Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Amster dá

_Observo diretamente nos olhos. Algumas encaram tristes os seus destinos. Outras devem imaginar o que o dinheiro pode comprar. Elas podem ser mães. Podem ter namorados. Mas na moldura onde estão expostas, ninguém procura pensar sobre isso.
Suas peles são claras. Seus rebolados são cansados. A pouca veste vermelha de uma está desbotada. A maquiagem, borrada. E mesmo assim, se entrega. Que música estaria ouvindo mentalmente? Teria vontade de sair daquela moldura? O rapaz ao lado está de pica dura. O velho com semelhança de Sean Connery está desfalecendo. Meu amigo não tira a retina de uma morena. Eu apenas penso. Até me emociono. Não sei se foi o vinho barato ou a cannabis do coffee. De certa maneira o ambiente é poético. Imagino-me recitando Baudelaire no ouvido de uma. Na outra, um Verlaine. "No velho parque deserto e gelado / Duas formas passaram há bocado / Com os olhos mortos e os lábios moles / Mal se ouvem, a custo, as suas vozes. / No velho parque deserto e gelado / Dois espectros evocaram o passado: - Recordas-te do nosso êxtase antigo? - Por que razão acha que ainda consigo? Ela entenderia o que eu estaria dizendo? Imagino que sim. Muitas coisas das putas, o vale é a sabedoria.



terça-feira, novembro 30, 2010

Até 10

Primeiro vem o contato. A pele enroscando na outra, o arrepio que precede um suspiro interno. O olhar no olhar, o sorriso no ar. Segundo surge. Minutos prosseguem. Terceiros observam. Quartos serão abrigos. Muitos quartos. Possivelmente de móteis. Depois, será apenas um quarto. Quinto dos infernos será o pensamento durante as brigas. Sexto será a hipótese de traição e sétima o crime capital não cometido. Oitavo truques de retorno e nono é a ideia de ser avô para continuar o décimo motivo de estarmos juntos.

Leonardo Handa

terça-feira, outubro 05, 2010

Rumos

Um trânsito em risco
Faísca à risca o furo
Do olho que vaza a luz.
Percorre pelo lado esquerdo
Uma escolha errada
Já que há a falta de reflexo.

A visão turva em turbulência
Obtusa o sentido do controle
Enquanto a ação dilui
Entre as pernas o ocorrido.
Não liga o gelo ao desespero
Esperando o fim iniciado
Mas a conclusão é física
E o erro, não premeditado.

O vidro arrebenta a cabeça
Que sangra amnésia
E um farol gritante registra
Algo que parecia esperança.
O túnel apaga o feixo
Que iluminado ardia distraído
E a luz que do olho vaza
Apaga-se em discrepância.

Leonardo Handa

terça-feira, julho 27, 2010

Oportuno


Os dias frenéticos me interropem os prazeres.
Os pequenos detalhes seguem despercebidos,
Nem a velha canção funciona e não emociona.

As horas estão lotadas neste pensamento aflito.
Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo.
Faço do coração apenas um pulso de sangue
E não vejo que de fato ele quer uma percepção.

Eu passo um risco no instante que quero.
Preciso de calma mesmo querendo o agito.
Fico aos nervos quando necessito de paz.
Recorro à memória e me sinto traindo.

Nos segundos falecidos eu vejo a derrota
E amplio com dicotomia, pois não é a verdade.
Trato o acaso como um passado empoeirado
E reflito neste pouco que nada está atrasado.
Tudo se trata de período contido
Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.

segunda-feira, julho 12, 2010

Pode ser uma letra ao invés de um sorriso?

Você diz que estou chato
Mas não se liga.
Acredita que o errado agora sou eu
E não percebe que só quero atenção.

Faz de conta que sou segundo plano
Acha que pelas circunstâncias eu tenho que entregar
Pois fui o seu sofrer.

Justifica com o vago
E ainda quer sorriso e amor.

segunda-feira, julho 05, 2010

Eu quero a marginalidade em fratura exposta no meu corpo novamente. Desejo sentir na mente a inconsequência de não me arrepender pelos atos, independente dos fatos. Peço pela clemência do alcatrão que corrompe a minha garganta. Espero sentir outra vez o sangue das minhas mãos. Quero fumar Tom Waits. Quero rasgar Lou Reed. Quero dilacerar Ginsberg. Eu quero tudo sem culpa, incluindo o exagero dos versos, da pronuncia errônea e da falta de coesão. Eu desejo a leveza bêbada que eu não consigo entregar, pois insisto em me controlar e não me deixo levar pela embriaguez que outrora sobrevivi.

Cadê aquele jovem com pensamento velho de safadeza aflorada, como se estivesse copiando descaradamente o Bukowski? Não percebi o momento em que deixei a gagueira insossa do cotidiano me domar as rédeas cavalares, antes soltas de prazer. Pior que não encontro o período quando me deixei perder pela falta de agir enquanto via o status quo morrer. Por que eu perdi aquele lema de que ser feliz sozinho era realmente ser feliz? Bastava um gole de cachaça para lembrar e elucidar a clareza da vivência. Afinal, o apelido de demônio da garrafa não era mera licença poética, era concreto objetivo que tatuado ardia de alegria no cerne.

Eu quero o foda-se!

sábado, junho 19, 2010

Acertos maus

Contato ausente
Em pele quente
Que arde dor
De passado beijo
Desfeito antes
Recriado oposto
Delicado gosto.

Mentira exposta
Na boca torta
De beleza oca
E fala morta
Que acabou
O amor incerto
De brigas boas,
Acertos maus,
Vontades outras,
Saudades poucas.

Ainda há bem
Outrora ruim
Um desejo em mim
De tragar o fim
Engolindo gim.

sábado, maio 08, 2010

Tanto tempo que não escrevo algo sentimental. Ultimamente estou mergulhado apenas em boletins jornalísticos e roteiros de programas que não sobra tempo para o descarrego literário. Penso que estou perdendo a prática, sobrevivendo em piloto-automático em uma rotina que me agrada, mas não permite devaneios. E quando há o ócio, a cama me chama para usufruir a delícia de permanecer na horizontal, com os olhos fechados, permitindo pelos tímpanos abertos a entrada de buarques e gainsbourg's. O relaxar é quase imediato e quando percebo o celular desperta mais uma vez o dia começando às 7h.
No fim das contas, o que está faltando é poesia nisso tudo. Existe a carência de romantismo ditado ao pé no ouvido para as soluções praticáveis da vida. E quem pode proporcionar isso? Eu, lógico. Mas nada faço! Estou reclamando o que então? A minha inércia perante a vontade de prosseguir viajando através de Bucowski ou cuspindo em um Ginsberg? Cade aquele cara que esbaldava bebericos de vodca lazarenta com a companhia de Thompson? Nunca existiu? Quem sabe seja verdade. E a apreciação de Caio Fernando Abreu? Eu ainda me emociono ao ler o cara, mesmo perdendo a habilidade do sentimentalismo e deixando cada vez mais o processo sistemático invadir tudo aquilo que a adolescência julgava o contrário.
"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone. A fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora. Faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia. Chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia. Não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dela, em algum cheiro estranho o cheiro dela".
Esse sofrimento típico de Abreu até que faz falta. Acho que está na hora de morfar novamente. Mas não me procure, pois continuo querendo que se foda!

sexta-feira, abril 16, 2010

E a vida se fez de louca, arrancou pela boca o coração e desperdiçou inúmeros momentos de alucinação. Arrastou-me para o espelho a figura invertida, me abriu uma ferida na perna esquerda e se transpôs em clorofila. Insetos medonhos expulsam as cáries dos meus dentes enquanto a canção que toca na hora errada é de uma lésbica apaixonada pela metáfora dos cabritos.
A faísca do retardado insiste em achar a resposta complexa do achado, mas são de idiotices que as luzes das incertezas aproveitam os vômitos dos condenados a fim de concluir burrices de absurdo. O traçado paralelo pulsa com disritmia e tropeça em um buraco que acaba com a tese. Os outros ainda procuram chamar e desistem por estarem atordoados. Mensagens cifradas cospem do retrato a poesia com sabor de asco que o asno rosna em um roçar de vocais.
O trunfo do fluxo de escárnio escorre pela boca que se esconde por ter razão da fúria do provérbio claustrofóbico. A ave em fogo sobrevoa o arquipélogo dos perdidos que encontrados acenam beijos ao luar.
E a vida se fez de louca.

quarta-feira, março 24, 2010

ANEsteSIA


Revirando esse jardim de cactus, arranco coices dos espinhos da sua mão. Pouso lento no áspero repousar de seus lençóis e recebo um açoite na jugular. Minha visão escure. Ouço um último acorde. Não identifico se era Peter Gabriel ou Genival Lacerda. De fato, estava muito confuso. Sigo revirando, mexendo, bisbilhotando. Percebo cartas não seladas, antigas memórias de carbono 14. Cuspo sensações estranhas, resquícios da noite retrasada. Tudo misturado. Tudo ao mesmo tempo agora. Titãs? Sim. Amor, quero te ver cagar.

Volto, retorno, choro. Um deles perfura meu tímpano que distraído deixa escorrer revelações. Maluquices. Doidices. Sandices. Serenata de prazer aos seus, que analisam as bases eletrônicas da contradição. Não cite O Jardim das Horas, pois estou com a Lurdez da Luz. Viro a página, como a palavra, devoro o fruto. Tenho agora em minhas unhas a sujeira da sua voz na cadência do seu samba embolado em um cigarro.

Continuo a revirar. Raízes arrancadas surgem dos cadernos de pintar. Azul claro decora a horta dos prazeres infantis. Sinto uma denúncia de pederasta, meio que lésbica, com toques heterossexuais. Sim, você está em minhas mãos, mas deixo os dedos deslizarem pela possibilidade que perco na pele mais células queimadas. Enfio no olho uma infinidade de luz que acaba refletindo uma cruz com um Jesus vestindo Lee e um sapatinho da 775. Putz grilis! Acho que agora estou voltando da anestesia.

segunda-feira, março 22, 2010

Meu cérebro pifou.
E eu acho que é pra sempre.

domingo, março 14, 2010

Dia preguiçoso. As gotas da chuva vão se matando no vidro da janela enquanto um velho companheiro me amortece via MP3. Manhã e tarde na vertical, observando um teto que nada lembra a capela Sistina. Momentos de pura contemplação me bastam e um tiro sai da estante em forma de palavras. Eu o já tinha lido, mas sempre é bom relembrar. O velho safado ainda traz ótimos momentos.
Minha identificação quase profana com os seus versos às vezes me confundem e me convidam à liberar a marginalidade presa no interior, seguir a vida sem ligar para as contas, visitar algumas pessoas e simplesmente mandarem se foder; disparar algumas balas em cabeças que se acham pensantes e desmascarar profissionais comunicacionais idiotas. Mas, infelizmente a violência fascinante não povoa a minha massa. Como escape, cuspo certas frases junto ao violão.
A forma de liberação de ódio nem sempre me relaxa ou funciona. Tento gritar - não consigo -, procuro esquecer - o que piora. Não sei muito o que fazer. Em determinadas ocasiões, se torna efêmero. O objeto problemático que causa a situação raivosa, diga-se.
Não sei ao certo o lugar em que quero chegar com essa divagação. Acho que serve para manifestar que sim, sinto raiva. Não estou falando de você, antes que indague. É sobre os outros. Enfim, vou continuar aqui com o meu dia preguiçoso, desejando que as gotas da janela que se matam fossem algumas pessoas... Velho safado, você me faz pensar besteiras.

sábado, março 13, 2010

já foram tantas

Esses dias já passaram
Tão corridos
Por perto desses segundos
Tão doloridos
Que se mataram por serem
Tão sofridos.
Já foram tantos
Que não lembro
Mais dos outros.
E você passa arrastada
Por esse corredor
Enquanto eu vejo da sala
A sua encenação de dor.
Já foram tantas
Que não lembro
Mais das outras.
Essas noites já passaram
Tão doloridas
Por mortes metafóricas
Tão corridas
Que me perco nessas horas
Tão sofrifas.
Leonardo Handa

quinta-feira, março 04, 2010

Catarro de amor

Gozo de alma
Abraço de sangue
Forte de paz
Beijo de porra.
Amor de merda
Truques de fel
Toque de pus
Ferida de luz.
Vida de urina
Cama de sêmen
Trago de fossa
Olhar de esgoto.

Bosta de fogo
Hora de choro
Fóssil de mijo
Catarro de amor.

segunda-feira, março 01, 2010

ele_e_ela

Estou cansado
Do mesmo trapo
Do mesmo tapa
Que me desloca.

Não quero
Ser mais a louca
Que esfaqueia
O seu coração.

Então ficamos
Do ponto que terminamos.
Estou aflito
Nesse conflito.

Eu também quero paz
Não vou mais deixar
A minha unha
Em sua cerne.

Cada qual agora,
Minha amada,
Seguirá o seu caminhar.

Espero conseguir,
Pois sempre imaginei
Contigo prosseguir.

Léo Handa

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Mal-agouro


30 por dia para suportar
A navalha que a vida insiste em sangra.
24 horas não são o suficiente,
Até em sonhos o filtro vem me visitar.
Faço ponto onde deixarem
Meu companheiro fiel vai comigo.
Têm dias que eu o traio
E prefiro um maço ordinário.
Atendo alguns com colônia barata,
Mas a fumaça da boca me distrai.
Outros chegam com odor de cachaça
O que para mim é perfume.
Não ligo para os rótulos,
As definições poéticas são ridículas.
Maria Madalena está tatuada no braço.
Todo padre que vê sente cagaço.
Se um dia vai me matar
Pior será enfrentar o SUS,
Por isso eu sigo enchendo:
A minha profissão é de cruz.

(Leonardo S.Handa)

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Repugnante Tormento



Remete uma canção
Na dor mais antiga
Da eterna paixão
Pelo pó que levantou.

A lágrima absurda
Ecoa surda no berro
Da repugnante tradição.
Há tiros na escuridão
E silêncio na infância
Que insiste em se perder
No tempo da conclusão.

Sopra no barro um remorso
Causado pelo tempo,
Socorre ao álcool
Um pouco mais de lamento.
A lágrima absursa
Ecoa surda no grito
De repugnante tormento.


(Leonardo Handa)

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Poema DisTRAÍDO

Eu, aqui, caído
Esperando uma gota
Mas o que me vem
É um lamento.
(Em C G D)

Às vezes eu não acerto a mão
E quando acerto, é aflição.
(Am Bm)

Senão, fico deitado
Na valeta do desejo
À espera de chuva
Sem o devido segredo.
(Em C G D)

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Estragado

Eu posso estar me sentindo um traste, respirando merda em sala de perfume. Posso estar cheirando esgoto onde tem flores. Posso estar reclamando do barato, quando na verdade nem estou chapado. Posso estar pouco a vontade, mesmo andando pelado. Eu posso estar querendo muito, mas é com restos que ainda caminho. Eu posso estar errado. Eu posso ser o fracasso. Eu posso não estar ganhando elogios, algo que precisaria. Posso estar caindo pela esquina, mesmo bebendo pouco. Eu posso estar tendo uma crise, meia-idade, idade inteira, idade rasa. Eu posso estar desacreditado com o futuro, vivendo de passado, estraçalhando o presente. Eu posso estar sendo um bosta profissionalmente, tragando demasiadamente as carteiras, encerrando projetos, cuspindo gracejos. Eu posso estar muito errado. Extremamente errado. Eu posso estar falando asneiras, percorrendo a marginalidade, curtindo uma cicuta. Eu posso estar em uma sinuca, mas na realidade é um xadrez. Eu posso estar dizendo mentiras, vivendo verdades, odiando realidades. Posso estar cansado. Posso estar morrendo. Posso estar sobrevivendo. Eu posso estar noturno, sonhando saturnos e comendo soturnos. Posso estar volátil. Eu posso estar carente, querendo afago, palavras positivas, citações clichês. Só não quero ser estragado. Eu só queria um carinho, bem quietinho, mas só sabem tirar ainda mais o meu chão.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Meu rock está um nhoque. Meu amor, nem nhoc! Meu coração é só tum tum. Meu pulmão, boom! Uma pessoa passou. Fiu fiu. Nem olhou. Down! Tentei outro truque. Pleft! Marcas no rosto. Ai!

Segui meu trajeto, trac trac. Bati na porta, toc, toc. - Se mande! Não te quero mais. - Uau! Abaixei a cabeça e fui. Chutei uma lata, pow! Acertei um cachorro. Putz! Ele correu em minha direção. Me lambeu. Báh! Continuei a caminhar. O au-au comigo.

Parei na praça. Sentei no banco. Um pardal cagou em mim. Merda! Literalmente. O cão me olhou, me consolou. Limpei a titica, eca. Encontrei uma carta em minha mochila. Urrul! E mais cinco reais. O escrito não dizia nada. O cachorro me lambeu de novo. - Chega!

Comprei pipoca. O cão adorou. Au! Au! Fez uma graça. Abanou o rabo. Deu a pata. Ganhou o pacote todo. Nem gosto de pipoca. Outra olhada no bolso. Um MP3. On. Tchec! Paulinho Moska. Mudei. Bebel Gilberto. De novo. Arnaldo Antunes. Novamente. Marcela Bellas. Ixe! Não é a toa que meu rock está um nhoque! O cachorro até concordou. - Você está por fora! - O quê? O cão falou? Isso que é rock!!!!

sábado, janeiro 30, 2010

Na Confusa Agonia do Ser

Segundo dia do mês
No desespero da idade
Que se completa
No final de mais um.

O sorriso torto
Tenta disfarçar
A falta de conforto.
Nem tente amar,
Ele dispensa o pouco
Que ficou.

Termina outra fase
Na confusa agonia
Do ser
De querer amar
E não poder ficar
Devido a desgraça
Da concepção.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Não se trata de um dos momentos mais fáceis. Tenho a vontade de conseguir a auto-combustão. Tento ficar distraído, mas, quando percebo, estou apenas caído. Como alguém já me falou: - você está perdido, não? De fato. Meus tiros vão para todos os lados. Confesso que não me sinto nada à vontade nessa condição. Queria ter um plano traçado, uma meta estabelecida. A situação atual não está permitindo. Ou seria o cérebro me traindo?
Eu não deveria estar aqui lamentando a minha fraqueza. Se bem que também se trata de falta de sorte. Tento me apegar à Charlotte Gainsbourg para auxiliar. Não está adiantando muito. Estava meio a fim de revirar o meu corpo pela boca, deixar exposto meu fígado ao relento e que, aos poucos, ele fosse comido por um urubu. Mas aí seria fácil demais, a vida me derrotaria. Não lembro quem disse, "não leve a vida muito a sério, afinal, você não sai vivo dela". Às vezes tento levar isso como tatuagem de sentido maior, como se fosse uma oração do derrotado, porque é isso que sou.
O pior que não tenho nenhuma saída de mestre. Pela primeira vez eu não tenho razão de ser capaz de prosseguir por algo em que acredito. Não dá para ficar empurrando tudo com fluoxetina. Quando o efeito acaba, tudo volta. E o ciclo vicioso prossegue.
Um raio de luz entrou agora pela janela... Puxa vida, a nuvem acabou de encobrir... Ou espero o próximo ou faço um próprio.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Não é uma questão de escolha...
... Se fosse assim, eu fiz errado.
O problema sou eu...
(a mais idiota e, no caso, sincera frase)

sexta-feira, janeiro 15, 2010


Ela está no quarto
Vendo a novela das sete.
Ele está na sala
Ouvindo Cat Stevens.
Ela está tomando
Um chá de camomila.
Ele está soltando
Fumaça de um Marlboro.
Ela se emociona
Com uma cena do folhetim.
Ele dá razão
A uma frase de violão.
Ela deixa uma lágrima cair.
Ele engole o seco do sentir.
Ela abraça o travesseiro.
Ele cruza os braços.
Ela se identifica com a mocinha.
Ele pensa na Califórnia.
Ela bebe o último gole.
Ele fuma o último trago.

Eles estão se despedindo.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Eu nada fiz. Eis o problema. Errei. Caguei. Fodi. Acabei de me estuprar mentalmente, me fechei no cego transparecer simplemente porque não dei o braço a quebrar, pois para torcer seria superficial. Agora bebo chá. Até que acalma, mas não muito. Utilizo mais dez cigarros para rebater. Não entorto mais a cara por causa do fígado. Ele está virado em um patê.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Senhor do céu, como é difícil! Quero deixar bem claro que sou bem grato com a minha vida. Agradeço por ter todos os dedos, os membros perfeitos e poder caminhar. Agradeço por ter um teto, comida na mesa, uma família maravilhosa e conseguir sanar as necessidades básicas que regem essa orquestra que chamamos vida. Mas, como é complicado agradar, não? Principalmente os amigos e as suas conversas paralelas via MSN ou seja lá que artifício internético. Muitas vezes eu não ligo, estou cagando para os comentários, sobretudo os maldosos. No entanto, quando começa a envolver os sentimentos, aí cansa. E é nesse estado absoluto que estou: cansado. Alguns dizem que andam me chamando de fofoqueiro, de duvidando das minhas atitudes, de ignorando a minha sanidade mental que, confesso, quase foi para o brejo; uns querem mais atenção, outros suplicam em ruídos comunicacionais verdades de carência... No fim das contas, acho que querem é acabar comigo. Dou-lhe razão Roberto, quando se é muito querido o tiro de merda é mais fedorento.
Não se trata de uma questão de querer agradar a todos, já é difícil agradar um, imagina uma manada. Às vezes tenho a vontade de perder a razão de vez, apagar a memória, pirar no sentido literal e ser internado, sem memória, sem lembrança nenhuma das idiotices que tenho que aguentar, no mínimo, 10 dias por mês. Querem abrir os meus olhos? Pois bem, estão abertos então. Contudo, no fundo, aquela vontade de sumir, de se desintegrar é muito frequente. Por que tem que ser assim, né? Viver é tão mais fácil do que se pensa. Poucos deram razão aos hippies e eles estavam certos. Absolutamente certos. Vem o ego, a razão, a definição do certo e do errado e caga tudo. Destrói tudo. Completamente tudo no mesmo pútrido vaso de bosta-vivida.
E a coisa é menos do que se imagina, mas existe tanto estresse no pequeno fragmento que você acaba se redendo às vontades alheias só para não se incomodar mais. Isso não faz o meu feitio, mas não dá mais. O meu suportar chegou a um estágio em que se eu não extrapolar sou capaz de pegar uma pinça e começar a retirar o meu cérebro pelo nariz.
É Senhor, agradeço por tudo mesmo, mas 2010 começou agitando o sentimental, embolando o meio de campo, arrebentando as minhas retinas já cansadas. E depois falam que o pseudo Alexander Supertramp de "Na Natureza Selvagem" tinha uma patologia de querer tanto explorar a vida solitariamente. Sabe, ele estava com a razão, isso sim. Chega uma hora em que suportar seres humanos e as suas línguas ferinas é como se cortar com um estilete enferrujado e se banhar com álcool de cozinha. Desabafei.