, novamente, vou sofrendo por antecipação. Estou extremamente feliz que tenha dado tudo certo para ela. Porém, com um pensamento egoísta, me pergunto: e agora? Como eu fico? Sempre quando alguém vai embora, principalmente quando se é uma pessoa muito, muito querida, um chão se rompe.
Já estou imaginando os abraços, as lágrimas despencando, o coração acelerado. Em menos de cinco meses, será mais um dos "tchaus" super-importantes da minha vida. Um dia, foi um casal, depois, o amor, agora, a grande amiga. Não deveria sentir essa melancolia, ninguém quer, mas é algo involuntário, sem controle.
Enfim, contudo, com essa mesma amiga, em uma conversa, falamos: parece que sempre quando alguém vai embora você sente inveja, porque você ficou, continua no mesmo lugar, e eles estão crescendo, evoluindo. Por que será que dá essa sensação? Não sei, não vou sentir isso contigo, sentirei apenas falta e a certeza de que estou ficando por medo, e você vai porque tem coragem.
Para cumprimentar, não precisa fazer a chuca, não precisa lavar a bunda, não precisa ser santo. Para cumprimentar, não precisa ser amado, não precisa ser corno, não precisa ser arrogante. Para cumprimentar, não precisa vestir roupa de marca, não precisa estar sem, não precisa estar com. Para cumprimentar, não precisa ser rico, não precisa ser pobre, não precisa ser de classe alguma. Para cumprimentar, não precisa estar manso, não precisa estar bravo, não precisa estar contente. Para cumprimentar, não precisa se machucar, não precisa se alegrar, não precisa se entregar. Para cumprimentar não precisa ter medo, não precisa ignorar, não precisa estar bêbado. Para cumprimentar, não precisa estar de chinelo, não precisa estar de All Star, não precisa estar de Prada. Para cumprimentar, não precisa ser elegante, não precisa se mostrar o prepotente, não precisa ser o melhor. Para cumprimentar, não precisa estar em dia com o imposto de renda, não precisa ter viajado para a Europa, não precisa falar a mesma língua. Basta olhar.

A situação

Ela queria o lado certo, mas seguiu o errado. 
Aos desavisados, gritou: agora me vou.
Os truques do destino apontaram o fim
Mas ridiculamente, ela disse: não.
Princesa do seu hoje
Apontou suas velas
E navegou para longe.
Não teve o que quis,
Virou sua melhor cover
Cantando suas derrotas
Que aos poucos
Se tornaram sorrisos.
Quando todos diziam norte
Ela abocanhou o sul
E o seu erro se tornou acerto.
Foram tempos de escárnio
E mentiras reveladas
Que tiveram seu tempo de maturação
E que hoje são verdades.

sexta-feira, junho 24, 2016

Vazio


Ando vazio. E o que é vazio não para em pé. Mas, como continuo? Penso a respeito e não encontro respostas. Cada vez mais tenho incertezas. Não me esforço, confesso, para acertar o alvo. Apenas repenso os meus erros. Foram vários. De alguns, aprendi algo. De outros, aprendi a ser vago. Mesmo assim, continuo.

O mais grave fará um ano. 

Quando o amor estava presente, apesar dos problemas de um relacionamento amoroso, as coisas estavam nos trilhos. Fui fraco e me deixei cair na tentação facebookiana. Nosso namoro não estava perfeito, contudo, continuava lindo aos meus olhos. Todo o apoio necessário que eu podia oferecer era fortalecido. Tinha uma questão sexual grave, aos olhos do meu parceiro, que o incomodava muito. E a mim também. Teve tentativas para mudar essa situação. Mas o que era para ser prazer, para mim, era apenas dor. E, apesar da compreensão, isso foi o catalisador  do fim. 

Enfim, voltando. Cai no conto mais falcatrua, no clichê mais básico, na falácia de uma possível traição, logo ela, a mais abismal das manifestações humanas. Eu sempre a critiquei. Continuo achando que é o tapa mais dolorido. Não cheguei a cometê-lo fisicamente, porém, digitalmente fui fraco. Pedi, confesso, e recebi fotos pornográficas. Tive conversas pornográficas. Correspondi pornograficamente. E o homem que eu amo (sim, ainda o sentimento permanece) descobriu. Talvez de maneira não honesta, pois tinha a minha senha da rede social, com um grande detalhe: eu nunca tive conhecimento de que ele tinha o meu código de acesso. Nunca. 

O que aconteceu? Uma conversa desagradável, a falta de argumento da minha parte, a falta de inteligência de ambos e o término, bem doloroso, diga-se de passagem. Quando ele retornou para casa, pois estava na residência dos pais, no Rio Grande do Sul, eu fui um verme. Entretanto, se eu não tentasse através de fiascos sentimentais, eu carregaria a falta de tentativas pelo resto da minha vida. 

Depois de ser vencido pelo cansaço, restou o abraço, o beijo e o tchau. Ainda fiz questão de levá-lo à rodoviária. Até hoje tenho calafrios quando vou lá, já que o local acabou me deixando traumas por causa da cena de despedida. Não queria ter ouvido um eu te amo naquele momento. Mas ouvi, pois era o sentimento de ambos. Não respondi, virei o rosto e fui para o carro. E, desde então, ando vazio. 

Yo quiero

Eu quero aquele verso torto, todo fodido, rasgado e arregaçado. Aquele que vibra a vida com uma ardência nada categórica, muito alegórica, hiperbólica e cheia de cólera. Algo que fale mal, deliciosamente. Um jorro na cara de lambuzar os olhos lacrimejados. Quero uma canção arrancada do coração, sangrenta, como uma balada que estupra o peito. Venha-me, solte-me e cuspa-me aquela frase gritada, que nem uma puta num coito interrompido. Quero o tremular das pernas, o balançar das cadeiras, a quebra da lombar no berro em si bemol. Desejo a gostosura das falácias inconsequentes, da porra quente de uma estúpida masturbação. Também quero o ódio para alimentar meu corpo em fúria, só para que a vazão da marginalidade não me faça esquecer o quanto é bom se sentir assim: em pulso, em nervosismo, em pele, em carne e em cerebelo. Quero extirpar cada sílaba com gostosura de framboesa, como uma criança retardada que grita de birra em um supermercado, constrangendo seus pais e seus irmãos. Eu quero uma poesia violentada, escancarada, toda aberta de tanto levar pau, besuntada de metáforas que escorrem através de uma cruz carregada por escritores vivos. Eu vejo a saliência dos miseráveis que desejam o mal, pelo simples fato de não terem o que falar, mas que necessitam de assunto. Mas eu quero devagar, sem essa pressa messiânica de WhatsApp, que fragmentada causa asco, asno, sono, oco e opaco. Quero a literatura espumante, decorada com verborragia, temperada com simplicidade, com gosto de livro mordido. Eu quero entrega. Não essa sua falta de vontade de brigar. Eu quero uma guerra de vogais, consoantes, sílabas. Eu quero o alfabeto inteiro, merda!

segunda-feira, junho 13, 2016

Doce necessidade de vazar. Vejo com as mãos, mas sou cego dos dedos. Procuro com a língua, mesmo ela sendo surda. Ouço, então, pelos olhos que um pouco escutam. Confundo o céu da boca com o fim do mundo que muito próximo saiu em câncer do meu pulmão. Por isso, agora, eu quero vazar antes que eu volte a confundir.